30 de novembro de 2007
Braga
29 de novembro de 2007
NA LINHA DA UTOPIA
1. Tudo tem o seu tempo. Mas há tempos que são marcados por referências culturais de relevo. Foi precisamente há 21 anos que começou este projecto musical MadreDeus que viria a tornar-se emblemático da cultura portuguesa, percorrendo todos os mares da cultura internacional. O primeiro disco Os Dias da MadreDeus (1987), apresentava-se como um enigma musical que respirava dessa nostalgia e do horizonte oceânico do ser português.
2. Por trás deste simples e grandioso projecto está o génio Pedro Ayres de Magalhães, autor-compositor que tem criado maravilhas na música portuguesa do género. Agora, a voz que ele há duas décadas encontrou nos bares de Lisboa libertou-se noutros projectos mais individuais... Essa voz que, mediante as sensibilidades, repetitiva para uns, única para outros (como nós), levou por esse mundo fora, mais que o “nome”, a partilha da identidade portuguesa.
3. Se no estrangeiro o apreço e o mérito cedo foram reconhecidos, no Portugal pessimista da falta de autoconfiança a banda MadreDeus fora inicialmente vista com desconfiança. A sua chegada (regresso) a Portugal espelha também essa realidade tão típica nossa: foi necessário, primeiro, um reconhecimento mundial para depois apreciarmos e valorizarmos o que é nosso. Somos assim, felizmente já somos menos. Uma energia positiva de autoconfiança vai-nos abrindo as portas, dizendo que somos tão capazes como os outros, de que não podemos estar à espera das soluções mas teremos de ser parte delas.
4. Neste projecto musical, que talvez seja muito mais que simples música pois trata-se incomparavelmente da mais internacional banda portuguesa que do oriente ao ocidente recebeu a aclamação, a “hora” é de pergunta sobre o futuro. Estando o grupo a terminar este ano sabático de 2007, a voz da Teresa Salgueiro, por outros projectos pessoais, não tem disponibilidade para tanta solicitação... Para quem aprecia a guitarra do Pedro e a sua voz em conjunto, pena. Sobreviverá a banda MadreDeus, quando, afinal acabou por ser a voz de Teresa a dar a identidade ao projecto? Eis a questão!
5. Mas, acima de tudo, sem nostalgias, o tempo cultural português recente agradece os Dias e os anos de tão embaixador projecto cultural. Haja o que houver, MadreDeus são história viva!
Francoise Hardy - Tous les Garcons et les Filles
Não podia ficar aqui Jacques Dutronc sem a sua bela esposa Françoise Hardy, de quem a minha mãe era fã incondicional na sua juventude. Quando um dia eu estava em casa deles liguei à minha mãe, para lhe dizer que estava a dormir "na cama da sua estrela predilecta" - coisas de miúdo deslumbrado.
Lembro-me de ter estado com uma fotografia do Elvis Presley - este meu ídolo na altura - dedicada à Françoise e ter delirado.
Romantismos de Paris.
Jacques Dutronc - Et moi, et moi, et moi.
Este tema de Jacques Dutronc é-me familiar, desde os meus 15, 16 anos que o ouço, sempre com redobrado gosto. Não tem nada de especial, nem é pelo seu carácter "social", pelo seu contexto da época - sempre actual - que gosto da canção. É sobretudo pela sonoridade, pelo graça de Jacques, pela sua ironia. É evidente que a canção é muito premonitória das coisas, das nossas coisas, dos nossos tempos. E tem uma vantagem, uma virtude, apelar ao pensamento pessoal, à responsabilidade pessoal numa sociedade.
Além do mais eu tenho uma réste ade proximidade pessoal com Jacques Dutronc - cheguei a viver em casa dele durante um pequeno período.
Foram tempos fantásticos aqueles. O sonho da cidade luz, uma inspiração para o resto da vida.
28 de novembro de 2007
Chávez traduzido
Na Linha Da Utopia
1. Em termos de desenvolvimento humano, na recente lista de 70 países com desenvolvimento humano elevado, Portugal ocupa o 29º lugar, sendo a cauda da Europa ocidental. No geral, foram analisados pelas Nações Unidas um total de 177 países, na procura de cruzar os dados existentes e assim ficar com uma visão de conjunto que privilegia as pessoas na sua sociedade concreta. A listagem (dos 70) começa na Islândia e termina no Brasil. Como todos os rankings deste género, as abordagens não são lineares, o que, por exemplo, se prova quando o Japão surge no oitavo lugar, tendo este país uma média de esperança de vida à nascença de 82,3 anos, maior que a fria Islândia, país que é o topo da tabela.
2. Mesmo nos limites naturais de tão complexo (e essencial) estudo, existe um extraordinário potencial meritório neste género de estudos (a que também juntamos o Relatório Anual sobre a Liberdade Religiosa no Mundo) que colocam, na generalidade, a claro aquilo que são as virtudes e os limites das sociedades contemporâneas, sempre no sentido de colmatar, solucionar, melhorar a vida das pessoas. No Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH), entre outros, entram factores essenciais como a esperança de vida à nascença, taxa de alfabetização de adultos, taxa de escolarização bruta combinada (dos ensinos básico, secundário e superior) e o PIB per capita. O presente relatório, sublinhando, dá, ainda, um especial destaque à mudança climática que elege (a par do combate à pobreza extrema, um dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio) como o maior desafio que se coloca à humanidade neste início do séc. XXI.
3. Como em tudo, o primeiro passo para a cura é o diagnóstico. Estes diagnósticos anuais querem ser ponto de partida contínuo, num desejado progresso para a humanidade. Estes relatórios interessam a todos, pois, hoje mais que nunca em tempo global, não há solução que não passe pela parceria ampla que potencie soluções sustentáveis. Todos, desde os maiores actores sociais (políticas, educação, religiões, filosofias,…) até aos cidadãos que todos os dias trabalham e vivem (ou sobrevivem), estão incluídos como visão de projecto, neste desejado integral desenvolvimento humano das nações. O encontrar de soluções no tempo actual, que pressupõe um pensar global e acção local, obriga a ver como estamos para solidificar o (sempre mais e melhor) que queremos. Também para o 29º classificado, em que subimos a média esperança de vida à nascença para 77,7 anos. Relatório DH em: http://hdr.undp.org/en/reports/global/hdr2007-2008/
Alexandre Cruz [28.11.07]
27 de novembro de 2007
Na Linha Da Utopia
1. A vivência da sociedade civil é o reflexo dos níveis de desenvolvimento que se atinge. Um corpo social dinâmico e todo responsável pelo que é de todos, eis o espelho claro de uma liberdade bem entendida e de uma correspondente democracia justamente amadurecida. Sempre a favor de tudo quanto é bom para o bem comum (das pessoas), sempre com todos os actores do tecido social que cooperam com essa presença e proposta de uma sociedade civil não adormecida mas construtiva.
2. Normalmente, na busca do equilíbrio referencial, falar-se de sociedade civil remete-nos para uma plataforma comum onde a vida da “classe média” representa essa dinâmica criativa ou a sua ausência indiferente. Assim sendo, tanto as revoluções históricas reflectem essa insatisfação da grande maioria de cidadãos (na sua negação da dignidade e direitos), como nas situações de pobreza extrema dificilmente se consegue vislumbrar uma réstia de expectativa transformadora.
3. Mas, que considerar quando os bens essenciais parecem garantidos e a indiferença generalizada substitui a energia interventiva? O facto de em alguns países europeus o voto eleitoral ser obrigatório (como na Holanda) reflecte essa passividade, que faz pensar (?), das terras da liberdade. Também para nós portugueses, como compreender e desenvolver mais as potencialidades (e que esperar mais) de uma sociedade civil que se reconheça (como centro da vida) em que a preocupação pelo “pão de cada dia” sobreocupa o tempo social?
4. O desenvolvimento (integral) dos povos e a consolidação dos valores fundamentais, hoje, reclama o aprofundamento desta ideia chave de uma sociedade que vive a civilidade como compromisso social. Numa visão sem antípodas (ou, ou), estes são sempre o reflexo de subdesenvolvimento reflexivo. Uma civilidade de pessoas livres, numa liberdade que integra as linhas referenciais (de ética comum) dos dignos estados.
5. Uma certeira perspectivada sociedade civil em que ninguém se põe no lugar dos outros, nas onde todos (pessoas livres e estados corresponsáveis) cooperam em ordem à plena realização pessoal e social. Quando se pede aos Estados para resolver todos os problemas da sociedade (de todos), ou quando as liberdades não conseguem integrar os referenciais pluralistas “qb” (dos poderes públicos) em ordem à realização da vida em sociedade, ou, ainda, quando os Estados se querem sobrepor forçadamente às pessoas optando por elas… será porque haverá muito que caminhar em termos de sociedade civil, de modelo civilizacional.
6. Esta sociedade civil, quando está morta ou é indiferente às questões do bem das pessoas, gera a anemia social (somos na letra, mas não somos na realidade!), normalmente permeável ao avanço do que menos interessa ou à fácil (im)posição. Precisamos de uma sociedade civil mais atenta e comprometida (que pense consequentemente as questões da família, do trabalho, da educação, escola, ambiente, …)? Sim, sempre! Alexandre Cruz [27.11.2007]
A mestiçagem dá bons frutos
26 de novembro de 2007
Visitors from the blue planet
Liberal, Kansas, United States
Atlanta, Georgia, United States
Maple Grove, Minnesota, United States
Paris, Ontario, Canada
Bensalem, Pennsylvania, United States
New York, New York, United States
Mexico, Distrito Federal, Mexico
Taipei, T'ai-pei, Taiwan
India
Doha, Ad Dawhah, Qatar
Saudi Arabia
Caracas, Distrito Federal, Venezuela
Aracaju, Sergipe, Brazil
Curitiba, Paraná, Brazil
Porto Alegre, Rio Grande Do Sul, Brazil
Buenos Aires, Buenos Aires, Argentina
Parma, Emilia-romagna, Italy
Barcelona, Cataluña, Spain
Granada, Andalucia, Spain
Chávez há uns anos, há uma antiguidade
Enviaram-me para o e-mail este vídeo fantástico de Hugo Chávez, que parece ter sido feito há uma eternidade, quando o menino guerreiro da Venezuela, comandante, ainda se fazia passar pelo capuchinho vermelho, antes de virar lobo-mau.
Na Linha Da Utopia
1. Eis a questão! Depois da visita dos bispos à sede (da unidade) romana, após uma semana de “ecos”, uns mais entusiastas que outros, alguns (primários) demonstrativos do não entendimento destas “realidades”, outros (na reacção ou de “mãos atadas”) defensores de uma serenidade descomprometida, a pergunta sobre o futuro continua… A resposta será mais complexa que um “pedido” de renovação, como se esta significasse o retorno das multidões ou uma ordem de importância das coisas do mundo. Também seja dito, a fundamental aposta nas “razões da fé” de Bento XVI precisa da sua correspondência nas questões fundamentais da Igreja para o séc. XXI. Ou nestas (problemáticas) afastamos a razão?
2. Naturalmente, a renovação desejada passa pelo “fermento” na massa, pelo “sal” na comida, pelo sentido de dignidade divina a proporcionar à história humana, num horizonte de diálogo ecuménico, inter-religioso e inter-cultural… sendo certo que a ordem das realidades da comunidade Igreja não podem ser lidas com critérios meramente humanos. Se dos documentos desse encontro com o Santo Padre nos vem uma visão de Igreja (ainda) clerical e por isso de necessária renovação estrutural (de todos os que se dizem de “cristãos”) à luz do Concílio Ecuménico Vaticano II (1962-65), o entender (a atender) deste “pedido”, só pode, pressuporá o seguir o exemplo renovado que vem de cima… Como vamos de renovação em Roma? Na evidente reciprocidade, a resposta a esta pergunta será (também) a resposta para a renovação das comunidades locais…
3. Felizmente já vão os tempos em que o “questionar” seria visto com olhos menos positivos. Hoje, o horizonte da liberdade cristã efectivamente comprometida levar-nos-á, em cada tempo histórico, a (re)definir o essencial das renovações em coerência evangélica… Neste ponto, seja dito, é um som difícil de captar, os apelos à renovação da voz de quem foi “fechando” o espírito da pluralidade do Concílio Vaticano II. Como compreender o apelo à renovação local diante da “limitação” por Roma do progresso das chamadas teologias locais (das Américas, da Ásia, de África), espelhada em múltiplos afastamentos de teólogos que por uma “parte” (de pensamento diferente) é-lhes fechado o “todo” do seu esforço de inculturação?
4. Enfim, nada de novo! Se a Igreja fosse uma “entidade” qualquer, podia-se compreender um apelo “dirigido” de renovação de quem (podendo) não renova a casa... Não é fácil, mas o primeiro passo será a abertura teológica às “questões”… Ao ser comunidade “discípula” toda ela, a Igreja, não consegue conciliar essa “falta”… Ou, será que, num pluralismo das comunidades locais, poderão os seus pastores avançar com renovações nos “ministérios”? Para já não falar nas urgentes renovações (aprofundamentos dogmáticos como renovação) de linguagem sobre a fé no mundo de hoje? Claro que se pode aplicar o refrão (conformista) de que a renovação começa pela base… Enfim! E quando esta, nas suas necessidades, colide com (ainda) uma ideia de unidade como uniformidade (em vez de pluralidade)? Ou será uma renovação para continuar (na mesma)? Já agora, na recente grande entrevista da Rádio Renascença sobre esta temática (só com três bispos), onde estavam os essenciais LEIGOS?
5. Vale a pena ler o livro do grande teólogo (na prateleira) Hans Kung, “Porque Sou Cristão?”. Deste(s), num espírito ecuménico e universalista nascerá o futuro. No encontro gratificante onde ninguém perde a identidade! (Ainda estamos aqui?…) Pelo contrário, aprofunda-se a essencialidade que nos une. O tempo o exige para ser possível a renovação em ordem ao FUTURO. (Enfim, tudo isto, nada de novo! Ou melhor, tudo sempre novo, na Pessoa divina que comanda este pesado Barco! Procurámos, numa forma de escrever, não dizer tudo o que tem sido dito, de que está tudo quase bem e que o mundo é que não entende… Temos mesmo de renovar! Mas, sem simplismos, não chega “romendo novo em pano velho”!)
Alexandre Cruz [26.11.07]
Na Linha Da Utopia
1. A estratégia do líder da oposição, como resposta ao semelhante modelo de liderança governativo, tem dado azo ao catapultar do conceito de “empresa” para um universo social e político, quase universalizando a ideia de que tudo tem que dar lucro porque para tudo terá de haver um mercado. Já das últimas décadas, mesmo o fenómeno futebol, que lida com multidões, foi trazendo, de sobremaneira, à ribalta, essa obrigatória compensação de um popular investimento, a que se junta a conquista a todo o custo em palco de uma vitória sempre procurada, e onde, a certa altura, pouco importa o que acontece no meio, ou qualidade, do jogo.
2. No plano sócio-político, o árbitro acabará por ser o critério. E este vai-se moldando ao jeito do melhor terreno para escolher o melhor ponto de partida rumo à vitória. Ver um partido político (que se julgava ser um espaço criativo e comprometido eticamente na visão de coerente proposta social) ao jeito da gestão de uma empresa (divinização da empresa?) significará centrar na lógica de mercado-lucro toda a visão de vida e da sociedade. No pressuposto da salvaguardada dignidade, nada temos a opor ao “mercado” quando ele representa o esforço da proposta concorrencial na base da qualidade… Mas, transferir tudo (e as ideias sócio-políticas especialmente) para a lógica de consumo não será o fim das ideias, ou fazer delas um negócio?
3. Neste cenário para que caminhamos (?) as ideias irão contar cada vez menos, e as lideranças provirão do laboratório fermentado da oportunidade estratégica, em vez de tudo brotar duma serena e profunda visão da vida experienciada e dos valores sociais que se buscam. São algumas, neste corredor da fama, as realidades que espelham a pequenez defraudada das ideias. Poderemos colocar neste escalão menos superior, por exemplo, muitas das linhas de pensamento-acção das juventudes partidárias? Serão estas, na essência, hoje, uma expectativa de potencialidades esfumadas? A liberdade, para uma igual dignidade humana (e de oportunidades), que nos trouxe ao presente, está a deixar-nos a meio do caminho, prisioneiros (agora pelo não andar das ideias) da quantidade (populista)?
4. Em Portugal, quando da expansão dos canais TV, esse “mercado” omnipotente trouxe-nos os maiores espectáculos da vulgaridade. Deu-se mais o que mais vendia! Na generalizada indiferença de uma possível sociedade democrática, democracia ao que parece estar a ser deixada só para o parlamento (que temos…), estaremos a caminhar para este beco mercadorista em termos sócio-políticos? Se de um lado do jogo são os números que reinam e do outro a resposta eleva a “empresa” como modelo de vida, que futuro social?! Antes do mercado, já havia (e há) pessoas. (E ainda - “Mercado”: Também como o regularmos “qb” se nos deixarmos comandar por ele?)
24 de novembro de 2007
Jorge Palma - Encosta-te a Mim
Encosta-te a mim
Encosta-te a mim,
nós já vivemos cem mil anos
encosta-te a mim,
talvez eu esteja a exagerar
encosta-te a mim,
dá cabo dos teus desenganos
não queiras ver quem eu não sou,
deixa-me chegar.
Chegado da guerra,
fiz tudo p´ra sobreviver em nome da terra,
no fundo p´ra te merecer
recebe-me bem,
não desencantes os meus passos
faz de mim o teu herói,
não quero adormecer.
Tudo o que eu vi,
estou a partilhar contigo
o que não vivi, hei-de inventar contigo
sei que não sei, às vezes entender o teu olhar
mas quero-te bem, encosta-te a mim.
Encosta-te a mim,
desatinamos tantas vezes
vizinha de mim, deixa ser meu o teu quintal
recebe esta pomba que não está armadilhada
foi comprada, foi roubada, seja como for.
Eu venho do nada porque arrasei o que não quis
em nome da estrada onde só quero ser feliz
enrosca-te a mim, vai desarmar a flor queimada
vai beijar o homem-bomba, quero adormecer.
Tudo o que eu vi,
estou a partilhar contigo o que não vivi,
um dia hei-de inventar contigo
sei que não sei, às vezes entender o teu olhar
mas quero-te bem, encosta-te a mim
Jorge Palma
~
Para aqueles que me acompanham.
22 de novembro de 2007
Cartas para Sakhalin - Diário de Aveiro (22)
O mais recente incidente diplomático na Cimeira Ibero-americana colocou a nu um dos maiores problemas da sociedade actual e da política internacional. Nunca os equilíbrios internacionais estiveram tão dependentes dos recursos energéticos e, no fundo, da capacidade de gerar dinheiro, bem-estar.
Claro que hoje temos sinais de esperança relativamente a fontes alternativas de energia, como as renováveis, mas são ainda incipientes, e quem não tem petróleo está condenado. Os empresários, a indústria, e também o governo, terão de fazer sérias apostas em matéria de energias alternativas, porque por aí passará boa parte do futuro. Mas enquanto o problema energético não é resolvido num passe de mágica à Luís de Matos ou David Copperfield, o ouro negro continuará a determinar (manchar) substancialmente as relações entre produtores e consumidores, moldando também as relações externas dos países, e toda a forma de fazer política.
Todos os líderes políticos procuram criar bem-estar para as suas populações, para os seus eleitores. Procuram ganhar poder económico, poder político. Ora isso faz-se cada vez mais na cena internacional. Dessa forma, não podem ficar alheios ao movimento de globalização económica e muito menos podem deixar passar a caravana do petróleo e demais recursos sem ir atrás.
A protecção dos emigrantes, a internacionalização das empresas, as trocas comerciais e a busca de recursos energéticos noutras paragens – de preferência controlando a intermediação –, são aspectos que timbram a política externa (e interna) das nações – é a chamada diplomacia económica. Toda a gente pensa primeiro em dinheiro e só no final da refeição, depois de rapado o fundo ao prato, este reflecte, qual espelho da bruxa má, a questão dos valores, dos direitos humanos, o risco para a segurança a longo prazo da perigosa conivência com déspotas amigos. Mas a bruxa está de barriga cheia, a barriga cheia dá sono e o sono vai esquecendo.
Nesta política um pouco rastejante há, porém, uma estranha dualidade. Alguns tiranos, supostamente de esquerda, lá vão tendo a simpatia de gente importante, já com idade para ter juízo. Não é o Prof. Boaventura Sousa Santos o arauto em Portugal do fantástico Hugo Chávez como exemplo da construção do socialismo do século XXI? Não se compreende. Tiranos, independentemente de terem sido eleitos, são tiranos. Homens que pensam mudar constituições para se perpetuarem nos cargos – hoje o Público noticia que a Câmara Alta do Parlamento Russo desafia Putin a violar a Constituição para se manter mais um mandato –, ou ditarem um mundo à sua medida, que não admite opinião diferente, não passam de tiranos, sejam lá de esquerda, direita, ou outra coisa qualquer.
Portugal, como a grande maioria dos países, define as suas relações externas em face dos seus interesses económicos e, depois, muito subtilmente, diz que vai pressionando pela defesa dos direitos humanos. Assina convenções internacionais e tal, mas depois a malta tem que ser realista e tal, e os tipos até são dos nossos e tal.
Em prol de uma Europa que se quer a Economia mais competitiva do mundo com base no conhecimento, lá nos vamos rebaixando, ora carregando os barris de uns, ora sonhando com o mercado de milhões de outros. Tivemos uma excepção chamada Timor-Leste, para a qual até procurámos o apoio de terceiros. Mas agora já não queremos saber do Tibete, de Cabinda, de Cuba, da Venezuela, do Darfur, e de muitos outros lugares. Será este um problema da diplomacia económica? Será um problema da globalização e da economia? Um pouco, como o mostra aliás a notícia sobre a pressão que o primeir-ministro José Sócrates diz que vai fazer a Mugabe se este vier à Cimeira Europa-África, numa estranha dualidade de critérios, se tivermos em conta que hoje janta simpaticamente com Chávez. Mas será mais do que isso, também um problema de perigosas conivências ideológicas, sob o disfarce dos interesses económicos que todos engolem mais facilmente, porque se fala à barriga. Mas cuidado, porque o peixe também morre pela boca.
A globalização, o mercado aberto, mas bem aberto mesmo, sem proteccionismos, sob regras claras que juntem na mesma panela a questão da livre circulação de mercadorias, capitais e pessoas (ah pois), garantindo-se a defesa da dignidade humana e salários condignos, são o melhor instrumento para a paz e o desenvolvimento. Porém, a ver pela China, ficam ainda no ar as dúvidas sobre se os regimes mudarão em função desse desenvolvimento económico e dessa abertura – será que sim, como advogava Alan Greespan?
O incidente diplomático, que já referi, entre o Rei de Espanha e o Presidente da Venezuela, mostra parte de uma equação difícil de resolver na actual cena internacional: a arrogância dos ditadores que têm ou recursos ou mercado ou protecção ideológica e a arrogância e autismo dos países ocidentais, democráticos, que não perceberam, e de certo modo não percebem, que para haver paz é imprescindível criar condições para uma criação/divisão da riqueza no respeito por regras de jogo limpas (não artificialmente), apostando na Educação (instrumento de Cooperação), nos laços culturais e emocionais.
Contudo, é preciso sublinhá-lo, o Rei teve razão em enfrentar o malcriado e arruaceiro venezuelano, que chamava, impunemente, fascista ao ex-Presidente Aznar, eleito democraticamente, num país democrático – o que, diga-se em abono da verdade, não é o que se passa na Venezuela. A forma como o fez é que talvez se tenha tornado numa oportunidade perdida para o desmascarar com a forte chapada de luva branca, e talvez não.
Na Linha Da Utopia
Ajudar é no Banco Alimentar
1. Por vezes poderemos andar tão envolvidos em grandes projectos para o resto do mundo que esquecemos que o mundo mais próximo terá de ser esse início. Sublinhe-se que a renovação da humanidade longínqua passa, necessariamente, pela nova “chama” solidária para com a humanidade próxima e diária. Claro, uma e outra, perto como longe, esse ideal transformador quer agarrar, envolver, gerando aqueles novos sentimentos que nos despertam para o essencial da vida, esta que para ser plena obriga a reparar (n)as situações difíceis de cada outro como nós. Afinal, “somos” com o outro!
2. Nos últimos anos já nos fomos habituando, por estas alturas pré-natal, tanto a proclamar os números da pobreza e da fome (bem mais de duzentas mil pessoas em Portugal), como a destacar projectos, tanto diárias e semanais nas comunidades locais, como as grandes e exemplares campanhas como o Banco Alimentar. Mas falta algo de muito importante, parece que as potencialidades desta sensibilização nacional tardam em chegar a todos, mesmo aos que estão nos essenciais processos de formação, numa necessária reinterpretação “indutiva” de tudo, onde a realidade (hoje humanitária) obriga à renovação das teorias (da razão), para mais e melhor.
3. Vendo de dentro (pois de “fora” as ideias precipitadas, e logo redutoras, também podem abundar), no nosso tempo, o Voluntariado afirma-se como um valor essencial e de efeitos transversais sensibilizantes para a sociedade de todos. O viver o Voluntariado (e todos o seremos de algum modo…, também na verdade de que existem variados níveis de compromisso com o voluntariado) reveste-se de uma grandeza que vence as simples ideias teóricas tantas vezes simpáticas mas pouco realmente serviçais. O Voluntariado cria proximidade surpreendente entre os valores universais da dignidade humana e a sua realização nas situações mais variadas e tantas vezes tão difíceis.
4. É por isso que, insistimos volta e meia nesta tecla, falar de educação e formação obrigará à recepção em sistema educativo da experiência de inúmeras organizações (muitas delas transnacionais) que promovem a solidariedade sem fronteiras antecipando o futuro de unidade. Também estas organizações haverão de crescer cada vez mais para “partilharem” a sua visão calorosa que, muitas vezes, poderá iluminar de calor humano a partir da prática esperançosa a frieza por vezes de sistemas teóricos estruturalistas menos abertos.
5. Mesmo diante de todos os prós-e-contras que tudo quanto é humano pode ter, é imenso o potencial de valor educativo (muitas vezes ainda não devidamente abraçado por todos os quadrantes sociais e educativos) de acções e campanhas de Voluntariado como esta do Banco Alimentar. Afinal, numa cidadania humana e atenciosa, toda a sociedade está interessada, mesmo como sensibilização e corresponsabilidade social. (Os interessados em colaborar na Campanha podem contactar pelo 234 381 192 ou 962 814 355.) Nos dias 1 e 2 de Dezembro, AJUDAR É NO BANCO ALIMENTAR! (www.aveiro.bancoalimentar.pt)
Alexandre Cruz [22.11.07]
Concordo em absoluto
José Manuel Fernandes, PÚBLICO, 22-11-2007
Europeu 2008
21 de novembro de 2007
Na Linha Da Utopia
1. Se alguém ousasse escrever a história dos muros escreveria das páginas decisivas da história humana. O erguer de muros contém em si uma busca de separação, no mínimo desconfiada, no máximo…mortífera. Na história dos muros (se as pedras falassem!) está inscrito muito do sofrimento humano. Os muros da separação, quer de origem ideológico-política, quer do simples estremar a fronteira da propriedade, espelham a distância entre o ideal sonhado de convivência humana e as realidades tão cruéis e longínquas da sua não realização.
2. Se poderíamos, simbolicamente, pensar que com a queda do famoso Muro de Berlim (9 de Novembro de 1989), aberta a era da globalização, já não veríamos mais o betão dos grandes muros divisórios, então, estávamos bem enganados. Na Europa de hoje, quase que parece que o Muro que dividia Berlim pertenceu a outra história de outra humanidade: no centro da Europa pós-guerra, foi concluído na madrugada de 13 de Agosto de 1961, tinha 66 km de gradeamento metálico, 127 redes metálicas com alarme, trezentas torres de observação e 255 pistas de corrida para os cães de guarda… Muro que terá provocado a morte a 80 pessoas, sendo muitos milhares os que foram presos na tentativa de fuga.
3. Esses muros “da vergonha” humana, noutros locais e porventura com outras fundamentações, continuam a ser erguidos. Um dos quais, gigante muro em construção, procura vedar as fronteiras entre os EUA e o México. Imponente investimento que em géneros alimentares daria para mundos e fundos! Esse muro procura ter pelos 5 metros de altura, passando cuidadosamente por diversos terrenos, entre areias desérticas e possíveis inundações. Tudo previsto, numa construção que procura a todo o custo evitar e entrada de emigração ilegal, e ainda com a preocupação de uma estética (?!) que seja agradável a olhar. Grotesca ironia humana que percorre já os 112 km erguidos este ano e acompanhará mais 360 km planeados para o ano 2008.4. Enquanto algum debate norte-americano se vai divertindo sobre as possibilidades estéticas do muro separador, vão-se usando painéis da guerra do Vietname, “chaminés” de ferro e cimento no deserto do Arizona como pilares para as placas separadoras, tudo para não caber o dedo de um pé. Será esta “fuga ao mundo” dos pobres e desprotegidos (emigrantes) a solução? Afinal, de que vale a proclamada diplomacia política ou estaremos no seu fim decretado na construção de novos muros na chamada era global? Um “contraditório” da “arquitectura” relacional dos seres humanos bloqueia a ideia de que as construções essenciais deste século, à partida, seriam pontes. Que distância e ao mesmo tempo que proximidade com o séc. XX. Não vá a Europa clonar a ideia de levantar um muro (físico), porque nas ideias persiste num certo mundo faustoso o “lava as mãos” diante das crescentes concentrações de poderes e desigualdades. Também aqui, democraticamente, não seria Ano da Igualdade de Oportunidades?!
A não perder
(Licenciado e Doutorado em Economia e Fisolofia; Prof. catedrático da Universidade de Aveiro)
Iniciativa integrada no plano de actividades da representação em Aveiro/Águeda
Local: anfiteatro do Centro Universitário Fé e Cultura (Campus da UA)
Data: dia 27 de Novembro (Terça Feira) às 21 horas
20 de novembro de 2007
Na Linha Da Utopia
E os princípios?
2. Não deixa de ser interessante como a relativização dos princípios e a supermacia dos interesses (no caso energético-petrolíferos) convivem facilmente com a denúncia da ausência de lideranças. Ou seja, afirma-se o que se critica! Será por estas contradições cabais que alguns afirmam que estamos no fim da razão (política)?! A velocidade dos acontecimentos, propiciadora da lógica da quantidade e do esbatimento da clarividência das ideias vai, assim, fazendo o seu lastro percurso, onde bem e mal, verdade e mentira, caminham serenamente a par…
3. Por vezes parece que diante da “desordem” falta claramente deixar que uma “razão profunda” venha oferecer o tempero, o equilíbrio, a lucidez capaz de criar a ponte entre os interesses (legítimos, porventura) mas sem abdicar dos “princípios” em que queremos alicerçar toda a construção. Será que não reparamos que desprestigiando os “princípios” valorativos estaremos no princípio da desregulação cabal dos próprios interesses, o mesmo será dizer, no princípio do fim (a prazo). A ordem da racionalidade (razoável), para o ser, precisa de princípios inalienáveis que ofereçam uma luz de dignidade à própria vontade. Quando não, com facilidade, quereremos (como interesse) aquilo que humanamente não devemos.
4. Se dos lados asiáticos, da América latina ou de África, a busca democrática vai fazendo o seu sofrido caminho numa clara dificuldade em coexistir com a diferença, verdade se diga que esta denunciada carência de líderes também tem tido a confirmação da chamada potência (em queda) norte americana. Os candidatos democratas em ordem às eleições presidenciais, Hillary Clinton e Obama, têm andado (vergonhosamente com ameaças e ofensivas pessoais) “à turra e à massa”! Quanto ao modelo político de Bush, já nada a dizer! Pelo ritmo de descredibilidade democrática a que os povos se vão habituando, não admira que quem prometer um espectáculo diferente comece a ser rei e senhor. Pobreza de ideias. Talvez tenham(os, os líderes) de regressar à escola (com) os Diálogos de Platão, onde o entendimento, as virtudes e os princípios (re)começam a ser a “base” do Ocidente!
19 de novembro de 2007
Na Linha Da Utopia
1. Esta semana decorre na Universidade de Aveiro, a 8ª edição da Semana Aberta da Ciência e Tecnologia, em que são esperados mais de 10 mil participantes e que, em múltiplas iniciativas, contactarão directamente com as potencialidades das ciências e tecnologias. A meritória aposta despertadora da curiosidade científica a partir das mais tenras idades manifesta-se, assim, como um elemento decisivo rumo a um sentido dinâmico e criativo do desejado progresso. Numa visão de ciências e tecnologias que nunca serão um fim em si mesmas mas um “meio” (de labor, trabalho) para o desenvolvimento humano mais eficiente, este, afinal, a meta de todo o conhecimento que mais se procura.
2. Ocorre esta semana de cultura científica na mesma altura em que pelo INE (Instituto Nacional de Estatística) são apresentadas as previsões da taxa de desemprego estimada num valor superior em relação ao período homólogo do ano passado. Muito acima da problemática dos números políticos de desemprego apresentados há dias (se são virtuais ou reais, se de emprego mais longo ou temporário de dias ou semanas…), num contexto do muito confirmado desemprego de jovens licenciados, como hábito nestas alturas, erguem-se algumas vozes questionadoras sobre a utilidade dessa formação superior. Em contrapartida, e numa fundamental mentalidade renovada, muito se tem sensibilizado sobre esta necessidade premente de formação qualificada dos portugueses, a formação das pessoas e dos profissionais. Formação, sempre mais!...
3. Vivemos na fronteira da decisão transformadora do “tecido” português, mas onde nos quadros da essencial formação não chega só um pragmático quantitativo do “como” ou do “para quê”. O imperativo da qualidade, e esta implica todos os quadrantes da experiência humana da pessoa, do cidadão e profissional, será hoje a chave de um triunfo que se abre ao bem comum. Quanto mais PESSOA HUMANA, melhor profissional, mais inspiração! Talvez possa ser esta uma máxima que vença muitos mitos e slogans do “homem-fazedor não pensante” que vão proliferando mesmo em termos globais, alguns dos quais (por exemplo) exaltam muita da economia asiática quando esta provém da grotesca e escrava indignidade. Os fins não podem justificar os meios desumanos…
4. Se é certo que, hoje, Portugal pode ser um “laboratório gigante”, há algo que em termos de corresponsabilidade social é inadiável. É necessário olhar para o lado. Não chega agruparem-se os de sucesso em cima do seu sucesso que multiplica os milhões e as desigualdades… Como aperfeiçoar um “laboratório social” gerador de equilíbrios onde a par do mérito reconhecido dos génios também vença a inclusão estimulante dos menos hábeis?
NA LINHA DA UTOPIA
1. Há palavras que têm um sentido bem mais profundo que aquele que comummente é atribuído. Muitos outros conceitos também existem que, de tanto falar, vão perdendo a “validade”, de tão banalizados e vazios que vão parecendo. A ideia de “tolerância” é uma dessas palavras-chave sobre a qual talvez recaia mais um sentido negativo do que positivo. Lembramo-nos quando do “Ano das Nações Unidas para a Tolerância” (1995) de que se falava no sentido comum: “já que não nos amamos ao mesmos toleremo-nos”. Tal era (será ainda hoje?) o sentido menos saudável desta ideia chave da tolerância.
2. De raiz antiquíssima nos códigos humanos que foram abrindo janelas no (difícil) entendimento das formas diferentes de pensar e viver, levado ao limite da experiência humana há 2000 anos (na origem do Cristianismo), todavia, ao longo dos séculos (europeus) a história regista páginas sangrentas de intolerância, cruelmente esta agravada com as chamadas guerras religiosas que “quebraram” a Europa da inaugurada época moderna. Nesse salto qualitativo de descobertas e conhecimentos científicos (como sempre), aguardando-se o progresso e o entendimento, eis que, pelas raízes não iluminadas, a intolerância multiplica-se.
3. Será já no século XVII, diante do cenário europeu destroçado pelas guerras dos dois grandes blocos político-religiosos (Reforma e contra-Reforma) que o filósofo inglês John Locke (1632-1704), no esforço reflexivo propõe (como base para uma concepção plural de Estado moderno) a sua magistral “Carta sobre a Tolerância” (na primavera de 1689). Um documento de separação das muitas águas turbas na confusão dos planos, mas uma carta de fundamental cooperação das diversidades para o bem comum. Estava, assim, o terreno preparado para a coabitação das diferenças de pensamento (mas, posteriormente, como infeliz hábito, as más interpretações conduzem aos extremos…).
4. Nos 50 anos da criação da UNESCO, a 16 de Novembro de 1995, numa visão contemporânea, os Estados-membro adoptaram uma “Declaração de princípios sobre a Tolerância” e proclamaram 16 de Novembro como “Dia Internacional da Tolerância”. No esforço de resgatar o conceito, quem lê as mensagens anuais do Director-Geral da UNESCO e do Secretário-Geral da ONU, redescobre a urgência de acolhermos a tolerância com um valor positivo, que significa o oposto de passividade, indiferença, ausência. Neste nosso tempo global, onde (refere Kofi Annan, 2006) se verifica o aumento da intolerância, extremismo e violência, a ideia de tolerância poderá oferecer essa luz de entendimento para o desejado diálogo e “Aliança de Civilizações”. No tempo on-line em que se decreta “o fim da distância”, e diante das novas proximidades no viver com o “outro”, a Vida do futuro exige esta escola presente.
Alexandre Cruz [18.11.2007]
16 de novembro de 2007
Socrates no seu melhor
Realmente. O nosso primeiro é uma caixa de surpresas, de cartão canelado, cheio de curva e contracurva, que nunca se sabe o que está para lá do arco da imaginação. Formado no melhor que têm as escolas partidárias - e ele frequentou duas das melhores no país, o PSD e depois o PS -, ele não é apenas bom no Inglês Técnico. Quem julga uma coisa dessas não é porreiro, pá.
Conferência a não perder
Cartas para Sakhalin - Diário de Aveiro (21)
15 de novembro de 2007
Prendas de Natal
Conferências | Colóquios | Debates | Tertúlias
Leituras
Relação confirma condenação da Autoridade da Concorrência (Expresso)
Visitors from the blue planet
Othello, Washington, United States
New York, New York, United States
Maputo, Maputo, Mozambique
Luanda, Luanda, Angola (meu país Natal)
Ibiza, Baleares, Spain
Poortugaal, Zuid-holland, Netherlands
Stockholm, Stockholm, Sweden
Na Linha Da Utopia
1. Alguém dizia há dias que “a lata” está cheia…de petróleo! A referência é personalizada no maior animador político da actualidade, Hugo Chávez. São 2,2 milhões de barris de petróleo diários que a Venezuela exporta, sendo a maioria dos quais para os EUA. Efectivamente, numa economia que depende do “ouro negro” (80% de exportações, metade das receitas do Estado), enquanto a “lata” continuar cheia desse precioso recurso, este e tantos outros líderes que nadam em petróleo, continuam a falar alto numa demonstração cabal de sedução imperial pelo poder e dando nas vistas pelos piores motivos.
2. A vingança de Chavez está aí. À sobriedade do Rei de Espanha (que não gritou mas numa frase disse tudo), o iludido “senhor moço” da lata ameaça tudo e todos, julgando-se dono de tudo e de todos. Seja de que quadrante político for (tendo o seu lugar próprio, isso pouco importa, pois o essencial são as pessoas e a sua dignidade humana), atitudes deste género são o espelho de uma “adolescência” política típica de ditador. Alguém ainda pensa que a Venezuela não corre perigo (os venezuelanos e os que lá lutam pela vida)? Nestes próximos anos, à medida que a Venezuela entrar em polvorosa, veremos como a comunidade internacional continuará a colocar a cabeça debaixo da areia…pois a dependência energética (agrava) tapará os olhos das indignidades.
3. É inconcebível ao ponto a que chega a lata do senhor eleito (?!...) pelo seu povo! Do episódio da cimeira ibero-americana, Chávez terá concluído que o Rei fez-lhe cheque-mate e agora o contra ataque é a “profunda revisão” das relações políticas, económicas e diplomáticas, em que “as empresas espanholas vão ter de prestar mais contas”. Mais ainda, diz Chávez: “Vou lá ver o que andam a fazer”. Grande trabalho, é natural!... De facto, no centralismo absolutista que cresce de dia para dia, tem de ser ele a ir ver o assunto… Pobre povo, vítima no presente e mais vítima no futuro. E pelo andar da carruagem, havendo poderosos interesses à mistura, parece que o futuro está traçado. A lata vai continuar sendo cada vez maior. A não ser que… haja democracia! Pelo enfiamento da jogada, as portas democráticas estão mesmo a fechar, e enquanto a “comitiva” estiver bem alimentada, será para durar. Que nos enganemos redondamente!
Alexandre Cruz [15.11.2007]
Na Linha Da Utopia
1. Há dias veio à ribalta a última obra do escritor Sam Harris. O título, desafiador à maturidade humana, intelectual e filosófica do leitor, é o seguinte: O Fim da fé – Religião, terrorismo e o futuro da razão (Lisboa: Tinta da China, 2007, original de 2006). Vivemos, já acolhendo os efeitos das novas revoluções científicas e comunicacionais, o tempo de profunda transformação de paradigmas (como tanto sublinha o estudioso destas questões, Thomas Kuhn); época de globalização que vai revelando tanto um pessimismo existencial como (e que acabará por ser) de metamorfose (mudança) de referenciais… Nada de novo e tudo de novo! Tempestades e ansiedades querem ser oportunidades!
2. As literaturas universais vão espelhando esse sentir, marcadamente pessimista e ilusório, e muitas delas mesmo para os campos da busca de segurança no exotérico irracional. Veja-se como progridem os misticismos e todas as formas de magias a par das literaturas (muitas já transformadas em cinema), cheias de “anéis”, de “cálices”, etc. Tudo impregnado de seguranças mágicas, como que substituidoras do empenho de uma “razão” humana que, avançada pela tecnologia fora, foi perdendo o contacto com o mais profundo do humano. Tudo avança, paulatinamente, pois “a ideia não tem pressa” como diria Hegel.
3. Considerando “o fim da fé” como um ponto de chegada deste género de escritos quase apocalípticos, demonstrativos do sentir social de transformação, então valerá a pena registar os seus antecedentes: Idade de Extremos (Hobsbawm 1994), O fim da História e o último homem (Fukuyama 1992), O fim do trabalho (Rifkin 1995), O fim da Ciência (Horgan 1996) e O fim da autoridade (Renaut 2005). Valendo o que valem (e algumas o Nobel da Literatura), todas estas obras têm expressão mundial de referência, sinal do seu poder de sedução que, no fundo, corresponderá ao sentir existencial ansioso deste tempo, época fascinante de avanços técnico-científicos mas em que o calor humano de uma esperança colorida não vai tendo a devida correspondência.4. Muitas vezes, bem pelo contrário, mais concentração de poderes (técnico-económicos) é sinónimo de mais exclusão e desintegração do projecto HUMANO, consequentemente, mais intolerância. Afinal, porque progridem tanto as literaturas do “fim”? Sinal claro que “algo” continua a precisar de respostas bem mais profundas, existenciais. Aqui, no “sentido da vida” não há tecnologias (nem neurocientíficas) que entrem! Essas respostas necessárias abarcam a totalidade que só o SER pode abarcar.
14 de novembro de 2007
Cartas para Sakhalin - Diário de Aveiro (21)
Depois de ter dito na semana passada que não era grande fã do programa Prós e Contras, tenho hoje de dar a mão à palmatória e logo a favor de uma edição sobre futebol.
Também eu tenho sido crítico em relação ao país da bola, onde tudo gira em torno do desporto rei e, especialmente, para mal de quem sua a camisola honestamente, em volta do apito, que ora é dourado, ora é vermelho, ora é verde, ora é “tutti frutti”.
Mas, independentemente da fruta, o futebol é paixão que faz mover o planeta azul, e eu não sou excepção. Gosto muito de futebol. É um desporto de grande beleza técnica, uma arte que, como todas as artes, é difícil explicar a quem não tem os instrumentos para a perceber.
O futebol é também uma das nossas melhores indústrias. É das poucas em que os portugueses são dos melhores à escala global. Temos, assim em traços largos, o quarto lugar do campeonato do mundo e o segundo do campeonato da Europa. A selecção A está no oitavo lugar do ranking da Federação Internacional de Futebol (FIFA), atrás de grandes países como a Argentina (1º), o Brasil (2º), a Itália, a França, Alemanha, Espanha e Países Baixos. Oxalá estivéssemos assim nos outros indicadores de desenvolvimento. Os nossos clubes portam-se razoavelmente bem nas competições internacionais. A nossa indústria de jogadores é notável, com capacidade para produzir algumas das melhores vedetas mundiais: Figo, Rui Costa, Paulo Sousa, Pauleta, Cristiano Ronaldo, Nani, etc. E sem esquecer que temos ainda o “the special one” Mourinho e o não menos especial Carlos Queiroz do ManU.
Os jogadores, verdadeiros artistas desse magnífico espectáculo conseguem contrariar até todas as rasteiras menos desportivas, preparadas dentro e fora do campo. Sendo um negócio de milhões – nada contra -, o futebol está sob a mira de gente sem escrúpulos para ganhar a todo o custo (dinheiro, muito dinheiro, poder).
Este “Prós e Contras”, que versa em larga medida a introdução de auxílios tecnológicos à decisão dos árbitros, mostra alguns velhos do Restelo. O maior e mais barbudo é a FIFA e os seus patrões, apoiados numa rede de interesses pouco claros, sob a desculpa do conservadorismo das regras – uma incrível falácia. As regras do futebol já mudaram muito nos último anos, e ainda bem. A estes velhos senadores interessa alguma confusão, alguma subjectividade, que garanta a influência que lhes permita determinar a justiça final do jogo. É um hábito muito entranhado. Também na sociedade é assim, havendo uns tais que se consideram deuses próximos do arquitecto, decidindo, conforme o vento e a chuva, o que é justo, quem deve ganhar ou perder.
É um mundo perigoso, lamacento.
O suposto árbitro, inocente ou corrupto, mas muitas vezes um pobre coitado em ambas as circunstâncias, lá anda nas bocas do mundo, servindo de bode expiatório, de joguete, nas mãos de criminosos na confusão da feira popular. Afinal, porque não podem ser usados todos os meios tecnológicos que auxiliem o juiz a tomar as decisões correctas? Afinal, porque não devem essas decisões ser o mais isentas e rigorosas possível?
Espantou-me ver pelo não o comentador desportivo Paulo Catarro. Diz ele que o erro faz parte da emoção do jogo, e que todos os intervenientes se enganam. O Paulo Catarro não sabe que o árbitro não é protagonista do jogo, mas o seu juiz! E também não consegue perceber que basta a beleza que as fintas dos Cristianos emprestam à arte e à emoção do espectáculo, sem necessidade de suspeitas sobre se houve erro ou aldrabice. O futebol, como tudo na vida, não deve temer a verdade e a justiça, desde que não se entre em derivas persecutórias, como aliás fazem políticos e jornalistas no nosso dia-a-dia, sem qualquer problema. O próprio Paulo Catarro gosta de repetir e repetir jogada para atacar os árbitros pelos erros cometidos, o que não deixa de ser fantástico!
Será que, por doença profissional, o comentador desportivo quer ser ele próprio o juiz da bola?
É totalmente infundado o medo de que os meios tecnológicos de apoio à verdade desportiva retirem à competição a sua espectacularidade. Quem pode acreditar nisso? Noutros desportos estão a ser implementados com excelentes resultados, como podemos ontem comprovar pelas opiniões objectivas do seleccionador nacional de rugby e pelo nosso proeminente árbitro internacional de ténis. O desporto rei é também um negócio de milhões que exige rigor e verdade, pois uma “decisão errada”, que poderia ser melhor julgada com apoio tecnológico, pode significar prejuízos avultados – prejudicando, em regra, os mais fracos, como se sabe, ou promovendo alguns por razões políticas. Assim ao jeito dos piores festivais da canção-do-bandido ou miss-qualquer-coisa-geo-estratégica.
Os auxiliares tecnológicos não vêm resolver tudo, é certo, e alguns podem até quebrar a dinâmica do jogo – pondere-se –, mas o que não se pode é tapar o sol com a peneira, nem confundir a floresta com a árvore. Certo é que o triste espectáculo da falta de verdade desportiva, que gente tão ilustre continua a proteger, tem afastado gente dos estádios e promovido a violência. Afinal, que espectáculo pode existir na falsidade?
É neste lamaçal, mais perto do coliseu romano do que dos palcos da modernidade, que assistimos com vergonha aos jogadores a atirarem-se ora à honra do árbitro ora às pernas dos colegas de modalidade sem medo de as partir. Da plateia ouvem-se impropérios que mancham o hino da pátria e dos egrégios avós.
Será que falta algum chip na bola dos senhores do futebol?
13 de novembro de 2007
Raquel Gomes em Roma
(Exposição "Intimidades", Art Container, Roma)
Visitors from the blue planet
Luanda, Angola
Manama, Al Manamah, Bahrain
Izmir, Izmir, Turkey
Warsaw, Mazowieckie, Poland
Rome, Lazio, Italy
London, England, United Kingdom
Ithaca, New York, United States
Toronto, Ontario, Canada
Goiânia, Goiás, Brazil
Campo Grande, Mato Grosso Do Sul, Brazil
São Paulo, São Paulo, Brazil
Porto Alegre, Rio Grande Do Sul, Brazil
Buenos Aires, Buenos Aires, Argentina
O novo PREC
Na Linha da Utopia
1. «É impossível gerir uma casa sem saber o que acontece amanhã!», lamenta o director do Museu de Arqueologia de Lisboa, Luis Raposo (Público, 13.XI.2007). É o desabafo que espelha a realidade de grandes museus do país que, por falta de pessoal vigilante e devido a desarticulação de serviços, se vêm obrigados a fechar (tanto algumas salas de exposição como em horas especiais). O Museu Nacional de Arte Antiga já no Domingo passado esteve semi-fechado, e as palavras da Ministra da Cultura confirmam a «situação de colapso provocado pela falta de atenção do Instituto dos Museus e da Conservação» (IMC), ainda sublinhando que «não há a mais pequena responsabilidade do Ministério da Cultura neste assunto». Mãos lavadas em assunto cultural!...
2. O director do IMC prefere não comentar a acusação de “esquecimento” de sua parte em manter os mínimos da “precaridade cultural” no solicitar atempadamente ao Ministério da Cultura a requisição da prorrogação dos contratos para este, por sua vez, se dirigir com “pressão” ao das Finanças a “mendigar” a sustentabilidade apertada das portas abertas dos museus. A resposta, no dizer da tutela da Cultura, “é natural que demore alguns dias” (semanas?). A certeza é de que até chegar a solução (sempre retardada e provisória… com excedentários provisórios?), uma parte expositiva dos museus pode estar encerrada (provisoriamente!), indo por água abaixo tanto esforço e investimento em captar os (já de si) difíceis PÚBLICOS.
3. A situação é de tal maneira apertada que o director do Museu Nacional de Arte Antiga considera a nomeação de vigilantes «um balão de oxigénio!» No meio de toda esta provisoriedade, não deixa de ser interessante a existência de reclamação de público detectada no Domingo passado, sinal (apesar das limitações) de louvável esforço no divulgar da fundamental abertura dos museus e património às gentes. Desta situação, todos declaram convictamente que O PROBLEMA É ANTIGO, num país ainda à procura da sobrevivência onde é “tese” a cultura vir sempre depois, se houver tempo e no infalível dogma da provisoriedade. Neste panorama, como é possível a (essencial e definitiva) abertura cultural das mentalidades em que os museus façam parte da vida das gentes e cidades e estas sintam-se “em casa” nos seus (amados ou tantas vezes esquecidos?) museus?
4. No fundo, o dinheiro existe sempre para o que se considera que é importante. Que o diga a (pós)cultura do futebol, falado em todos os lados!... Como (nos) sentimos (n)os museus, e como eles estão com o seu património histórico-cultural no centro das nossas cidades? Como transferir públicos dos centros comerciais para os centros culturais?! Talvez seja de concluir que muito do futuro (humano) passa hoje pelo modo como (vi)vemos os museus e o património que temos à nossa volta. Quando não seremos estranhos em casa!
12 de novembro de 2007
Massacre de Santa Cruz
Raquel Gomes em Roma
Na Linha Da Utopia
1. O original da frase é em espanhol. Este é mais um “refrão” que fica da diplomacia internacional destes dias. Na recente cimeira ibero-americana, diante da não respeitabilidade de regras civilizadas pelo presidente venezuelano, o verniz estalou; mas, ao mesmo tempo parece que tudo vai continuar na mesma, não se notando tanto qualquer mudança de atitude. Quem aplaude é o (pai Filed) presidente cubano que sente o legado garantido de uma linha de pensamento e acção para quem os males sociais são o discurso triunfante… E como em todos os sistemas e sociedades esses males (da pobreza e da desigualdade) infelizmente estão sempre garantidos, então parece mesmo que essa perpetuação de algumas figuras ditatoriais no poder persistem; é o que vamos assistindo no progressivo fechamento da Venezuela…
2. Hugo Chávez vai copiando Fidel Castro, tanto na longevidade do discurso que quebra todas as regras das sessões comuns (da vida em comunidade política), como na irreverência perturbadora da ordem da normalidade. Diante da má educação sempre espectacular para dar vida à Cimeira dando nas vistas gritando umas coisas, nesse momento, várias vezes o primeiro-ministro espanhol apelou ao respeito dos princípios do “diálogo”, todavia, esta uma palavra que se vai asfixiando no dicionário dos lados venezuelanos. No feio panorama, o rei de Espanha procura salvar a honra da pátria, em palavras na generalidade aprovadas pelo bom senso da análise mesmo internacional. Quanto ao resto e aos outros presentes, o “silêncio diplomático” e o salvar da pele pessoal da sua própria nação, continua a imagem da marca política, demonstrativa que estamos muito longe de uma Verdade democrática efectivamente conhecida e reconhecida…
3. Mas o mais importante no meio de tudo isto será mesmo o verbo “calar”, que nos desperta para as fundamentais condições do diálogo. Este exige momentos de silêncio e de palavra. O entrelaçar desordenado, e nada educado, do corte da palavra do outro deita a perder toda a democracia eleita que se representa. Para esses lados da Venezuela “eleição democrática” também parece conceito em perigo, e o espectáculo internacional de Chávez vai sendo reflexo do caminho prolongado no poder onde se pretende chegar. Pior ainda (e existe quem o absolva por tal razão), será dizer-se que só por Bush ser “mau” e por Chávez ser contra-americano, então está tudo bem. Para mal dos pecados, o rei de Espanha terá de ter razão (no conteúdo): o calar, o fazer silêncio, o ouvir, será de ser uma base mínima para o “jogo” político-democrático. A Venezuela de Chávez ainda terá esses mínimos?! Não chega minimamente iludir-se e dizer que os portugueses na Venezuela estão bem. Como se estivessem…!
Na Linha Da Utopia
1. Temos de conjugar na primeira pessoa do plural. A abordagem à realidade da pessoa idosa (em Portugal), para ser integral e mais capaz, terá de ser realizada numa envolvência afectiva em que ao falarmos da pessoa idosa falamos de “nós”, do presente ou das expectativas futuras. Tantas vezes, arrepia a “frieza” insensível com que se abordam estas questões relacionadas com a comummente designada “terceira idade”, numa visão prática e quantitativa das coisas como se de pessoas (de nós próprios, dos que falamos e dos que decidimos!) não se tratasse.
2. Há dias foi notícia que, em Portugal, em média, as autoridades competentes, encerram um Lar de Idosos por semana. Nessa mesma notícia (Diário de Notícias, 9 de Novembro), revela-nos o presidente do Instituto de Segurança Social, Edmundo Martinho, que “a esmagadora maioria são ilegais, sem qualquer tipo de alvará”. Solução encontrada: Lar fechado e distribuição dos utentes pelas instituições na área de proximidade, parecendo que tudo fica resolvido… Segundo aquele responsável, este ano o Instituto “já fechou cerca de cinquenta casas”.
3. Se esta é uma problemática emergente nas nossas sociedades (de longevidade) ditas de ocidentais que começa a ser acompanhada em termos de estudos (gerontologias e geriatrias), já a resposta social continua nos moldes antigos, assente numa boa vontade e numa confiança que nem sempre merece esses créditos. Ao abandono da pessoa idosa, uma triste ‘imagem de marca’ da pobreza da nossa sociedade, muitas vezes corresponde também um oportunismo negocial que não garante uma dignidade correspondente... Área muito sensível, mas em que mesmo situações de “esquecimentos” nessas casas também têm sido detectadas pelas entidades. Mas, seja dito, a sua decisão “encerradora” não acrescenta qualquer solução para as “vítimas” de todo este complexo mundo que é o acompanhamento da pessoa idosa.
4. Quantos idosos nos lares sem visitas de familiares há tantos anos (já foram feitas as partilhas!)?! E como outras sociedades (por exemplo, africanas e islâmicas) nos dão a lição de não tirar de casa aqueles que a construíram e que são os depositários da cultura e da tradição das histórias e dos valores que garantem a ponte com as novas gerações! E quanta gente (sem qualquer apoio significativo nesse trabalho heróico) dá a sua vida nessa generosidade incansável, dia e noite, nesse aconchego caloroso da companhia matando a solidão gerada por um sistema de sociedade por vezes tão competitivo quanto frio! E como são tão complicadas as “papeladas” das promessas de subsídios político-financeiros, papéis que fazem os irmãos idosos desistir dessa gota de água para o seu “oceano” dos medicamentos!...
5. Como vamos estamos habituados, “fechar” é fácil, e depois?! Não haverá mais tempo, apoio, formação, …para as transições de regimes?... Heróicas as instituições e as casas que nestas décadas são a “casa de família” dessa multidão silenciosa que nos deu a vida e que de outro modo mergulhariam, resignadamente, na solidão que mata!... Não (os) esqueçamos, nestes assuntos, estamos a falar de “nós” e do futuro social. Só semeando poderemos colher… Há qualquer coisa de injusto, perturbador e de inconsequente na nossa sociedade (de todos) a este respeito...
9 de novembro de 2007
Na Linha Da Utopia
1. É com emoção que estas palavras são escritas. Afinal, a todas as expressões de arte pertence a emoção sensibilizante, essa que nos transporta para uma nova dimensão de recriar o tempo e reinventar as possibilidades da história. Já passaram dez anos, parece que a notícia chocante aconteceu “ontem”. A história da música portuguesa recente regista e assiná-la o nome de Fernando Valente. Uma valentia surpreendente e irreverente inscrita naqueles que habitam o génio, este que, vivendo da superação contínua, não tem quaisquer fronteiras nem barreiras, antes anseia ardentemente por todo o futuro…
2. Aveiro presta homenagem a uma vida que começou em Canelas (Concelho de Estarreja), terra de músicos centenários que respira o ritmo da Banda Bingre Canelense, colectividade fundada em 1865 (com 141 anos de actividade ininterrupta, sendo a associação mais antiga do concelho). O génio nasce (sempre) simples, vivendo e vendo a sua terra, observando as suas gentes e daí retirando o horizonte da aprendizagem, agarrando a decisão de avançar e escalar a paixão musical, trazendo para a ribalta um instrumento pouco animado em Portugal, o Saxofone. Aveiro acolheu o aluno, o músico, o compositor, o docente nos Conservatórios de Música, de Aveiro e de Águeda.
3. Há 20 anos, na linda terra de Canelas, não esquecemos (pessoalmente) a alegria do Compasso Pascal, que ao chegar a casa do Fernando Valente (quando ele tinha possibilidade de estar) a música do seu saxofone genial transparecia esse espírito pascal festivo! Essa sua energia e alegria contagiantes marcaram os dias e os serões de Aveiro. Os bares da cidade, “hoje”, acolhem e celebram a vida daquele que não deixou que a arte cristalizasse na sala de aulas ou no auditório musical elitista. Uma certa “boémia cultural” une-se a uma visão da cultura popular, para todos, não só para alguns, ideal este tão necessário também para a vida das “gentes” contemporâneas e que se encontra bem espelhado na obra de George Steiner (A Ideia de Europa, Gradiva 2005), quando ele diz que “nos cafés e nas avenidas”, aí está inscrita a ideia cultural da Europa das pessoas concretas.
4. Fernando Valente, como que à descoberta, assumiu ser precursor na área musical dos instrumentos de sopro, a coragem de “sair” (para aprender mais), correndo os ares musicais da Bélgica, Espanha, França e Holanda (Amsterdão), cidade que ficará agarrada eternamente ao seu nome no famoso Quarteto de Saxofones de Amsterdão, e que o conduzirá à criação do Quarteto de Saxofones de Aveiro (em 1993). O homem português do Jazz, José Duarte (hoje na Universidade de Aveiro), disse sobre o seu amigo que “morreu fora de mão, em transgressão, como viveu”. José Duarte fala do contra-a-corrente na promoção da cultura musical que foi Fernando Valente, num país onde ela continua tão longe de pertencer à formação dos portugueses. Que outra forma melhor para aprender matemática que pela música?!...
5. Uma região que aprecia e celebra os seus artistas reconhece a sua identidade e cresce na universalidade da cultura e na promoção dos valores fundamentais. É esse o sinal louvável levantado pela Oficina de Música de Aveiro (por ele criada a 1997) e pelo Teatro Aveirense, contando com a parceria apreciável de entidades e colectividades que de norte a sul (e também a Amsterdão) se associam. Será de 9 a 17 de Novembro, com sede no Teatro Aveirense. Participar é engrandecer a música e Aveiro. Com a sua irreverência criativa, e no “lugar” Absoluto da melodia divina, o Fernando está connosco!
Raquel Gomes em Roma
Veja o que se vai dizendo em Itália sobre a exposição "Intimidades" na Art Container:
http://www.teknemedia.net/fiere/dettaglio_news.html?newsId=25771 #
http://www.teknemedia.net/magazine/plaid/dettail.html?mId=3338
http://www.undo.net/cgi-bin/undo/pressrelease/pressrelease.pl?id=1192722268
http://www.capitoloprimo.it/index.php?option=com_content&task=view&id=3620
http://guide.dada.net/creativita/interventi/2007/10/310612.shtml
http://www.galeriasete.com/index.php?option=com_content&task=view&id=121&Itemid=33&lang=en
Fica aqui o que diz Vittoria Scicchitano data: 25.10.2007:
Raquel Gomes, Container di Roma
caixa_de_intimidades iii
inoxferro_e_couro, 14x37x24cm
La prima personale italiana di Raquel Gomes presso la galleria Container in collaborazione con la Minimal di Porto, è una singolare rappresentazione e interpretazione dell’universo femminile. Un’esposizione che privilegia la descrizione di genere dando particolare rilievo al fenomeno costume, sia in senso letterale che figurato. Questa predilezione avviene sempre in correlazione con quello che potremmo definire un galateo comportamentale che richiama la tradizione portoghese attraverso accostamenti di immagini e parole in lingua inglese che a loro volta rendono esplicita la specificità e la singolarità dell’immagine.Originaria di Aveiro, diplomata presso la Facoltà di Belle Arti di Porto, Raquel Gomes spazia tra l’antico e il moderno adottando tecniche tradizionali quali il ricamo (lavoro manuale: pizzo e uncinetto resi attraverso filo di cotone intessuto con acciaio inossidabile e ferro oppure semplicemente delle maglie metalliche) – eredità di una tradizione matriarcale – e la duplice valenza della sua opera che si situa al confine tra disegno e scultura.Nella molteplicità del suo repertorio gareggiano corpetti, scarpe, guanti, orecchini, boccette di profumo, bauli, bustini, spazzole, il tutto trasfigurato dai disegni a china e completato da indicazioni che suonano a noi contemporanei come ricche di ironia e contemporaneamente di affettato buonsenso. Tuttavia quelle che possiamo definire le note a margine dell’opera di Raquel Gomes assecondano in realtà uno scopo ben preciso: questi oggetti sono assunti come simbolo di un galateo e di un’educazione del genere femminile in un contesto sociale dove la donna ha un ruolo spesso predefinito e deve seguire regole comportamentali dettate dalla tradizione e dall’educazione.La mostra dunque celebra l’essenza sociale e intima della donna, esaltando la femminilità attraverso la sua assenza, evocandola attraverso i richiami simbolici della sua unicità. Non donna come corpo dunque, ma come paesaggio intimistico.La mostra si articola esponendo una serie di valigette in pelle contenenti tre varianti dello stesso oggetto – colli e maniche di camicia (due con bottoni medi e grandi e gli altri con cerniera) – realizzati con maglie metalliche d’acciaio. La fattura tradisce la costrizione - colli stretti e soffocanti – a cui la donna si sottopone per apparire algida e raffinata.L’opera centrale “Madame Bovary” (130x220 cm), china e gomma lacca su tela, evoca un’eroina romanzesca che ha dato nome a una condizione femminile esistenziale – il bovarismo – e ha ispirato a dismisura, proliferando nella musica, nella letteratura, nell’arte in genere. Un vestito austero che parla di una donna che veste con gusto ma che tradisce una malinconia intima vissuta nella propria quotidianità, ed ecco che compare al di sotto del dipinto l’invito al gusto e alla compostezza nel vestire – “She will also remember that to dress consistently and tastefully is one of the duties she owes to society”.
Madame Bovary. China e gomma lacca su tela 2007 130x 220 cm Courtesy, Container Roma
La ricercatezza del particolare prosegue nella rappresentazione di oggetti apparentemente banali ma con una valenza significativa: colletti, una spazzola, biancheria intima, un bustino, una scarpa, degli orecchini, una boccetta di profumo, un copriabito, un ombrello, una valigetta. Tutti accompagnati da una didascalia. Così se i colletti suggeriscono quale tono di voce adottare in società “talking a low, quite tone, but never in a whisper”, la spazzola ci rammenta che igiene e bellezza si equivalgono “cleanliness is health, and health is beauty”. Gli indumenti intimi ricordano di mantenere la giusta distanza dal proprio interlocutore apparendo sempre composte “do not sit too close to your companion in conversation, and avoid any appearance of wishing secrecy”; mentre le regole del ballo sono richiamate da un bustino – “A gentleman in waltzing with a young lady must never encircle her waist until the dance actually commences”.Di seguito poi l’artista associa la scarpa a una corretta andatura “A lady should avoid walking very rapidly. It is very ungraceful and unbecoming”, mentre i gioielli –nella fattispecie degli orecchini - non dovrebbero essere indossati di giorno – “Jewelry, hair ornaments and light silk dresses are not permissibile for morning wear”. La toeletta di una donna prevede profumi ricercati ma gradevoli – “Perfumes to be tolerable must be of the most recherché kind”.E’ inoltre auspicabile indossare guanti per proteggere le mani –“Gloves must be worn out of doors, and even indoors as much as possibile”. Il cappotto evoca uno stile deciso nei confronti di uno sconosciuto “No lady may accept courtesy from a strange gentlemen, but must decline it firmly but politely”. Atra indicazione correlata a un copriabito: “Stopping to stare in the shop-windows is against the rules of strict etiquette”. E’ inoltre buona norma che un gentiluomo si presti a reggere qualsiasi oggetto appartenente alla dama: annotazione associata a un ombrello.La mostra “Intimidades” evidenzia come l’immaginario di Raquel Gomes trasformi un mondo a sé – quello femminile – dalle tante usuali e sfruttate tematiche – in forme ornamentali ma simbolicamente arricchite da una storicità fatta di parole e tradizione che regalano alle sue rappresentazioni un sapore antico congiunto a una originale sperimentazione nell’uso dei materiali.