4 de outubro de 2007

João Vário

Livro 1
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EXEMPLO GERAL
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COIMBRA, 1966
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para Dalila
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Mas ontem, ontem falámos desse homem.
E, no entanto, a cruz é a menor das promessas.
Oh, sim, lembramo-nos de que ignorávamos
o que se chama o domicílio, o valor,
o opúsculo, esta ou aquela agrura
mais do que matar o irmão. E de como
serve ama casa morta, o irmão morto,
a intensidade ou tal coisa
mesmo intensa, intensíssima.

De resto, há quanto tempo, oh
há quanto tempo não sabemos falar
do passado? Certamente,
o rigor, a infidelidade, a tensão—
espantos do último trimestre, esta
quase arte funerária com que elevamos as vozes
não ignoram que nos vendemos
por outro contágio: esse gosto
de ser verdadeiro, ou tal juro.
Porém, ontem, mas vede bem, ontem,
Omitimos, propositadamente, o que
sabemos da perplexidade. Mas quem sabe,
quem sabe se tal será legítimo ainda?

In João Vário (2000). EXEMPLOS: Livros 1-9. Mindelo: Edições Pequena Tiragem.
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Como tinha prometido, publicarei extractos da poesia de João Vário, ou João Varela, escritor cabo-verdiano que faleceu recentemente, para nosso prejuízo. Uma homenagem mínima.

1 comentário:

Silvia Chueire disse...

Pronto. Cá estou! É um belo poema, este.

E o cafezinho, onde está? O cigarro eu tenho. : )

Beijos,
Silvia