7 de abril de 2008

Na Linha Da Utopia


Cristiano Ronaldo, o dom e o trabalho
1. A magia de Cristiano Ronaldo vai contagiando o mundo (do futebol). Este passado fim-de-semana o “génio da bola” fez novamente das suas, mais uma vez, surpreendendo não só os adversários dentro do campo mas mesmo o mais leigo espectador (do futebol). Um dom especial, ninguém duvida. Muito trabalho, disciplina de treinos e rigor, já talvez nem tantos assim o saibam. Valerá a pena compreender, como sentido de exigência e espírito de sacrifício e luta, que o que se passa dentro das quatro linhas do futebol terá muitas lições a dar à vida diária, especialmente daqueles que estão na fase da sua primeira formação humana. Quando se pergunta a uma criança ou adolescente o que queres “ser”, na resposta imediata de “jogador de futebol” estará uma ideia de que para o ser quase não é preciso trabalhar, que é só chutar uma bola e marcar golos; e receber toda a admiração popular e os aplausos de reconhecimento. Puro engano, que esconde os sacrifícios necessários para atingir tal patamar de altíssima competição como no triunfo de qualquer atleta.
2. Talvez na sociedade de hoje a ideia fácil de ser jogador de futebol seja das maiores falsidades de que essa “felicidade” heróica se atinge com a maior das “facilidades”. Para que as ilusões se esbatam, mesmo sobre o melhor jogador do mundo da actualidade (há dúvidas?!), Ronaldo não esconde de que só com muito trabalho é que lá se chega. É verdade que o “dom”, a arte e a “magia” também nascem com as estrelas; mas a fatia decisiva do sucesso exige muita disciplina, rigor, método, auto-domínio, sentido de equilíbrio. Que o digam alguns documentários sobre a vida de Cristiano Ronaldo, dos sacrifícios feitos, das horas a fio de treinos mesmo depois dos outros atletas irem embora, as palavras fortes e directas de exigência do treinador, o sentido de camaradagem. Nada se faz sem trabalho, nem um jogador de futebol; e nada se faz sozinho, tudo terá de ser “jogo de equipa”. O Ronaldo brilha na equipa do Manchester; na selecção nacional, quando (ainda) não há equipa, não se pode esperar todos os milagres dos pés dele!
3. Talvez nos tempos actuais, especialmente também diante dos estatutos (permissivos) dos alunos, nas escolas, a “parábola educativa” que pode ser o futebol sublinhará a insistência de que só com trabalho (muito treino) venceremos. Sem “assiduidade”, sem rigor, sem espírito de equipa, sem método (que com toda a criatividade nos surpreenda), seremos o jogador que ao fim de uma corrida cai para o lado. O futebol, como escola de formação, também nos pode iluminar como referencial de exigência educativa. Quando não, a “derrota” será certa. Os treinos de Ronaldo à chuva, ao granizo, ao sol, poderão ser o espírito de luta naquilo que se quer. Com o exacerbar das facilidades não iremos lá! Ficaremos a ver o jogo passar…, a apanhar as bolas que sobram. O segredo serão as pequenas vitórias de cada dia!

Alexandre Cruz [31.03.2008]

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