Espanta a quantidade de virgens, idiotas-úteis e homens-massa que à esquerda se escandaliza com tanta promiscuidade de interesses SA.
José Manuel Moreira (DE)
Conta-se que um dia Churchill, chegando aos lavabos do Parlamento, escolheu para urinar o mictório mais longe do que estava a ser usado pelo Chefe da oposição. Este, reparando nisso, à saída, virou-se para Churchill e perguntou-lhe se receava estar próximo dele, ao que Churchill terá respondido: nunca se sabe, vocês não podem ver nada grande que querem logo nacionalizar.
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Com esta história, mais do que enriquecer o anedotário político, pretendo dar conta de quanto esta anedota está desactualizada.
.Hoje os novos socialistas, que já não são “vermelhos”, mas “rosa”, vivem deslumbrados com a grande “troca de favores”, a ponto de o insuspeito António Barreto ter acusado o “PS, SA” de se estar a desenvolver “como uma sociedade anónima de capitais públicos e interesse privado”, daí o ataque higiénico ao mundo dos pequenos para que, graças ao fisco e à ASAE, não se cheguem ao grande..
Mas o que mais espanta é a quantidade de virgens, idiotas-úteis e homens-massa que à esquerda se escandaliza com tanta promiscuidade de interesses SA..
Será que desconhecem que hoje os cozinheiros socialistas, mais que à nacionalização, aspiram à união de facto para mútua conveniência, tendo em vista facilitar (ou impedir) de facto fusões, concursos, licenças, projectos, tudo em grande, incluindo parcerias, subsídios e nomeações..
É por isso que é até injusto isolar o caso de um tal Santos (Carlos Ferreira) que saiu da CGD para BCP. Quando muito seria de questionar a ocasião: como se explica que numa altura que se quer impedir as escolas básicas e secundárias de ter nomes de santos se consinta num Santos para o BCP e se mantenha outro nas Finanças, já que no caso do BP toda a gente já viu que aí não há santos, apenas uma pessoa acusada de “ingerência política” (Cadilhe) ou pelo menos de “actuar tarde” (Ulrich), mas que, mesmo assim, continua no seu papel de não se inibir de inibir os outros..
É verdade que o PSD também queria, mas foi o PS a ganhar as graças de uma união pós-moderna, com poucos deveres e muitos direitos políticos, como o da “boa” regulação que tende a esconder as (in)gerências políticas, ao mesmo tempo que facilita a passagem de (in)dependentes da governação para a regulação e desta para aquela..
Há quem divida os bancos em dois tipos: os que mandam no Estado e aqueles em quem o Estado manda, ou quer passar a mandar. O BCP estaria a caminho desta segunda categoria. Um caminho que a coragem cívica de Miguel Cadilhe, ao candidatar-se à liderança do BCP, pretende travar. Vamos aguardar para ver o que se passa numa Assembleia-Geral onde, para além do mais – ao contrário do BPI –, se misturam em demasia empresas financeiras e não financeiras..
Antes do 25 de Abril dizia-se que só havia em Portugal duas instituições verdadeiramente independentes: a “Igreja” e os “Clubes de futebol”. Infelizmente, agora as duas estão perto do Estado e longe de uma sociedade civil que quase não existe, a ponto de ser confundida com ONGs e organizações sem fins lucrativos..
É por isso que hoje, mais do que avisos e recados, o que Portugal mais precisa é de exemplos de carácter e civilidade. Exemplos criadores de condições favoráveis à existência de uma sociedade civil robusta: entendida como o conjunto de instituições que possibilita aos indivíduos prosseguir interesses comuns sem direcção pormenorizada ou interferência do governo..
Uma sociedade capaz de restringir o poder dos governantes que, historicamente, depende da disponibilidade de opções comerciais que não sejam monopolizadas pelo Estado e da capacidade para favorecer boas instituições. Instituições tão capazes de assegurar “a vida, a liberdade e o património” (Locke) e facilitar as transferências voluntárias de propriedade como de garantir o equilíbrio e independência entre os sistemas político, económico e ético-cultural..
Instituições que a popularidade dos cozinheiros do “Churning State”, com a ajuda dos media, à mistura com a habituação de tantos de nós à dependência e à ignorância, impede de nascer. O exemplo de Cadilhe tardou e mesmo assim teve que vir do Norte, o que dá que pensar sobre o estado invertebrado que já domina a (o) Capital.
____José Manuel Moreira, Professor universitário e membro da “Mont Pélérin Society”
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