Está tudo louco?
Temos assistido nos últimos tempos em Portugal a um histerismo público preocupante. Talvez a coisa tenha raízes antigas, históricas – não me interessa –, o que não diminui a necessidade de atenção a prestar-lhe, nem a gravidade que denota.
Não vale a pena – o que também é um hábito nosso – procurar colorir ideologicamente a asneira, porque ela perpassa, como uma virose, todos os partidos e todas as instâncias da actuação política, económica e social, manifestando sintomas de doença que vão da administração central aos órgãos de poder local, dos dirigentes mais proeminentes ao comum cidadão.
Há uma espécie de brucelose social que é preciso combater com urgência, pois o agente infeccioso actua nas entranhas da nossa liberdade, minando um dos pilares fundamentais da democracia e da nossa saúde individual e colectiva. Digamos que nos ataca pela calada do medo, do dedo em riste pedindo silêncio, e, de cedência em cedência, torna a nossa vida muito esponjosa.
Vivemos, como alguns dizem, no país do respeitinho, pouco respeito e mais medinho. Como me aconselhava, sabiamente, um idoso que conheci em novo – nisto dos conselhos não há como ouvir quem acumula tempo às costas –, para se ter respeito é preciso dar-se ao respeito, o que se faz pelo exemplo e não pela pancada. Dizia ele que aqueles que vêem na liberdade de expressão dos outros uma ameaça, algo a abater para provar quem é o chefe, promoviam apenas o medo como garante da sua autoridade e não mereciam qualquer respeito. Uma coisa velha até entre pais e filhos, que nunca promoveu nem justiça, nem paz, nem nada de positivo.
As situações são inúmeras e todos temos vivências pessoais que podem exemplificá-lo. Aqueles que viveram antes do 25 de Abril sabem bem como isso foi levado a extremos de gravidade que, com mais alguns ingredientes, deram no que deram. Estamos longe desse tempo infestado, felizmente, mas nada nos garante que aqui e ali não ocorram umas recaídas. A liberdade, longe de perigar – não quero contribuir para o histerismo -, tem de ser preservada com observância e esforço contínuos, pois não existe vacina com efeitos definitivos.
Assistimos recentemente a vários episódios de uma telenovela de fraca qualidade que podem ter efeitos nefastos de contágio. Uma directora regional de educação instaura um processo disciplinar a um funcionário por ofensas ao senhor primeiro-ministro – supostamente por comentários jocosos feitos em relação à sua licenciatura ou outros, o que pouco interessa para o caso –, feitas em privado, num processo todo ele muito mal explicado. O senhor primeiro-ministro processa judicialmente o autor do blogue “Do Portugal Profundo”, que lançou dúvidas sobre a validade da sua licenciatura. E agora, Rui Rio, presidente da Câmara Municipal do Porto, permite ou instiga a que se faça uma crítica desmesurada no sítio web da Câmara a um dos directores do JN por ter participado numa manifestação contra a sua política relativa ao Rivoli; ainda por cima, divulgando um vídeo que prova que o homem esteve lá, como se isso não fosse um pleno direito de cidadania. Já no âmbito das relações pessoais, uma estória resumida: uma amiga, com mais de 10 anos de casa, é chamada inesperadamente pelo patrão (professor) que, sem razão aparente que o justificasse, a “convidou” a despedir-se, pois já não contava mais com ela. Não esteve com meias medidas, e, mais coisa menos coisa, lá foi: «Não precisamos mais de si. Ou se despede a bem ou instauramos-lhe um processo disciplinar.»
Estará tudo louco?
Associação Académica faz 29 anos
No próximo dia 28 de Junho a Associação Académica faz 29 anos de vida. Não posso deixar de sublinhar o seu contributo, com altos e baixos, para a construção da universidade e da cidade que temos.
Neste contexto, é preciso que os diversos actores académicos e políticos reconheçam, de uma vez por todas, a importância dos estudantes na edificação de um contexto educativo mais rico e na promoção de uma sociedade mais desenvolvida. É preciso contribuir para criar melhores condições de trabalho a quem os representa, acompanhadas da exigência de mais empenho e responsabilidade na construção de uma cidadania responsável, dinâmica, empreendedora, baseada no razoável equilíbrio de direitos e deveres.
Os tempos que correm, mais do que nunca, carecem de uma visão realista e ampla sobre as dificuldades que se avizinham, assim como sobre as oportunidades de sucesso. Disseminar entre os jovens uma cultura de trabalho, de responsabilidade individual e colectiva, de rigor e dinamismo deve ser a prioridade da sua acção. Exigir o direito a uma palavra no curso dos acontecimentos é um imperativo que deve estar revestido da partilha das responsabilidades.
A nossa associação, que tantas vezes dignificou a universidade e a cidade, primando por um discurso dissonante e caminhos próprios, pode (deve) ser uma peça importante desse motor que nos permita alcançar novos desígnios de desenvolvimento.
Temos assistido nos últimos tempos em Portugal a um histerismo público preocupante. Talvez a coisa tenha raízes antigas, históricas – não me interessa –, o que não diminui a necessidade de atenção a prestar-lhe, nem a gravidade que denota.
Não vale a pena – o que também é um hábito nosso – procurar colorir ideologicamente a asneira, porque ela perpassa, como uma virose, todos os partidos e todas as instâncias da actuação política, económica e social, manifestando sintomas de doença que vão da administração central aos órgãos de poder local, dos dirigentes mais proeminentes ao comum cidadão.
Há uma espécie de brucelose social que é preciso combater com urgência, pois o agente infeccioso actua nas entranhas da nossa liberdade, minando um dos pilares fundamentais da democracia e da nossa saúde individual e colectiva. Digamos que nos ataca pela calada do medo, do dedo em riste pedindo silêncio, e, de cedência em cedência, torna a nossa vida muito esponjosa.
Vivemos, como alguns dizem, no país do respeitinho, pouco respeito e mais medinho. Como me aconselhava, sabiamente, um idoso que conheci em novo – nisto dos conselhos não há como ouvir quem acumula tempo às costas –, para se ter respeito é preciso dar-se ao respeito, o que se faz pelo exemplo e não pela pancada. Dizia ele que aqueles que vêem na liberdade de expressão dos outros uma ameaça, algo a abater para provar quem é o chefe, promoviam apenas o medo como garante da sua autoridade e não mereciam qualquer respeito. Uma coisa velha até entre pais e filhos, que nunca promoveu nem justiça, nem paz, nem nada de positivo.
As situações são inúmeras e todos temos vivências pessoais que podem exemplificá-lo. Aqueles que viveram antes do 25 de Abril sabem bem como isso foi levado a extremos de gravidade que, com mais alguns ingredientes, deram no que deram. Estamos longe desse tempo infestado, felizmente, mas nada nos garante que aqui e ali não ocorram umas recaídas. A liberdade, longe de perigar – não quero contribuir para o histerismo -, tem de ser preservada com observância e esforço contínuos, pois não existe vacina com efeitos definitivos.
Assistimos recentemente a vários episódios de uma telenovela de fraca qualidade que podem ter efeitos nefastos de contágio. Uma directora regional de educação instaura um processo disciplinar a um funcionário por ofensas ao senhor primeiro-ministro – supostamente por comentários jocosos feitos em relação à sua licenciatura ou outros, o que pouco interessa para o caso –, feitas em privado, num processo todo ele muito mal explicado. O senhor primeiro-ministro processa judicialmente o autor do blogue “Do Portugal Profundo”, que lançou dúvidas sobre a validade da sua licenciatura. E agora, Rui Rio, presidente da Câmara Municipal do Porto, permite ou instiga a que se faça uma crítica desmesurada no sítio web da Câmara a um dos directores do JN por ter participado numa manifestação contra a sua política relativa ao Rivoli; ainda por cima, divulgando um vídeo que prova que o homem esteve lá, como se isso não fosse um pleno direito de cidadania. Já no âmbito das relações pessoais, uma estória resumida: uma amiga, com mais de 10 anos de casa, é chamada inesperadamente pelo patrão (professor) que, sem razão aparente que o justificasse, a “convidou” a despedir-se, pois já não contava mais com ela. Não esteve com meias medidas, e, mais coisa menos coisa, lá foi: «Não precisamos mais de si. Ou se despede a bem ou instauramos-lhe um processo disciplinar.»
Estará tudo louco?
Associação Académica faz 29 anos
No próximo dia 28 de Junho a Associação Académica faz 29 anos de vida. Não posso deixar de sublinhar o seu contributo, com altos e baixos, para a construção da universidade e da cidade que temos.
Neste contexto, é preciso que os diversos actores académicos e políticos reconheçam, de uma vez por todas, a importância dos estudantes na edificação de um contexto educativo mais rico e na promoção de uma sociedade mais desenvolvida. É preciso contribuir para criar melhores condições de trabalho a quem os representa, acompanhadas da exigência de mais empenho e responsabilidade na construção de uma cidadania responsável, dinâmica, empreendedora, baseada no razoável equilíbrio de direitos e deveres.
Os tempos que correm, mais do que nunca, carecem de uma visão realista e ampla sobre as dificuldades que se avizinham, assim como sobre as oportunidades de sucesso. Disseminar entre os jovens uma cultura de trabalho, de responsabilidade individual e colectiva, de rigor e dinamismo deve ser a prioridade da sua acção. Exigir o direito a uma palavra no curso dos acontecimentos é um imperativo que deve estar revestido da partilha das responsabilidades.
A nossa associação, que tantas vezes dignificou a universidade e a cidade, primando por um discurso dissonante e caminhos próprios, pode (deve) ser uma peça importante desse motor que nos permita alcançar novos desígnios de desenvolvimento.
Parabéns a todos quantos deram corpo e alma por ela. Votos de muito e bom trabalho.
1 comentário:
Há uns dias tive uma conversa de café que passou em parte por este assunto...o país está numa fase que na verdade está há já muito tempo, e talvez nunca deixou de estar, mesmo depois da Revolução de Abril. Na verdade, o medo nunca deixou de estar presente, nem antes, nem depois! A liberdade que existia, parece ser a mesma, contudo hoje as consequências de nos expressarmos livremente, são legais, justificadas...moralmente justas! No antes, a liberdade era combatida pela espada, hoje a espada foi substituída pela despromoção, pela demissão, pelos processos disciplinares, etc.
Eu sou a primeira pessoa a agir com precaução no que digo, e justifico-me pela minha falta de experiência, pela minha idade, pela falta de conhecimentos que me permitam ter uma posição firme...no fundo o que sinto é medo!Confesso, é medo, pois já fui ameaçada, já me demonstraram que pensar muito e bem é demais...querer melhorar o que me rodeia está errado pois pisa e demonstra aos que estão "lá em cima" o quão errados estão!...Sou um espírito livre, com o corpo aprisionado!
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