8 de maio de 2007

Cartas Para Sakhalin - Diário de Aveiro (003)

A par dos temas de índole geral, Aveiro será sempre um assunto querido neste espaço, pelo que hoje lhe dedico o maior peso das palavras aqui escritas. Começo no entanto com uma preocupação internacional.

Darfur.
Nesta região do Sudão já morreram cerca de 400 mil pessoas, assassinadas brutalmente pelo exército sudanês e pelas milícias janjawid. Muitas outras foram violadas e torturadas, naquilo que é uma bem organizada e apoiada campanha de terror. Se quiser assinar uma petição solicitando o envio de uma força de interposição europeia, vá a
http://www.europetition-darfour.fr/. Não fique em silêncio enquanto inocentes morrem.

Cães perigosos em Aveiro.
Todos temos sido alertados pela comunicação social para o perigo que podem representar alguns “animais de companhia”, nomeadamente por uma recente reportagem da revista Visão: “Cães Danados”. Aí ficámos a saber a canídea verdade, escondida por detrás de uma aparente e inofensiva realidade.
Cães de certas raças são usados para combates – algo ao que parece muito apreciado pelas aristocracia inglesa do séc. XIX (!) e que, tendo começado por ser uma luta num fosso (pit) entre cão e touro (bull), terá mesmo dado o nome à raça mais utilizada para o efeito (pitbull) – com apostas elevadas e um público de alta sociedade, o que está proibido desde 2003, altura em que saiu nova legislação, mais apertada igualmente no que respeita ao registo e acompanhamento de animais ditos potencialmente perigosos. No entanto, o gosto democratizou-se e, se os combates profissionais parecem ter decrescido, os de rua parecem estar no auge, assim como o aumento de ataques a pessoas inocentes. Segundo mesmo artigo, ninguém sabe ao certo quantos pitbulls existem em Portugal, referindo-se que deverão seguramente ser mais do que os 1118 registados (a Liga Portuguesa dos Direitos dos Animais suspeita que sejam pelo menos 10000!). Segundo a polícia, em 2005, pitbulls, rottweillers e dogues argentinos começaram a ser usados em assaltos, tendo já “surpreendido” vários agentes à dentada.
Diz-se que não há cães perigosos, antes donos perigosos, e parece que a personalidade do dono influencia a personalidade do cão. Um amigo contou-me que há uns tempos atrás um jovem detentor de um animal destes foi detido pela polícia e, na viagem para a esquadra, mordeu o agente que o acompanhava, ao que parece numa inversão de papéis – neste caso terá sido o cão a influenciar a personalidade do homem (!). Não concordo com justificações pouco consistentes para reduzir o problema. Eu sei que os cães não têm culpa nenhuma e compreendo as circunstâncias que os tornarão perigosos – não tenho nada contra eles. Porém, confesso receio dos seus dentes afiados e da “ingenuidade” de alguns dos seus amigos de duas “patas”.
Tem-se assistido a uma impunidade total dos que usam estes animais para combate. Por sua vez, os cães capturados vão para canis, acabando, geralmente, sentenciados à morte. Por isso defendo uma maior vigilância e uma lei mais rigorosa, que, apesar das escandalosas agressões a pessoas – e cães, também vítimas –, não passa das boas intenções (de que estão cheios o inferno e os canis).
Não pretendo ser alarmista, até porque, dizem os entendidos, apesar dos seus traços de personalidade exigirem um treino adequado para que sejam “mansos”, estes animais não são violentos. O problema maior parece ser a falta de conhecimento de quem os adquire e dos consequentes cuidados. Neste caso, poderemos andar tranquilos na rua?
Em Aveiro “apreciar” cada vez mais exemplares destes amigos de 4 patas – basta passear a pé por algumas ruas da cidade. O que tenho visto não me deixa nada descansado. Puxados por uma simples trela, fazendo parada para gáudio dos seus acompanhantes, sem açaimo, estão à curta distância de uma distracção – o que não augura nada de bom.
Espera-se que as autoridades façam a vigilância/acompanhamento que lhes compete, para que não se verifiquem casos de ataque. Na página web da Junta de Freguesia da Glória há 10 animais dados como registados – desejamos que o número corresponda à realidade e os cuidados devidos tenham sido tomados por quem de direito (e dever).

Semana do Enterro do Ano.
Sempre fui sensível, sobretudo quando era presidente da Associação Académica, ao transtorno provocado à população de Aveiro pelas festividades nocturnas das semanas académicas. Mais, preocupava-me a sério com a busca de alternativas que diminuíssem, especialmente, e na medida do possível, o ruído causado pela realização dos concertos musicais. Era também preocupação de todos os que me acompanhavam o controle de danos colaterais, o que nos levou sempre a procurar articular a organização dessas iniciativas com as autoridades locais (Governo Civil, Câmara, PSP, GNR). Dentro do que nos era possível, procurámos apoio para encontrar o espaço mais conveniente, mas nunca a cidade esteve dotada das infra-estruturas adequadas, pelo que o problema nunca foi de fácil resolução.
Os estudantes, que adoptam Aveiro como sua casa durante tantos anos, aqui deixando avultados recursos, ficam para sempre a ela ligados afectivamente, muito por causa da sua beleza, das suas gentes, da sua dinâmica – potenciada pela presença de uma das melhores universidades do país –, mas sobretudo pela memória daquilo que aqui vivenciaram, o que inclui a forma como foram acolhidos e, seguramente, também as suas festividades – afinal, nem só de estudo, gastos de mercearia e rendas vive o Homem. Muitos, graças ao dinamismo que a universidade trouxe, nomeadamente empresarial, acabam por aqui ficar a trabalhar, e quase todos, cagaréus, ceboleiros e adoptados, passaram a viver melhor do que antes. A cidade cresceu, desenvolveu-se, enriqueceu (o país todo ganhou com a UA). Os que não ficam acabam por regressar, nem que seja apenas para o Enterro. Os que vão tornam-se seus embaixadores.Reconhecendo o que atrás fica dito – o que parece consensual –, considero preocupantes as dificuldades que recorrentemente são levantadas à organização da Semana do Enterro. É necessário encontrar soluções que não se voltem sempre em desfavor dos estudantes e da sua associação, aumentando custos de produção e até, dadas as circunstâncias, o risco de coisas menos boas. Querer apenas os benefícios que a universidade traz não parece ser a melhor forma de construir a cidade de todos. Empurrar os estudantes para longe dela não será, certamente, a solução. Estou certo que a maioria das pessoas saberá reconhecê-lo.
*
*
Mais info:
Ligação ao sítio do Save Darfur

(fonte: wikipédia)

Sem comentários: