28 de agosto de 2007

Cartas para Sakhalin - Diário de Aveiro (13)

Jovens transgénicos

Há uns dias atrás, lá para os algarves, um bando de jovens radicais, sem objectivos de futuro, decidiu dedicar-se à ceifa do milho, neste caso milho transgénico. Parece até estranho que eu apelide assim esta juventude dedicada às tarefas agrícolas, tão nobres e necessárias. Quem não sente admiração pelos homens e mulheres do campo, pelas pessoas que todos os dias, de sol-a-sol, como se dizia antigamente, produzem aquilo que vem parar às nossas mesas? Quem não tem até o sonho de, um dia, quando puder, se retirar para o campo e dedicar à terra e ao convívio com a natureza?
Mas aqui a cultura é outra: a falta dela. Um grupo de jovens (já com idade para ter juízo), portugueses e estrangeiros, reunidos numa iniciativa em prol do Mundo Verde ou coisa que o valha – eu prefiro a imagem do planeta azul, mais equilibrada -, decidiram fazer uma palhaçada mediática e destruir um hectare de milho transgénico, propriedade de um agricultor que não os conhece, nunca lhes fez mal, e, pormenor secundário, tinha a plantação legal, segundo as normas. Mas os salvadores do mundo não viram as coisas assim, tão simples, e complicaram.
No intervalo para o lanche, do tal encontro ecológico (Ecotopia), decidiram intervir, numa acção que apelidaram de «desobediência civil», e foram praticar um acto criminoso, nas barbas da televisão (que devem ter avisado para conseguir a propaganda desejada) e da GNR (que também devia saber da coisa e não fez nada de especial para a impedir). Mas, com medo do pólen transgénico, coitadinhos, que os podia intoxicar ou mesmo induzir modificações nos seus pobres genes, levaram máscaras ou taparam a cara com aqueles ecológicos lenços Yasser Arafat. Que conveniente. A GNR identificou meia dúzia, porque os outros não tinham documentos. Que conveniente.
De positivo, nas reacções a este espalhafato, a forma como o Presidente da República pediu responsabilidades. De negativo, sobressaem duas ou três coisas, para além do gesto da ecocanalha e do prejuízo de quem se esfalfa a trabalhar para ganhar a vida. A GNR não agiu como devia, detendo quem, apanhado em flagrante delito, praticava o crime, como a isso obriga o nosso Código Penal – resta saber por que razão. O ministro da Administração Interna ainda veio dizer que ia averiguar, abrir processo, mas pouco depois logo se apressou a apresentar uma espécie de conclusão a priori, defendendo a GNR, com uma explicação jurídica trapezista, tão ao seu gosto, que considera ter actuado como devia – o que é, pelo menos, incrível! Alguns responsáveis do Bloco de Esquerda mostraram simpatia pela acção, o que, apesar de não ser de estranhar, não deixa de ser lamentável. Faz lembrar que o partido ainda mantém, lá no fundo, bem guardadas, as raízes da sua génese. Recordo-me agora de, em tempos, ter visto a promoção de um dos seus cursos de «desobediência civil» e não ter percebido do que se consistiria. Agora percebo melhor.
Esta malta, esta carneirada de “diferentes” – que mistura meninos ricos sem o que fazer (cujos pais tudo abonam), religiosos fanáticos do Verdismo (cuidado, alguns do meio académico), fãs do duo Che-Che (inventores da Cuba Libre), apreciadores de maconha, haxixe, cogumelos e outras iguarias (é lá com eles), festivaleiros frustrados e membros de múltiplas tribos -, com propensão para querer impor-nos, à foice, a sua ideia de paraíso, é perigosa. Aqueles que fizeram a ceifa simbólica deviam ter ido perante um juiz e, nesta altura, deviam estar, pelo menos, a pagar a devida conta.
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Este texto corresponde à crónica semanal editada no jornal regional Diário de Aveiro e deve ser lido nesse contexto. Muitos dos aspectos focados já antes haviam sido referidos no blog, pelo que poderia parecer estranha a reincidência.

3 comentários:

Anónimo disse...

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Anónimo disse...

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Anónimo disse...

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