A triagem das ideias
1. No mundo da liberdade de mil-e-uma-opiniões, visões, perspectivas, sugestões, convites, publicitações, é a cada pessoa que cabe a determinante opção. Péssimo seria o tempo, já ido, em que não existisse liberdade de opinião e de manifestação de suas ideias. Todavia, o reverso da medalha da liberdade exigirá uma capacidade de triagem que se afirme como valor fundamental na formação humana, onde existam razões conscientes que verdadeiramente iluminem as opções. É diante dos mundos-e-fundos de ideias, que se vêm na televisão ou se escrevem nos jornais e revistas, que importa não acreditar em tudo, mas possuir uma visão crítica do que nos entra pela porta dentro…e ajudar os novos nesta tarefa.
2. Pelo panorama da recente quadra festiva, neste particular, não estamos muito bem. Num país com dificuldades sócio-económicas, somos dos primeiros do mundo no embarque das novidades das comunicações móveis e no envio desmesurado de milhões e milhões de mensagens. Bom, sejam elas sempre manifestação dos melhores sentimentos para todo o ano!... Mas, confrontando com os países europeus, uma generalizada sedução fácil pelas “últimas modas” diz-nos que “algo” está por ajustar, um sentido crítico do essencial continua por apurar, uma capacidade de triagem de tudo o que se publicita (ferreamente, Lipovetsky) vai faltando, estando as novas gerações na encruzilhada de uma necessária (mas difícil) mudança de mentalidade.
3. Quer no âmbito, muitas vezes, dos debates políticos onde um contraditório discursivo vem à luz do dia, dependendo do lado em que se está (oposições versus governos), quer nos mediáticos colunistas de opinião dos variados órgãos de informação (daqueles que muitos criticam porque falam sobre tudo… mas se falarem só da sua especialidade são na mesma criticados que mais nada sabem além de sua área…!), será às pessoas, aos cidadãos, que cabe a essencial missão de discernir entre todo o alarido confuso aquilo que se afirmará como “o caminho” a seguir. Tarefa esta tanto mais difícil quando, muitas vezes, às próprias instâncias de comunicação, falta uma isenção informativa que forme na autocrítica as pessoas da opinião pública social.
4. Talvez, numa sociedade adulta, este seja um dos valores fundamentais: a capacidade de, com espírito crítico, discernir para diferenciar o prato certo no meio de tantas ementas que nos querem servir... Não falamos do criticismo descomprometido; e numa visão superior de liberdade social como acolhimento da opinião de cada pessoa, nada haverá a obstar para essa visão personalizada… Destaque-se é que “a faca e o queijo” está do lado dos cidadãos; se estes vão (vamos) pelo último grito da moda quase imposto pela publicidade é porque falta (re)formarmos as virtudes pessoais para o essencial de cada dia que não deixará naufragar o Ser em tantos supérfluo que atrapalham um saudável sentido de vida com os outros. É verdade, cada vez será mais difícil ser pessoa, e ao mesmo tempo mais fascinante. O que é preciso é fazer opções na triagem do essencial. Alexandre Cruz [10.01.2008]
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