29 de abril de 2008

Durão Barroso

O Presidente da República apoia a continuação de Durão Barroso na Comissão, diz o Público. Parece-nos bem, tendo e conta que o Presidente da Comissão tem feito, na generalidade, um bom trabalho. A sua prestação é, também, um orgulho para os portugueses. Deve ser. É preciso ver as coisas assim, e deixarmos de olhar para nós sem vaidade das coisas boas, sem algum gosto em sermos portugueses, sempre desconfiados de nós próprios, sempre invejosos. O Presidente da Comissão tem feito boa figura. E já viram como ele dá baile em termos das línguas que fala com a maior das naturalidades? Só isso, que, admitamos, é apenas simbólico, já dá motivo para orgulho.

28 de abril de 2008

Timor-Leste

O meu grande amigo, irmão, José Gouveia, com os pés de molho naquelas águas fantásticas de Timor-Leste. Hakuak boot maun.

Estado de coisas

CONTRA O FACILITISMO DO DIVÓRCIO
por Matilde Sousa Franco
Pedi superiormente autorização para votar, na Assembleia da República, contra o Projecto de Lei nº 485/X do Bloco de Esquerda que «Cria o Regime Jurídico do divórcio a pedido de um dos cônjuges». Tendo sido a única deputada do PS a votar contra, julgo dever explicar melhor a minha posição, através desta Declaração de Voto.
Os deputados do BE vêm insistindo há anos no divórcio unilateral. Em Maio de 2007, como lembram agora no Projecto de Lei acima referido, «não faltaram acusações ao Bloco de Esquerda – que queria liberalizar o casamento ou mesmo acabar com ele, que propunha «o divórcio na hora». Afirmaram eles também, por exemplo, que se trata «da mais importante proposta de modernização do direito de família desde 1975».
Entretanto, foi criada na Assembleia da República, com a reforma do Parlamento, a Subcomissão da Igualdade de Oportunidades e Família, à qual pertenço, e estranho este assunto não ter sido aí presente.
1 – Divórcio como prémio para o infractor
Por outro lado, no aspecto jurídico do actual Projecto de Lei, cito o juiz Pedro Vaz Patto no artigo: «O Divórcio Unilateral e a Sociedade sem Vínculos» …«não se trata de qualquer progresso. Será, antes, o culminar de uma progressiva descaracterização do próprio casamento e do próprio direito da família… O casamento passará a ser, talvez, o mais instável e precário dos contratos, mais do que um contrato de trabalho ou de arrendamento… Daqui à abolição do próprio casamento, à sua irrelevância jurídica, o passo é muito pequeno. O divórcio começou por ser encarado como uma sanção contra o cônjuge que violou gravemente os seus deveres conjugais… Com o divórcio unilateral, aquilo que começou por ser uma sanção contra quem viola os deveres conjugais acaba por ser um prémio para o infractor. Sempre se considerou um progresso civilizacional, reflexo da influência cultural do cristianismo, a abolição da figura do repúdio, que permitia ao marido a desvinculação imotivada dos seus compromissos conjugais. Com o divórcio unilateral, pode dizer-se que renasce das cinzas tal figura. Dir-se-á que se trata, agora, de um direito de qualquer dos cônjuges, e já não apenas do marido. Mas, di-lo a experiência e também vários estudos, é, na maior parte dos casos a mulher a sofrer as consequências nefastas (no plano económico, psicológico e afectivo) da ausência de vínculos e do abandono conjugal. Nas famílias monoparentais, o progenitor ausente é sempre o pai. Nunca houve tantas mulheres sós e pobres…»
2 – Essencial estabilidade familiar
Como historiadora, verifico que os proponentes têm uma visão histórica muito restrita no documento em questão e em outras declarações. Sobre o aspecto histórico, cinjo-me agora à obra laica e abrangente (em 2 volumes) «Histoire de la Famille», sob a direcção de André Burguière, Christiane Klapisch-Zuber, Martine Segalen, Françoise Zonabend, edição Armand Colin, Paris, 1986, com prefácio de Claude Lévi-Strauss. Este antropólogo social escreve aqui (pág. 11): «La tendance générale est aujourd'hui d'admettre que la «vie de famille», au sens que nous-mêmes donnons à cette locution, existe dans l'ensemble des sociétés humaines. La famille, fondée sur l'union plus ou moins durable mais toujours socialement approuvée d'un home et d'une femme qui se mettent en ménage, procréent et elèvent des enfants, serait, affirme-t-on souvent, présente dans tous les types de sociétés.» Havendo excepções, escreve na pág. 12 que: «la famille conjugale y semble três frequente et que, partout où sa forme s'altère, on a affaire à des sociétés dont l'évolution sociale, politique, économique ou religieuse à suivi un cours particulier.» A «Histoire de la Famille» abrange desde a Pré-História à época actual, referindo numerosas civilizações e diferentes continentes. Por exemplo, a propósito da antiga civilização egípcia, onde era prática o repúdio por parte do homem e da mulher, são já largamente admitidos os sentimentos pessoais de ambos.
Jock Goody, prefaciador do 2º volume da «Histoire de la Famille», que trata da modernidade, escreve na pág. 12 «… en Chine rouge ou en Union Soviétique, les assouplissements apportés aux législations familiales dans les débuts du régime ont été ensuite modifiés, en partie pour des raisons politiques, en partie pour répondre à des aspirations populaires généralement partagées; des rituels laïcs se sont développés autour du mariage, et le divorce comme l'avortement ont rencontré de plus en plus de difficultés.» Na pág. 13 escreve o mesmo autor: «Des gouvernementes du monde occidental ont adopté une ligne différente en vue de maintenir une stabilité relative de leur population et on même offert des allocations spéciales aux familles nombreuses.»
Quando se invocam o repúdio, o divórcio, o aborto, como sendo modernos e de esquerda, é interessante vermos a antiguidade milenar destas práticas e as flutuações recentes que diversos condicionalismos lhes imprimiram, como, por exemplo, a «Histoire de la Famille» objectivamente refere, e conforme transcrevi. Acentue-se também o enfoque que, perante a «bomba de relógio demográfica» actual, neste livro se dá ao apoio dos governos à criação de famílias numerosas, para o que é essencial estabilidade familiar, não bastando incentivos financeiros.
3 – Cristianismo aboliu Repúdio, protegendo as mulheres
É amplamente reconhecido ser corrente o repúdio também noutras épocas e civilizações, como a judaica, a muçulmana, etc.
Sobre o repúdio judaico leia-se o Evangelho de S. Marcos, 10 – Jesus e o divórcio - «Aproximaram-se uns fariseus e perguntaram-lhe, para o experimentar, se era lícito ao marido divorciar-se da mulher. Ele respondeu-lhes: «Que vos ordenou Moisés?». Disseram-lhe: «Moisés mandou escrever um documento de repúdio e divorciar-se dela.» Jesus retorquiu: «Devido à dureza do vosso coração é que ele vos deixou esse preceito. Mas, desde o princípio da criação, Deus fê-los homem e mulher. Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher, e serão os dois um só. Portanto, já não são dois, mas um só. Pois bem, o que Deus uniu, não o separe o homem.»
Anote-se, a propósito, o que quase nunca é mencionado: a declaração de nulidade dos matrimónios que a Igreja Católica tem feito ao longo dos séculos, quer a pedido de mulheres ou de homens, sem grandes custos materiais e muitas vezes demorando menos tempo e envolvendo menores conflitos do que os processos civis de divórcio, e tendo-se as declarações de nulidade continuado naturalmente a realizar mesmo quando não havia permissão de divórcio civil.
É claro que sou a favor do divórcio civil e penso que este sempre devia ter existido, mas não deve tornar-se agora numa espécie de novo repúdio, qualquer que seja a forma adoptada, pois o divórcio envolve sempre tristeza e dor.
4 – Política deve utilizar moderna ciência da felicidade
Sublinhe-se que no séc. XXI há inovadoras formas científicas de lidar com a inteligência emocional e social, que poderosamente ajudam à realização individual e interpessoal, à felicidade, e inclusivamente a evitar divórcios. Portanto, é esta a terceira via que eu advogo, na sequência de anteriores tomadas de posição.
O Projecto de Lei nº 485/X do BE começa por citar: «O tema do divórcio… sugere mal-estar, sofrimento… os processos de ruptura conjugal são emocionalmente dolorosos» (in Anália Cardoso Torres, «Divórcio em Portugal, Ditos e Interditos – Uma análise sociológica», Celsa Editora, 1996, p.1)
Também quero evitar o imenso sofrimento causado por choques emocionais, e igualmente concordo com o Projecto de Lei do BE, quando refere a «exigência da afectividade» e a necessidade da «sentimentalização da família». No entanto, temos de ser realistas e acompanhar os estudos universitários recentes sobre felicidade científica, não podendo sentimentalizar excessivamente o amor, pois este é uma construção permanente, que implica esforço. O divórcio de qualquer tipo (ou divórcios sucessivos), ou meras ligações sentimentais múltiplas não trazem a verdadeira felicidade, como estudos científicos comprovam.
Permita-se-me referir a Declaração de Voto que apresentei em 6 de Junho de 2007 (Diário da Assembleia da República, I série, 8 de Junho de 2007, pp. 49 a 51) sobre a necessidade de se criar uma disciplina obrigatória do 1º ao 12º ano de escolaridade de «Educação para a Felicidade», com base nos conceitos científicos de inteligência emocional, o que me têm dito ser uma urgência. As teorias complementares e ainda mais actuais da inteligência social podem-se aplicar já por exemplo ao divórcio.
Cito Daniel Goleman «Social Intelligence. The Revolutionary new Science of Human Relationships», Bantam Dell, New York, 2007 (livro que tem os subtítulos «Beyond IQ, beyond Emotional Intelligence»). A propósito desta nova ciência, a «social neuroscience», ela tornou-se um assunto científico de topo para o séc. XXI e prova que: «we are hardwired to connect, we are programmed for kindness, and we can use our social intelligence to make the world a better place»; «good relationships nourish us and support our health, while toxic relationaships can poison us. And our success and happiness on the job, in our marriages and families, even our ability to live in peace, depend crucially on the emotional radar and specific skills». Daniel Goleman nesta obra cita por exemplo John Gottman, um psicólogo da Universidade de Washington que se tornou um perito no que faz os casamentos terem sucesso ou falharem: «In dating couples, the most important predictor of whether the relationship will last is how many good feelings the couple shares. In marriages, it's how well the couple can handle their conflicts. And in the later years of a long marriage, it's again how many good feelings the couple shares» (pág. 219).
5 – Portugal pioneiro do humanismo do séc. XXI
Com a Ciência a apontar-nos cada vez mais certeiramente o caminho para a felicidade, através da inteligência emocional, desde há décadas, e agora também através da inteligência social, parece-me um inexplicável desfasamento que a nível das cruciais decisões políticas estes conhecimentos científicos ainda não sejam tidos em conta e aplicados. Portugal, no seu multissecular vanguardismo humanista, deveria, na minha opinião, desempenhar também aqui um vanguardismo descomplexado e até orgulhoso de ir contra a corrente divorcista em moda, evitando a dor e lutando pela alegria que o humanismo implica.
Não são os divórcios unilaterais, na hora, etc., que trazem a felicidade. Luto por uma sociedade profundamente mais feliz, baseada nos afectos. Acredito na comprovada felicidade científica, que passa pela inteligência emocional e pela inteligência social. Urge criar estes princípios e estas práticas na disciplina escolar de Educação para a Felicidade, mas também na legislação que trata da Felicidade dos Indivíduos e das Famílias.
6 – Marco civilizacional: declaração universal dos direitos humanos
Lembro a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que este ano comemora 60 anos, e no seu Artigo 16º estipula: «1 – A partir da idade núbil, o homem e a mulher têm o direito de casar e de constituir família…; 3 – A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito à protecção desta e do Estado».
1994 foi o Ano Internacional da Família (AIF) e a simbologia que acompanhou esse ano foi: «Família: A mais Pequena Democracia no Coração da Sociedade». O tema que a ONU propôs a todos foi: «Família: Capacidades e Responsabilidades num Mundo em Transformação».
A Família, que é a mais Pequena Democracia, deve ter o maior apoio da maior Democracia.
Palácio de S. Bento, 27 de Março de 2008

23 de abril de 2008

Rui Marques em entrevista

Hoje do líder do Movimento Esperança Portugal, Dr. Rui Marques, dá uma entrevista à Rádio Universitária do Algarve (102.7 FM), pelas 19h. É o MEP em crescimento no Algarve!

Princípio da subsidariedade

Dois textos importantes no Cachimbo de Magritte: este e este.

21 de abril de 2008

Movimento Esperança Portugal

Sessão pública de apresentação
Aveiro, 18 de Abril, 2008
Biblioteca Municipal


Notícia da LUSA:

Conflito na Educação demonstrou que faltam "pontes" ao PS - Rui Marques (MEP)

Aveiro, 19 Abr (Lusa) - Rui Marques, ex-alto comissário para a Imigração e dinamizador do Movimento Esperança Portugal(MEP) disse sexta-feira que "é fundamental construir pontes, o que a maioria PS não tem sido capaz de fazer". Falando na apresentação em Aveiro do MEP, que quer concorrer como partido às eleições de 2009, Rui Marques expôs como uma das prioridades da acção política do Movimento "uma cultura de pontes e de negociação" que a actual maioria PS "não tem tido capacidade para construir".

"é fundamental construir pontes, como se viu na Educação, em que esta maioria não teve capacidade para construir pontes, o que levou 100 mil professores a manifestarem-se na rua. O momento de abertura da ministra chega tarde, porque era evidente que se devia ter negociado no início do processo e ouvido os professores" comentou. O MEP propõe concretamente o estabelecimento de "pactos de década" para a Educação, a Justiça ou a reforma do Estado. "Não podemos continuar a mudar de políticas em áreas-chave cada quatro anos e por vezes menos", sustentou Rui Marques, dando conta de que o programa político do Movimento estará pronto até ao final de 2008 e deverá concorrer, como partido político, às eleições de 2009.

Em relação ao seu posicionamento no espectro político, o MEP rejeita a classificação tradicional entre partidos de direita e de esquerda, afirmando "a ousadia de pensar diferente" na sua definição ideológica, assumindo-se como "humanista e pela sociedade da confiança". "Temos vindo a perder os laços de confiança entre nós e as instituições e precisamos de um Estado que confia. Os custos da desconfiança são bem maiores do que os da confiança. Defendemos um Estado que se norteie pela reciprocidade no relacionamento com os cidadãos, pessoa de bem, e que assume as penalizações que aplica, quando ele próprio não cumpre.

Queremos um Estado mais árbitro e menos prestador de serviços, que passe da lógica da oferta à da procura e se organize em função das necessidades do cidadão", expôs. Perante "a crise e o desânimo dos portugueses", o MEP responde com "a política da esperança".

"é uma crise séria, que é preciso perceber que vai aumentar, e por isso é fundamental que os portugueses a enfrentem com energia, acreditando em si próprios, correspondendo a três desígnios: ser melhor, transportando o ser uma ideia de identidade. Ser coeso, não deixando ninguém para trás porque todos temos de cuidar de todos. Ser global, porque temos historicamente condições para vingar nesse desígnio, como se viu com os descobrimentos e a emigração", disse.

O MEP, esclareceu, defende a economia social, explicando Rui Marques o conceito: "Os modelos de economia planificada falharam mas é evidente que a economia de mercado é imperfeita pelo que deve ser regulada pelo Estado em função do bem comum".

Elege como uma das suas bandeiras a democracia participativa, retomando a democracia dos cidadãos, porque "o modelo da democracia representativa, com eleições de quatro em quatro anos, não chega" mas garante que o MEP "não surge contra os partidos e os políticos do momento".

MSO. Lusa/Fim


Na Linha Da Utopia

A Era da Consciência
1. A sociedade da informação e comunicação inunda todos os espaços com as suas aliciantes propostas. Normalmente, ou não fosse quase sempre o espírito publicitário a presidir às comunicações actuais, a mensagem procura ser extremamente sedutora, desafiando o consumidor a fazer contas à vida. Este “contas à vida” está muito para além dos euros das compras, pois pode representar os valores e os critérios em que cada pessoa da comunidade inscreve as suas razões e opções. Uma das questões por responder é se, de facto, hoje é mais fácil ou mais difícil “ser pessoa”. Pelo menos que é diferente de outros tempos é bem verdade… Outras épocas, e no fundo até esta época em que a informação cria padrões hegemónicos, a realidade seria bem diversa: inquestionavelmente, os mais novos aprendiam quase todo o património de valores dos mais velhos, seguindo a linhagem religiosa, as múltiplas tradições e mesmo ideias de cariz político. Estamos a generalizar, mas reinava uma ideia de que quase tudo, por obrigação (mesmo que inconsciente), passava «de geração em geração».
2. A época actual oferece mil potencialidades, mas as correspondentes incertezas e desafios. Felizmente muito do progresso abriu os mais variados conhecimentos às diversas classes sociais e a diferentes gerações. Quase que se conseguiu universalizar, «para todos», a educação; o mundo está mais perto de todos nós e nós do mundo; cada pessoa, no bem-vindo assumir da individualidade, acolhe a consciência de uma dignidade e um projecto de vida sempre únicos. Mas, não havendo bela sem senão, novos desafios, tornados responsabilidades, brotam para todos, notando-se muitas fronteiras semi-confusas no plano do fundacional entendimento das liberdades. Quando se enaltece a individualidade de cada um (pressupondo o sentido de comunidade original, «ninguém vive por si mesmo»), muitas vezes, vemos essa ideia transvazar na assunção do individualismo tragicamente indiferente em relação ao bem comum. Mau sinal.
3. Algumas concepções, mesmo tidas como de «modernas» e progressistas, que “usam” a noção da individualidade irrepetível de cada pessoa humana, acabam por gerar padrões de vida publicitados e desgarrados, e mesmo indignos, que pretendem transformar a minoria em referência de quase obrigação geral, ou então que ridicularizam (e chamam de conservador) o pensar e agir de uma maioria muitas vezes distante das grandes questões sociais. Determinadas visões, proclamadas “fracturantes”, de família, de dignidade (no nascimento) da vida humana, da eutanásia, da solidão… espelham bem as difíceis fronteiras dos princípios e valores; e quanto menos falarmos neles (na base da dignidade humana que brota dos direitos e deveres humanos), menos património de sentidos de viver as novas gerações angariam para a vida…
4. É a fascinante (e incerta) era da consciência, em que no meio da amálgama de todas as mil e uma coisas, cada pessoa já não vai “à boleia” da sua cultura, mas tem de discernir e fazer opções. É o tempo das causas, em que mesmo que o oceano vá por um lado, uma “gota de água” consciente do essencial da vida vai por outro... É essa frescura criativa e dinâmica a raiz da vida dos que dão a vida pelos ideais de todos. É preciso refrescar as raízes! Mas para isso, e acima mesmo das neurociências, hoje, qual o lugar da consciência para que ela seja alimentada na raiz?
http://1632un.blogspot.com Alexandre Cruz [20.04.2008]

17 de abril de 2008

Amanhã - não falte!

Vai realizar-se em Aveiro, com a presença do Dr. Rui Marques, líder nacional do Movimento Esperança Portugal (MEP), uma sessão pública de apresentação e esclarecimento para a qual ficam desde já convidados.

Sexta-feira, 18 de Abril, às 21h00, auditório da Biblioteca Municipal

Esta sessão, que se pretende o mais aberta possível, dinâmica, informal, pretende apresentar o MEP e ouvir as pessoas presentes sobre os temas mais prementes, as preocupações, e, porque não, ouvir também as sugestões sobre o que julgam pode melhorar em Portugal e como.

Uma tarefa de todos nós!

Não falte!


Na Linha Da Utopia


15-0: Parabéns
Magna Tuna Cartola

1. «Quinze a Zero». Foi este o irreverente resultado final escolhido para comemorar nestes dias (16 e 17 de Abril) o 15º Aniversário da Magna Tuna Cartola (http://www.magnatunacartola.net) (MTC), núcleo cultural da Associação Académica da Universidade de Aveiro. O espectáculo, reflexo de muitos anos de inovação e criatividade na área musical académica, também já chegou à ilha virtual do Second Life da UA. Nesta hora aniversária, como em tudo na vida, vem à memória o caminho percorrido, os esforços, sacrifícios e vitórias alcançadas. Muito acima mesmo de todos os prémios recebidos, em que no panorama nacional (e mesmo internacional) as tunas de estudantes universitários em Aveiro têm merecido brilhantes reconhecimentos, os aniversários tornam-se oportunidade de apreciar e aplaudir o quanto a cidade, a vida académica e a comunidade em geral, benificiam desta riqueza cultural que representam as tunas universitárias.
2. Para a sociedade em geral é importante dizer-se que as tunas, constituídas por estudantes, estabelecem uma ponte feliz para com a comunidade mais alargada. Essa sua dinâmica presença está espelhada em inúmeras actuações e animações ao longo de muitos anos, não só nos festivais da especialidade de tunas académicas por esse país fora e no estrangeiro, mas muito especialmente nas festas populares da região, em arraiais típicos e tradições comunitárias e, de salientar, no inestimável contributo que as tunas dão em relevantes iniciativas de solidariedade ao serviço de causas de todos. Todo o riquíssimo caminho cultural e académico realizado ao longo de muitos anos tem, neste sentido cívico de comunidade, o seu ápice como reflexo de uma visão da vida como sensibilizado serviço. Quantas actuações, noites, cansaços, viagens, ao serviço de causas de todos! Ousamos dizer que nestes 15 anos da Cartola e nas vésperas de condignas festas académicas, as tunas da UA (TUA, MTC e Tuna Feminina), que vivem o espírito de cooperação e unidade pelo bem comum, na riqueza da diversidade de cada uma, estão todas de parabéns!
3. Se formos a fazer o filme da vida, das pessoas, dos grupos informais como das associações e instituições, quase que poderíamos perguntar que seria de nós uns sem os outros? Que seria do espírito da vida académica sem as magníficas tunas? As coisas são como são, e a “energia positiva” que estes núcleos culturais trazem à comunidade universitária como animação e abertura de serviço à sociedade é um bem inestimável. Se fazer aniversário é reparar na história que vamos construindo, então será hora de apreciar as pontes que se foram criando pela mão de quem foi dando as ideias e a vida por grupos culturais estimulantes entre nós. Se 15 anos é muito tempo, todavia, é só o princípio! É bom sentir que um dia festejaremos os «30 a Zero»! A gratidão da história construída junta-se à expectativa de que comunidade que acolhe os valores da cultura e da participação é comunidade mais viva, por isso com mais futuro. É isso mesmo! Não há irreverência que (vos) pare! Venham mais 50!
http://1632un.blogspot.com Alexandre Cruz [17.04.2008]

Na Linha Da Utopia


Diálogo de culturas, ciências e religiões
1. «Onde há diálogo não pode haver agressividade» (Emmanuel Mounier, 1905-1950). Consequentemente, quando há agressividade é sinal de que não se assume o diálogo como procura de entendimento do diverso humano. O ano 2000, a passagem do milénio, trazia consigo a expectativa, finalmente, de “todo” o progresso humano; agora que estavam derrubadas as ideologias do séc. XX, faltando unicamente regular, humanizando, a desordem do capitalismo (selvagem) florescente. Este não se regulou e o momento dramático do “11 de Setembro 2001” trouxe consigo o novo imperativo ético de integrar no esforço reconciliador (uma hermenêutica = estruturação com degraus, como uma escada) todas as ordens do pensamento, não só os admiráveis conhecimentos científicos experimentáveis “tocavelmente”. Todas as culturas, filosofias e religiões, na riqueza da sua diversidade, são caminhos de procura de sentido que condensam em si próprios milhentos símbolos e significados que os tempos, apressados, que vivemos dão pouco lugar ao seu reconhecer e mesmo apreciar como apelo ao “sentido”: tarefa essencial para que a bondade substitua a agressividade.
2. Segundo estudo da UNESCO (ano 2000), existem no mundo cerca de cinquenta mil culturas. Neste contexto, a diversidade é, pois, a riqueza maior a destacar, num enraizamento que brota, naturalmente, do desígnio da unidade comum a todos os seres humanos. Por vezes sente-se que o prato da balança tem crescido muitíssimo para alguns em termos de sociedade de conhecimento científico, tecnológico e económico; mas, ao que parece e pelos efeitos de uma certa “agressividade” intolerante espelhada em múltiplos acontecimentos mundiais, tem crescido (ainda) pouco o prato da balança da inclusão positiva dos conhecimentos da ordem mais filosófico-social e cultural, solidária e essencialmente humana. O desafio do século XXI pode estar espelhado no slogan que a Europa escolheu para si própria neste Ano 2008 – Ano Europeu para o Diálogo Intercultural.
3. Assinalando este Ano Europeu em Aveiro, a EPA – Escola Profissional de Aveiro, levou a efeito significativa iniciativa de alargada sensibilização para os valores do diálogo intercultural e inter-religioso. No Centro Cultural e de Congressos de Aveiro as centenas de estudantes, na linha programática da escola, no âmbito da formação humana para a cultura e sociedade contemporâneas, acolheram com agrado intervenientes de diversas culturas e religiões presentes em Portugal e no mundo, numa óptica do «diálogo inter-religioso para a construção de uma Europa pluralista». Vale a pena referir os nomes: da comunidade islâmica esteve Faranaz Keshavjee; da comunidade judaica, Joshua Ruah; pelo cristianismo, Anselmo Borges. Foi especialmente convidado e homenageado D. Ximenes Belo (bispo emérito de Díli, Nobel da Paz 1996), neste desígnio das culturas, ciências e religiões em diálogo na promoção da paz mundial e da inalienável dignidade da pessoa humana. De tanta riqueza partilhada fica a expectativa feita certeza de que o cidadão do futuro terá de ter estas questões bem presentes na sua formação de todos os dias. Dizemos formação e não formatação!... Para que a bondade humana da PAZ brilhe acima de tudo e em todos.
http://1632un.blogspot.com Alexandre Cruz [16.04.2008]

Na Linha Da Utopia


O Sr. Silva e o Sr. João
1. O Sr. presidente da República está na Madeira. Isto, por si, não seria nenhuma notícia de relevo em regime de liberdade democrática, pois o hábito das visitas de estado já há muito que está consolidado. Sinal de proximidade política dos cidadãos? Talvez nem tanto… Com as visitas dos Sr.s presidenciais e ministeriais vai sempre uma comitiva alargada; percorrem os caminhos e visitam os espaços cuidadosamente limpos e ajeitados para a passagem decorrer da melhor forma possível, mostrando o que de melhor temos ou não temos na vida diária, dando a entender que parecemos melhor do que o que realmente somos. Todos somos assim, pelo menos um pouco, quando há visitas! Mas o excesso da imagem que se quer passar pode, precisamente, ocultar a dura realidade de todos os dias. Nessas passagens, muitas vezes também se juntam à festa o reverso da medalha: manifestações, bandeiras, reivindicações, mas também, na ausência de outra oportunidade, um excesso que desvirtua a mensagem sadia dos problemas diários…
2. Neste contexto a região da Madeira vive a fronteira e a intermitência da festa. Mensagens e recados serão cuidadosamente partilhados entre os dois senhores. Nas vésperas, o Sr. João encarregou-se de dar o timbre da elegância do momento, carimbando de “loucos” os que logicamente pretendiam a visita do Sr. Silva ao local mais emblemático da democracia madeirense, a Assembleia. A preferência do programa foi colocar essa conversa numa jantarada! O Sr. Silva já estava quase no avião de ida quando esta proclamação fora decretada pelo Sr. João. O fio sobre o qual caminha o Sr. Silva é estreito, e o Sr. João é que o tem na mão. Independentemente das qualidades e limites de qualquer político como de qualquer pessoa, e bem acima das virtudes e defeitos, ideias e obras de qualquer pessoa e linha político-partidária, é caricata demais a situação. Na óptica da essência “política” todo o pdeuso-respeito dos “Sr.s” falseia a própria representatividade democrática, e o Sr. Silva parece refém do Sr. João. Não é bom para ninguém, cada coisa no seu lugar.
3. E depois diz-se que os cidadãos estão afastados e permanecem longe da realidade sócio-política da comunidade. Talvez neste caso até permaneçam perto, a fim de ver e ouvir um certo humor feudal que, juntando aqui ou ali razões válidas e/ou questionáveis, muito mais tem de emoções fazendo borbulhar continuamente a terra (em) que o Sr. João põe e despõe no “mapa” nacional. Seja como for, nenhuma obra realizada de nenhum regime que se quer democrático justifica visões autoritárias e substitutivas da inteira representatividade do povo que são as diversidades políticas presentes em Assembleia. O “Sr. Silva”, assim proclamado pelo Sr. João em tempos idos de frequente discórdia estratégica, parece subjugado e suas esforçadas palavras no fio da navalha espelham essa limitação da própria liberdade presidencial (?). Talvez (ou mesmo sem talvez), o Sr. Silva deveria exigir ao Sr. João que a obra mais importante destes dias seria a condigna recepção no espaço mais amplo da democracia madeirense. Ou (acima de tudo o resto) não será?
http://1632un.blogspot.com Alexandre Cruz [15.4.08]

Na Linha Da Utopia


O ambiente da chama olímpica
1. A chama olímpica anda a tentar percorrer o mundo. O que seria um percurso de festa e sensibilização para o saudável espírito dos jogos olímpicos tem sido um complexo labirinto que reflecte as luzes e as sobras da actualidade. Para a causa do Tibete é a hora inadiável, para Pequim os Jogos começam mesmo a ficar mal assinalados, agora também que Secretário Geral das Nações Unidas confirma que, por motivos de “agenda”, não irá estar presente na inauguração oficial dos Jogos. Quanto à chama olímpica, essa, sem ter culpa nenhuma dos males dos homens, por diversas vezes teve de ser protegida para não ser apagada de vez, pois a sua passagem transporta bem mais que uma lamparina acesa...Afinal, a chama olímpica tem verdadeiro sentido quando existe o pressuposto da paz entre os povos; pelo contrário, antes de tudo e depois e tudo, não há ambiente para grandes festas quando é ferida a “chama humana” fundamental da dignidade da pessoa humana.
2. Não sabemos como será a chegada a Pequim da labareda olímpica. Sabe-se, pela ordem física das coisas, que para uma chama arder tem de ter condições ambientais de oxigénio. A China (como alguns designam de) a actual “fábrica do mundo”, para onde se foram deslocando na última década milhares de fábricas pela sedução da mão-de-obra barata, hoje respira um ambienta nada propício para festas e acontecimentos. Nestes dias que faltam até Agosto, o esforço é enorme; mas a sua sustentabilidade humana e ambiental continua duvidosa. Os alertas do próprio Comité Olímpico Internacional estão aí e, por exemplo, já referiram que, no caso de excessiva poluição que impeça condições razoáveis, a prova da maratona pode ter que ser adiada. Do esforço registe-se que algumas fábricas já pararam, que os automóveis estão a ser retirados de certas estradas; os cientistas botânicos chineses estão já há muito a trabalhar, tanto para haver mais árvores dadoras de oxigénio como para o embelezamento florido dos canteiros de flores em Agosto.
3. Tudo num país “acordado” que quer passar uma boa “imagem”. Mesmo num cenário em que as questões ambientais apresentam-se dramáticas, pois Pequim (com 17,4 milhões de habitantes) é uma das cidades mais poluídas do mundo, sendo que na China, segundo o relatório do Banco Mundial de 2007, a poluição do ar nas cidades causa, anualmente, próximo de 400 mil mortes prematuras e a má qualidade da água provoca mais de 60 mil. Números e realidades dramáticas que a chama olímpica quer destronar. Não só para os jogos, mas para ficar gerando uma nova consciência humana e ambiental. Haverá condições para tal meta de sustentabilidade futura? Os próximos meses serão decisivos, ou talvez não. Os Jogos Olímpicos já muitas vezes foram “usados” como atrimanha de poderio imperial e ilusão de imagem. Estes jogos não são bem vindos mas sim os jogos que querem representar projecto dignificante de humanização humana.

http://1632un.blogspot.com Alexandre Cruz [14.04.2008]

Na Linha Da Utopia

A Vocação
1. A palavra “vocação” conduz-nos pelo sentido de uma “chamada”. Mas para esta ser atendida e escutada devidamente exige as justas condições de sintonia e identificação. Talvez, em tempos de uma certa sobrevivência apressada, a palavra “vocação” contenha hoje das dinâmicas mais importantes. Vale a pena começar por ir ao dicionário: «Vocação: s.f.: acto de ser chamado para um determinado fim; inclinação e predisposição para um certo género de vida, profissão, estudo ou arte; tendência; talento; jeito» (dicionário da língua portuguesa). Não é de forma instantânea e fácil que se obtém a plena realização humana; quantas vocações pessoais e profissionais são “aprendidas” ao longo do caminho da vida. Mas também esse sentir-se chamado a algo não se pode situar meramente naquilo que é o “si mesmo”, pois quando se diz que um profissional tem mesmo vocação para esta ou aquela forma de vida é porque serve bem a comunidade. Consciência de vocação é (viver para o) serviço.
2. Já quando as coisas estão desajeitadas, quando ‘a bota não dá com a perdigota’, pode-se ter motivo para dizer que não existe uma identificação plena e realizante com a função que se desempenha, ou então existem outros fins que não o serviço. Outras circunstâncias também existem de vocações (a determinadas profissões bem vistas socialmente ou a certas formas de vida do âmbito da conjugalidade) que, na onda do hábito, pesam mais pelo factor social que por uma opção consciente e escutada profundamente. A este propósito, por vezes, pode haver razão para se dizer, por exemplo, quantos casamentos realizados sem uma inteira vocação, sem levar inteiramente à consciência aquilo por que se opta...(?) Quantas vezes a superficialidade do mais fácil faz com que não se tenha mergulhado nas águas profundas do ser para se conhecer a si mesmo e iluminar na recta consciência os projectos de vida com as suas exigências…(?)
3. Um grande enriquecimento será a capacidade de se ir aprofundando todos os dias a sua própria vocação, o mesmo será dizer, ir pensando a vida e discernindo os caminhos do futuro. Este, hoje, é um valor fundamental que proporciona a identificação da vida de cada dia com o ideal sempre mais elevado que se procura. Sem a sabedoria desta viajem pode-se cristalizar no tempo, deixando apagar a luz interior que comanda uma vida com sentido. Talvez a sociedade, mais do que nunca, precise de uma reflexão transversal e estimulante sobre a vocação à vida e ao serviço, sobre o lugar das diversas vocações humanas e existenciais como riqueza espiritual e opcional de ser humano. Sendo que, por vezes, quando se fala do conceito “vocação” se leva (errada pois) exclusivamente para o campo do religioso, também talvez tal aconteça porque se lhe reconhece grandeza humana e espiritual que está bem acima das coisas práticas. Uma aspiração/convite a todos!
4. Na semana passada a Igreja Católica propôs-se à coragem de reflectir (45ª Semana), em todo o mundo, a problemática das vocações. Profetismo de renovação estrutural à luz do “essencial” ou simples manutenção de modelos? (Por exemplo: que concepção/acção ainda existe em relação ao “lugar” da mulher na Igreja? A sociedade ensina…) Claro que para quem quer “ver” é verdade inadiável, neste tempo, a aprendizagem do pluralismo no contexto das vocações como serviço dedicado à comunidade. Nada de novo que continua sendo tarde… Tudo depende (ou não) do querer, pelo menos, reflectir o futuro! Tem-se dado preferência ao passado…

http://1632un.blogspot.com [Alexandre Cruz 13.04.2008]

16 de abril de 2008

World Competitiveness Yearbook 2007 (WCY): não ficamos lá muito bem na fotografia. Melhor é possível!
Telémaco Pissarro, com música de lá, para ler, pensar, fazer os equilíbrios possíveis.
Sorumbático

15 de abril de 2008

Esplendor de Portugal


Público
segunda-feira, 7 de Abril de 2008
Na lista negra

Há empresas que são aconselhadas a mudar gestores, se querem partilhar os chorudos negócios que se fazem com o Estado
António Borges é um economista de renome e com uma carreira imaculada no sector privado. Considera-se, há muito tempo, uma reserva da nação. É apontado, ciclicamente, como uma alternativa à liderança do partido e candidato a primeiro-ministro, pelos notáveis do PSD. Não sei se está talhado para esses voos porque, apesar de as suas opiniões sobre a economia serem respeitadas, não conseguiu ainda que os seus correligionários e o eleitorado conheçam o seu pensamento político.
Pelo âmbito das suas intervenções, vejo-o antes como um futuro candidato a ministro das Finanças. Poderia ser, aliás, uma excelente escolha para governador do Banco de Portugal, o que ajudaria a prestigiar e desgovernamentalizar uma instituição que está transformada numa irrelevância. Vão longe os tempos dos governos PSD/CDS, em que o seu governador era elogiado pela sua "independência" que, afinal, e a julgar pela forma como apoia o actual Governo, mais não era do que uma forma encapotada de antagonismo. Constâncio tem sido, aliás, tão acrítico que chega a ser mais papista que o Papa, como aconteceu com as suas recentes declarações sobre o IVA.
Mas, na sua última entrevista, António Borges levantou uma questão política que transcende os seus temas predilectos. Falou, desta vez, do clientelismo e queixou-se que a instituição bancária para que trabalha estará na "lista negra", pelo facto de ele não se ter vergado às pressões do Governo. Ora, esta é uma acusação grave, tanto mais que Borges nunca a faria sem obter a autorização prévia dos seus patrões para quebrar um sigilo que, por norma, se aplica às instituições bancárias e, em particular, no que diz respeito à sua relação com o poder político.
Conhecem-se os "casos Charrua", na função pública, em que o delito de opinião é punido. Pela inversa, pressente-se, por exemplo no caso de Constâncio, que a sua subserviência o ajudou a sobreviver à acusação de negligência, no caso BCP. No entanto, a questão das listas negras tem sido abafada, apesar de ser algo que este Governo, ou pelo menos alguns dos seus membros, tem manipulado de forma pouco sensata.
Sabe-se que há empresas que são aconselhadas a mudar gestores, se querem partilhar os chorudos negócios que se fazem com o Estado e as empresas da sua órbita. Ouve-se que há projectos que soçobram porque os seus autores não são "de confiança". Há pessoas que são proscritas, por força dessas pressões. Há gente que cai em desgraça, por estar do lado errado do espectro político ou apenas por ter criado, pelo uso legítimo da sua liberdade de opinião ou de associação, alguma dificuldade a um qualquer ministério. Por norma, não se fala disso, tanto mais que as vítimas receiam que a denúncia só agrave e prolongue o seu ostracismo. Por isso, e mesmo que se possa pensar que o prejuízo que o seu banco tem vindo a sofrer é o preço a pagar pela alternância e contrasta com os benefícios que já terá colhido quando ele era (e porque ele era) "da situação", Borges pode ter prestado, desta vez, o seu maior serviço ao país e à nossa liberdade que, tantas vezes, sentimos amordaçada.
Rui Moreira, Presidente da Associação Comercial do Porto
Guardar docs na net de graça: fileqube

Lugares pelo mundo: Brasil

Tirado de aqui: Jornal a Cidade

Agência Brasil
Alcoa
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Camara Municipal
Diário do Pará
Estadão
Folha de São Paulo
G1(globo)
Governo do Pará
Jornal o Impacto
Jornal OLiberal
MRN
Província do Tapajós
Tribuna da Calhanorte

Creedence Clearwater Revival - Have you ever seen the rain?

Sociedade da informação e comunicação

Investigação e Desenvolvimento em Comunicação: Obercom

Ydreams blog

YDreams tem um blog, que merece toda a atenção.

Esplendor de Portugal


Público
domingo, 13 de Abril de 2008
Angola é nossa!

"Holocausto em Angola" não é um livro de história. É um testemunho. O seu autor viu tudo, soube de tudo.


Só hoje me chegou às mãos um livro editado em 2007, Holocausto em Angola, da autoria de Américo Cardoso Botelho (Edições Vega). O subtítulo diz: "Memórias de entre o cárcere e o cemitério". O livro é surpreendente. Chocante. Para mim, foi. E creio que o será para toda a gente, mesmo os que "já sabiam". Só o não será para os que sempre souberam tudo. O autor foi funcionário da Diamang, tendo chegado a Angola a 9 de Novembro de 1975, dois dias antes da proclamação da independência pelo MPLA. Passou três anos na cadeia, entre 1977 e 1980. Nunca foi julgado ou condenado. Aproveitou o papel dos maços de tabaco para tomar notas e escrever as memórias, que agora edita. Não é um livro de história, nem de análise política. É um testemunho. Ele viu tudo, soube de tudo. O que ali se lê é repugnante. Os assassínios, as prisões e a tortura que se praticaram até à independência, com a conivência, a cumplicidade, a ajuda e o incitamento das autoridades portuguesas. E os massacres, as torturas, as exacções e os assassinatos que se cometeram após a independência e que antecederam a guerra civil que viria a durar mais de vinte anos, fazendo centenas de milhares de mortos. O livro, de extensas 600 páginas, não pode ser resumido. Mas sobre ele algo se pode dizer.


O horror em Angola começou ainda durante a presença portuguesa. Em 1975, meses antes da independência, já se faziam "julgamentos populares", perante a passividade das autoridades. Num caso relatado pelo autor, eram milhares os espectadores reunidos num estádio de futebol. Sete pessoas foram acusadas de crimes e traições, sumariamente julgadas, condenadas e executadas a tiro diante de toda a gente. As forças militares portuguesas e os serviços de ordem e segurança estavam ausentes. Ou presentes como espectadores.


A impotência ou a passividade cúmplice são uma coisa. A acção deliberada, outra. O que fizeram as autoridades portuguesas durante a transição foi crime de traição e crime contra a humanidade. O livro revela os actos do Alto-Comissário Almirante Rosa Coutinho, o modo como serviu o MPLA, tudo fez para derrotar os outros movimentos e se aliou explicitamente ao PCP, à União Soviética e a Cuba. Terá sido mesmo um dos autores dos planos de intervenção, em Angola, de dezenas de milhares de militares cubanos e de quantidades imensas de armamento soviético. O livro publica, em fac simile, uma carta do Alto-Comissário (em papel timbrado do antigo gabinete do Governador-geral) dirigida, em Dezembro de 1974, ao então Presidente do MPLA, Agostinho Neto, futuro presidente da República. Diz ele: "Após a última reunião secreta que tivemos com os camaradas do PCP, resolvemos aconselhar-vos a dar execução imediata à segunda fase do plano. Não dizia Fanon que o complexo de inferioridade só se vence matando o colonizador? Camarada Agostinho Neto, dá, por isso, instruções secretas aos militantes do MPLA para aterrorizarem por todos os meios os brancos, matando, pilhando e incendiando, a fim de provocar a sua debandada de Angola. Sede cruéis sobretudo com as crianças, as mulheres e os velhos para desanimar os mais corajosos. Tão arreigados estão à terra esses cães exploradores brancos que só o terror os fará fugir. A FNLA e a UNITA deixarão assim de contar com o apoio dos brancos, de seus capitais e da sua experiência militar. Desenraízem-nos de tal maneira que com a queda dos brancos se arruíne toda a estrutura capitalista e se possa instaurar a nova sociedade socialista ou pelo menos se dificulte a reconstrução daquela".


Estes gestos das autoridades portuguesas deixaram semente. Anos depois, aquando dos golpes e contragolpes de 27 de Maio de 1977 (em que foram assassinados e executados sem julgamento milhares de pessoas, entre os quais os mais conhecidos Nito Alves e a portuguesa e comunista Sita Valles), alguns portugueses encontravam-se ameaçados. Um deles era Manuel Ennes Ferreira, economista e professor. Tendo-lhe sido assegurada, pelas autoridades portuguesas, a protecção de que tanto necessitava, dirigiu-se à Embaixada de Portugal em Luanda. Aqui, foi informado de que o vice-cônsul tinha acabado de falar com o Ministro dos Negócios Estrangeiros. Estaria assim garantido um contacto com o Presidente da República. Tudo parecia em ordem. Pouco depois, foi conduzido de carro à Presidência da República, de onde transitou directamente para a cadeia, na qual foi interrogado e torturado vezes sem fim. Américo Botelho conheceu-o na prisão e viu o estado em que se encontrava cada vez que era interrogado.
Muitos dos responsáveis pelos interrogatórios, pela tortura e pelos massacres angolanos foram, por sua vez, torturados e assassinados. Muitos outros estão hoje vivos e ocupam cargos importantes. Os seus nomes aparecem frequentemente citados, tanto lá como cá. Eles são políticos democráticos aceites pela comunidade internacional. Gestores de grandes empresas com investimentos crescentes em Portugal. Escritores e intelectuais que se passeiam no Chiado e recebem prémios de consagração pelos seus contributos para a cultura lusófona. Este livro é, em certo sentido, desmoralizador. Confirma o que se sabia: que a esquerda perdoa o terror, desde que cometido em seu nome. Que a esquerda é capaz de tudo, da tortura e do assassinato, desde que ao serviço do seu poder. Que a direita perdoa tudo, desde que ganhe alguma coisa com isso. Que a direita esquece tudo, desde que os negócios floresçam. A esquerda e a direita portuguesas têm, em Angola, o seu retrato. Os portugueses, banqueiros e comerciantes, ministros e gestores, comunistas e democratas, correm hoje a Angola, onde aliás se cruzam com a melhor sociedade americana, chinesa ou francesa.
Para os portugueses, para a esquerda e para a direita, Angola sempre foi especial. Para os que dela aproveitaram e para os que lá julgavam ser possível a sociedade sem classes e os amanhãs que cantam. Para os que lá estiveram, para os que esperavam lá ir, para os que querem lá fazer negócios e para os que imaginam que lá seja possível salvar a alma e a humanidade. Hoje, afirmado o poder em Angola e garantida a extracção de petróleo e o comércio de tudo, dos diamantes às obras públicas, todos, esquerdas e direitas, militantes e exploradores, retomaram os seus amores por Angola e preparam-se para abrir novas vias e grandes futuros. Angola é nossa! E nós? Somos de quem?
António Barreto, Sociólogo

Sessão de esclarecimento do MEP - Aveiro

Vai realizar-se em Aveiro, com a presença do Dr. Rui Marques, líder nacional do Movimento Esperança Portugal (MEP), uma sessão pública de apresentação e esclarecimento para a qual ficam convidados.

Sexta-feira, 18 de Abril, às 21h00, auditório da Biblioteca Municipal

14 de abril de 2008

Pedro Rolo Duarte sobre o Blog do MEP

Aqui fica o elogio do Pedro Rolo Duarte sobre o blog do MEP na sua crónica para a Antena 3, Janela Indiscreta.

Mercado político

A ler e reflectir:

Perdido o pudor fica o poder, Mário Crespo no JN

10 de abril de 2008

Na Linha Da Utopia


O Tempo da Vida
1. É com este tema «O Tempo da Vida – quantos somos, como seremos» que decorrerá nestes próximos dois anos o Fórum Gulbenkian de Saúde (www.gulbenkian.pt). A opção temática elaborada pelo reconhecido neurocirurgião professor João Lobo Antunes, versando sobre a problemática do envelhecimento humano, é extremamente positiva e estimulante. Como se sabe, a preservação da dignidade da pessoa humana na designada “terceira idade” é temática que, de forma crescente, se reveste de uma premente preocupação social. Diante das fragilidades sociais de relacionamentos, das inconsistências ou ausências da família, a comunidade dos irmãos “mais velhos” sofre (ou sofrerá) a solidão que transforma esse tempo de vida em tempo negativo e pessimista, pois que o futuro se apresenta profundamente incerto diante do presente solitário.
2. Esta jornada de dois anos da FCG (Fundação Calouste Gulbenkian) merece toda a visibilidade pública na sociedade portuguesa (e europeia). Não unicamente pelo facto da presença de grandes especialistas mundiais. Mas apresenta-se como “antídoto” de reflexão necessária e urgente para, nas exacerbadas políticas emergentes do pragmatismo e economicismo, não chegarmos às ondas generalistas de “eutanásia” como solução prática para o “mistério (terminal) da vida”. Esse pragmatismo vazio vai alastrando pela Europa, e representa, no fundo, a concepção que afinal se tem da própria vida. Sobre estas e todas as questões do bem comum, “questões de cidadania”, é urgente a reflexão de qualidade deste género para (in)formar as mentes sociais e para iluminar, com o justo e ético discernimento, as decisões no caminho da dignificação humana.
3. Vidas que não se sentem amadas, no passar dos anos e no chegar das “rugas” do tempo, são vidas de pessoas que, diante do sofrimento humano, sentem-se sós. E na desumana faceta “produtora” das sociedades actuais, ao deixarem de produzir correm o perigo de se sentirem (ou serem colocadas) na margem. Este é um dos dramas que cresce, e tanto mais cresce quanto a (bem-vinda) longevidade aumenta mas em que a “presença” fraterna e solidária diminui. Uma vida que é construída nos valores da fraternidade e da família, na cuidada preocupação de “semear” o jardim dos afectos e da amizade, pode acreditar mais na esperança de acolher o carinho, a presença e o conforto, mesmo diante das maiores fronteiras do sofrimento.
4. Como resposta a uma certa “coisificação” actual da vida, a reflexão sobre a qualidade de TODO o tempo da vida, especialmente nas fronteiras do envelhecimento, é mais que uma reflexão, é preparar e oferecer uma luz para o caminho nas horas em que já não dependemos de nós. Há dias alguém estudado dizia que a facha etária que mais está na “margem” social são as gerações mais idosas (já as crianças são sempre mais amparadas…). Reflectir socialmente para actuar solidariamente, seja este um lema de vida com qualidade… Até ao “fim” sereno, natural e pacífico (que é ponte de passagem, numa esperança que deseja vencer a própria matéria. Já hoje…!)

http://1632un.blogspot.com Alexandre Cruz [10.04.2008]

PSD em mudança

Pelo que veio dizer Ângelo Correia, o PSD prepara a mudança. Ele é o porteiro do novo inquilino.

Na Linha Da Utopia


Entender (o que move) a Ásia
1. A medicina chinesa tem cinco mil anos. A religião mais antiga do mundo, o Hinduísmo (posteriormente reinterpretado em diversas variantes) nasceu na Índia há seis-oito mil anos. Nos tempos pós-medievais e nos inícios da chamada Idade Moderna, o “sonho” era chegar à Índia, a terra nas novas promessas, concretização dos povos europeus que coube à comitiva portuguesa de Vasco da Gama. O pós-guerra de meados do século passado começa a ver um Japão erguido na base da tecnologias de vanguarda que, então, seduziam a América do norte.
2. Na actualidade a banca americana entra na “dependência” chinesa; os tecidos e louças da Índia e China “rebentam” com os modelos tipificados ocidentais; o Japão afirma-se como potência que soube captar o segredo da visibilidade aplicada às vanguardas da eficácia científica e tecnológica da imagem. No ano 2000 das dez torres mais altas do mundo (tidas “sinal” civilizacional de progresso), oito estavam erguidas no mundo asiático. Em termos demográficos o contraste entre a Ásia e o resto do mundo “obriga” à diáspora cultural do oriente pelo mundo fora. Mas na bagagem, discreta para ir bem mais longe, não se renega a essência cultural; esta é vivida e assumida (na generalidade) com orgulho preservador.
3. O chamado mundo ocidental (se é que esta designação em tempo global ainda faz sentido…) já parece resignado; o que há décadas parecia “estranho” hoje “entranha-se”. Ainda por cima num clima que parece desordenado em relação ao mundo do trabalho, do ambiente, da dignidade da pessoa humana. Os “novos-ricos” asiáticos, após as gerações escravas precedentes, sabem lidar no tabuleiro do xadrez global, tirando partido da necessidade (a caminhar para a dependência) que o resto do mundo começa a ter do oriente. A sua diáspora estendida por todo o mundo, num mundo ocidental que “não” tem filhos, vai fazer com que daqui a algumas décadas eles estão “em casa” em todo o planeta. Nada de mal, será um facto; desde que exista “casa para todos” na matriz cultural de cada um, mesmo para os que hoje habitam este lado do mundo…
4. A questão cultural das identidades e pertenças talvez se venha proximamente a colocar como nunca na história humana. Porque como nunca viajámos tanto e tão rápido. O desafio do “entendimento humano” das diversidades na base de uma “razão” aberta na sensibilidade à cultura, ergue-se como a “chave” que pode, apesar de tudo, preservar a concepção (tida para nós como) inalienável da dignidade da pessoa humana. Este aprofundamento, agarrando “asas” de transversalidade, pode ser a “nossa sabedoria” ocidental a confrontar criativa e inclusivamente estabelecendo diálogo e “parceria” com o potencial das imensas sabedorias asiáticas. Se não tivermos “sabedoria” um dia seremos estrangeiros, desidentificados, em nossa casa. O ser e o tempo não perdoarão a distracção ocidental! E o mundo precisa da preservação aprofundada dos valores que estão nas raízes do ocidente… O diálogo (não ausência) precisa de todas as partes em presença…
http://1632un.blogspot.com Alexandre Cruz [09.04.2008]

Na Linha Da Utopia


E o lugar das grandes questões?
1. São as grandes perguntas que conduzem às grandes respostas. Frequentemente, em trabalhos com as mais novas gerações, deparamo-nos com um “sinal” destes tempos: muitas vezes estamos tão preocupados e preparados em dar as grandes “respostas”, todavia, a perguntas que nem sequer existem… Quantos caminhos de possíveis e urgentes reflexões a serem realizadas não partem do ponto de partida? Quantas oportunidades perdidas (ou pelo menos adiadas) em darmos passos adiante naquilo que é o reflectir para desenvolver mais e melhor a qualidade de humanismo, de valores, das relações, da própria democracia em pluralismo, e, em última (e primeira instância), do próprio sentido da vida?!
2. A par da resposta de que “não há tempo”, a onda vai mais no sentido das “coisas” que da ordem do pensar as grandes questões do nosso tempo. De quando em quando, isso sim, quando uns “safanões sociais” lideram as notícias, então aí apercebemo-nos de que temos de construir alicerces…mas logo tudo passa! Das coisas mais alarmantes quanto ao futuro, algo talvez nunca visto (até porque as “juventudes” são fenómeno recente na vida das sociedades), é um vazio “à deriva” em termos de ideias e práticas. É um facto preocupante que, para além de haver sempre uma elite solidária esforçada em causas (claro!), a “grande massa” recebe pouco dessa chama e vive uma indiferença aprendida também por gerações precedentes e pelos “fáceis” modelos sociais reinantes.
3. O próprio valor das palavras vai-se abrindo a novas dimensões, e mesmo aquilo que era o “entretenimento” há uma década, hoje, em determinados quadrantes de vidas, ocupa um lugar não periférico mas é centro da vida. Como que a “brincar”, as coisas vão mudando, e caminhando para a superficialidade do não se perguntar sobre os “grandes porquês”. Dizemo-lo sem pessimismos…como se o “antes” fosse sempre melhor; falamos com realismo preocupante no sentido de que parece que tardamos a compreender que os problemas deste século XXI não são tecnologias nem ciências, são sim “relacionamentos”. Ou será que só na tempestade dos “11 de Setembro” despertamos para além do visível?...
4. Enquanto não conseguirmos criar uma “ponte” que ilumine de referenciais estimulantes a “massa social” em torno das grandes questões (que são culturais e éticas), o tempo da vida fica aquém, ou vai-se mesmo distanciando, de um ideal de fraternidade; valor este proclamado no estado de direito há mais de dois séculos, mas só numa iluminação superior de há bem mais séculos é que se pode inspirar, compreender e viver. As grandes questões têm de existir, se não existem têm de se provocar. A fim da apatia anémica não triunfar. Afinal, é o desígnio de uma sociedade aberta, participativa e solidária, o decisivo teste às juventudes de hoje!
http://1632un.blogspot.com Alexandre Cruz [08.04.2008]

Na Linha Da Utopia


As escolas são o que somos?
1. Não há redomas de vidro. O que somos no “sentir” revela-se na vida em sociedade. O que somos em casa acaba por se manifestar na estrada, nos jardins, na escola. Por vezes, nas alturas em que determinados “casos” saltam para a luz do dia, muitas reflexões centram-se mais na preocupação da atribuição de uma “culpa” para outrem do que da corresponsabilidade social de todos nos problemas comuns. Estabelecem-se, fragmentadamente, compartimentos estanques; dividem-se áreas até ao limite; tecnicizam-se as relações humanas (ou a sua desordenança violenta) no detectar das causas dos factos perturbadores. Nesse caminho de procura de respostas aos “porquês”, muitas vezes, não há tempo ou não se dá a justa importância ao essencial da “humanidade” das pessoas. Prefere-se a técnica. Mas sem o alicerce humano a construção vai-se “utilitarizando” na superfície...
2. O que de inquietante “perturba” (ou melhor interpela e desafia) a escola contemporânea brota da comunidade social. A escola, “simplesmente”, é tempo e lugar de lançar a semente, na expectativa de que o terreno queira dar frutos. A escola vive no “meio”, entre (pelo menos) dois meios: quer queira quer não, sente as complexidades do e no “meio” social em que está inserida, e, simultaneamente, está na fronteira de todas as expectativas (hoje maiores que nunca), vive no “meio” da (trans)formação das gerações... Quando alguém entra na escola, leve a sociedade em que vive, mas, com os conhecimentos adquiridos, recebe a nobre responsabilidade de aperfeiçoar a mesma comunidade social. Talvez este seja mais um esquema pré-formatado que a nova complexidade sócio-educativa rapidamente desmonta e desinstala...
3. Há muito a aprender de tudo aquilo que na sociedade vai conseguindo motivar as mais novas gerações. É imperioso tirar partido do que pode estabelecer ponte comunicativa e viver esse caminho da aprendizagem permanente. Como fazê-lo? No tempo das mobilidades…cristalizar, parar, será “morrer”, desligar, desconectar. Fronteiras novas e sensíveis, que não podem perder o contacto do essencial, o humano de cada um de nós. Se uma transversalidade inédita de factores entram pela escola dentro surpreendendo-a (por vezes desordenadamente), o eixo de todas as (possíveis) soluções só lhe pode corresponder na expectativa de sua ordem reconfigurada. Não “incluir” será desligar a “ficha” que ofereceria as situadas novas possibilidades. É certo que este é já um caminho de longos séculos, mas que “em” globalização recebe desafios na sua directa proporcionalidade.
4. A escola parece não estar preparada para os “mundos e fundos” que se lhe pedem. Talvez seja reflexo d’“o que somos”. A escola, como a vida, merece que lhe seja dado mais “tempo humano”…formação, mas com sensibilidade. Que o diga António Damásio ao recolocar no “mapa” o “sentimento de si”, do que somos de mais profundo. É esse o “lugar” invisível e supra-técnico privilegiado a moldar pessoal e socialmente. Mas nunca tantos instrumentos existiram em “mãos educandas”. Pormenores decisivos…!
http://1632un.blogspot.com Alexandre Cruz [07.04.2008]

7 de abril de 2008

Na Linha Da Utopia

O FCP é campeão
1. O Porto é campeão. Ponto final. Quase não é notícia, de tal forma que o panorama futebolístico está habituado ao triunfo dragão. O que nos últimos dias acabou por ser notícia foi, precisamente, o incómodo manifestado pelo treinador azul de se considerar a vitória do porto tão natural que nem merecia destaques de imprensa. É o que faz ganhar o campeonato tão cedo! Mas eis que o sábio presidente Jorge Nuno, entretanto, soube colocar no mapa destes dias mais um triunfo azul e branco. “Ferido” pelo apito dourado, responde com todas as letras num rasgado populismo que a caravana portista aplaude com louvado entusiasmo ao seu deus; e quanto mais ele dirige a ofensa aos “vermes” do sul, mais o entusiasmo das palmas manifesta o domínio do povo pelo senhor feudal…brilhante na gestão das emoções públicas!
2. O Porto é campeão, ou “campeoem”, à moda do Porto. Talvez mais por demérito da concorrência, mas também por mérito da organização da casa. Aplica-se o ditado que “a desgraça de uns é a sorte dos outros”. Diz-se que Pinto da Costa sabe mais a dormir que os outros todos acordados. E no meio de seus discursos inflamados também será de salientar as verdades denunciadoras do excessivo centralismo de tudo na capital em que “o país é Lisboa”. Independentemente de tudo o resto, e de um “cerrar fileiras” ou “mobilizar as hostes”, como se fosse preciso haver sempre um “inimigo”, os frutos da boa gestão estão aí. O Porto soma e segue, é campeão e já prepara as próximas épocas. Coisa bem diferente para os outros, que agora vão-se entretendo com o campeonato dos segundos.
3. O Porto é (já) campeão. Pena. Não só porque o título deve ir mudando de mão, e este ano “atribuiríamos” o título ao grande Rui Costa glorioso! Ser campeão tanto tempo antes do tempo apaga o resto da pouca energia do campeonato português. Os pontos de vantagem portista mostra bem a distância da disciplina, do rigor, do trabalho, da gestão. Se os clubes também são espelho das suas regiões, então no “norte” vive-se outro ritmo. Não é novidade que as “capitais” sempre foram mais calmas, pois a boleia da “sombra” sempre parecera garantida… As vitórias da vida, como do futebol, são dos que fazem por isso, não dos que passeiam a camisola. O FCP ganhou e com justiça, porque dentro do campo trabalhou mais; não precisa de criar ou puxar o cordelinho de que todos são “inimigos” para ganhar “contra tudo e contra todos!”. Já um disco riscado!
4. Com tal intensidade de fogo ateado pelos líderes, depois admiramo-nos das ondas de violência…! Outra coisa, ainda, é o “apito dourado”… Embora nestas lides é pena que tudo faça parte de um mesmo jogo que já há muito deveria estar limpo! Continua difícil ver esta luz ao fundo do túnel…
Alexandre Cruz [06.04.2008]

Na Linha Da Utopia

À Janela
1. O mundo corre depressa, demais, sem tempo para saborear os momentos, os instantes, os pormenores, ávida. É a nova lei da sobrevivência. A lógica da quantidade invade todos os terrenos que precisam respirar “sentido”, horizonte, para “ser” qualidade. Vivemos muito do tempo em “janelas” de comunicações informáticas, nas novas tecnologias que nos vão (tele)comandando. Um bem extraordinário, mas mais um desafio a saber conviver quanto baste com elas para haver tempo(s) de convivência com aqueles que são a razão de ser da vida, as pessoas... Para não nos deixarmos “afogar” nas “coisas” utilitárias, o auto-domínio e a distância crítica serão, hoje, uma alavanca decisiva em ordem a preservar a humanidade da Humanidade.
2. Um dia destes, na nossa cidade, no momento em que o sinal vermelho obriga a parar, reparo num rosto de uma pessoa, de seus 70-80 anos que estava à janela de uma casa. O dia estava de um sol que brilhava, iluminando as ruas e as relações das pessoas. O rosto dessa pessoa idosa, que parecia estar em pé com muleta, era como quem, procurando fugir daquela solidão que “mata”, anseia por uma réstia de luminosidade que seja o sentir a vida da cidade. O semáforo passou a verde, tem de se acelerar, senão uma buzinadela faz assustar os transeuntes do passeio. Uma última olhadela nessa pessoa e, até sempre. Quantas janelas falam solidão pelo olhar de quem ela é o único fio de contacto com a cidade dos vivos! Quantas janelas, do lado de dentro, gritam um silêncio perturbador da inquietação do “não há tempo” para amar a vida dos que nos deram a vida?!...
3. O único remédio parece ser mesmo “remediar”. Os modelos de sociedade, de quando em quando com impulsos que cortam o resto de tempo para conviver, caminham na ordem do pragmatismo alucinante. Este, muitas vezes, dependendo do património de valores, é inimigo da “companhia”, da sensibilidade, do tempo para estarmos mais uns com os outros. Mas também, noutras circunstâncias, quando esse tempo sobra não existe um “coração” afável que saiba cuidar do essencial. Este é o tempo das opções com sentido de humanidade. Quanto mais ampararmos mais seremos amparados... Se não cuidarmos dessa árvores da vida, com afecto, amor e presença, também é essa janela que nos (des)espera. Tem de haver tempo…para que o sol de todos os dias possa entrar por essas janelas de um coração humano!

Alexandre Cruz [03.04.2008]

Na Linha Da Utopia

A revolução da r(el)acionalidade
1. Os tempos actuais servem a cada semana novas tecnologias de comunicação. Cresce a olhos vistos a oferta de consumíveis prodigiosos, que dão para falar, escrever, fotografar, filmar, enviar, comprar, aceder à internet… É a revolução digital em veloz andamento, todavia, a reclamar a correspondente fronteira de convivência e mesmo da privacidade. As diferenças e diversidades de pensamentos e vida vão-se aproximando, a um ritmo que precisa da “racionalidade” como farol de referência. Mas não chega uma racionalidade “fria”, técnica, instrumental, empírica. Seja uma racionalidade humana como capacidade de pensar crítica e criativamente sobre a vida, os outros, as coisas, a Verdade. Para esta “aventura” decisiva à edificação de um futuro comum no mundo actual a “inteligência emocional”, envolvente de toda a pessoa e aberta a todas as pessoas, será o guia para se chegar a esse bom porto.
2. Há muita inteligência, hoje tornada tecnologia, que, ampliando mil potencialidades de alcance e rapidez, todavia, vive “enferma” pois na sua aplicação real revela a incapacidade de aceder à raiz humana comunitária, e amplia mesmo as desigualdades. Muitas vezes, ao mesmo tempo que vemos crescer os instrumentos, é um facto, vemos diminuir as “presenças” nos (e dos) interesses solucionadores das preocupações do bem comum. Se a época é de nova “revolução científico-racional”, teremos de conjugar os factores em ordem a uma visão relacional de tudo. Esta apresentar-se-á hoje como eixo decisivo, mesmo em ordem ao entendimento dos povos.
3. Nesse pressuposto relacional abrangente, já as finalidades adquirem outro alcance. Não se tratará de uma “razão” qualquer, fechada sobre si mesma, em modelos marcadamente teóricos, “fora da história”. Como “seres em relação” que todos somos, a própria ordem dos conhecimentos e da inteligência reconvertem-se no ideal de serviço à humanidade concreta. À medida que o conhecimento do profundo das culturas vai chegando à luz do dia global, ergue-se com maior premência o desafio do acolhimento das diferenças que, não desrespeitando a “dignidade humana” (patamar de referência comum), haverão de ser apreciadas e integradas na sua diversidade.
4. Não chegam meramente as “respostas antigas”, pois os desafios da proximidade são novos. A globalização em exercício vive-se à descoberta, não traz consigo as fórmulas solucionadoras de todos os problemas. Não será uma questão de tecnologias; essa já atingiu patamares admiráveis ao pôr-nos em contacto uns com os ouros. Será uma questão de Humanidade. A assumpção do diálogo inter/multicultural (acima de um “refrão” mas como existência social) será uma das chaves de leitura inclusiva daquilo que será cada vez mais a hiper-confluência (por vezes deordenada) de informação. É por isso que uma cidadania activa na base dos direitos humanos pode ordenar criativamente o encontro de uma “razão” que é chamada à “relacionalidade”.
Alexandre Cruz [02.04.2008]

Na Linha Da Utopia


Uma Aliança Mundial Diária
1. Cresce a consciência de que pertencemos a um mesmo mundo e que nenhuma das pessoas vive isolada. Mesmo para os pensamentos mais críticos, a interdependência é hoje um factor inalienável, numa nova consciência de ideais e valores em que “cada pessoa que se eleva, eleva a própria humanidade”. O contrário, infelizmente, também é verdade: cada ofensa ao “outro”, ao património comum ou a si mesmo, empobrece a mesma humanidade. Esta consciência planetária está aí, todos os dias, entra pelos olhos dentro; ora perturba, ora fascina. Todas as formas de comunicar trazem consigo essa dupla face da moeda humana, a verdade no melhor e no prior. Diante da super abundância da informação, provinda de todos os lados pelas tecnologias da informação (que nos ultrapassam e nos fazem sentir pequenos…), os desafios são ainda maiores. Mais potencialidades, maiores responsabilidades.
2. Tem sido realizado um caminho ao encontro da reunificação (na diversidade) da Humanidade. O séc. XX trouxe consigo, após as grandes guerras na Europa, uma nova consciência universalista, tolerante e acolhedora, espelhada na Declaração Universal dos Direitos Humanos (10 Dezembro 1948). Esta “nova contagem” do tempo humano abre a “era da globalização” e multiplica os laços de esforço ético e corresponsável diante do futuro. Entre tantas e diversas referências, apresentamos algumas daí decorrentes: Declaração para uma Ética Global (1993, Parlamento das Religiões do Mundo em Chicago); Projecto de Ética Universal (em redacção pelo departamento de Filosofia e Ética da UNESCO); criação da Fundação de Ética Mundial (1995, com a liderança de Hans Küng); Declaração Universal para a Responsabilidade Humana (1997, redigida em Viena pelo Interaction Council Congress); Carta da Terra (1999 – 2002, Aliança Internacional de Jornalistas e co-redigida pelo Conselho da Terra e Cruz Verde Internacional); criação da Aliança de Civilizações da ONU (2005).
3. A Aliança das Civilizações foi iniciativa lançada em Agosto de 2005 por Kofi Annan e com o co-patrocínio da Espanha e Turquia, tendo sido nomeado o cidadão Jorge Sampaio como Alto-Representante da ONU (a 14 Julho 2007) (hoje, 2008-04-02, na Universidade de Aveiro). Em Janeiro passado, neste 2008 - Ano Europeu para o Diálogo Intercultural, decorreu em Espanha o 1º Fórum da Aliança das Civilizações, na procura intensificadora da “apresentação de iniciativas e projectos de alto nível para fomentar o diálogo intercultural”. Os esforços estão aí, como resposta às problemáticas do encontro “inédito” do sentir e exprimir humano do mundo pós-11 de Setembro. Nunca estivemos “tão perto”; mas nunca como hoje esse encontro da proximidade faz brotar novos e decisivos desafios. Todos os diálogos são essenciais. Todos os dias, das maiores às mais pequenas coisas da vida…

Alexandre Cruz [01.04.2008]

Na Linha Da Utopia


Cristiano Ronaldo, o dom e o trabalho
1. A magia de Cristiano Ronaldo vai contagiando o mundo (do futebol). Este passado fim-de-semana o “génio da bola” fez novamente das suas, mais uma vez, surpreendendo não só os adversários dentro do campo mas mesmo o mais leigo espectador (do futebol). Um dom especial, ninguém duvida. Muito trabalho, disciplina de treinos e rigor, já talvez nem tantos assim o saibam. Valerá a pena compreender, como sentido de exigência e espírito de sacrifício e luta, que o que se passa dentro das quatro linhas do futebol terá muitas lições a dar à vida diária, especialmente daqueles que estão na fase da sua primeira formação humana. Quando se pergunta a uma criança ou adolescente o que queres “ser”, na resposta imediata de “jogador de futebol” estará uma ideia de que para o ser quase não é preciso trabalhar, que é só chutar uma bola e marcar golos; e receber toda a admiração popular e os aplausos de reconhecimento. Puro engano, que esconde os sacrifícios necessários para atingir tal patamar de altíssima competição como no triunfo de qualquer atleta.
2. Talvez na sociedade de hoje a ideia fácil de ser jogador de futebol seja das maiores falsidades de que essa “felicidade” heróica se atinge com a maior das “facilidades”. Para que as ilusões se esbatam, mesmo sobre o melhor jogador do mundo da actualidade (há dúvidas?!), Ronaldo não esconde de que só com muito trabalho é que lá se chega. É verdade que o “dom”, a arte e a “magia” também nascem com as estrelas; mas a fatia decisiva do sucesso exige muita disciplina, rigor, método, auto-domínio, sentido de equilíbrio. Que o digam alguns documentários sobre a vida de Cristiano Ronaldo, dos sacrifícios feitos, das horas a fio de treinos mesmo depois dos outros atletas irem embora, as palavras fortes e directas de exigência do treinador, o sentido de camaradagem. Nada se faz sem trabalho, nem um jogador de futebol; e nada se faz sozinho, tudo terá de ser “jogo de equipa”. O Ronaldo brilha na equipa do Manchester; na selecção nacional, quando (ainda) não há equipa, não se pode esperar todos os milagres dos pés dele!
3. Talvez nos tempos actuais, especialmente também diante dos estatutos (permissivos) dos alunos, nas escolas, a “parábola educativa” que pode ser o futebol sublinhará a insistência de que só com trabalho (muito treino) venceremos. Sem “assiduidade”, sem rigor, sem espírito de equipa, sem método (que com toda a criatividade nos surpreenda), seremos o jogador que ao fim de uma corrida cai para o lado. O futebol, como escola de formação, também nos pode iluminar como referencial de exigência educativa. Quando não, a “derrota” será certa. Os treinos de Ronaldo à chuva, ao granizo, ao sol, poderão ser o espírito de luta naquilo que se quer. Com o exacerbar das facilidades não iremos lá! Ficaremos a ver o jogo passar…, a apanhar as bolas que sobram. O segredo serão as pequenas vitórias de cada dia!

Alexandre Cruz [31.03.2008]

Na Linha Da Utopia


Facilitação legal, espelho de “vazios”?
1. No discernimento apurado sobre o valor das leis, chegaremos à conclusão de que elas terão de assumir a matriz da dignidade da pessoa humana em sentido de comunidade, não se devendo diluir a lei meramente nos hábitos e costumes sociais, como se o que contasse fosse sempre a maioria, bastando haver, mesmo para a pior das decisões, 50% mais um. As fronteiras são, naturalmente, delicadas; mas uma função pedagógica, social e ética, das leis sempre foi um referencial em ordem ao progresso humano das sociedades. Mal vai quando, simplesmente, a lei naquilo que pode ser considerado de humanamente importante, já perdeu o seu estímulo e, resignadamente, ajusta-se aos hábitos da facilitação de tudo e dos próprios valores relacionais. Que se poderá dizer ou que sentir diante de leis que parece que visam o contrário do “espírito” dignificante pressuposto da “Lei”? Se uma lei é feita com a finalidade de baixar a fasquia ou gerar permissividades, vindo legitimar formas de vida e acção não conforme os considerados valores universais, que se poderá considerar?
2. Muito acima da casuística de cada situação, as sociedades que ergueram a «liberdade» como referencial colectivo vão ditando formas legais que atingem a «liberdade dos outros». O esboço e a ideia que caminha para a total facilitação legal do divórcio, será já espelho do valor que se dá às relações humanas e nestas à própria conjugalidade? Muito acima de quaisquer questões filosóficas, políticas ou religiosas, pois é uma questão humana e social que está em causa, que considerar quando se procura afastar cabalmente a «razão» e as «razões» da separação do casal? Mesmo em situações complexas e apesar dos sofrimentos e dramas da vida em que o “mal menor” será a separação, não será que, pela ausência de sentido de “verdade” e justiça, se está a esvaziar a ética da própria lei a aprovar? As perguntas podem não acabar…
3. Já há pessoas e analistas sociais que, pelas ideias que movem este perfil de legislação agora em caminho, vão fazendo a caricatura da banalização e do oportunismo que daqui poderá advir. Saberão os promotores ou defensores no parlamento do “divórcio já” tudo o que está em causa e os sinais que vão dando à sociedade? Afinal, que concepção de família, que ideais de pertença e que relações humanas, norteia o que se procura facilitar? Quem diria, onde chegámos nas nossas sociedades: aqueles que efectivamente amam a raiz da vida, ter-se de gastar energias a proteger a comunidade primeira, a família. E agora numa quase bipolarização estratégica e mediática, entre os que são chamados de “conservadores” porque defendem a família e os seus valores essenciais, e os que, no “deixa andar” mais cómodo e prático, facilitador, vão fazendo prevalecer uma liberdade na superficialidade, já sem a responsabilidade. A par dito mesmo diz-se que estamos na “Era do Vazio” e que depois as escolas manifestam uma dificuldade em gerar ambientes relacionais dóceis! Tudo está ligado… Cada vez mais, é na simplicidade todos os dias que fazemos as grandes opções; nestas a concepção de família é hoje uma opção e um valor essencial e inalienável. Ou (já) não será? Perguntar é procurar.

Alexandre Cruz [30.03.2008]

Na Linha Da Utopia


Geração suspensa?

1. São diversificadas as atribuições aplicadas às novas gerações. Desde os anos 60 (Maio de 68), com o emergir da «juventude» como grupo social, uma multiplicidade de nomenclaturas, umas mais felizes que outras, procuram na actualidade de cada tempo compreender as mentalidades mais jovens. Habitualmente essas atribuições trazem consigo um sabor a injustiça, mas também um pouco de verdade. Injustiça porque a geração que se dá ao luxo de qualificar os vindouros é a geração que lhe está todos os dias a dar (ou não dar) a formação cultural, os desejados valores referenciais e educativos para uma vida repleta de dignidade e autêntica liberdade responsável. Um pouco de verdade, pois, muito acima da “vitimização” sempre mais cómoda (de que as causas de todos os males vêm de trás…), haverá que olhar “olhos nos olhos” das juventudes contemporâneas e gerar climas de absoluta corresponsabilidade sócio-educativa, cívica, dignificante e mesmo ecológica, no esforço de todos, comunidade, caminharmos no aperfeiçoamento daquilo que está aquém do ideal (hoje) ético global.
2. Quem não se lembra do debate levantado há anos quando, diante de manifestações estudantis ao rubro, Vicente Jorge Silva, do então jornal Público, lançou o polémico epíteto «Geração rasca»? Do mesmo modo não podemos ser indiferentes à recente qualificação «Geração em saldo» da revista Visão, referindo-se nomeadamente às dezenas milhares de jovens licenciados que vivem precariamente, no desemprego, ou, quando muito, a recibos verdes. A par de todas estas realidades dolorosas, assistimos a um certo “beco sem saída”, ou melhor em que a saída é mesmo “sair”, até de Portugal, num novo êxodo de emigração para os mais próximos países europeus ou para países de língua portuguesa. Falta-nos mais sermos cá dentro a energia que temos lá fora! Ainda, hoje, é uma multidão incontável de casais novos (e muita da geração dos 30 anos) que vive “às custas” de seus pais ou fazem dos avós os verdadeiros pais (quando há trabalho) num desenraizamento crescente da essencial ligação paterna.
3. Tempos de profunda transformação, onde a par do domínio excelente e inédito das tecnologias e de múltiplos conhecimentos, as novas gerações vão reaprendendo todos os dias a conviver com o drama e a ansiedade da incerteza quanto a quase-tudo: incerteza no trabalho, nos juros bancários, no aumento dos preços (de bens tão básicos como pão, leite, combustíveis, água), na própria vida afectiva e conjugal onde, infelizmente, os chamados “valores da família” foram quase retirados para a periferia. Vermos muita da gente das novas gerações a viver a incerteza e o desencanto desta fronteira faz com que o próprio futuro apareça como que “suspenso”… Talvez no meio de todas as incertezas e instabilidades o tempo actual precise mesmo do regresso à comunidade primordial dos afectos, a família. Esta pode ser garantia de serenidade, conforto e paz, mesmo nas turbulências da vida. Mas haverá vontade de enfrentar, problematizar e reflectir estas questões? Qual o lugar dos referenciais modelo, para termos onde “pousar”? Ou estamos mesmo a transferir tudo para uma subjectividade do “cada um é que sabe”, conduzindo a história, o pensamento e a acção, como se fôssemos «gerações indiferentes»? Será esta a qualificação do nosso presente daqui a meio século? A inquietude é sempre dos passos decisivos ao brotar da nova consciência de pertença.

Alexandre Cruz [27.03.2008]

Na Linha Da Utopia


Quando não se deve repetir…
1. Sabemos todos das fronteiras da sociedade da informação. Implacável nos seus efeitos modeladores da vida pessoal e social. Com imensas virtudes e potencialidades, mas com contra-valores que por vezes desdizem a sua própria missão. Criam deuses e derrubam regimes; abrem novas vias de sociedade plural mas, mesmo em contextos de liberdade de informação, é ténue e delicada a “linha” entre o que é legalmente permitido e o que eticamente obriga ao discernimento e à contenção. O caso repetido continuamente nas notícias da “corajosa” estudante de telemóvel na sala de aula e da “temerária” e esmagada professora subjugada pela turma ridente, é uma das imagens que merecia um crivo pedagógico, não que viesse de fora como imposição mas fazendo parte da própria função sócio-educativa das comunicações sociais. É naturalmente difícil esse consenso em apostarmos todos naquilo que, sem escamotear verdades inconvenientes, pode melhor criar formas de ser e estar em comunidade. Ninguém sabe os impactos (subjectivos) nestes dias das imagens de deseducação escolar; mas ninguém duvida que elas acabam por ser mais uma “acha” para um quadro de referência social e educativo já bem ateado.
2. As repetições sensacionalistas até ao excesso têm efeitos generalizantes e geram consequências contraditórias com o que se quer transmitir. As necessárias éticas da informação e comunicação, no meio das suas sempre ténues fronteiras de uma área concorrencial ao limite, não se podem deixar seduzir com o que o povo gosta ou com o que facilmente tem auditório. Tantas vezes, como neste caso da violência na escola, ao denunciar os males existentes acaba-se por divulgar e multiplicar esse mesmo mal. É uma pergunta delicada mas, pelas dificuldades do diálogo de gerações e numa certa indiferença dos valores onde “tanto faz” quem respeita quem, quantos estudantes da idade turbulenta vão despertando exacerbadamente para os seus direitos (de “passar de ano”) esquecendo-se dos seus deveres de pessoa, aluno, cidadão… Nesta cadeia de relacionamentos, o elo mais fraco tem merecido novamente uma exposição desmesurada e desautorizante: a professora/os professores; enquanto que o recriado sentido corporativo dos alunos vai abrindo os olhos para os seus “galões” da liberdade interminável de que são a razão de ser da escola.
3. Ainda assim esta sedutora casuística, não é verdade que este seja o quadro generalizado das escolas, e o pior que pode acontecer é a repetição caótica do mesmo “caso” que dá a sensação de estar tudo perdido. Neste contexto, também como actor da “cidade educadora”, as comunicações sociais, sendo-lhes permitido, como “ética” nem sempre devem repetir e repetir tudo o que conhecem. Ou já não há margem para isto, e o que conta é o que se quer fazer passar, esquecendo-se e promovendo deformação que se critica?
Alexandre Cruz [26.03.2008]

Na Linha Da Utopia

Reflectir e actuar na margem da prostituição
1. Realizou-se em Aveiro, a 25 de Março, uma Jornada Interdiocesana de Reflexão sobre a Prostituição. A promoção e organização foi da responsabilidade das Cáritas Diocesanas de Aveiro (www.caritas.pt/aveiro), Coimbra, Guarda, Lamego, Leiria/Fátima, Viseu e Cáritas Portuguesa. Como intervenientes será de destacar a comunicação da responsável da Associação “O Ninho” (Lisboa) e a palestra de docente da UTAD (Universidade de Trás-os Montes e Alto Douro). Ainda, e descendo à nossa realidade local da Região Centro do País, contou-se com a intervenção do Lar do Divino Salvador (Ílhavo - Aveiro), do Projecto RIA (Aveiro), das Irmãs Adoradoras (Coimbra), e das Cáritas Diocesanas promotoras e presentes. Achámos oportuno a apresentação de todas estas referências participantes pois elas são, por si, sinal social de uma preocupação de todos e que cada vez mais deve ser vista de forma abrangente e parceira, quer geograficamente quer interdisciplinarmente.
2. Das diversas intervenções iniciais, de entidades da sociedade aveirense, destaque-se a premência de um “assunto” que deve ser trazido com humanidade à luz do dia. A “prostituição” traz consigo uma perturbante conjuntura de causas e promove um leque problemático de consequências, onde, como alguém lembrava, mais uma vez “a mulher é a vítima”. Encarar o flagelo da “prostituição”, em múltiplas vertentes, é reflectir sobre as piores condições de indignidade humana; actuar neste terreno complexo, nunca foi nem será uma questão legislativa, é trazer para a luz do dia como preocupação quem por determinadas circunstâncias (sendo a pobreza uma delas) entrou no precipício. Estamos diante de uma realidade social que, muitas vezes, quase que toca o “faz de conta que não se vê”. Há uma meia dúzia de “podres” sociais que existem e persistem, mas em que a sociedade do bem-estar passa ao lado. Reconhecidos os que, servindo a pessoa na sua dignidade, vivem a inquietude e dão a vida e as suas energias para minimizar, recuperar, “amar” quem vive os sub-mundos da margem desumanizante.
3. Nas questões humanas fundamentais não há soluções fáceis, instantâneas e pragmáticas, mas uma procura concertada que capacite os que vivem a solicitude no terreno concreto. É esse o esforço meritório de entidades como as referidas que fazem “força positiva” em dar um sinal social de que sociedade terá de significar “comunidade”. Neste sentido, o que indignifica alguns deve preocupar todos. Não se espere dos Estados as respostas para tudo, seria diminuir as potencialidades de uma dinâmica e desejada sociedade civil; não se espere que a sociedade civil faça tudo sem a cooperação dos Estados, seria sinal de que estes vivem longe das pessoas. A cooperação tem veias interdiocesanas, intermunicipais, transdisciplinares e interinstitucionais. Desta forma, em rede, a reflexão fica bem mais próxima da acção solícita na “margem” da sociedade que, pelos dados estatísticos, vai crescendo com um rio… É nestas margens delicadas que se vê a “prova dos 9” do verdadeiro serviço à humanidade das pessoas. Não o discurso mas na vida; na restituição da esperança, o mesmo é dizer, na “força” que brota da Páscoa que, com este ou outro nome Altíssimo, quer chegar à Pessoa toda e a todas as pessoas!
Alexandre Cruz [25.3.8]

Na Linha Da Utopia

Páscoa, a festa da Humanidade!
1. Chega-se à Páscoa mediante a realização do caminho vivido. A Páscoa não vem de fora, brota de dentro. Sendo em si um acontecimento de percepção definitiva e intemporal, a sua lembrança na história de cada ano vem recordar-nos que há VIDA para além da vida diária. As festividades pascais não chegam de forma instantânea, nem são umas tantas coisas que se saboreiam, comem, bebem ou cantam. O sentido autêntico da Páscoa quer corresponder ao dar largas à nossa própria interioridade, abrindo as janelas do coração à esperança que insiste sempre em triunfar sobre tudo aquilo que a retarda... Como há dias de forma muito interessante dizia Bento Domingues, «fora do amor não há salvação». A Páscoa quer ser a festa do amor que brota da fonte inapagável de Deus-Pessoa e que quer “jorrar” para uma vida (e)terna.
2. A Humanidade como a conhecemos está repleta de histórias, pensamentos, concepções, filosofias, políticas, visões de personalidades que foram alavancando o futuro. Muitas dessas formas de ler a vida e as sociedades, com os impulsos do progresso, foram passando à história, e muitas delas mesmo, levadas ao limite, originaram grandes guerras e divisões sociais. Que o diga o Séc. XX! Quanto mais as concepções foram ou vão absolutizando a história concreta das coisas mais a fronteira foi ou vai resvalando para o limitado, “cego” e mesmo absolutizador interesse particular. Essa foi sempre a matriz das ideologias totalitárias, que a partir da parte procuraram explicar “tudo”. Já em contrapartida, quanto mais ampla é a abrangência do coração humano mais essa “revelação” se abre de forma integrada à totalidade de todo e cada ser humano. Este é o “passo” definitivo que faz perdurar na história da humanidade as visões supra-históricas como o pensamento das grandes filosofias ou religiões.
3. Compreender o verdadeiro sentido da Páscoa (judeo-cristã) obriga a situarmo-nos acima das coisas diárias. Pelo recolhimento, na busca de elos de unidade entre o que somos, fazemos e desejamos de melhor. Na Páscoa Deus e o ser humano encontram-se, superam-se, transcendem-se, libertam-se na “liberdade” do Amor. Na Páscoa, a história que foi visitada (no Natal) não é fechada, não é “eterno retorno”, é abertura sem fronteiras, convite que inclui quem quer “tocar” o ilimitado, quem alia todas as “razões” e todo o “sentir” emocional; como na vida existencial, tudo se junta, tudo se liberta e tudo se transfigura. Tal como o grão de trigo... Mas para dar fruto é preciso plantar e cuidar. Sendo da “razão” que não se pode esperar fruto onde não se semeou, para o surpreendente Amor Absoluto de Deus…nunca é tarde. A Mesa está posta! Mesmo para “Quem” habita nas “encruzilhadas” dos caminhos. Basta “querer” (reviver) para ser Páscoa! Tão fácil, mas tão difícil. Que todos os “filhos” queiram a Mesa do Pai!

Alexandre Cruz [19.03.2008]