O Labirinto da Saúde
1. Talvez estejamos mesmo na fronteira das ideias e do tempo. O novo ano entrou de bandeiras no ar a pedir a “esmola” da saúde. Na fronteira da preocupação, as vozes democráticas têm recorrido à constituição da república portuguesa, relembrando a urgência da saúde de proximidade que garanta (ao menos) esta segurança à população; as vozes da tutela dizem que daqui a um ano já estamos todos habituados ao novo regime…(!). As contradições sucedem-se no tentar acalmar as águas da tempestade, a contagem das horas de espera nas urgências tem dois ritmos, os “porquês” defraudados de uma distância crescente de Lisboa ao país real assinala esse desencanto de um povo (de todo o país) para quem os novos aumentos (também na saúde!) do ano novo são uma verdadeira aflição.
2. Sempre assim foi e sempre será nas sociedades humanas: o lugar que se dá aos mais desprotegidos é o “sinal” do que se tem no horizonte das ideias. Em múltiplas áreas, como no esforço da reinserção qualificada, tem sido dado oportuno lugar à formação e rigor como alavancas do futuro. Mas esse peixe acaba por morrer fora de água quando a sensação do abandono cresce, todas as distâncias aumentam, as desertificações (do interior do país, um verdadeiro drama adiado) dão a entender que, desequilibrados na nossa geografia, caminhamos para um desequilíbrio nas “periferias” sem fim à vista. Como pode a comunidade nacional ser consequente na exigência e presença quando a ordem da gestão proclamada social vai tendo na palavra “fechar” a sua chave mestra?! Delicada questão (que as pessoas vivem).
3. Ao mesmo tempo, já muito do povo deste país quase que sente (e diz, ou já nem sequer diz), implorando: fechem-nos tudo, mas não nos fechem a saúde e nesta deixem-nos abertas as urgências! Neste labirinto (não linear, em que, é certo, haverá muitas áreas de reforma) torna-se difícil vislumbrar a saída… É comovente e ao mesmo tempo interpelante ver populações a dar a resposta de generosidade, disponíveis para a aquisição de equipamentos que faltam nos serviços; alarma um certo desportivismo nas visões que dizem que “o povo daqui a um ano habitua-se!”; interpela gente a testemunhar que se fosse há uns meses… já teriam falecido. É a realidade!
4. O assunto da saúde (e nesta o das urgências) é sério demais para ser uma questão de números contabilizados até para fechar serviços que há breve tempo tiveram obras de fundo com dinheiros públicos. Ou será que nesta visão social que preside interessa bem mais dizer daqui a dois anos que endireitámos as contas (à custa desta desagregação social), e assim já podemos fazer as obras de regime (no litoral)? A inquietude, embora silenciosa, atravessa o pensamento também dos que pertencem à mesma casa das ideias. Afinal, que filosofia, valores e referencias presidem a tantas destas manifestações de despreocupação com a realidade social concreta das pessoas? Há uma grande insegurança no “ar”, a crescente multidão sofrida das “periferias” sai sempre vencedora; o labirinto terá saída! Alexandre Cruz [07.01.2008]
1. Talvez estejamos mesmo na fronteira das ideias e do tempo. O novo ano entrou de bandeiras no ar a pedir a “esmola” da saúde. Na fronteira da preocupação, as vozes democráticas têm recorrido à constituição da república portuguesa, relembrando a urgência da saúde de proximidade que garanta (ao menos) esta segurança à população; as vozes da tutela dizem que daqui a um ano já estamos todos habituados ao novo regime…(!). As contradições sucedem-se no tentar acalmar as águas da tempestade, a contagem das horas de espera nas urgências tem dois ritmos, os “porquês” defraudados de uma distância crescente de Lisboa ao país real assinala esse desencanto de um povo (de todo o país) para quem os novos aumentos (também na saúde!) do ano novo são uma verdadeira aflição.
2. Sempre assim foi e sempre será nas sociedades humanas: o lugar que se dá aos mais desprotegidos é o “sinal” do que se tem no horizonte das ideias. Em múltiplas áreas, como no esforço da reinserção qualificada, tem sido dado oportuno lugar à formação e rigor como alavancas do futuro. Mas esse peixe acaba por morrer fora de água quando a sensação do abandono cresce, todas as distâncias aumentam, as desertificações (do interior do país, um verdadeiro drama adiado) dão a entender que, desequilibrados na nossa geografia, caminhamos para um desequilíbrio nas “periferias” sem fim à vista. Como pode a comunidade nacional ser consequente na exigência e presença quando a ordem da gestão proclamada social vai tendo na palavra “fechar” a sua chave mestra?! Delicada questão (que as pessoas vivem).
3. Ao mesmo tempo, já muito do povo deste país quase que sente (e diz, ou já nem sequer diz), implorando: fechem-nos tudo, mas não nos fechem a saúde e nesta deixem-nos abertas as urgências! Neste labirinto (não linear, em que, é certo, haverá muitas áreas de reforma) torna-se difícil vislumbrar a saída… É comovente e ao mesmo tempo interpelante ver populações a dar a resposta de generosidade, disponíveis para a aquisição de equipamentos que faltam nos serviços; alarma um certo desportivismo nas visões que dizem que “o povo daqui a um ano habitua-se!”; interpela gente a testemunhar que se fosse há uns meses… já teriam falecido. É a realidade!
4. O assunto da saúde (e nesta o das urgências) é sério demais para ser uma questão de números contabilizados até para fechar serviços que há breve tempo tiveram obras de fundo com dinheiros públicos. Ou será que nesta visão social que preside interessa bem mais dizer daqui a dois anos que endireitámos as contas (à custa desta desagregação social), e assim já podemos fazer as obras de regime (no litoral)? A inquietude, embora silenciosa, atravessa o pensamento também dos que pertencem à mesma casa das ideias. Afinal, que filosofia, valores e referencias presidem a tantas destas manifestações de despreocupação com a realidade social concreta das pessoas? Há uma grande insegurança no “ar”, a crescente multidão sofrida das “periferias” sai sempre vencedora; o labirinto terá saída! Alexandre Cruz [07.01.2008]
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