Assumir as rédeas da Escola
No passado dia 5 de Outubro, nas Comemorações da Instauração da República, o Senhor Presidente Cavaco Silva centrou o seu discurso num desígnio inspirador: a Educação.
Todos sabemos que é na Educação que reside o sucesso de um país, de um povo. Nunca é demais sublinhar que as pessoas são o nosso melhor e mais durável recurso. Se é assim, é na Educação que devemos colocar grande parte do nosso esforço, do nosso investimento. Mas esse empenho não tem que ver apenas com dinheiro. Provavelmente, tem até muito mais a ver com outras coisas.
Portugal fez um investimento financeiro grande no sistema educativo nos últimos anos, mas os resultados não são animadores – basta olhar para a elevadíssima taxa de abandono escolar e de insucesso, em todos os níveis de ensino.
Demos um salto gigantesco na generalização do acesso à Educação, é certo, mas isso não basta se a maioria desiste e tem maus resultados. Há inúmeros e difíceis problemas por resolver. A democratização do sistema de ensino, que antes do 25 de Abril não era para quem queria, mas para quem podia, transformou-se numa massificação confusa, redutora da diversidade, da motivação, da ambição.
A Escola vive hoje problemas complexos – sem respostas fáceis – que urge combater com o envolvimento persistente de todos.
A mensagem do Presidente, apelando a uma Escola “nova”, entregue às comunidades locais, é, portanto, motivo de forte inspiração e a abertura de uma oportunidade valiosa.
O repto lançado a toda a comunidade, com especial acento tónico na responsabilidade dos pais, coloca perante os nossos olhos um horizonte, uma ambição, uma responsabilidade, um dever inadiável. E faz uma crítica clara ao actual estado de coisas, apontando o dedo ao desleixo dos pais, ao desrespeito pelos professores, o que nem é muito habitual no discurso político. Podemos dizer, em jeito de desculpa, que muitos dos pais fazem o pouco que sabem e podem, coitados, que ninguém lhes ensinou mais, que não têm tempo para acompanhar os filhos. Mas só acredita nisto quem quer. Se continuarmos neste caminho de desculpabilização, pedindo ao Estado – esse ente mítico de bolsos largos e vista curta –, que tudo resolva, estaremos fritos enquanto o diabo esfrega um olho.
A Escola não é um armazém, onde os pais depositam os seus filhos de manhã e os vão buscar quase à noite, à hora de jantar-xixi-cama. Também não pode ser refúgio de professores acomodados, fechados num casulo de segurança, onde a idade é um posto, e os novos, por melhores que sejam, não têm lugar.
As nossas escolas não deverão ser, certamente, linhas de montagem, monótonas, trituradoras das convicções de cada um, do pensamento, da criatividade e do sentido crítico, mas antes uma comunidade viva, com respeito pela diversidade, que inclua os pais, familiares, autarquias, empresas, associações, polícias, bombeiros, e por aí adiante.
Um projecto de Escola que seja mais atractivo, mais inspirador, que convide as pessoas para dentro da Escola e leve a Escola à casa de cada um. Um projecto de Escola mais responsabilizante, mais exigente, mais rigoroso, sem promessas de falsa e perigosa facilidade. Uma Escola onde os professores se mantém actualizados, dinâmicos, motivados pela qualidade e o seu trabalho é avaliado pelos resultados dos seus alunos em exames externos. Contudo, isto só será possível numa Escola onde os professores têm instrumentos para trabalhar e se fazer respeitar, e onde podem consolidar um projecto de carreira baseado no esforço, na dedicação e na vocação.
Uma Escola mais livre, rica na pluralidade, aberta ao mundo, ambiciosa, assente no trabalho, formadora de gente livre e capaz.
O desafio lançado pelo Presidente da República é sem dúvida inspirador e obriga-nos a uma atitude bem diferente. A primeira mudança deverá partir do próprio Estado centralista, que tem de devolver as rédeas das escolas às pessoas e às comunidades. A segunda, de assumir o desafio localmente, depende das pessoas e das entidades locais, que devem abrir caminho, sem demoras.
Vamos ver o que Aveiro dirá sobre isto.
No passado dia 5 de Outubro, nas Comemorações da Instauração da República, o Senhor Presidente Cavaco Silva centrou o seu discurso num desígnio inspirador: a Educação.
Todos sabemos que é na Educação que reside o sucesso de um país, de um povo. Nunca é demais sublinhar que as pessoas são o nosso melhor e mais durável recurso. Se é assim, é na Educação que devemos colocar grande parte do nosso esforço, do nosso investimento. Mas esse empenho não tem que ver apenas com dinheiro. Provavelmente, tem até muito mais a ver com outras coisas.
Portugal fez um investimento financeiro grande no sistema educativo nos últimos anos, mas os resultados não são animadores – basta olhar para a elevadíssima taxa de abandono escolar e de insucesso, em todos os níveis de ensino.
Demos um salto gigantesco na generalização do acesso à Educação, é certo, mas isso não basta se a maioria desiste e tem maus resultados. Há inúmeros e difíceis problemas por resolver. A democratização do sistema de ensino, que antes do 25 de Abril não era para quem queria, mas para quem podia, transformou-se numa massificação confusa, redutora da diversidade, da motivação, da ambição.
A Escola vive hoje problemas complexos – sem respostas fáceis – que urge combater com o envolvimento persistente de todos.
A mensagem do Presidente, apelando a uma Escola “nova”, entregue às comunidades locais, é, portanto, motivo de forte inspiração e a abertura de uma oportunidade valiosa.
O repto lançado a toda a comunidade, com especial acento tónico na responsabilidade dos pais, coloca perante os nossos olhos um horizonte, uma ambição, uma responsabilidade, um dever inadiável. E faz uma crítica clara ao actual estado de coisas, apontando o dedo ao desleixo dos pais, ao desrespeito pelos professores, o que nem é muito habitual no discurso político. Podemos dizer, em jeito de desculpa, que muitos dos pais fazem o pouco que sabem e podem, coitados, que ninguém lhes ensinou mais, que não têm tempo para acompanhar os filhos. Mas só acredita nisto quem quer. Se continuarmos neste caminho de desculpabilização, pedindo ao Estado – esse ente mítico de bolsos largos e vista curta –, que tudo resolva, estaremos fritos enquanto o diabo esfrega um olho.
A Escola não é um armazém, onde os pais depositam os seus filhos de manhã e os vão buscar quase à noite, à hora de jantar-xixi-cama. Também não pode ser refúgio de professores acomodados, fechados num casulo de segurança, onde a idade é um posto, e os novos, por melhores que sejam, não têm lugar.
As nossas escolas não deverão ser, certamente, linhas de montagem, monótonas, trituradoras das convicções de cada um, do pensamento, da criatividade e do sentido crítico, mas antes uma comunidade viva, com respeito pela diversidade, que inclua os pais, familiares, autarquias, empresas, associações, polícias, bombeiros, e por aí adiante.
Um projecto de Escola que seja mais atractivo, mais inspirador, que convide as pessoas para dentro da Escola e leve a Escola à casa de cada um. Um projecto de Escola mais responsabilizante, mais exigente, mais rigoroso, sem promessas de falsa e perigosa facilidade. Uma Escola onde os professores se mantém actualizados, dinâmicos, motivados pela qualidade e o seu trabalho é avaliado pelos resultados dos seus alunos em exames externos. Contudo, isto só será possível numa Escola onde os professores têm instrumentos para trabalhar e se fazer respeitar, e onde podem consolidar um projecto de carreira baseado no esforço, na dedicação e na vocação.
Uma Escola mais livre, rica na pluralidade, aberta ao mundo, ambiciosa, assente no trabalho, formadora de gente livre e capaz.
O desafio lançado pelo Presidente da República é sem dúvida inspirador e obriga-nos a uma atitude bem diferente. A primeira mudança deverá partir do próprio Estado centralista, que tem de devolver as rédeas das escolas às pessoas e às comunidades. A segunda, de assumir o desafio localmente, depende das pessoas e das entidades locais, que devem abrir caminho, sem demoras.
Vamos ver o que Aveiro dirá sobre isto.
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(Hoje no jornal Diário de Aveiro)
2 comentários:
Olá Ângelo,
Apresentaram-me, há já algum tempo, o Pantalassa …
Há muito que não o visitava…ainda bem que o voltei a fazer.
Parabéns pela tua coragem, dedicação e empenho em fazer chegar até nós a tua opinião sobre os mais diversos temas da actualidade.
Agora que o descobri, continuarei a visitar o “Cartas para Sakhalin”.
Paula Pereira
Querida Paula,
vindo de uma pessoa tão importante para mim, este elogio cai-me bem, especialmente no dia de hoje. Um beijo grande.
Ângelo
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