Que Chávez para o futuro?
O mais recente incidente diplomático na Cimeira Ibero-americana colocou a nu um dos maiores problemas da sociedade actual e da política internacional. Nunca os equilíbrios internacionais estiveram tão dependentes dos recursos energéticos e, no fundo, da capacidade de gerar dinheiro, bem-estar.
Claro que hoje temos sinais de esperança relativamente a fontes alternativas de energia, como as renováveis, mas são ainda incipientes, e quem não tem petróleo está condenado. Os empresários, a indústria, e também o governo, terão de fazer sérias apostas em matéria de energias alternativas, porque por aí passará boa parte do futuro. Mas enquanto o problema energético não é resolvido num passe de mágica à Luís de Matos ou David Copperfield, o ouro negro continuará a determinar (manchar) substancialmente as relações entre produtores e consumidores, moldando também as relações externas dos países, e toda a forma de fazer política.
Todos os líderes políticos procuram criar bem-estar para as suas populações, para os seus eleitores. Procuram ganhar poder económico, poder político. Ora isso faz-se cada vez mais na cena internacional. Dessa forma, não podem ficar alheios ao movimento de globalização económica e muito menos podem deixar passar a caravana do petróleo e demais recursos sem ir atrás.
A protecção dos emigrantes, a internacionalização das empresas, as trocas comerciais e a busca de recursos energéticos noutras paragens – de preferência controlando a intermediação –, são aspectos que timbram a política externa (e interna) das nações – é a chamada diplomacia económica. Toda a gente pensa primeiro em dinheiro e só no final da refeição, depois de rapado o fundo ao prato, este reflecte, qual espelho da bruxa má, a questão dos valores, dos direitos humanos, o risco para a segurança a longo prazo da perigosa conivência com déspotas amigos. Mas a bruxa está de barriga cheia, a barriga cheia dá sono e o sono vai esquecendo.
Nesta política um pouco rastejante há, porém, uma estranha dualidade. Alguns tiranos, supostamente de esquerda, lá vão tendo a simpatia de gente importante, já com idade para ter juízo. Não é o Prof. Boaventura Sousa Santos o arauto em Portugal do fantástico Hugo Chávez como exemplo da construção do socialismo do século XXI? Não se compreende. Tiranos, independentemente de terem sido eleitos, são tiranos. Homens que pensam mudar constituições para se perpetuarem nos cargos – hoje o Público noticia que a Câmara Alta do Parlamento Russo desafia Putin a violar a Constituição para se manter mais um mandato –, ou ditarem um mundo à sua medida, que não admite opinião diferente, não passam de tiranos, sejam lá de esquerda, direita, ou outra coisa qualquer.
Portugal, como a grande maioria dos países, define as suas relações externas em face dos seus interesses económicos e, depois, muito subtilmente, diz que vai pressionando pela defesa dos direitos humanos. Assina convenções internacionais e tal, mas depois a malta tem que ser realista e tal, e os tipos até são dos nossos e tal.
Em prol de uma Europa que se quer a Economia mais competitiva do mundo com base no conhecimento, lá nos vamos rebaixando, ora carregando os barris de uns, ora sonhando com o mercado de milhões de outros. Tivemos uma excepção chamada Timor-Leste, para a qual até procurámos o apoio de terceiros. Mas agora já não queremos saber do Tibete, de Cabinda, de Cuba, da Venezuela, do Darfur, e de muitos outros lugares. Será este um problema da diplomacia económica? Será um problema da globalização e da economia? Um pouco, como o mostra aliás a notícia sobre a pressão que o primeir-ministro José Sócrates diz que vai fazer a Mugabe se este vier à Cimeira Europa-África, numa estranha dualidade de critérios, se tivermos em conta que hoje janta simpaticamente com Chávez. Mas será mais do que isso, também um problema de perigosas conivências ideológicas, sob o disfarce dos interesses económicos que todos engolem mais facilmente, porque se fala à barriga. Mas cuidado, porque o peixe também morre pela boca.
A globalização, o mercado aberto, mas bem aberto mesmo, sem proteccionismos, sob regras claras que juntem na mesma panela a questão da livre circulação de mercadorias, capitais e pessoas (ah pois), garantindo-se a defesa da dignidade humana e salários condignos, são o melhor instrumento para a paz e o desenvolvimento. Porém, a ver pela China, ficam ainda no ar as dúvidas sobre se os regimes mudarão em função desse desenvolvimento económico e dessa abertura – será que sim, como advogava Alan Greespan?
O incidente diplomático, que já referi, entre o Rei de Espanha e o Presidente da Venezuela, mostra parte de uma equação difícil de resolver na actual cena internacional: a arrogância dos ditadores que têm ou recursos ou mercado ou protecção ideológica e a arrogância e autismo dos países ocidentais, democráticos, que não perceberam, e de certo modo não percebem, que para haver paz é imprescindível criar condições para uma criação/divisão da riqueza no respeito por regras de jogo limpas (não artificialmente), apostando na Educação (instrumento de Cooperação), nos laços culturais e emocionais.
Contudo, é preciso sublinhá-lo, o Rei teve razão em enfrentar o malcriado e arruaceiro venezuelano, que chamava, impunemente, fascista ao ex-Presidente Aznar, eleito democraticamente, num país democrático – o que, diga-se em abono da verdade, não é o que se passa na Venezuela. A forma como o fez é que talvez se tenha tornado numa oportunidade perdida para o desmascarar com a forte chapada de luva branca, e talvez não.
O mais recente incidente diplomático na Cimeira Ibero-americana colocou a nu um dos maiores problemas da sociedade actual e da política internacional. Nunca os equilíbrios internacionais estiveram tão dependentes dos recursos energéticos e, no fundo, da capacidade de gerar dinheiro, bem-estar.
Claro que hoje temos sinais de esperança relativamente a fontes alternativas de energia, como as renováveis, mas são ainda incipientes, e quem não tem petróleo está condenado. Os empresários, a indústria, e também o governo, terão de fazer sérias apostas em matéria de energias alternativas, porque por aí passará boa parte do futuro. Mas enquanto o problema energético não é resolvido num passe de mágica à Luís de Matos ou David Copperfield, o ouro negro continuará a determinar (manchar) substancialmente as relações entre produtores e consumidores, moldando também as relações externas dos países, e toda a forma de fazer política.
Todos os líderes políticos procuram criar bem-estar para as suas populações, para os seus eleitores. Procuram ganhar poder económico, poder político. Ora isso faz-se cada vez mais na cena internacional. Dessa forma, não podem ficar alheios ao movimento de globalização económica e muito menos podem deixar passar a caravana do petróleo e demais recursos sem ir atrás.
A protecção dos emigrantes, a internacionalização das empresas, as trocas comerciais e a busca de recursos energéticos noutras paragens – de preferência controlando a intermediação –, são aspectos que timbram a política externa (e interna) das nações – é a chamada diplomacia económica. Toda a gente pensa primeiro em dinheiro e só no final da refeição, depois de rapado o fundo ao prato, este reflecte, qual espelho da bruxa má, a questão dos valores, dos direitos humanos, o risco para a segurança a longo prazo da perigosa conivência com déspotas amigos. Mas a bruxa está de barriga cheia, a barriga cheia dá sono e o sono vai esquecendo.
Nesta política um pouco rastejante há, porém, uma estranha dualidade. Alguns tiranos, supostamente de esquerda, lá vão tendo a simpatia de gente importante, já com idade para ter juízo. Não é o Prof. Boaventura Sousa Santos o arauto em Portugal do fantástico Hugo Chávez como exemplo da construção do socialismo do século XXI? Não se compreende. Tiranos, independentemente de terem sido eleitos, são tiranos. Homens que pensam mudar constituições para se perpetuarem nos cargos – hoje o Público noticia que a Câmara Alta do Parlamento Russo desafia Putin a violar a Constituição para se manter mais um mandato –, ou ditarem um mundo à sua medida, que não admite opinião diferente, não passam de tiranos, sejam lá de esquerda, direita, ou outra coisa qualquer.
Portugal, como a grande maioria dos países, define as suas relações externas em face dos seus interesses económicos e, depois, muito subtilmente, diz que vai pressionando pela defesa dos direitos humanos. Assina convenções internacionais e tal, mas depois a malta tem que ser realista e tal, e os tipos até são dos nossos e tal.
Em prol de uma Europa que se quer a Economia mais competitiva do mundo com base no conhecimento, lá nos vamos rebaixando, ora carregando os barris de uns, ora sonhando com o mercado de milhões de outros. Tivemos uma excepção chamada Timor-Leste, para a qual até procurámos o apoio de terceiros. Mas agora já não queremos saber do Tibete, de Cabinda, de Cuba, da Venezuela, do Darfur, e de muitos outros lugares. Será este um problema da diplomacia económica? Será um problema da globalização e da economia? Um pouco, como o mostra aliás a notícia sobre a pressão que o primeir-ministro José Sócrates diz que vai fazer a Mugabe se este vier à Cimeira Europa-África, numa estranha dualidade de critérios, se tivermos em conta que hoje janta simpaticamente com Chávez. Mas será mais do que isso, também um problema de perigosas conivências ideológicas, sob o disfarce dos interesses económicos que todos engolem mais facilmente, porque se fala à barriga. Mas cuidado, porque o peixe também morre pela boca.
A globalização, o mercado aberto, mas bem aberto mesmo, sem proteccionismos, sob regras claras que juntem na mesma panela a questão da livre circulação de mercadorias, capitais e pessoas (ah pois), garantindo-se a defesa da dignidade humana e salários condignos, são o melhor instrumento para a paz e o desenvolvimento. Porém, a ver pela China, ficam ainda no ar as dúvidas sobre se os regimes mudarão em função desse desenvolvimento económico e dessa abertura – será que sim, como advogava Alan Greespan?
O incidente diplomático, que já referi, entre o Rei de Espanha e o Presidente da Venezuela, mostra parte de uma equação difícil de resolver na actual cena internacional: a arrogância dos ditadores que têm ou recursos ou mercado ou protecção ideológica e a arrogância e autismo dos países ocidentais, democráticos, que não perceberam, e de certo modo não percebem, que para haver paz é imprescindível criar condições para uma criação/divisão da riqueza no respeito por regras de jogo limpas (não artificialmente), apostando na Educação (instrumento de Cooperação), nos laços culturais e emocionais.
Contudo, é preciso sublinhá-lo, o Rei teve razão em enfrentar o malcriado e arruaceiro venezuelano, que chamava, impunemente, fascista ao ex-Presidente Aznar, eleito democraticamente, num país democrático – o que, diga-se em abono da verdade, não é o que se passa na Venezuela. A forma como o fez é que talvez se tenha tornado numa oportunidade perdida para o desmascarar com a forte chapada de luva branca, e talvez não.
Há chaves que a razão desconhece e razões que Chávez nem sonha.
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