25 de fevereiro de 2008

Portugal foi o primeiro país a reconhecer a independência dos Estados Unidos.

20 de fevereiro de 2008

Na Linha Da Utopia


Cuba livre?

1. A pergunta provoca e interpela mas corresponde ao desígnio humano que se situa bem acima desta ou daquela “parcela” político-ideológica. A resposta nunca pode ser dada no entusiasmo, precisa de tempo, mas, simultaneamente, nada será como dantes. Fidel vinha de um tempo e, no contrapeso das políticas e tendo sempre um alvo (americano) a abater, cristalizou nesse tempo, puxando os galões do que melhor conseguia para se afirmar diante desse “inimigo”. O testemunho passa para o irmão. Um continuador esforçado que resistirá até poder, num mundo global em que, quer se queira quer não, para o bem ou para o mal, as forças da comunicação vão abrindo os livres caminhos do futuro.
2. Claro que ao dizermos no título «Cuba livre?» não nos pretendemos referir a uma liberdade qualquer, onde muitos dos liberalismos sem fronteiras proporcionam as maiores injustiças e indignidades. Falamos da liberdade humana, de pensar, sentir, falar, agir, em todas as concepções de ler a vida e as sociedades humanas. Nesta liberdade que salientamos, a meta final só se cumprirá quando houver liberdade de expressão para a multidão de “presos” políticos (do regime cubano). A “entrega” do poder do líder cubano, não representando tudo significa “alguma coisa”, e, na maturidade de dignidade humana, todos aqueles que alguma vez foram vítimas de alguma limitação da sua liberdade deverão estar esperançados no futuro próximo.
3. Volta e meia, na menoridade humana da “adoração” dos sistemas sócio-políticos, as liberdades vão sendo “cortadas”, ora de um lado, de outro ou mesmo do “vazio”. Para aqueles a quem a referência fundamental é a dignidade da pessoa humana, sempre que se vislumbram as portas da liberdade de expressão será dia novo, mas ainda maior na responsabilidade. Quantos domínios ditadores dos povos, após a conquista da liberdade, dão lugar a desgraças maiores. A história já tem lições que chegue para embandeirar em arco com o que quer que seja. Só quando a liberdade (de expressão) humana se encontrar com a responsabilidade cuidadosa na promoção da dignidade humana/social e da procura da Verdade, então poderemos descansar.
4. O caminho (ainda) é muito longo. De Cuba e das “cubas” fechadas (à integralidade da pessoa humana em sociedade) que existem e persistem pelo mundo fora. Também continua longo para o exacerbado modo de viver de muito do liberalismo consumista ocidental. Por vezes, parece que, na aventura humana, estamos sempre no princípio. Afinal, sejam os “princípios” dignificantes a base de todas as desejadas liberdades! Só aí (re)pousaremos em paz. Alexandre Cruz [20.02.08]

Mundo cinzento

Free Kareem

Faz dia 22 um ano que o blogger egípcio foi preso por dizer o que pensa.

19 de fevereiro de 2008

Na Linha Da Utopia

Maus-tratos, animais!
1. Ainda bem que os novos poderes da comunicação têm a força de acordar para determinados problemas. Desta forma, quantos alertas, ora com excesso ou com defeito, já foram passando à consciência colectiva na defesa dos oceanos, dos rios, das florestas e da Vida. O que sai na televisão ou anda na internet, (nem sempre sendo verdade) em determinadas causas, ganha uma força libertadora com impactos determinantes, mesmo em casos de justiça que envolvem pessoas e cidadãos, na procura despertadora de uma maior consciência respeitadora. É pena, mas é verdade: tantas vezes só desta forma e pelas comunicações sociais alguns problemas obtêm a luz ao fundo do túnel. Quem a este respeito não se lembra de Fernando Pessa (já lá vão uns anos), que na sua “peregrinação” por Lisboa detectava os problemas de tal forma da praça pública que os mesmos obtinham solução imediata. Também hoje assim continua.
2. O caso destes dias que destacamos refere-se aos maus-tratos dados por humanos a animais. A espécie (humana) considerada superior tem os comportamentos mais inferiores... Infelizmente, nada de novo; mas desta vez com impactos novos. Nos Estados Unidos, um vídeo filmado por uma organização dos direitos dos animais denuncia a barbaridade para com animais bovinos em matadouro (que dizer quando se espeta a empilhadora brutamente contra animais vivos?! E muito mais…). As imagens percorrem o mundo. A brutalidade desses humanos é escandalosa. Graças à visibilidade, os efeitos estão aí: a maior retirada de carne de vaca de sempre dos EUA (total de 65 mil toneladas) desta empresa que servia muita escolas e instituições sociais.
3. Além das consequências para a saúde pública, este facto relança o alerta sobre os maus-tratos para com todos os seres vivos, e especialmente os animais. Crueldade exercida com seres indefesos (seja a própria floresta, os mares, os animais…) manifesta bem alto como continuamos de humanidade, pois as acções sempre foram e são o espelho do ser. Uma renovada ordem da racionalidade transversal afirma-se hoje como imperativo ético, na relação do ser humano com todas as realidades existentes. As perspectivas do desenvolvimento sustentável e da biodiversidade também obrigam ao progresso de todos os conhecimentos que promovam as dignidades situadas de cada ser vivo. Neste quadro, o lugar especial dos humanos só pode ser actuar em conformidade com a “razão” que, porque conhece, respeita condignamente. Afinal, não será isto que ainda caracteriza o Homem?!

Alexandre Cruz [19.02.08]

Praxes imbecis

A praxe tem destas coisas imbecis. Falta a inteligência, abunda a impertinência. Leia-se:

«Sempre achei as praxes divertidas e pedi para ser praxada. Eles fizeram-me a vontade e diverti-me muito". O depoimento de Maria Arlete Miranda encerrou a sessão de ontem do julgamento de sete alunos da Escola Superior Agrária de Santarém (ESAS), acusados de praxe violenta a uma aluna, em 2002.
Funcionária daquela escola há 22 anos, a mulher contou que os alunos mais velhos a praxaram com "estrume na cara", o que não achou "nada de extraordinário". "Desde que estou na escola que ouço dizer que 'quem não mexe na bosta não se pode considerar um bom engenheiro'", afirmou perante o tribunal, assegurando nunca ter assistido, por parte dos alunos, a qualquer tipo de excesso nas praxes.
Foi também isso que alegaram, ao tribunal, outros seis alunos daquela escola. As brincadeiras com bosta de vaca eram, na opinião de todos, uma prática vulgar nas praxes, decorrendo há décadas e que ainda se mantêm. Desta forma, disseram, "os caloiros são confrontados com o seu futuro porque, no fim do curso, é nesse ambiente que vão trabalhar".»
(continue a ler no JN)

18 de fevereiro de 2008

Na Linha Da Utopia


Fidelidade e coesão social
1. Talvez possa parecer que uma coisa não tem nada a ver com a outra. Que tem a fidelidade conjugal a ver com a coesão social? Será entrar na esfera privada tirando ilações precipitadas para o terreno do que é público? Em última análise, a pergunta é: que tem a família como comunidade informal a ver com a sociedade em geral? Que fronteiras, implicações, possibilidade de laços (no respeito devido pelas autonomias) na compreensão justa daquilo que é a liberdade pessoal e o compromisso da vida em sociedade? As perguntas poderiam nunca mais acabar, em terreno de não fácil abordagem, onde não se quer nem que outrem entre pela casa dentro a impor uma qualquer lei, nem que cada pessoa e família vivam de tal modo afastados da sociedade que se tornem indiferentes àquilo que é o bem comum.
2. No recente dia dos namorados, que a propaganda foi inventando, exaltando, “impondo”, em Inglaterra foi publicado, no jornal The Guardian, um interessante estudo sobre a fidelidade e a evolução do homem. Johnjoe McFaden, professor de genética molecular, defende a sua tese de que foi a «fidelidade que permitiu aos nossos antepassados desenvolver a inteligência social e a coesão social», tendo os humanos a sorte de pertencer a espécie que se comporta de forma predominantemente monogâmica, revela o estudo. Também, destaque-se que alguns trabalhos recentes de investigação nesta área «sugerem que as exigências cognitivas requeridas para formar casais estáveis podem estar entre os factores para o desenvolvimento dos instrumentos de inteligência social que tornaram possíveis as nossas sociedades» (Público, 15 Fev.: 54).
3. Talvez nos possamos colocar no filme da história do processo da evolução do ser humano, mesmo desde os tempos pré-suméria, e concluir que as sociedades humanas na sua procura crescente de capacidade de coexistência em sociedade terão tido como modelo de referência a vivência familiar. Nada de novo, afinal esta é a comunidade primordial. Tal facto significará que a busca de coesão social, pela família, foi derrubando os muros do individualismo, do particularismo, do pensar só em si. Olhando para os tempos da actualidade, uma pergunta vai-se impondo: as sociedades ao esquecerem a família na sua realidade ancestral (chame-se: homem, mulher e filhos) perderão as capacidades de coesão social?...
4. Seja dito o que se vai dizendo (como constatação e preocupação): do ano 2000 para cá, já metade dos casamentos terminaram em divórcio. Muita da educação (possível) é monoparental. As raízes de pertença vão ficando cada vez mais superficiais, vivendo-se pouco ligado a alguma realidade de comunidade viva (?)... Neste cenário, e na pressuposta liberdade de tudo, quem se preocupa com o que acontece? Há quem a sério se preocupa e procura apontar caminhos… E há pais e educadores que descobriram o segredo das pertenças a um grupo / comunidade como alavanca para os valores fundamentais. Afinal, sendo tudo questionável, uma coisa não o é: quanto mais o valor Família semearmos, mais aconchego um dia colheremos! Quando não, será solidão…
AC [17.02.08]

Na Linha Da Utopia


O mundo na mão.
Que mão no mundo?

1. Há breves anos, quando apareceu um anúncio publicitário com o mundo numa mão, destacava-se o efeito da desproporção, como se realmente fosse possível ter o gigante mundo numa pequena mão humana. Para além da questão publicitária, alguns observadores viam nessa imagem fotográfica um sinal destes tempos, que nos fazem sentir o mundo sempre presente. Efectivamente assim acontece. Nunca os continentes, as comunidades e as pessoas estiverem tão próximos, nunca como hoje se conheceram tantos cantos e recantos deste planeta azul (às vezes cinzento), nunca, também, se observaram em simultâneo as misérias, os cataclismos, as venturas e desventuras da humanidade.
2. À ousadia de colocar o mundo numa mão, vai-se erguendo a ideia feita compromisso de colocar as “mãos na massa” do mundo concreto. Se todas as formas de comunicar trazem até nós as diversas realidades de mundo, cabe, consequentemente, quase como imperativo da responsabilidade, um continuado despertar envolvente cada vez mais na busca de soluções, práticas como eficazes. É esse o esforço a potenciar, multiplicar. Quando não, uma pequena parte do mundo estará à mesa num lauto banquete da abundância…a ver as imagens da gritante fome na televisão. Tão simples quanto isto. Escandaloso!
3. O deslumbrante encontro do “global” com o “particular” obriga a redimensionar tudo. Como manifesta muitas vezes o presidente da AMI (Assistência Médica Internacional), Fernando Nobre, é urgente gritar “contra a indiferença”, esta indiferença o pior dos males das chamadas sociedades de bem-estar. Até para as grandes instituições que se querem afirmar como significativas nos tempos de globalização, não há outra solução senão o procurar (re)conhecer o mundo e tê-lo sempre presente como horizonte, numa redescoberta local de soluções que se vão abrindo à universalidade, até ao mundo na “mão”!
4. O tempo do olhar para o umbigo dos “botões” passou. A época do apreciar e partilhar a diversidade local no mundo global está aí, afirmando-se como a via de enquadramento como diálogo dialéctico de todas as diversidades tão ricas neste mundo. Como sugere Jérôme Bindé, na introdução à obra “As Chaves do Século XXI” (Piaget, 2002: 13), «o séc. XXI não poderia ser reduzido a um monólogo, ainda que fosse o da tecnologia, e qualquer antecipação não pode ser, a nosso ver, senão uma “dialéctica” do futuro». Nesta base, e em busca de qualidade humana sempre crescente, será mais possível pôr no mundo a mão que não explore mas que seja o encontro ético de justas soluções. Muitas mãos ainda não vêem mais longe que os seus botões…

Alexandre Cruz [14.02.08]

Na Linha Da Utopia


A autocrítica de “compreender”
1. Dos desafios mais importantes da vida será “compreender”. Compreender tudo o que acontece, nas suas várias faces de causas, factos e consequências. Mas para compreender é preciso criar a distância crítica necessária, colocar todos os dados em jogo, “joeirar”, para depois poder considerar de forma mais justa. Dos piores sintomas da falta de autocrítica será o ajuizar sem conhecer, o falar sobre algo sem saber minimamente, o optar sem se situar na pluralidade de caminhos. O focalizar e perder-se num “ponto” sem ler e entender todo um “texto” poderá ser esse sinal da falta de visão de conjunto que não procura compreender a totalidade.
2. Neste âmbito destacaríamos a obra de Maria Manuel Baptista sobre Eduardo Lourenço. O título é sugestivo: Eduardo Lourenço – A paixão de compreender (ASA, 2003). É a visão de um dos maiores pensadores portugueses actuais que estimula a todos realizarmos esse exercício insubstituível da prudência como caminho de sabedoria para nas horas presentes se ir descortinando o melhor futuro possível. Talvez o nosso tempo social não dedique o tempo necessário a este aprofundamento por “porquês” para melhor se ver os caminhos dos “para quês” como construção de ideais.
3. Perguntarmo-nos sobre “o que acontece” é ir às razões profundas e nessa origem procurarmos uma iluminação que desperte a esperança e o compromisso. Uma transversalidade de áreas precisam desta autocrítica que procura “compreender”, a começar por factos tão diários como a diminuição dos compromissos em casamentos (que compromete o futuro, até das natalidades) ou visões tão essenciais como as grandes questões da dignidade da vida humana que interpelam o modelo de sociedade e civilização (a andar para trás, enquanto o conhecimento científico anda para a frente!...).
4. Muitas destas questões têm andado como bandeiras daqui e dali, desta ou daquela “parte”, diluindo-se para o “todo” da sociedade a essência profunda das razões. Algumas intervenções procuram essa “descentralização”, mas os “ouvidos” das comunicações estão bloqueados… Talvez para algumas das argumentações pretenda-se, precisamente até, que as sociedades não tomem consciência do “tudo” que está em causa nessas causas fundamentais. Talvez a anemia do “não compreender” seja favorável como estratégia avançada de certas formas de ler a vida, para quem a liberdade na Verdade e Dignidade Humana pouco interessa. Este é o tempo da “síntese” e das razões profundas onde, mesmo sem estar na “moda”, para além dos pormenores, importa valorizar as causas que valham a pena e que possam unir. Não num mero sobreviver, mas numa vida com sentido. Autocrítica como cidadania do SER precisa-se!

Alexandre Cruz [13.02.08]

Na Linha Da Utopia


Despesa versus Investimento
1.
Estas duas palavras, despesa e investimento, conjugam muita da tensão entre duas concepções distintas, em que o meio será a virtude. Considerar como “despesa” áreas fundamentais da sociedade que poderão ser alavancas do futuro é fica-se pelo meio do caminho. Normalmente, as (continuadas) épocas do aperto económico são muito mais amigas da palavra “despesa”, dessa forma fechando as portas daquilo que pode ser raiz de novas soluções. Em conformidade, pouca margem é dada a uma concepção de “investimento”, considerando-se, precipitadamente, o “rigor” inimigo das apostas essenciais no futuro.
2. Não é fácil, a não ser na teoria, a conjugação funcional destes factores eixo do desenvolvimento dos povos. Exigirá o saber-se caminhar numa fronteira de difícil discernimento, mas em que a envolvência participativa de todos os agentes dessa determinada área muito poderão colaborar no encontrar das melhores soluções no terreno. Não é nada de novo o dizer-se que todas as despesas nas áreas fulcrais da saúde, educação, acção social e justiça devem ser mudadas de nome, sendo designadas como investimentos para uma sociedade mais humana e justa para todos. Umas a montante outras a jusante.
3. Não há comunidade social que se segure muito tempo centrada só no por as contas em dia, sem olhar a meios para atingir esses fins. Esta óptica numérica sempre cegou lendo tudo como despesa e desumanizando as pessoas e as relações, deitando a perder as motivações em valores e ideais comuns, algo que caracteriza os humanos nas sociedades livres democráticas. E se os grandes investimentos são projectados em grandes obras ou acontecimentos continuam-se a adiar, para além da “cosmética”, os grandes investimentos no maior tesouro das sociedades, as pessoas. Vão sendo muitas as afirmações de um mau estar social, de uma multidão de juventude sem “lugar”, a par de continuadas denúncias de corrupções numa justiça que tem o seu ritmo…
4. O terreno está difícil. Frutifica o que se deveria apagar e não floresce o que seria imperioso reinar. Como não dá frutos numéricos imediatos, (nada de novo) continua a não haver lugar de explícito insubstituível (transversal e específico) para uma formação humana sensibilizadora para os valores fundamentais da comunidade (nacional, europeia e global). Queremos colher os frutos sem termos o generoso cuidado de investir na sementeira. Eis um dos dramas das sociedades que crescem nas “coisas” mas vão ficando pobres de horizontes de ser-sentir-pensar-esperar. Felizmente, parece que em termos de educação artística e formação musical algo estará em processo de realização. Assim seja, de forma envolvente com todos, aberta, transversal…(?). Aprender música é saber matemática!
Alexandre Cruz [12.02.08]

Na Linha Da Utopia


Não é “mais um” doente
1. Celebrar-se o Dia Mundial do Doente a 11 de Fevereiro de cada ano, é oportunidade para reflectirmos sobre esta sensível realidade. Doentes todos já o fomos, somos ou seremos. É por isso que sempre teremos de falar na primeira pessoa e com tal sensibilidade que de pouco valem as frases feitas, decoradas ou as receitas pré-elaboradas. O facto de cada pessoa ser um mundo aplica-se de forma explícita neste terreno da limitada condição humana. Falar de doença ou sofrimento, mais que teorias, será falar de pessoas doentes, em que todo o aconchego colaborante será bem-vindo ao necessário alívio possível e conforto em horas e dias tão difíceis.
2. Não pretendemos falar dos cuidados paliativos, das receitas clínicas, de toda a gama diversificada dos cuidados de saúde. Interessa-nos compreender o que está antes e que dá razão de ser às comunidades hospitalares ou a uma sociedade que deve colocar os mais frágeis no centro das suas preocupações. O modo como compreendemos, cooperamos e agimos para com as pessoas doentes (estamos sempre na primeira pessoa) será o modelo de sociedade que procuramos como ideal. E neste patamar, todas as ajudas serão bem vindas, da ordem das dores físicas até à ordem da paz de espírito. Não compreender isto será desfocar não servindo a Pessoa.
3. Se todas as políticas sempre terão de colocar as pessoas acima de tudo, então em quadrantes como a saúde esse centro de referência merecerá a máxima atenção, em área onde cada momento de tempo, sempre único, pode ser fatal. Talvez na vida das sociedades esta seja mesmo uma da áreas mais sensíveis onde, pelo cuidado minuncioso, não pudesse haver ninguém que trabalhasse na saúde por qualquer outro interesse que não fosse uma clara VOCAÇÃO de serviço às pessoas na sua condição de fragilidade. A este respeito, os tempos parecem difíceis. Sem pretendermos generalizar, muitos negócios da saúde são escandalosos; ainda há dias falava-se dos milhões dos transplantes (Visão, 7 Fev.).
4. Felizmente que hoje vai sendo caminho aberto das comunidades hospitalares o saber-se acolher todas as ajudas que, no respeito pela livre consciência, podem garantir serenidade exterior e interior às pessoas doentes. Afinal, que outra função dos estados senão o garantir e mesmo promover este terreno de liberdade? As comunidades hospitalares, acolhedoras do pluralismo dos seus utentes (que são acima de tudo) PESSOAS, assim, abrem-se à totalidade da humanidade daqueles que lá passam os “momentos” da sensibilizada fronteira do sofrimento. Nessa hora, venha toda a força, toda a paz, toda a sensibilidade, toda a presença, todas as palavras mesmo que no silêncio!
Alexandre Cruz [11.02.08]

11 de fevereiro de 2008

Na Linha Da Utopia


A juventude da Parvónia
1.
Mesmo após a polémica, tudo continua na mesma. E a certa altura já nem se sabe como reagir ao mau gosto que vai crescendo de forma desmedida. O assunto é a campanha, diga-se sem jeito nem inteligência, da “parvónia” chamada Media Markt. A conclusão da história publicitada, após um arranjo que leva ao ridículo um chefe militar e um escuteiro, é que quem é “parvo” é que não vai ao Media Markt. Enfim, para além da pobreza da qualidade do anúncio, já há muita gente a dizer precisamente o contrário…
2. O ditado diz que «quem não sente não é filho de boa gente». Sabemos como são as coisas. Entre o silêncio do não ligar ao assunto (esta a receita dos tempos indiferentes), ou a coragem de dar uma “pedrada no charco”, correndo o perigo das múltiplas interpretações, até de exagero, a Junta Central do CNE emitiu um comunicado, apelando ao bom senso ético. O parvo anúncio coloca o jovem escuteiro oriundo, emigrado (imigrante?), do país Parvónia no cenário mais ridículo…
3. Após o corajoso comunicado da Junta Central (sabendo que correria o perigo das análises habitualmente passivas de “estar a dar importância demasiada ao assunto”), CNE que neste país pela “escola de vida” do Escutismo procura realizar um ideal de trabalho sério com mais 70 mil jovens portugueses, a resposta do Media Markt (do seu country manager!), aliviando a coisa, não deixa de nos dar dois sinais: 1º, que a aparvalhada figura do escuteiro pretendia «representar a juventude» portuguesa; 2º, que só os escuteiros ficaram ofendidos, pois «nenhuma associação de militares nos contactou» (bom, o papel do militar não desce à figura do jovem).
4. O que vale é que os jovens já se estão pouco importando com o que deles dizem, senão!... Indiferentes, no “porreirismo” do deixa andar que vão copiando pelas referências sociais, já comem tudo… É de saudar a Junta Central do CNE, que fala em nome das instituições se viram, vêem ou verão, expostos a um ridículo anestesiador dos padrões de dignidade e qualidade de uma sociedade. Quem sabe esta (ex)posição do CNE tenha sido um contributo para os próximos anúncios que, para garantir a polémica que vende, colocariam figuras de estado nessa parvónia…(Talvez aí a coisa mudasse!) E depois queixamo-nos dos medos do futuro!
Alexandre Cruz [10.02.08]

7 de fevereiro de 2008

Na Linha Da Utopia

A gratuitidade
1.
É a generosidade e o despojamento abnegado que farão de cada pessoa uma dádiva para o mundo. Na mensagem de Bento XVI para a começada preparação da Páscoa 2008, é sublinhando esse valor da “oferta” como escola de vida. Uma vida que, na base de a ler como construção constante, dará as garantias da estabilidade assente na vivência do dia-a-dia. É a esse valor da renovação permanente que este tempo quaresmal pré-primaveril nos vai chamando. Numa consciência de que todas as coisas são breves e tudo fica no mundo, sendo a única via do futuro a identificação absoluta com a esperança que, procurando a identificação original, brota do invisível de Deus.
2. Neste estímulo à gratuitidade, em última análise, ninguém tem a exclusividade dos bens e ao mesmo tempo todos os bens são de todos e de cada um. Não há incompatibilidades… É uma forma de dizer em que o “destino universal dos bens” apela a uma finalidade última dignificante de todas as coisas. Na referida mensagem é sublinhado que «não somos proprietários mas administradores dos bens que possuímos: assim, estes não devem ser considerados propriedade exclusiva, mas meios através dos quais o Senhor (“pai criador”) chama cada um de nós a fazer-se intermediário da sua providência junto do próximo».
3. É mesmo a identidade do ser “administrador” a nossa condição humana. Parece que, pelos sinais que o mundo continua a dar, não temos sido tão bons administradores, da ordem material (do pão e água para todos) à ordem espiritual (a fome de dignidade humana que paira em tantas concepções que excluem). Ao olharmos para a questão ecológica que nos coloca num obrigatório patamar de comunidade global, a natureza dá-nos esse sinal de uma gratuidade a redescobrir e não mais uma táctica para explorar. Talvez tenhamos sido mais “exploradores” que gestores. Dirigindo-se à comunidade, Bento XVI lembra que «quando se oferece gratuitamente a si mesmo, o cristão testemunha que não é a riqueza material que dita as leis da existência, mas o amor». Assim seja!
4. Afinal, muito e sempre acima de qualquer codificação ou instituição está essa força (e)terna que (lhes dá razão e que) assumiu SER PESSOA no tempo para nos conduzir pelos caminhos desse “reino” não da terra, mas dos “céus”. Que bom seria se todos os olhares críticos não perdessem tempo e mergulhassem nessa compreensão misteriosa do essencial! Também aqui, este “tempo de revisão” quer ser “meio” para um chegar pascal!
Alexandre Cruz [07.02.2008]

Na Linha Da Utopia

As cinzas
1. Os símbolos pertencem à vida. Eles estão por toda a parte, das coisas mais simples como os emblemas da praça pública ou de instituições às realidades mais profundas da existência humana e das religiões. Os estudiosos da identidade humana das sociedades falam do “símbolo” como inerente a uma consciência de “pertença”, não se podendo silenciar, por mais racionalista que se seja, a face simbólica da própria vida. Pode até ser com outros nomes, mas desde que exista uma sensibilidade humana que se projecta, a dimensão simbólica, que nos transporta sempre para “algo mais”, convive com o nosso dia-a-dia.
2. Desde os tempos mais antigos que a própria força da natureza apela à compreensão do universo e do lugar das pessoas no mundo. Se com a força da primavera nasce uma nova natureza, o mundo da sabedoria bíblica, que procura a primazia única de cada ser humano, irá propor que se renasça também para uma Vida Nova. Este dinamismo pedagógico, como caminho de revisitação da fonte original e revisão de vida em cada momento presente, atravessa os séculos, afirmando-se como um factor estimulante de melhoria, de progresso, de transformação da vida pessoal e social.
3. Não compreender e não se perguntar pelo dinamismo esperançoso destes tempos pedagógicos é viver “longe” da raiz, onde não se procura um sentido comunitário aperfeiçoado para a vida no tempo e espaço que nos são dados viver. Que sentido tem o Natal sem o compreender da sua origem reveladora? Que lugar de significado terá a Páscoa se não se abrir o “coração” a um caminho de transformação? Talvez das coisas mais importantes da vida seja compreender-se que os dinamismos da existência que sentimos foram vividos, acolhidos e superados por pessoas e(m) comunidades antes de nós. Também desta forma estamos unidos à humanidade. Claro, não basta cumprir por “cumprir”, é o sentido profundo com que se vive…para se viver no mais e melhor de cada dia.
4. Há tempos dávamos conta de uma nova área de estudo chamada “reflexologia”… Vamos chamando novos nomes, cheios de markting, para “coisas” antigas. Por um lado, dilui-se o património de “sentido” de que somos herdeiros; por outro, por outras palavras, vamos sempre lá parar, pois na reflexologia procura-se compreender a dimensão espiritual da vida e o seu fazer-se história (de salvação). Estes dias marcam o início de um tempo de reflexão: é Quaresma, tempo como caminho de preparação da Páscoa para os que livremente se enraízam no cristianismo. Quem lá adiante festejar Páscoa, acolhe um convite que começou da forma mais interpelante: com as “Cinzas”. Não são cinzas de pessimismo, de tristeza, de tempo negativo. Nada disso. São tomada de consciência profunda da nossa condição humana. Um “choque” estratégico e despertador que quer sensibilizar para o aperfeiçoamento de vida. Só assim, lá adiante será Páscoa; na diversidade corajosa, a “passagem”!
Alexandre Cruz [06.02.08]

6 de fevereiro de 2008

Padre António Vieira

A MULHER NA OBRA DE VIEIRA
ANA MARQUES GASTÃO (Diário de Notícias)

Mestre da língua portuguesa (DN)

Leituras

Entrevista a Joaquim Ferreira do Amaral 2008-02-06 00:05
“Não tive dúvidas morais em ir para a Lusoponte”
O antigo ministro das Obras Públicas de Cavaco Silva justifica o contrato assinado com a Lusoponte e explica o negócio. Ferreira do Amaral fala ainda sobre corrupção e sobre o clima de suspeitas nas obras do Estado.
André Macedo e Joana Petiz (Diário Económico)

Menos conflitos armados, menos guerra, menos agressões


"In a world where war, terrorism and humanitarian crises can seem all-pervasive, the Human Security Report offers a rare message of hope."
Archbishop Desmond Tutu
The Desmond Tutu Peace Centre

Na Linha Da Utopia

António Vieira faz 400 anos
1. António Vieira nasceu há 400 anos, em Lisboa. Originariamente mestiço, foi a 6 de Fevereiro de 1608 que chegou a este mundo o homem que atravessaria o século XVII semeando até ao limite a confiança que o desmotivado país bem precisava. Criador de pontes pelos mares que viaja sete vezes rumo ao Brasil (passando por Cabo Verde), inaugura um novo estilo de pertença em que a “língua” e a “cultura” são o lugar do encontro do essencial humano (até ao fim, 17 de Junho 1697, na Baía – Brasil).
2. O tempo de Vieira acolhe os impactos de profundas transformações ao nível do que hoje chamamos de “comunidade internacional”: a cisão europeia das “reformas”; a nova “imagem” de um mundo agora com quatro continentes; as confirmadas descobertas cosmológicas de Galileu; um paradigma de abordagem centralizado na Razão instrumental em detrimento da Revelação; a concepção de uniformidade político-religiosa de estado que “obriga” à expulsão dos judeus; a generalizada exploração desumana de escravos, …
3. A realidade portuguesa não se afirmava com melhores cenários. Fruto do fechamento (com D. João III) de que a Inquisição (instituída em 1536) seria sinal simbólico, a par do desvio da “matriz global” das descobertas portugueses para as “areias marroquinas” (Alcácer Quibir, 1578), Portugal viveria no tempo seiscentista um cenário de crise, insegurança, incerteza na perca da identidade pelo tomar dos reis de Espanha (em 1580). Este contexto da perca da independência, também por uma certa nobreza ociosa, seria o terreno de um tempo adiado, descomprometido, desmotivado, corrupto, morto.
4. É neste amplo e complexo enquadramento que melhor se poderá compreender o cidadão do mundo que foi o padre António Vieira. Missionário Jesuíta, pregador pedagogo público (na base da força que tinha o Sermão no barroco da época), embaixador de D. João IV, Vieira das terras do Brasil em edificação comunitária, prima pelo essencial da humanidade e da religião: vive o espírito cristão “ecuménico” (na defesa e reintegração dos judeus) e antecipa (a par de Bartolomeu de Las Casas e Montaigne) o patamar da dignidade humana universal. Para todos os seres humanos: escravos e índios, dizendo que estes também estão inscritos nos livros de Deus. Uma autêntica revolução na mentalidade da época!
5. Continuamente desmontando a visão eurocêntrica do mundo, Vieira projecta Portugal numa História do Futuro, em identidade universalista, ao tempo um factor motivador fundamental à própria consolidação da Restauração de 1640. Em tudo busca a unidade humana: «Se a fortuna os fez escravos, a natureza fê-los homens: e porque há-de poder mais a desigualdade da fortuna para o desprezo, que a igualdade da natureza para a estimação? Quando os desprezo a eles, mais me desprezo a mim» (Sermões do Rosário, Sermão XXVII). Dizem alguns estudiosos que até pela literatura (quanto mais pela identidade) é com pena que Vieira se estuda muitíssimo pouco em Portugal e muito se estuda no Brasil. Pena para nós! Talvez o futuro esteja mesmo lá (Eduardo Lourenço).
Alexandre Cruz [05.02.2008]

1 de fevereiro de 2008

100 anos

Há 100 anos era assassinado o Rei de Portugal D. Carlos. Ainda se falará muito desta data, quando o tempo permitir outra análise do facto. Nessa data, independentemente das escolhas do sistema político, foi assassinado um português de grande valor.

Na Linha Da Utopia

O novo poder da Informalidade?
1. A época histórica que vivemos vai-se mostrando já tão diferente do passado recente. Melhor ou menos melhor, isso será outra questão. Em tempos diferentes, não chega, pois, clonar as mesmas respostas do tempo que já lá vai. Pode ser que o conteúdo seja o mesmo e, em última instância, o essencial da VIDA permanece; mas a forma, a roupagem terá de corresponder aos tempos novos da actualidade. O mundo que não nasceu como hoje o vemos, diz-nos que as próprias formas sociais foram, a certa altura, reinventadas a partir de uma nova “informalidade” encontrada.
2. Hoje procuram-se “regulações” para novas realidades até há 10 ou 15 anos inexistentes, como por exemplo todo o mundo da revolução das tecnologias das comunicações ou mesmo nas fronteiras abertas dos países nas novas áreas de comunidade (da Europeia consagrada à africana em formação). Os próprios pesos institucionais de formas cristalizadas no tempo estão a receber o desafio de uma abertura e flexibilidade sem precedentes, o que em última análise pode gerar uma instabilidade de ausência de referências. As instituições basilares da convivência humana família, escola, trabalho, política, vão sentindo esses impactos.
3. Talvez estejamos no “terminar” de um processo histórico dos últimos dois séculos da Razão de Estado. Pensávamos que com o Estado de Direito e toda a forma de organização social tudo estava encontrado, mas os impulsos da actual globalização e transnacionalização dos processos vai obrigando a REVER. Nestes processos de revisão ao encontro das pessoas concretas da sua situação e dignidade (o que por vezes as instituições não conseguem), a informalidade parece que vai ganhando o jogo afirmando-se com um potencial redescoberto e obrigando a descer (novamente) a Razão ao encontro da Existência humana.
4. Um autor dos anos 30, Paul Hazard, refere que «outrora, estudava-se muito o século XVII; hoje [em 1934], estuda-se muito o século XVIII». Talvez tenhamos dado prevalência ao institucional em vez da primazia às pessoas... Os tempos actuais são de reencontro com as pessoas, e as instituições que não o conseguirem perdem o significado social. Estará em andamento uma desinstaladora revolução da informalidade? Talvez, não sabemos. Uma coisa é certa, tempos de mudança profundamente complexos. Cada vez mais, e sem alarmes, nada será como dantes. Tudo dependerá dos valores profundos em que alicerçar a vida e a comunidade. Mais importante que nunca! A própria indiferença também é “sinal”…
Alexandre Cruz [31.01.08]