Comemorações do centenário do
Nascimento de D. Jaime Garcia Goulart
Se fosse vivo, D. Jaime Garcia Goulart, primeiro Bispo de Dili-Timor, completaria, amanhã, cem anos. Nasceu na freguesia da Candelária, na Ilha do Pico, a 10 de Janeiro de 1908. Numa iniciativa da Diocese de Angra em conjunto com a Ouvidoria do Pico e a Paróquia de Nossa Senhora das Candeias, realizar-se-ão comemorações na Paróquia natal deste Bispo Missionário.
Pelas 17h30 haverá a inauguração da Rua D. Jaime Garcia Goulart, junto da casa de São José, seguindo-se o depositar de uma coroa de flores junto do seu busto e a Santa Missa de Acção de Graças, presidida por D. Carlos Filipe Ximenes Belo, Bispo Emérito de Dili e prémio Nobel da Paz em 1996, que se desloca ao Pico para estas comemorações do centenário do nascimento do primeiro bispo de Dili.
Terminada a Missa haverá no salão da Casa do Povo local uma sessão solene com a actuação do Rancho de Natal da Casa do Povo da Candelária e uma conferência proferida por D. Carlos Filipe Ximenes Belo.
Dados históricos sobre D. Jaime Garcia Goulart
Este prelado nasceu na Candelária do Pico, em 10 de Janeiro de 1908, filho de João Garcia Goulart e de D. Maria Felizarda Goulart, primo do cardeal D. José da Costa Nunes, por parte de sua avó paterna D. Isabel Emília da Costa que era irmã do pai do cardeal. A avó materna de D. Jaime chamada D. Isabel Felizarda de Castro era, por sua vez, irmã da mãe do cardeal Costa Nunes.
Aos treze anos, em 1921, partiu para Macau onde frequentou o seminário de S. José. Alguém escreveu: "... foi para Macau com 11 rapazinhos açorianos, levados pelo Pe. João de Lima", que exercia as funções de secretário de D. José da Costa Nunes. Ainda estudante do 3.º ano de teologia foi nomeado secretário do primo, então bispo de Macau. Veio D. Jaime a concluir o curso teológico no seminário de Angra do Heroísmo, aproveitando a vinda aos Açores de D. José, onde recebeu a ordenação sacerdotal a 10 de Maio de 1931, partindo logo para a sua terra natal, a Candelária do Pico, ali celebrando a sua primeira missa em 15 desse mês. Algum tempo depois regressou a Macau ali permanecendo até 1933, ano em que partiu para Timor, onde se demorou até 1937 como comissário, muito contribuindo para a fundação do seminário menor de N.ª S.ª de Fátima na Missão de Soibada em 13 de Outubro de 1936 e destinado à formação de sacerdotes indígenas.
No ano de 1937 estava de novo em Macau e, pouco depois, em 1940, encontrava-se já em Timor, investido nas altas funções de vigário-geral das Missões.
Dili, cidade capital da província de Timor, sede do concelho e da diocese do mesmo nome, fica situada na costa norte da ilha de Timor, a 800 quilómetros da Nova Guiné, a cerca de 2400 de Singapura e a 3200 de Macau. Esta cidade sofreu grandes danos e destruições durante a II Grande Guerra e foi ocupada pelos exércitos japoneses.
Relatos da sua história dizem-nos que em 1665 foi criada a capitania-mor de Timor e que foi seu primeiro capitão Simão Luís, que levantou uma fortaleza no porto de Lifan, ali instalando a capitania da província que se manteve até 1769, data em que, por motivo de consecutivos ataques holandeses, o governador Teles de Meneses a transferiu para Dili, já então em vias de boa e segura fortificação que a defendia pela orla marítima em breve alcançando (1864) a sua elevação a cidade.
Foi nesta cidade que a autoridade papal criou em 4 de Setembro de 1940, pela bula Sollemnibus conventionibus a diocese de Dili, sufragânea da de Goa, sendo seu 1.º bispo o douto açoriano D. Jaime Garcia Goulart, que a governou desde 18 de Janeiro de 1941 como administrador apostólico e, como bispo, desde 12 de Outubro de 1945 a 31 de Janeiro de 1967. A sua sagração efectivou-se em Sidnei, Austrália, na capela do colégio de S. Patrício em 28 de Outubro de 1945, sendo sagrante o bispo D. João Panico, delegado apostólico, e co-sagrantes D. Normando Gilroy, arcebispo de Sidnei e D. João Coleman, bispo de Annidale, recebendo na altura a simpatia e homenagem de muitas individualidades. Dali partiu a dar entrada solene na sua diocese de Dili (9-12-45), que encontraria devastada e em ruínas. Exercia ainda administração apostólica, quando, em 1942, teve de deixar o bispado devido à ocupação japonesa. Eis os documentos emanados da Santa Sé (1) :
PIO PAPA, SERVO DOS SERVOS DE DEUS
Ao dilecto filho, Jaime Garcia Goulart, Administrador Apostólico da Diocese de Dili e Bispo eleito da mesma Diocese, saúde e benção apostólica. O oficio do supremo Apostolado pelo qual presidimos a todo o orbe católico, confiado à nossa humildade pelo Eterno Príncipe dos Pastores, impõe-nos o dever de cuidar com a máxima diligência de que presidam a todas as igrejas Prelados tais que saibam e possam apascentar salutarmente, dirigir e governar o rebanho do Senhor que lhes for confiado. Por consequência, como se encontra sem pastor a igreja de Dili que nós erigimos como catedral sufragânea da Igreja de Goa pela bula munida de sêlo de chumbo "Sollemnibus-conventionibus" do dia quatro do mês de Setembro do ano de mil novecentos e quarenta, Nós, ouvido o parecer dos nossos Veneráveis irmãos, os Cardeais da Santa Igreja Romana, com autoridade apostólica, elegemos-te para ela e colocamos-te à sua frente como Bispo e Pastor e outrosim confiamos-te plenamente o cuidado, governo e administração da mesma igreja com todos os direitos e privilégios, encargos e obrigações inerentes a este múnus pastoral Queremos, porém, que, observado tudo o mais que é de direito e antes que recebas a consagração episcopal e tomes posse canónica da Diocese que te é confiada, faças profissão de fé católica e os juramentos prescritos, segundo as fórmulas estabelecidas, nas mãos dalgum Bispo católico da tua escolha que esteja na comunhão e graça da Sé Apostólica, com a obrigação de enviares, o mais cedo possível, à Sagrada Congregação Consistorial, exemplares dos mesmos com a tua assinatura e a do dito Bispo e munida de sêlo.
Tendo em vista, além disso, a tua maior comodidade, permitimos-te que possas ser livre e licitamente consagrado Bispo fora de Roma por qualquer Bispo católico da tua escolha a que assistam outros dois Bispos católicos que estejam em graça e comunhão com a Santa Sé Apostólica. Pela presente Bula confiamos o múnus e mandato de te conferir a consagração ao Venerável Irmão Bispo que para tal escolheres. Determinamos, porém, estritamente, que antes de emitir a profissão e os juramentos de que acima falamos, nem tu ouses receber a consagração nem ta dê o Bispo que escolheres sob pena de incorrer nas censuras determinadas pelo direito se desobedeceres a este meu preceito.
Alimentamos, por fim, a firme esperança e confiança de que a Igreja de Dili será dirigida utilmente pelo teu desvelo pastoral e indefeso esforço, assistindo-te propícia a dextra do Senhor, e receberá, com o andar do tempo, maior desenvolvimento nas coisas espirituais e temporais.
Dada em Roma, junto de S. Pedro, aos dez de Outubro do ano de mil novecentos e quarenta e cinco ano sétimo do nosso pontificado.
PIO PAPA, SERVO DOS SERVOS DE DEUS
Aos amados filhos, clero e povo da cidade de Dili, saúde e benção Apostólica.
Tendo Nós pela Bula Apostólica "Sollemnibus Conventionibus", munida do sêlo de chumbo e datada do 1 és de Setembro do ano do Senhor de mil novecentos e quarenta, erigido em Catedral Sufragânea da igreja Metropolitana de Goa, a vossa Igreja de Dili ouvido hoje o parecer dos Veneráveis Irmãos Cardeais da Santa Igreja Romana, elegemos com a Nossa autoridade Apostólica para a mesma Igreja, ainda não provida de Pastor, o Nosso dilecto filho Jaime Garcia Goulart até agora Administrador Apostólico da vossa Diocese, e dela o constituímos Bispo e Pastor. Com esta nossa Bula a todos vós damos conhecimento disto e vos mandamos no Senhor que, recebendo com veneração e acatando com a devida honra Jaime, vosso Bispo eleito, presteis obediência aos seus mandatos e avisos salutares e o considereis com reverência como o Pai e Pastor das vossas almas de modo que ele se regozije, no Senhor de vos ter como filhos dedicados e vós de o ter como Pai benevolente.
Outrosim determinamos e mandamos que sob o cuidado e obrigação do mesmo Ordinário, o qual presentemente rege a vossa Diocese, seja lida publicamente esta Nossa Bula, do púlpito da Igreja Catedral, no primeiro dia de preceito que se seguir à sua recepção.
Dado em Roma, junto de S. Pedro, no ano do Senhor de mil novecentos e quarenta e cinco, no dia dez do mês de Outubro no ano sétimo do Nosso Pontificado. Pelo Chanceler da Santa Igreja Romana, Cardeal Januário Granito Pignatelli di Belmonte, Decano do Sacro Colégio.
Nessa longínqua diocese teve papel preponderante o realizado por Salesianos, jesuítas, pelas Irmãs canossianas e dominicanas do SS. Rosário. Elementos estatísticos indicavam que em 1966 possuía 15 paróquias para 131 455 fiéis de entre uma população de 574.805 habitantes, ao cuidado de quatro dezenas de sacerdotes.
Dando mostras de cansaço e com a saúde abalada, D. Jaime pediu à Santa Sé a nomeação de um bispo coadjutor com sucessão, vindo a resignar em 31 de Janeiro de 1967, permanecendo como bispo titular de Trofimiana. Difundiu um comunicado alegando as razões do seu afastamento. Exara-se seguidamente esse documento:
COMUNICADO OFICIAL (2)
Devido ao meu precário estado de saúde e fadiga, após tão longos anos de permanência em Timor, e tendo verificado que, por esses motivos, não podia atender a todas as obrigações do meu cargo, solicitei, há dois anos, à Santa Sé um coadjutor, que, de facto, me foi benignamente concedido na pessoa de Sua Ex. Revm.ª o Senhor D. José Joaquim Ribeiro.
Desde então ficou prevista a minha resignação do cargo de Bispo da Diocese de Dili e, nessa previsão, o meu Coadjutor foi já nomeado com direito de futura sucessão.
Encontrando-se na Diocese, há quase um ano, Sua Ex.ª Revm.ª o Senhor D. José Joaquim Ribeiro, e não tendo desaparecido, antes pelo contrário agravado, como era de esperar, as razões que me levaram a solicitar o Coadjutor, entendi ser dever de consciência submeter ao Santo Padre, como efectivamente submeti em Setembro último, o meu pedido de resignação e exoneração.
Pode causar alguma estranheza, tomando em consideração apenas a minha idade, o facto de eu ter formulado esse pedido.
A verdade, porém, é que todas as circunstâncias apontadas e ainda mais o condicionalismo particular desta vasta Diocese, me colocam no caso, em que, segundo a mente do Concílio Vaticano II e as subsequentes recomendações do Santo Padre, se torna aconselhável a resignação de um Bispo. Aguardemos, pois, a decisão de Sua Santidade, que espero não tardará e há-de ser, como sempre são todas as decisões de Vigário de Cristo, para maior glória de Deus e bem espiritual das almas. Dili. 28 de Dezembro de 1966. Jaime Garcia Goulart, Bispo de Dili.
Ao pronunciar as palavras da sua despedida da diocese timorense, que serviu anos a fio desveladamente, D. Jaime exprimia-se comovido: há trinta e três anos, pela primeira vez , pisei terras de Timor e tomei contacto com a sua gente. Desde então para cá, se tem vindo, dia a dia, apertando os laços de espiritual afecto, que me ligam a este bom Povo Timorense, laços que ainda mais fortemente a ele me vinculou a cruz episcopal Por isso, certamente me não levareis a mal que, na angústia deste momento, eu me ampare a alguns pensamentos de conforto e esperança. De todos o maior é o de Ter podido dotar a diocese de um seminário e de ter visto já os seus primeiros e benéficos frutos. O Reino de Deus em Timor não se dilatará nem consolidará sem numerosos e santos sacerdotes timorenses. Outro motivo de satisfação: o consolador e sempre crescente aumento da comunidade cristã. Recebi a diocese com 30 000 católicos. Entrego-a com mais de 150 000. Ainda e só mais uma reconfortante verificação: durante o meu episcopado vi subir o número de alunos das escolas missionárias de 1500 para 8000. Cessam as minhas funções de pastor directamente responsável por esta porção dilecta da Grei Cristã. Não cessam, porém, as de bispo da Igreja Católica. De algum modo continuo presente em Timor. Presente, por dever de membro do colégio Episcopal, presente por afecto e gratidão; presente nas minhas orações e nos meus sacrifícios, presente pela minha imorredoira saudade.
D. Jaime foi agraciado pelo governo português com o oficialato da Ordem do Infante D. Henrique, que lhe foi concedido por decreto de 23 de Maio de 1964. Considerado de uma grande e proverbial modéstia, D. Jaime quando na intimidade e em devaneio com os seus mais íntimos revela-se um conversador inigualável e extremamente afectuoso e simples. Com uma "cultura enciclopédica" ao que se afirma sem favor a todos tem o dom de conquistar seja qual for o credo, a ideologia ou a nacionalidade. Nele não residem preconceitos de raças ou de cor. A palavra divina. proferida do alto do púlpito, rica de imagens, de saber e de experiência, a todos se dirige por igual.
D. Jaime regressou aos Açores em Agosto de 1967 e foi residir na Horta, ilha do Faial e depois no Pico, onde dirigiu a obra da Casa de S. José, na Candelária da ilha do Pico. Viveu nos últimos anos da sua vida em Rabo de Peixe e em Ponta Delgada em casa de familiares seus, na ilha de S. Miguel, e Angra teve ocasião de o rever e relembrar por altura das solenidades com que se reiniciou o culto da Sé de Angra, em 3 de Novembro de 1985. "Dedicado de alma e coração ao seu povo timorense", recebeu a visita de D. Carlos Ximenes Belo, que o inteirou da situação do martirizado povo.
Faleceu, com 89 anos, na cidade de Ponta Delgada a 15 de Abril na clínica do Bom Jesus, onde se encontrava internado deste 8 de Março daquele ano (3) .
_______
Notas
1. Seara, direcção e edição do P.' Ezequiel Enes Pascoal, Imprensa Nacional de Timor, ano 1, n.º 1, Janeiro 1949.
2. Boletim Eclesiástico da Diocese de Dili, ano V. n.,, 1. 10 Jan. 1967
3. Cf. Boletim Eclesiásticos dos Açores, nº 848, 1997
Nacional Agência Ecclesia 09/01/2008 13:48 13941 Caracteres
112 Diocese de Angra
Se fosse vivo, D. Jaime Garcia Goulart, primeiro Bispo de Dili-Timor, completaria, amanhã, cem anos. Nasceu na freguesia da Candelária, na Ilha do Pico, a 10 de Janeiro de 1908. Numa iniciativa da Diocese de Angra em conjunto com a Ouvidoria do Pico e a Paróquia de Nossa Senhora das Candeias, realizar-se-ão comemorações na Paróquia natal deste Bispo Missionário.
Pelas 17h30 haverá a inauguração da Rua D. Jaime Garcia Goulart, junto da casa de São José, seguindo-se o depositar de uma coroa de flores junto do seu busto e a Santa Missa de Acção de Graças, presidida por D. Carlos Filipe Ximenes Belo, Bispo Emérito de Dili e prémio Nobel da Paz em 1996, que se desloca ao Pico para estas comemorações do centenário do nascimento do primeiro bispo de Dili.
Terminada a Missa haverá no salão da Casa do Povo local uma sessão solene com a actuação do Rancho de Natal da Casa do Povo da Candelária e uma conferência proferida por D. Carlos Filipe Ximenes Belo.
Dados históricos sobre D. Jaime Garcia Goulart
Este prelado nasceu na Candelária do Pico, em 10 de Janeiro de 1908, filho de João Garcia Goulart e de D. Maria Felizarda Goulart, primo do cardeal D. José da Costa Nunes, por parte de sua avó paterna D. Isabel Emília da Costa que era irmã do pai do cardeal. A avó materna de D. Jaime chamada D. Isabel Felizarda de Castro era, por sua vez, irmã da mãe do cardeal Costa Nunes.
Aos treze anos, em 1921, partiu para Macau onde frequentou o seminário de S. José. Alguém escreveu: "... foi para Macau com 11 rapazinhos açorianos, levados pelo Pe. João de Lima", que exercia as funções de secretário de D. José da Costa Nunes. Ainda estudante do 3.º ano de teologia foi nomeado secretário do primo, então bispo de Macau. Veio D. Jaime a concluir o curso teológico no seminário de Angra do Heroísmo, aproveitando a vinda aos Açores de D. José, onde recebeu a ordenação sacerdotal a 10 de Maio de 1931, partindo logo para a sua terra natal, a Candelária do Pico, ali celebrando a sua primeira missa em 15 desse mês. Algum tempo depois regressou a Macau ali permanecendo até 1933, ano em que partiu para Timor, onde se demorou até 1937 como comissário, muito contribuindo para a fundação do seminário menor de N.ª S.ª de Fátima na Missão de Soibada em 13 de Outubro de 1936 e destinado à formação de sacerdotes indígenas.
No ano de 1937 estava de novo em Macau e, pouco depois, em 1940, encontrava-se já em Timor, investido nas altas funções de vigário-geral das Missões.
Dili, cidade capital da província de Timor, sede do concelho e da diocese do mesmo nome, fica situada na costa norte da ilha de Timor, a 800 quilómetros da Nova Guiné, a cerca de 2400 de Singapura e a 3200 de Macau. Esta cidade sofreu grandes danos e destruições durante a II Grande Guerra e foi ocupada pelos exércitos japoneses.
Relatos da sua história dizem-nos que em 1665 foi criada a capitania-mor de Timor e que foi seu primeiro capitão Simão Luís, que levantou uma fortaleza no porto de Lifan, ali instalando a capitania da província que se manteve até 1769, data em que, por motivo de consecutivos ataques holandeses, o governador Teles de Meneses a transferiu para Dili, já então em vias de boa e segura fortificação que a defendia pela orla marítima em breve alcançando (1864) a sua elevação a cidade.
Foi nesta cidade que a autoridade papal criou em 4 de Setembro de 1940, pela bula Sollemnibus conventionibus a diocese de Dili, sufragânea da de Goa, sendo seu 1.º bispo o douto açoriano D. Jaime Garcia Goulart, que a governou desde 18 de Janeiro de 1941 como administrador apostólico e, como bispo, desde 12 de Outubro de 1945 a 31 de Janeiro de 1967. A sua sagração efectivou-se em Sidnei, Austrália, na capela do colégio de S. Patrício em 28 de Outubro de 1945, sendo sagrante o bispo D. João Panico, delegado apostólico, e co-sagrantes D. Normando Gilroy, arcebispo de Sidnei e D. João Coleman, bispo de Annidale, recebendo na altura a simpatia e homenagem de muitas individualidades. Dali partiu a dar entrada solene na sua diocese de Dili (9-12-45), que encontraria devastada e em ruínas. Exercia ainda administração apostólica, quando, em 1942, teve de deixar o bispado devido à ocupação japonesa. Eis os documentos emanados da Santa Sé (1) :
PIO PAPA, SERVO DOS SERVOS DE DEUS
Ao dilecto filho, Jaime Garcia Goulart, Administrador Apostólico da Diocese de Dili e Bispo eleito da mesma Diocese, saúde e benção apostólica. O oficio do supremo Apostolado pelo qual presidimos a todo o orbe católico, confiado à nossa humildade pelo Eterno Príncipe dos Pastores, impõe-nos o dever de cuidar com a máxima diligência de que presidam a todas as igrejas Prelados tais que saibam e possam apascentar salutarmente, dirigir e governar o rebanho do Senhor que lhes for confiado. Por consequência, como se encontra sem pastor a igreja de Dili que nós erigimos como catedral sufragânea da Igreja de Goa pela bula munida de sêlo de chumbo "Sollemnibus-conventionibus" do dia quatro do mês de Setembro do ano de mil novecentos e quarenta, Nós, ouvido o parecer dos nossos Veneráveis irmãos, os Cardeais da Santa Igreja Romana, com autoridade apostólica, elegemos-te para ela e colocamos-te à sua frente como Bispo e Pastor e outrosim confiamos-te plenamente o cuidado, governo e administração da mesma igreja com todos os direitos e privilégios, encargos e obrigações inerentes a este múnus pastoral Queremos, porém, que, observado tudo o mais que é de direito e antes que recebas a consagração episcopal e tomes posse canónica da Diocese que te é confiada, faças profissão de fé católica e os juramentos prescritos, segundo as fórmulas estabelecidas, nas mãos dalgum Bispo católico da tua escolha que esteja na comunhão e graça da Sé Apostólica, com a obrigação de enviares, o mais cedo possível, à Sagrada Congregação Consistorial, exemplares dos mesmos com a tua assinatura e a do dito Bispo e munida de sêlo.
Tendo em vista, além disso, a tua maior comodidade, permitimos-te que possas ser livre e licitamente consagrado Bispo fora de Roma por qualquer Bispo católico da tua escolha a que assistam outros dois Bispos católicos que estejam em graça e comunhão com a Santa Sé Apostólica. Pela presente Bula confiamos o múnus e mandato de te conferir a consagração ao Venerável Irmão Bispo que para tal escolheres. Determinamos, porém, estritamente, que antes de emitir a profissão e os juramentos de que acima falamos, nem tu ouses receber a consagração nem ta dê o Bispo que escolheres sob pena de incorrer nas censuras determinadas pelo direito se desobedeceres a este meu preceito.
Alimentamos, por fim, a firme esperança e confiança de que a Igreja de Dili será dirigida utilmente pelo teu desvelo pastoral e indefeso esforço, assistindo-te propícia a dextra do Senhor, e receberá, com o andar do tempo, maior desenvolvimento nas coisas espirituais e temporais.
Dada em Roma, junto de S. Pedro, aos dez de Outubro do ano de mil novecentos e quarenta e cinco ano sétimo do nosso pontificado.
PIO PAPA, SERVO DOS SERVOS DE DEUS
Aos amados filhos, clero e povo da cidade de Dili, saúde e benção Apostólica.
Tendo Nós pela Bula Apostólica "Sollemnibus Conventionibus", munida do sêlo de chumbo e datada do 1 és de Setembro do ano do Senhor de mil novecentos e quarenta, erigido em Catedral Sufragânea da igreja Metropolitana de Goa, a vossa Igreja de Dili ouvido hoje o parecer dos Veneráveis Irmãos Cardeais da Santa Igreja Romana, elegemos com a Nossa autoridade Apostólica para a mesma Igreja, ainda não provida de Pastor, o Nosso dilecto filho Jaime Garcia Goulart até agora Administrador Apostólico da vossa Diocese, e dela o constituímos Bispo e Pastor. Com esta nossa Bula a todos vós damos conhecimento disto e vos mandamos no Senhor que, recebendo com veneração e acatando com a devida honra Jaime, vosso Bispo eleito, presteis obediência aos seus mandatos e avisos salutares e o considereis com reverência como o Pai e Pastor das vossas almas de modo que ele se regozije, no Senhor de vos ter como filhos dedicados e vós de o ter como Pai benevolente.
Outrosim determinamos e mandamos que sob o cuidado e obrigação do mesmo Ordinário, o qual presentemente rege a vossa Diocese, seja lida publicamente esta Nossa Bula, do púlpito da Igreja Catedral, no primeiro dia de preceito que se seguir à sua recepção.
Dado em Roma, junto de S. Pedro, no ano do Senhor de mil novecentos e quarenta e cinco, no dia dez do mês de Outubro no ano sétimo do Nosso Pontificado. Pelo Chanceler da Santa Igreja Romana, Cardeal Januário Granito Pignatelli di Belmonte, Decano do Sacro Colégio.
Nessa longínqua diocese teve papel preponderante o realizado por Salesianos, jesuítas, pelas Irmãs canossianas e dominicanas do SS. Rosário. Elementos estatísticos indicavam que em 1966 possuía 15 paróquias para 131 455 fiéis de entre uma população de 574.805 habitantes, ao cuidado de quatro dezenas de sacerdotes.
Dando mostras de cansaço e com a saúde abalada, D. Jaime pediu à Santa Sé a nomeação de um bispo coadjutor com sucessão, vindo a resignar em 31 de Janeiro de 1967, permanecendo como bispo titular de Trofimiana. Difundiu um comunicado alegando as razões do seu afastamento. Exara-se seguidamente esse documento:
COMUNICADO OFICIAL (2)
Devido ao meu precário estado de saúde e fadiga, após tão longos anos de permanência em Timor, e tendo verificado que, por esses motivos, não podia atender a todas as obrigações do meu cargo, solicitei, há dois anos, à Santa Sé um coadjutor, que, de facto, me foi benignamente concedido na pessoa de Sua Ex. Revm.ª o Senhor D. José Joaquim Ribeiro.
Desde então ficou prevista a minha resignação do cargo de Bispo da Diocese de Dili e, nessa previsão, o meu Coadjutor foi já nomeado com direito de futura sucessão.
Encontrando-se na Diocese, há quase um ano, Sua Ex.ª Revm.ª o Senhor D. José Joaquim Ribeiro, e não tendo desaparecido, antes pelo contrário agravado, como era de esperar, as razões que me levaram a solicitar o Coadjutor, entendi ser dever de consciência submeter ao Santo Padre, como efectivamente submeti em Setembro último, o meu pedido de resignação e exoneração.
Pode causar alguma estranheza, tomando em consideração apenas a minha idade, o facto de eu ter formulado esse pedido.
A verdade, porém, é que todas as circunstâncias apontadas e ainda mais o condicionalismo particular desta vasta Diocese, me colocam no caso, em que, segundo a mente do Concílio Vaticano II e as subsequentes recomendações do Santo Padre, se torna aconselhável a resignação de um Bispo. Aguardemos, pois, a decisão de Sua Santidade, que espero não tardará e há-de ser, como sempre são todas as decisões de Vigário de Cristo, para maior glória de Deus e bem espiritual das almas. Dili. 28 de Dezembro de 1966. Jaime Garcia Goulart, Bispo de Dili.
Ao pronunciar as palavras da sua despedida da diocese timorense, que serviu anos a fio desveladamente, D. Jaime exprimia-se comovido: há trinta e três anos, pela primeira vez , pisei terras de Timor e tomei contacto com a sua gente. Desde então para cá, se tem vindo, dia a dia, apertando os laços de espiritual afecto, que me ligam a este bom Povo Timorense, laços que ainda mais fortemente a ele me vinculou a cruz episcopal Por isso, certamente me não levareis a mal que, na angústia deste momento, eu me ampare a alguns pensamentos de conforto e esperança. De todos o maior é o de Ter podido dotar a diocese de um seminário e de ter visto já os seus primeiros e benéficos frutos. O Reino de Deus em Timor não se dilatará nem consolidará sem numerosos e santos sacerdotes timorenses. Outro motivo de satisfação: o consolador e sempre crescente aumento da comunidade cristã. Recebi a diocese com 30 000 católicos. Entrego-a com mais de 150 000. Ainda e só mais uma reconfortante verificação: durante o meu episcopado vi subir o número de alunos das escolas missionárias de 1500 para 8000. Cessam as minhas funções de pastor directamente responsável por esta porção dilecta da Grei Cristã. Não cessam, porém, as de bispo da Igreja Católica. De algum modo continuo presente em Timor. Presente, por dever de membro do colégio Episcopal, presente por afecto e gratidão; presente nas minhas orações e nos meus sacrifícios, presente pela minha imorredoira saudade.
D. Jaime foi agraciado pelo governo português com o oficialato da Ordem do Infante D. Henrique, que lhe foi concedido por decreto de 23 de Maio de 1964. Considerado de uma grande e proverbial modéstia, D. Jaime quando na intimidade e em devaneio com os seus mais íntimos revela-se um conversador inigualável e extremamente afectuoso e simples. Com uma "cultura enciclopédica" ao que se afirma sem favor a todos tem o dom de conquistar seja qual for o credo, a ideologia ou a nacionalidade. Nele não residem preconceitos de raças ou de cor. A palavra divina. proferida do alto do púlpito, rica de imagens, de saber e de experiência, a todos se dirige por igual.
D. Jaime regressou aos Açores em Agosto de 1967 e foi residir na Horta, ilha do Faial e depois no Pico, onde dirigiu a obra da Casa de S. José, na Candelária da ilha do Pico. Viveu nos últimos anos da sua vida em Rabo de Peixe e em Ponta Delgada em casa de familiares seus, na ilha de S. Miguel, e Angra teve ocasião de o rever e relembrar por altura das solenidades com que se reiniciou o culto da Sé de Angra, em 3 de Novembro de 1985. "Dedicado de alma e coração ao seu povo timorense", recebeu a visita de D. Carlos Ximenes Belo, que o inteirou da situação do martirizado povo.
Faleceu, com 89 anos, na cidade de Ponta Delgada a 15 de Abril na clínica do Bom Jesus, onde se encontrava internado deste 8 de Março daquele ano (3) .
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Notas
1. Seara, direcção e edição do P.' Ezequiel Enes Pascoal, Imprensa Nacional de Timor, ano 1, n.º 1, Janeiro 1949.
2. Boletim Eclesiástico da Diocese de Dili, ano V. n.,, 1. 10 Jan. 1967
3. Cf. Boletim Eclesiásticos dos Açores, nº 848, 1997
Nacional Agência Ecclesia 09/01/2008 13:48 13941 Caracteres
112 Diocese de Angra
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