28 de dezembro de 2007
27 de dezembro de 2007
Post-Natal
Foi tempo de ser bom, de desejar
que toda a gente em volta
fosse saudável, próspera, feliz.
Foi tempo de esquecer, de perdoar
e de dar rédea solta
à ternura que de uso não se diz.
Mas eis que já regressa
à desfilada, a toda a pressa,
o tempo habitual.
O tempo de ter guardada
a máscara que há-de ser usada
no próximo Natal.
Torquato Luz in Ofício Diário
que toda a gente em volta
fosse saudável, próspera, feliz.
Foi tempo de esquecer, de perdoar
e de dar rédea solta
à ternura que de uso não se diz.
Mas eis que já regressa
à desfilada, a toda a pressa,
o tempo habitual.
O tempo de ter guardada
a máscara que há-de ser usada
no próximo Natal.
Torquato Luz in Ofício Diário
Na Linha da Utopia – Natal 2007
À procura do calor! O Natal paradoxal?
1. Cada vez mais se fala de Natal, cada vez menos se (re)conhece o verdadeiro Natal. Nascido da transformação da adversidade em acolhimento caloroso do “momento” (e)terno de Belém, a quadra comercial emergente foi-nos distanciando da lareira do aconchego natalício autêntico. Uma distância dessa fonte que “nesta noite” grita o apelo de todas as noites do ano, dos anos, da vida. Quem dera que, nesse mundo sonhado de Deus, à altitude da árvores, ao brilho das luzes, à luminosidade das cidades, ao… correspondesse esse calor humano que segreda a esperança de Deus que se faz próximo, aqui, “no-meio-de-nós”!
2. Uma esperança inapagável, diante de tamanha visita de que enobrece e exalta a nossa pequenez. De todas as distâncias infinitas, o Altíssimo faz-se Baixíssimo, o eterno junta-se ao tempo, a história dos homens passa a história de Deus. Ao frio que continua a atravessar o (per)curso humano do mundo e da vida, Deus vem dar calor, amor, ser presença simples para que mais nos (re)conheçamos, no que somos e quanto valemos à Sua luz. Quem não deseja reviver esse “tratado” de Deus-connosco, que faz de cada um de nós o Seu novo presépio!
3. Este é a nossa hora, a hora de Deus-entre-nós! Tudo ganha cor, sentido, calor, aconchego…todos os abrigos, ou sem-abrigos, são visitados e iluminados no Seu Amor. Aos que vivem da ilusão das coisas (e dos 1001 presentes), Ele vem dizer-nos que, de tudo isso, nada tem valor se não houver o calor da paz e o olhar fixo para o que vive na “rua” do frio solitário. Diz-nos que só viveremos e seremos Natal na justa medida em que o preparámos, nesse “endireitar os caminhos” da proximidade com Deus, com os irmãos, com tudo o que somos e realizamos.
4. Seja Natal com NATAL! Venha esse procurado calor do presépio multiplicar infinitamente a dignidade divina que habita cada Ser Humano. Nada substitua o essencial! Nenhum presente exista sem Amor! Nenhuma luz que brilha se esqueça do brilho de Deus! Que todos os doces renovem a esperança na sociedade que somos! Que haja lugar no coração para a visita de Deus, não tenha Ele de nascer novamente na “gruta”! Que também os homens O acolham e lhe dêem esse precioso calor da noite! Que calor, que luz radiante, tudo ganha um sentido novo! Já não há frio, tudo é calor, Deus-Amor!
5. Uma das obras de referência de 2007 foi “A Felicidade Paradoxal”, do sociólogo francês Gilles Lipovetsky, o autor da “Era do Vazio” (1983). Nesse estudo dos comportamentos humanos, o autor analisa a contradição (o paradoxo) das felicidades que se procuram que chocam com a angústia existencial do tempo actual. Esta transforma o hiper-consumo e a férrea publicidade no novo ídolo, na nova ilusão de felicidade. Chegámos à felicidade infeliz? Viveremos um frio Natal paradoxal, já esquecido da sua origem? Venha a ternura do calor!...
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Alexandre Cruz [13.12.2007]
Alexandre Cruz [13.12.2007]
20 de dezembro de 2007
Na Linha Da Utopia
Putin, ano 2007!
1. Na eleição simbólica de todos os anos, que vale o que vale mas que fica para a história, a revista Americana Time elegeu o presidente russo, Vladimir Putin, ficando à frente do Nobel da Paz ambiental, Al Gore, e da escritora das aventuras de Harry Potter, J. K. Rowling. Não se pense que, logo à partida, tal eleição represente o mérito das obras valorosas ao serviço da comunidade. Desde 1927 que a revista elege uma personalidade e nem sempre pelos melhores motivos; na lista “menor” dos eleitos estão, por exemplo, Hitler ou Estaline. Assim, o critério, mais que o mérito do bem realizado, sublinha a influência da acção sobre a comunidade, pois pela revista na eleição trata-se de "um reconhecimento do mundo como ele é e dos indivíduos e forças que determinam esse mundo – para melhor ou para pior".
2. Nos últimos tempos muito se tem falado da falta de liberdade de expressão na Rússia, da crise social que permanece, de situações de repressão e mesmo de liquidações pessoais dos denunciadores da autoridade exacerbada de Putin. O certo é que, mesmo no meio deste cenário, e essa é a causa da eleição, o presidente russo devolver o “poder” ao poder russo e, apesar de tudo, a estabilidade que os seus concidadãos pretendiam, recolocando a Rússia no mapa das grandes potências mundiais. Se dos comentários políticos americanos as palavras são poucas, também da Rússia um certo “silêncio” estratégico sobre esta eleição será a “satisfação” por recolocar no cenário internacional a Rússia como incontornável actor político (e económico).
3. E agora, o que se segue? A visão energética do gás muito colaborou para este recentramento russo. Politicamente, o “princípio da incerteza” será capitalizado por Putin e, na base desta autêntica rampa de lançamento, servirá a estratégia do poder de uma Rússia que tem sede de protagonismo. Por agora está acertada a táctica anunciada de Putin deixar o governo no próximo ano, mas indicou a perspectiva de se tornar primeiro-ministro se seu aliado mais próximo, Dmitry Medvedev, for eleito para sucedê-lo na Presidência russa. Vamos a ver!... A certeza é uma, a história da Rússia, dos Czares, daquele lado do mundo, simbolicamente, está de volta à cena mundial. Boa notícia? Depende. Putin ganhou agora argumentos de peso (autoridade) para “engordar” no poder com o que isso implica o puxar de todos os cordelinhos da auto-estima de um povo “decaído” nas últimas décadas. Pelo perfil da história russa, pode ser perigoso.
4. Uma certeza está garantida, nada será como dantes, pois a afirmação russa será isso mesmo, afirmação, crescimento, imposição, autoridade internacional. Em tudo há que contar com o contrapeso russo. Esperamos que sempre para o melhor!
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Alexandre Cruz [20.12.2007]
19 de dezembro de 2007
Na Linha Da Utopia
Agricultores e pescadores
1. As notícias desta área da sociedade continuam a não ser animadoras. Efectivamente, não conseguimos fazer uma transição saudável e justa de um modelo de sociedade tipicamente agrícola (de onde vimos) para o modelo industrial e de conhecimento tecnológico (para onde caminhamos). Um modelo poderia ser compatível com o outro. Mas, abandonámos as terras e o mar. País de larga costa e de sol quase durante todo o ano, muitos estrangeiros entre nós (estudantes ou não) admiram-se como não conseguimos tirar partido das potencialidades admiráveis que temos nas nossas condições naturais. Os dados de 2007 estão aí: o rendimento líquido da actividade agrícola cai mais de 12 por cento. Não é uma quebra qualquer, é queda em cima de queda estrutural…
2. Mas, no meio de todo este cenário, quem se preocupa com os resistentes agricultores e pescadores? Como sentem os portugueses estas essenciais tarefas do cultivo da terra e das pescas do mar? Que lugar, na sociedade em geral e na visão das políticas, têm (ou não) estes vectores estruturantes de qualquer país, para mais com as potencialidades naturais de que dispomos? Razões existem sempre. Dos dados deste ano, dizem os analistas que a quebra deve-se ao quadro metereológico desfavorável e aos novos cenários de concorrência internacional que agravam o sector. Sabemos que, se há áreas em que os poderes de decisão estão em Bruxelas, esta é uma delas. Neste quadro europeu-global, cheio de desafios mas também repleto de possibilidades nas culturas e fainas que nos são originais e características, a sensação é que fomos e vamos perdendo a terra e o barco…
3. Das coisas mais sintomáticas de uma triste fuga ilusória à nossa própria génese, é o abandono das terras e o envelhecimento de quase todo o mundo piscatório. Há meses um especialista investigador da área dizia que nós, os portugueses, que não tivemos a Revolução Industrial, adquirimos o automóvel mais tarde e queremos levá-lo para todo o lado, até para baixo da secretária, daí a dificuldade de assumirmos os transportes públicos como parte da vida diária (isto para além das razões da necessária melhor rede de transportes…). Talvez ao abandono das terras, um abandono estrutural a que vão resistindo autênticos novos heróis portugueses, também esteja na ilusão de darmos um salto maior que a perna... Verdade se diga, mesmo nas exigências das concorrências do quadro europeu não é incompatível o desenvolvimento tecnológico com uma necessária visão integrada das nossas potencialidades agrícolas únicas. Mesmo sem as subsídiodepedências, a realidade de muitos países europeus o demonstra.
4. O que nos falta? Talvez uma relação pacífica de mentalidade com as nossas terras (afinal, donde provimos). Ou, não estarão também o próprio turismo e as 1001 doçarias e variedades regionais enraizadas na faina agrícola? Mesmo no meio da complexidade destas questões, a costa e o sol portugueses exigiriam mais e melhor, começando por uma visão política consensual. Para quando? Ou os “choques tecnológicos” “escondem-se” das terras e do mar? (Chegaremos um dia a “comer” tecnologias?! Ou compraremos mesmo tudo? Ou ainda, virão os “de fora” produzir na nossa terra as nossas especialidades únicas que o clima permite?) Qualquer coisa de novo nesta área será urgente. Já é tarde!
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Alexandre Cruz [19.12.07]
Leituras
Tempos de verdeamento
Outra forma caprichosa de olhar para o inimigo de Brown é ver Mugabe e não reparar nos outros ditadores.
José Manuel Moreira in DE
Proponho outra forma de olhar para a cimeira UE-África. Antes de mais, temos que reconhecer a tendência dos media para a discriminação: é que ninguém dá nota da senhora. Não tolero que se tenha falado tanto de Mugabe e nada na “caprichosa sra. Mugabe”, com excepção da “Sábado”, mas só para dar má nota dos luxos da Grace: “Em Londres, onde passeava de Rolls Royce, gastou 56 mil euros em lojas numa tarde”.
Outra forma caprichosa de olhar para o inimigo de Brown é ver Mugabe e não reparar nos outros ditadores – segundo um entendido na “TSF”, talvez meia dúzia, uma dúzia ou até mais.
Não há nada como alargar o mal para o relativizar. É verdade que há uns chatos que querem levar a coisa mais a sério, como S. M. Osman em relação à situação do Darfur, mas se há acusação que não nos podem fazer é de falta de valores. Quando muito haverá excesso. Um excesso que permite que o defensor de um regime nazi (6 milhões de mortos) seja sempre nazi, mas o de um regime comunista (com 60 milhões de mortos) possa sempre ser artista ou académico e, no futuro, até empresário ou ministro.
A educação para os valores duplos é a marca histórica das actuais elites europeias: da justiça burguesa e proletária à democracia burguesa e proletária, sem esquecer a violência (a revolucionária e a outra) e, naturalmente, a economia política capitalista e socialista, que deu em três mitos: do capitalismo selvagem, do futuro socialista e da ética superior do socialismo.
Foi esta nata intelectual que depois de convertida em creme social-democrata se derreteu em Estado de bem-estar: um conceito que pretendeu identificar bem-estar com Estado e assim fomentar a ideia – agora em crise – de que existe uma relação entre crescimento da despesa pública e mais bem-estar.
Foi ao olhar em pormenor para a forma como o Estado gasta os recursos que obtém através da cobrança de impostos que se descobriu a quantidade de dinheiro que o exército de funcionários faz desaparecer. Dinheiro destinado à prestação de serviços públicos, mas que, em parte, serve para a manutenção de funcionários dedicados a infernizar a vida de quem trabalha.
Um Estado que exige, mas não cumpre, que cobra e não paga, mesmo quando condenado em tribunal, e que nem o básico – a justiça e a segurança – assegura. Mas que, mesmo assim, está sempre disposto a dar lições de moral sobre os perigos de tudo, desde o endividamento (em que é o maior especialista) ao saco plástico e à globalização.
Um dia, em 2000, num almoço no Forum de Davos, um dirigente da ONG Oxfam perguntou em voz baixa ao presidente do Senegal A. Wade, como pensava aliviar os males que a globalização estava a causar ao seu país. Para surpresa Wade respondeu: “Que globalização? Que mercados? A globalização ainda não chegou a África.” O mesmo Wade que agora não confia na UE.
É verdade que há líderes africanos a abandonar o tradicional queixume e os pedidos de ajuda e a perceber que o que mais urge é pôr a casa em boa ordem. Mas a maioria quer é a ajuda da UE e o branqueamento. Só que os tempos agora são mais de parcerias e verdeamento, de gente a correr e mesmo assim a ser apanhada em falta, embora com atestados de verdeamento em dia.
Não me venham com a corrupção no fisco ou nas autarquias e muito menos com o último estudo da Transparency International.
O país pode não ter a ética em muito boa conta, mas está cada vez mais verde…o verde é o que está a dar. Até o “Expresso” está mais verde, poderia pensar-se ser influência do director, mas é só sinal dos tempos, que serão cada vez mais verdes, religiosamente verdes. O eco-fanatismo dá dinheiro, facilita a dupla certificação e os novos mandamentos, como me escreveu um jovem à pergunta sobre exemplos de valores éticos: “Amar a natureza e respeitar o ambiente”.
É verdade que, em contrário, há um tal A. Coutinho a defender que a limpeza faz bem às alergias e alguns media a divulgarem que o divórcio faz mal ao ambiente, mas, tudo somado, “a tenda e o circo” podem até ter sido maus para o ambiente, mas a Cimeira foi boa para Lisboa cinco estrelas. Será que os milhões de ajuda aos ‘Mugabes’ ainda vão acabar em compras, bares e hotéis de luxo por essa Europa fora?
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José Manuel Moreira, Professor universitário e membro do ‘Mont Pélerin Society’
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18 de dezembro de 2007
Leituras
Iran Receives Nuclear Fuel in Blow to U.S. (New York Times)
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Na Linha Da Utopia
Migrações, o nosso ADN
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1. Sendo a condição humana migrante por natureza, todos nascemos migrantes, num tempo e espaço concretos. A viagem de cada história de vida e da grande história humana que nos precede, inscreve na árvore genealógica de cada pessoa um comum (ancestral) chamamento à unidade. 18 de Dezembro é o Dia Mundial do Imigrante. Estima-se que bem mais de 200 milhões de pessoas são esta comunidade migrante hoje, que, porventura, deixarão de o ser amanhã, pois os seus descendentes, se assim as condições forem dessa normalidade, farão a sua casa onde nascem e onde criam as suas raízes. As migrações que têm atravessado os séculos, conduziram-nos até ao presente, num gratificante (embora muitas vezes exigente, ou mesmo chocante) encontro de mentalidades e culturas.
2. Quando, por exemplo, no século passado, o cego orgulho dos nacionalismos trouxe à ribalta a ilusão da “raça pura”, as desumanas e grotescas consequências não se fizeram esperar…facto que também nos demonstra cabalmente que, vão as ideias dos homens onde forem, habita o nosso comum ADN essa condição migrante que se reveste de “uno” desígnio apreciador da diversidade. Vai crescendo esta mesma consciência da pluralidade de expressões de ser e de ver a outra cultura como parte de um todo que nos une. É neste sentido que surge a Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural (2002) que considera a cultura (a viver em encontro de culturas) como «o conjunto dos traços distintivos espirituais e materiais, intelectuais e afectivos que caracterizam uma sociedade ou um grupo social e que abrange, além das artes e das letras, os modos de vida, as maneiras de viver juntos, os sistemas de valores, as tradições e as crenças».
3. São as viagens dos séculos que herdamos, de que somos fruto em todos os 1001 cruzamentos de encontros e desencontros, migrações de que, afinal, provimos. Nesta razão, consequentemente, também ao Portugal viajante mestiço que fomos e somos, só pode haver um olhar sensibilizado e acolhedor, sendo todas as formas de exploração a diminuição de si próprio na limitação forçada do outro. Diga-se que se há grito contra a nossa própria identidade humana, numa comunidade portuguesa que continua a ter cerca de 5 milhões de concidadãos por esse mundo fora, é quando se verificam situações de exploração. Também aqui, o sentido itinerante, migrante, da própria origem natalícia, propõe-nos o inadiável convite existencial criador de proximidades. Afinal, (re)conhecendo o nosso ADN da condição humana, nascemos à mesma lareira.
1. Sendo a condição humana migrante por natureza, todos nascemos migrantes, num tempo e espaço concretos. A viagem de cada história de vida e da grande história humana que nos precede, inscreve na árvore genealógica de cada pessoa um comum (ancestral) chamamento à unidade. 18 de Dezembro é o Dia Mundial do Imigrante. Estima-se que bem mais de 200 milhões de pessoas são esta comunidade migrante hoje, que, porventura, deixarão de o ser amanhã, pois os seus descendentes, se assim as condições forem dessa normalidade, farão a sua casa onde nascem e onde criam as suas raízes. As migrações que têm atravessado os séculos, conduziram-nos até ao presente, num gratificante (embora muitas vezes exigente, ou mesmo chocante) encontro de mentalidades e culturas.
2. Quando, por exemplo, no século passado, o cego orgulho dos nacionalismos trouxe à ribalta a ilusão da “raça pura”, as desumanas e grotescas consequências não se fizeram esperar…facto que também nos demonstra cabalmente que, vão as ideias dos homens onde forem, habita o nosso comum ADN essa condição migrante que se reveste de “uno” desígnio apreciador da diversidade. Vai crescendo esta mesma consciência da pluralidade de expressões de ser e de ver a outra cultura como parte de um todo que nos une. É neste sentido que surge a Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural (2002) que considera a cultura (a viver em encontro de culturas) como «o conjunto dos traços distintivos espirituais e materiais, intelectuais e afectivos que caracterizam uma sociedade ou um grupo social e que abrange, além das artes e das letras, os modos de vida, as maneiras de viver juntos, os sistemas de valores, as tradições e as crenças».
3. São as viagens dos séculos que herdamos, de que somos fruto em todos os 1001 cruzamentos de encontros e desencontros, migrações de que, afinal, provimos. Nesta razão, consequentemente, também ao Portugal viajante mestiço que fomos e somos, só pode haver um olhar sensibilizado e acolhedor, sendo todas as formas de exploração a diminuição de si próprio na limitação forçada do outro. Diga-se que se há grito contra a nossa própria identidade humana, numa comunidade portuguesa que continua a ter cerca de 5 milhões de concidadãos por esse mundo fora, é quando se verificam situações de exploração. Também aqui, o sentido itinerante, migrante, da própria origem natalícia, propõe-nos o inadiável convite existencial criador de proximidades. Afinal, (re)conhecendo o nosso ADN da condição humana, nascemos à mesma lareira.
AC [18.12.07]
Frases
"It's not that I'm so smart, it's just that I stay with problems longer."
Albert Einstein
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Frases nas paredes da cidade imaginária
17 de dezembro de 2007
Na Linha Da Utopia
Semear (Natal) para colher
1. Cada vez mais será importante o pensar e repensar sobre o que semeamos. A sementeira dos valores fundamentais à vida e à convivência vai sendo “plantada” todos os dias, todas as horas. O tempo pré-natal ajuda-nos a valorizar e apreciar as coisas simples, lendo aí o melhor futuro que procuramos. Também nos interpela sobre “o que” e “como” semeamos, sobre o lugar do essencial num crescimento de quem quer sempre o melhor para os outros e para o mundo inteiro. Só semeando com qualidade se podem esperar frutos em conformidade. Essa qualidade, mais que nunca, também passará pela simplicidade da exigência diária, numa abertura acolhedora capaz de compreender as múltiplas situações… Uma tarefa sempre tão difícil e exigente quanto necessária à vida colectiva.
2. Semear para colher. O exemplo pode vir mesmo da faina agrícola. Um “semear” que depois precisa do tempo necessário. Tal como até a própria natureza nos demonstra, as plantam não nascem “à pressa”, o processo da vida não é “de repente”, os valores para uma sociedade fraterna não são um “clic” instantâneo. Tudo precisa de tempo, pois só no tempo tudo frutifica. Os antigos consideravam que tempo é sabedoria… Os lemas contemporâneos vão pouco por aqui. Tudo tem de ser rápido (demais), a ponto de desintegrar o tempo para a “sabedoria”. Estamos todos quase a ser transformados em “fazedores”, novos “robots”, em vez de “sabedores”. Só damos por “algo” que está errado quando nos confrontamos com a ausência de fruto, quando vamos à árvore procurar os frutos que não cuidámos devidamente…
3. Este tempo antes do Natal é uma época cheia de possibilidades no abrir das janelas do ser a novas perspectivas de viver. É altura (mais que o saturante comércio) de olhar e (re)parar um pouco na colheita que vamos conseguindo… Tudo porque o Natal será um valor profundo do coração e não uma coisa exterior que, passados uns dias, perde a validade. O (verdadeiro) Natal que quer chegar, na dignidade absoluta que O reveste, interpela grandemente todos os modelos sociais do nosso tempo, pois que nos abre ao sentido dos valores (infinitos) que nunca passam. Talvez, mais que nunca, no apelo à qualidade de viver, seja necessário ir à fonte do Natal e aí recompreender o que acontece(u). Haverá mais luz interior…e todos os dinamismos exteriores apuram a sua própria sensibilidade como serviço a toda a pessoa humana. Venha este Natal!
1. Cada vez mais será importante o pensar e repensar sobre o que semeamos. A sementeira dos valores fundamentais à vida e à convivência vai sendo “plantada” todos os dias, todas as horas. O tempo pré-natal ajuda-nos a valorizar e apreciar as coisas simples, lendo aí o melhor futuro que procuramos. Também nos interpela sobre “o que” e “como” semeamos, sobre o lugar do essencial num crescimento de quem quer sempre o melhor para os outros e para o mundo inteiro. Só semeando com qualidade se podem esperar frutos em conformidade. Essa qualidade, mais que nunca, também passará pela simplicidade da exigência diária, numa abertura acolhedora capaz de compreender as múltiplas situações… Uma tarefa sempre tão difícil e exigente quanto necessária à vida colectiva.
2. Semear para colher. O exemplo pode vir mesmo da faina agrícola. Um “semear” que depois precisa do tempo necessário. Tal como até a própria natureza nos demonstra, as plantam não nascem “à pressa”, o processo da vida não é “de repente”, os valores para uma sociedade fraterna não são um “clic” instantâneo. Tudo precisa de tempo, pois só no tempo tudo frutifica. Os antigos consideravam que tempo é sabedoria… Os lemas contemporâneos vão pouco por aqui. Tudo tem de ser rápido (demais), a ponto de desintegrar o tempo para a “sabedoria”. Estamos todos quase a ser transformados em “fazedores”, novos “robots”, em vez de “sabedores”. Só damos por “algo” que está errado quando nos confrontamos com a ausência de fruto, quando vamos à árvore procurar os frutos que não cuidámos devidamente…
3. Este tempo antes do Natal é uma época cheia de possibilidades no abrir das janelas do ser a novas perspectivas de viver. É altura (mais que o saturante comércio) de olhar e (re)parar um pouco na colheita que vamos conseguindo… Tudo porque o Natal será um valor profundo do coração e não uma coisa exterior que, passados uns dias, perde a validade. O (verdadeiro) Natal que quer chegar, na dignidade absoluta que O reveste, interpela grandemente todos os modelos sociais do nosso tempo, pois que nos abre ao sentido dos valores (infinitos) que nunca passam. Talvez, mais que nunca, no apelo à qualidade de viver, seja necessário ir à fonte do Natal e aí recompreender o que acontece(u). Haverá mais luz interior…e todos os dinamismos exteriores apuram a sua própria sensibilidade como serviço a toda a pessoa humana. Venha este Natal!
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Alexandre Cruz [17.12.2007]
Alexandre Cruz [17.12.2007]
Na Linha Da Utopia
Preparar o ambiente de Natal
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1. Uma nova consciência planetária vai emergindo, animadora da urgência da preservação da natureza, dos ambientes, da biodiversidade... Esta visão respeitadora, tantas vezes contra os ventos e as marés dos interesses particulares, provém, também, da consciencialização da finitude dos recursos e do apreciar a beleza da vida e de tudo o que envolve o planeta azul e o universo infinito. Assim, mais conhecer quererá significar “mais proteger”. Na recente Cimeira do Ambiente promovida pela Organização das Nações Unidas em Bali (Indonésia) estes mesmos sentimentos, no sofrido esforço consensual, pela madrugada dentro, acabaram por vir à luz do dia. Representantes de cerca de 200 nações, reunidos na primeira quinzena de Dezembro, até ao último dia discursaram na incerteza, especialmente em relação à posição duvidosa da poluída política dos EUA. Para o seu repensar da estratégia também não terá sido indiferente o duro discurso do Nobel Al Gore, quando a 10 de Dezembro recebe o Prémio da Paz com a Natureza. Quando o pessimismo inconsequente já parecia garantido, o discurso dramático do Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, apela inadiavelmente: “Agarrem este momento para o bem de toda a Humanidade!”
2. Palavras certeiras estas, que muito contribuíram para dar a volta à Cimeira, numa abertura norte-americana do sentido decisivo de uma boa vontade que, tendo de ser política, rapidamente terá de descer aos modelos de vida em sociedade, ainda pouco habituados ao realismo da premente regulação ambiental. Este Dezembro tem tido encontros globais em grande escala, que, sem ilusão mas sem deitar a perder os impulsos positivos, convida à esperança a própria humanidade. Ainda que em muitas circunstâncias pareça ser (ou seja mesmo) tarde.., mas vamos… parar “na lama” seria o pior de tudo. Afinal, é o bem de toda a Humanidade que está em jogo. Será de exaltar a unidade de pressão exercida sobre os EUA, habituados em certas circunstâncias às posições isoladas… A certa altura a sua diplomacia sentiu um isolamento tal que condenaria ao fracasso total as suas políticas externas. Talvez em muitas outras áreas, hoje (mundo global, problemas globais) esta forma de pressão (global) ajude a fazer nascer uma nova consciência. Nem que seja um parto à força!
3. No presépio do Natal a própria natureza viva participa, oferecendo o aconchego do acolhimento caloroso. Seja o mundo esse lugar acolhedor, essa “OIKOS”, casa equilibrada, para o bem da Humanidade. Também a humanidade pessoal de cada um, desta forma e na pressuposta diversidade das visões, se vai preparando para um mais sentido NATAL, no (re)nascimento da melhor consciência!
1. Uma nova consciência planetária vai emergindo, animadora da urgência da preservação da natureza, dos ambientes, da biodiversidade... Esta visão respeitadora, tantas vezes contra os ventos e as marés dos interesses particulares, provém, também, da consciencialização da finitude dos recursos e do apreciar a beleza da vida e de tudo o que envolve o planeta azul e o universo infinito. Assim, mais conhecer quererá significar “mais proteger”. Na recente Cimeira do Ambiente promovida pela Organização das Nações Unidas em Bali (Indonésia) estes mesmos sentimentos, no sofrido esforço consensual, pela madrugada dentro, acabaram por vir à luz do dia. Representantes de cerca de 200 nações, reunidos na primeira quinzena de Dezembro, até ao último dia discursaram na incerteza, especialmente em relação à posição duvidosa da poluída política dos EUA. Para o seu repensar da estratégia também não terá sido indiferente o duro discurso do Nobel Al Gore, quando a 10 de Dezembro recebe o Prémio da Paz com a Natureza. Quando o pessimismo inconsequente já parecia garantido, o discurso dramático do Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, apela inadiavelmente: “Agarrem este momento para o bem de toda a Humanidade!”
2. Palavras certeiras estas, que muito contribuíram para dar a volta à Cimeira, numa abertura norte-americana do sentido decisivo de uma boa vontade que, tendo de ser política, rapidamente terá de descer aos modelos de vida em sociedade, ainda pouco habituados ao realismo da premente regulação ambiental. Este Dezembro tem tido encontros globais em grande escala, que, sem ilusão mas sem deitar a perder os impulsos positivos, convida à esperança a própria humanidade. Ainda que em muitas circunstâncias pareça ser (ou seja mesmo) tarde.., mas vamos… parar “na lama” seria o pior de tudo. Afinal, é o bem de toda a Humanidade que está em jogo. Será de exaltar a unidade de pressão exercida sobre os EUA, habituados em certas circunstâncias às posições isoladas… A certa altura a sua diplomacia sentiu um isolamento tal que condenaria ao fracasso total as suas políticas externas. Talvez em muitas outras áreas, hoje (mundo global, problemas globais) esta forma de pressão (global) ajude a fazer nascer uma nova consciência. Nem que seja um parto à força!
3. No presépio do Natal a própria natureza viva participa, oferecendo o aconchego do acolhimento caloroso. Seja o mundo esse lugar acolhedor, essa “OIKOS”, casa equilibrada, para o bem da Humanidade. Também a humanidade pessoal de cada um, desta forma e na pressuposta diversidade das visões, se vai preparando para um mais sentido NATAL, no (re)nascimento da melhor consciência!
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Alexandre Cruz [16.12.2007]
Alexandre Cruz [16.12.2007]
13 de dezembro de 2007
Na Linha Da Utopia
Uma Lisboa europeia
1. Está escrito. O novo tratado europeu com o registo de 13 de Dezembro, Lisboa 2007. Como sempre nestas coisas, um ponto de chegada que é de partida. Uma meta de “assinaturas” no papel de uma Europa que ainda é pouco a Europa dos cidadãos. Um coro de aplausos e outro de assobios. Mas nem os assobios podem travar o momento histórico assinalável da presidência portuguesa, nem os aplausos podem esquecer o mais difícil que está por diante... Também importa vencer o frio calculismo e mesmo toda a rede de pessimismos, e sentir na “canção do mar” que a nova ventura deste século reserva aos pequenos países um lugar especial na reconstrução da história. Como várias vezes disseram (no século passado) o filósofo andante Agostinho da Silva e o filósofo padre Manuel Antunes, os pequenos países terão nesta época global a capacidade de unir os grandes, tantas vezes submersos nos seus grandes problemas e/ou interesses.
2. Mas não exista a ilusão de que tudo está consumado. Antes pelo contrário. Enquanto as opiniões públicas europeias não estiverem formadas devidamente da inevitabilidade europeia como factor de coesão para um desenvolvimento harmonioso de todos, o projecto europeu continua a ser construído nas sedes parlamentares e pouco nas ruas da praça pública. Por estes dias falava-se que nós próprios, portugueses, fomos vendo a Europa como a “vaca leiteira” em que muitos foram beber mundo e fundos, mas em que faltou uma visão de corresponsabilidade como compromisso cívico. Quanto chico-espertismo (particularmente nos inícios) nestes vinte anos da nossa presença europeia?! Quanta falta daquela “revolução moral” (de que falava Manuel Antunes na sua obra “Repensar Portugal”, 1979) que aliada à revolução cultural impediria sistemas de corrupção e injustiça social…
3. O passo seguinte é a incerteza. A ratificação do tratado nos 27 países. As oposições estão aí, de bandeira erguida. Mais preocupadas com o seu refrão sempre “contra” do que um apelo a uma cultura humana e social que saiba ajuizar devidamente o valor dos momentos, do país, e do país na Europa. O mesmo acontece nos países europeus, e muitas vezes são os que mais beneficia(ra)m da Europa que são os mais euro-cépticos. Talvez o “ideal” dos ideais seja em todos os países europeus haver um referendo que confirme uma opinião pública europeia formada e informada de tudo o que está em jogo, e conclua que o caminho tem de ser feito em comunidade, sabendo preparar o trigo do joio. Mas, os níveis de indiferença das sociedades à construção europeia, a que não é alheia uma política de gabinete distante, acaba por, na falta de visão de conjunto, salientar o “argueiro” negativo. O passo seguinte, afinal, representa a hora da fronteira e da verdade.
4. Talvez possamos começar por reconhecer perguntando: apesar das limitações, que seria de nós sem a Europa? E que seria da Europa sem o projecto europeu? Estas são as décadas (pós-guerra) em que longo de toda a história europeia se conseguiu mais tempo de paz… Estarão os europeus convencidos disto? (Paz... valor que não dispensa a urgência do erguer de uma aperfeiçoada escala de valores de futuro inclusivo, de espírito pós-democrático onde a Europa aberta seja uma autêntica escola da transversal dignidade humana. Acima do refrão “social”.)
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Alexandre Cruz [13.12.07]
O famigerado Tratado de Lisboa
Tratado de Lisboa
The Treaty of Lisbon
Traité de Lisbonne
Tratado de Lisboa (Español)
(outras línguas/other languages)
and also some wishful thinking:
Sócrates
Barroso
The Treaty of Lisbon
Traité de Lisbonne
Tratado de Lisboa (Español)
(outras línguas/other languages)
and also some wishful thinking:
Sócrates
Barroso
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12 de dezembro de 2007
James Watson
Para ajudar a compreender a polémica em torno das afirmações de Watson referidas no artigo do Alexandre:
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James D. Watson (Nobel Prize)
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« Last night, at a book launch at the Royal Society, Dr Watson withdrew the words attributed to him. “To all those who have drawn the inference from my words that Africa, as a continent, is somehow genetically inferior, I can only apologise unreservedly,” he said. “That is not what I meant. More importantly, there is no scientific basis for such a belief.” (aqui)
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«To question genetic intelligence is not racism
Independent, The (London), Oct 19, 2007
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Science is no stranger to controversy. The pursuit of discovery, of knowledge, is often uncomfortable and disconcerting. I have never been one to shy away from stating what I believe to be the truth, however difficult it might prove to be. This has, at times, got me in hot water.
Rarely more so than right now, where I find myself at the centre of a storm of criticism. I can understand much of this reaction. For if I said what I was quoted as saying, then I can only admit that I am bewildered by it. To those who have drawn the inference from my words that Africa, as a continent, is somehow genetically inferior, I can only apologise unreservedly. That is not what I meant. More importantly from my point of view, there is no scientific basis for such a belief.» (aqui)
«To question genetic intelligence is not racism
Independent, The (London), Oct 19, 2007
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Science is no stranger to controversy. The pursuit of discovery, of knowledge, is often uncomfortable and disconcerting. I have never been one to shy away from stating what I believe to be the truth, however difficult it might prove to be. This has, at times, got me in hot water.
Rarely more so than right now, where I find myself at the centre of a storm of criticism. I can understand much of this reaction. For if I said what I was quoted as saying, then I can only admit that I am bewildered by it. To those who have drawn the inference from my words that Africa, as a continent, is somehow genetically inferior, I can only apologise unreservedly. That is not what I meant. More importantly from my point of view, there is no scientific basis for such a belief.» (aqui)
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«James Watson: 'Não é racismo'
Publicada em 19/10/2007 às 12h15m O Globo
"A ciência não é estranha à controvérsia. A busca de conhecimento é freqüentemente desconfortável e desconcertante. Nunca temi declarar o que acredito ser verdade, não importando o quão difícil seja. Isso, de vez em quando, me deixa em maus lençóis. Raras vezes mais do que agora, em que me encontro no centro de uma tempestade. Entendo boa parte da reação. Porque se eu disse o que escreveram que disse, então só me resta admitir que estou perplexo. Para aqueles que inferiram das minhas palavras que a África, como um continente, é, de alguma forma, geneticamente inferior, só me resta pedir desculpas públicas. Não foi o que eu quis dizer. Mais importante, do meu ponto de vista, não há base científica para tal crença. Sempre fui um feroz defensor da posição de que devemos basear nossa visão do mundo em fatos. Por isso a genética é tão importante. Porque nos leva a respostas para muitas das maiores e mais difíceis questões. »
Publicada em 19/10/2007 às 12h15m O Globo
"A ciência não é estranha à controvérsia. A busca de conhecimento é freqüentemente desconfortável e desconcertante. Nunca temi declarar o que acredito ser verdade, não importando o quão difícil seja. Isso, de vez em quando, me deixa em maus lençóis. Raras vezes mais do que agora, em que me encontro no centro de uma tempestade. Entendo boa parte da reação. Porque se eu disse o que escreveram que disse, então só me resta admitir que estou perplexo. Para aqueles que inferiram das minhas palavras que a África, como um continente, é, de alguma forma, geneticamente inferior, só me resta pedir desculpas públicas. Não foi o que eu quis dizer. Mais importante, do meu ponto de vista, não há base científica para tal crença. Sempre fui um feroz defensor da posição de que devemos basear nossa visão do mundo em fatos. Por isso a genética é tão importante. Porque nos leva a respostas para muitas das maiores e mais difíceis questões. »
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The Elementary DNA of Dr Watson (o texto/entrevista da polémica)
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James Watson,
Racismo
Na Linha Da Utopia
A admirável lição de James Watson
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1. James Watson, famoso cientista norte-americano de 79 anos, acaba de receber a lição intercultural a partir do seu próprio ADN. Lembre-se que Watson, fruto dos seus estudos na descoberta da estrutura da molécula do ADN, no ano de 1962 ganhou o Prémio Nobel da Medicina. Em Maio deste ano 2007, o cientista desejoso de partilhar a sua informação genética, tornou disponível a sequenciação (A-T-C-G) do seu código genético a fim de ser estudado.
2. Entretanto, o verão de Watson não deve ter sido nada bom. Em Outubro último proclama num jornal britânico a sua última tese, de que as pessoas de cor negra são menos inteligentes que os brancos. O seu desejado e precipitado protagonismo resultou no silêncio (como afastamento) dos mais reputados estudiosos da área e no seu posterior pedido de desculpas que, todavia, não evitou a demissão do conselho de administração do Laboratório de Cold Spring Harbor (EUA), onde trabalhara mais de 40 anos.
3. Ironia no destino, Watson, tendo tornado público o processo da sua amostra de sangue a ser analisado - por empresa e Laboratório de Sequenciação do Genoma Humano (EUA) – recebeu nestes dias o resultado surpreendente. A análise do seu ADN (A-T-C-G) revelar-lhe-ia um “presente caído do céu”: que 16% dos seus genes são de origem negra, o que representa um valor 16 vezes acima da média dos europeus brancos (habitualmente 1%). Assim, James Watson será descendente de um bisavô africano e também de origens asiáticas.
4. Que dizer e que fazer? Que conclusões tirar? Na desejada honestidade intelectual, e quanto maior é o cientista mais esta o deverá acompanhar (assim seja sempre!), Watson mais que um “mea culpa” tem meio caminho andado para dizer que, afinal, somos todos da mesma FAMÍLIA, que as comunidades migrantes de séculos que nos precederam geraram os laços que conduziram à vida que hoje “somos”, e que da comum origem do ser humano (para além de se foi em África ou não) brota o desafio do comum desígnio humano.
5. Tal como em Watson, também no extremo em muitas visões cegas e antropologicamente limitadas (racistas, xenófobas, desumanas) que persistem neste mundo, se não for de outra forma (a partir da sensibilidade da essência humana), talvez o fazer do teste da origem genética apure o sentido de que somos mais iguais (da mesma dignidade) que diferentes, e todas essas diferenças humanas e culturais (bem-vindas!) são o reflexo feliz dessa unidade criativa que nos convida a apreciar o “outro”. Eis-nos diante de uma situação em que a ciência corrige o pensamento.
6. Como disse Theilhard Chardin (cientista teólogo), “tudo o que sobe converge”. Se estudarmos a fundo a nossa origem, somos da mesma essência e dignidade. A origem, o ADN, do (único) Natal ajuda-nos a compreender isto mesmo!
1. James Watson, famoso cientista norte-americano de 79 anos, acaba de receber a lição intercultural a partir do seu próprio ADN. Lembre-se que Watson, fruto dos seus estudos na descoberta da estrutura da molécula do ADN, no ano de 1962 ganhou o Prémio Nobel da Medicina. Em Maio deste ano 2007, o cientista desejoso de partilhar a sua informação genética, tornou disponível a sequenciação (A-T-C-G) do seu código genético a fim de ser estudado.
2. Entretanto, o verão de Watson não deve ter sido nada bom. Em Outubro último proclama num jornal britânico a sua última tese, de que as pessoas de cor negra são menos inteligentes que os brancos. O seu desejado e precipitado protagonismo resultou no silêncio (como afastamento) dos mais reputados estudiosos da área e no seu posterior pedido de desculpas que, todavia, não evitou a demissão do conselho de administração do Laboratório de Cold Spring Harbor (EUA), onde trabalhara mais de 40 anos.
3. Ironia no destino, Watson, tendo tornado público o processo da sua amostra de sangue a ser analisado - por empresa e Laboratório de Sequenciação do Genoma Humano (EUA) – recebeu nestes dias o resultado surpreendente. A análise do seu ADN (A-T-C-G) revelar-lhe-ia um “presente caído do céu”: que 16% dos seus genes são de origem negra, o que representa um valor 16 vezes acima da média dos europeus brancos (habitualmente 1%). Assim, James Watson será descendente de um bisavô africano e também de origens asiáticas.
4. Que dizer e que fazer? Que conclusões tirar? Na desejada honestidade intelectual, e quanto maior é o cientista mais esta o deverá acompanhar (assim seja sempre!), Watson mais que um “mea culpa” tem meio caminho andado para dizer que, afinal, somos todos da mesma FAMÍLIA, que as comunidades migrantes de séculos que nos precederam geraram os laços que conduziram à vida que hoje “somos”, e que da comum origem do ser humano (para além de se foi em África ou não) brota o desafio do comum desígnio humano.
5. Tal como em Watson, também no extremo em muitas visões cegas e antropologicamente limitadas (racistas, xenófobas, desumanas) que persistem neste mundo, se não for de outra forma (a partir da sensibilidade da essência humana), talvez o fazer do teste da origem genética apure o sentido de que somos mais iguais (da mesma dignidade) que diferentes, e todas essas diferenças humanas e culturais (bem-vindas!) são o reflexo feliz dessa unidade criativa que nos convida a apreciar o “outro”. Eis-nos diante de uma situação em que a ciência corrige o pensamento.
6. Como disse Theilhard Chardin (cientista teólogo), “tudo o que sobe converge”. Se estudarmos a fundo a nossa origem, somos da mesma essência e dignidade. A origem, o ADN, do (único) Natal ajuda-nos a compreender isto mesmo!
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Alexandre Cruz [12.12.2007]
11 de dezembro de 2007
Leituras Educação
Conselho Directivo do Instituto Superior Técnico demitiu-se em bloco (Público)
Sócrates anuncia no Parlamento reforma do sistema de gestão escolar (Público)
Segurança e impostos em contraponto com Educação (Expresso)
Aluno ferido em praxe ficou paraplégico (JN)
Universidade do Porto nas 500 melhores (JN)
Alunos do Allgarve são os melhores em ciência (Correio da Manhã)
Infelizmente eles não estão doidos (Blasfémias)
Sócrates anuncia no Parlamento reforma do sistema de gestão escolar (Público)
Segurança e impostos em contraponto com Educação (Expresso)
Aluno ferido em praxe ficou paraplégico (JN)
Universidade do Porto nas 500 melhores (JN)
Alunos do Allgarve são os melhores em ciência (Correio da Manhã)
Infelizmente eles não estão doidos (Blasfémias)
Na Linha Da Utopia
A insegurança e os discursos
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1. Há certas matérias que se situam na fronteira do “dever”. A insegurança é uma delas. As “coisas” sociais deveriam de estar de tal forma organizadas que, sobre a segurança, não fizesse sentido o discurso mas sim a acção. Nem o discurso de uns a ocultar a crescente insegurança nas ruas portuguesas, nem a palavra estratégica de outros a fazer “render o peixe” como populismo discursivo. Nada disto, nenhuma destas posições; sobre a insegurança (da ruas do dia e da noite a todas as auto-estradas da comunicação) venha o alargado pacto de regime, de tal maneira estruturado que garantisse a capacitação flexível e eficaz, tanto para o dia-a-dia como para circunstâncias mais complexas e épocas mais delicadas.
2. Noutras como nesta matéria tão sensível à vida diária, tantas vezes, sentimos um “gastar de tempo” no discurso parlamentar, em que, qual “eterno retorno”, os que criticam de lá vêm ou para lá vão… E também muitas vezes verifica-se que queremos combater a insegurança que permitimos ou mesmo fomentamos. Em Portugal, à semelhança de outros países chamados de desenvolvidos (isto para além daquilo que será o justo e saudável entretenimento), há toda uma rede de indústria da noite que estraga, chocantemente, todo o esforço de educação, progresso e justiça pelos quais se luta durante o dia. Um dramático paradoxo que vai crescendo e que compromete as múltiplas boas intenções de uma sociedade mais equilibrada. (Um “passo” da noite estraga anos do dia!)
3. Da insegurança, sem alarmismos mas sem facilitismos, a palavra de ordem terá de ser um realismo comprometido, pois, credível pelo sentido de unidade no ideal que se pretende como sociedade de todos. Esta credibilidade, no terreno sempre enobrecedor quanto pantanoso das subjectivas liberdades humanas, parece comprometida quando as mesmas leis que procuram a justiça são as mesmas que favorecem estruturas nocturnas que, verdade se diga, a partir de certas horas já (quase) tudo será possível (?). Dessas “portas” abertas depois, só vendo à-posteriori, queixamo-nos das consequências. De todos estes dramas das inseguranças que fazem notícia, o “segredo” está no antes, nas causas, na origem.
4. Sem alarmismos nem facilitismos (novamente dizemos este refrão), há dias, alguém da área de apoio às pessoas sem-abrigo de Lisboa, dizia que outros países europeus, que já passaram pelo processo que hoje nós vivemos, nas suas ruas acolhem pessoas da mais alta sociedade (como ex-juízes, professores, licenciados sem trabalho), para quem a vida foi caindo dia-a-dia, noite-a-noite, até à rua fria da solidão. Mais (fruto de estudos europeus), dizia que quem na juventude se vicia no álcool, garantirá uma percentagem de futuros sem-abrigo. Tudo sem alarmismo, só com um pouco de realismo. Se é certo que haverá sempre que respeitar a liberdade pessoal de todos os consumos… mas quando estes desdignificam a pessoa, que fazer? Eis a questão que nos faz viver a fronteira, mas à qual a indústria da noite e do vício é o passo para o precipício. (É evidente que nada disto tem a ver com o “beber-um-copo”!) É outro preocupante, permissivo e laxista sub-mundo que está em causa. (A noite anda a dar cabo do dia…!)
1. Há certas matérias que se situam na fronteira do “dever”. A insegurança é uma delas. As “coisas” sociais deveriam de estar de tal forma organizadas que, sobre a segurança, não fizesse sentido o discurso mas sim a acção. Nem o discurso de uns a ocultar a crescente insegurança nas ruas portuguesas, nem a palavra estratégica de outros a fazer “render o peixe” como populismo discursivo. Nada disto, nenhuma destas posições; sobre a insegurança (da ruas do dia e da noite a todas as auto-estradas da comunicação) venha o alargado pacto de regime, de tal maneira estruturado que garantisse a capacitação flexível e eficaz, tanto para o dia-a-dia como para circunstâncias mais complexas e épocas mais delicadas.
2. Noutras como nesta matéria tão sensível à vida diária, tantas vezes, sentimos um “gastar de tempo” no discurso parlamentar, em que, qual “eterno retorno”, os que criticam de lá vêm ou para lá vão… E também muitas vezes verifica-se que queremos combater a insegurança que permitimos ou mesmo fomentamos. Em Portugal, à semelhança de outros países chamados de desenvolvidos (isto para além daquilo que será o justo e saudável entretenimento), há toda uma rede de indústria da noite que estraga, chocantemente, todo o esforço de educação, progresso e justiça pelos quais se luta durante o dia. Um dramático paradoxo que vai crescendo e que compromete as múltiplas boas intenções de uma sociedade mais equilibrada. (Um “passo” da noite estraga anos do dia!)
3. Da insegurança, sem alarmismos mas sem facilitismos, a palavra de ordem terá de ser um realismo comprometido, pois, credível pelo sentido de unidade no ideal que se pretende como sociedade de todos. Esta credibilidade, no terreno sempre enobrecedor quanto pantanoso das subjectivas liberdades humanas, parece comprometida quando as mesmas leis que procuram a justiça são as mesmas que favorecem estruturas nocturnas que, verdade se diga, a partir de certas horas já (quase) tudo será possível (?). Dessas “portas” abertas depois, só vendo à-posteriori, queixamo-nos das consequências. De todos estes dramas das inseguranças que fazem notícia, o “segredo” está no antes, nas causas, na origem.
4. Sem alarmismos nem facilitismos (novamente dizemos este refrão), há dias, alguém da área de apoio às pessoas sem-abrigo de Lisboa, dizia que outros países europeus, que já passaram pelo processo que hoje nós vivemos, nas suas ruas acolhem pessoas da mais alta sociedade (como ex-juízes, professores, licenciados sem trabalho), para quem a vida foi caindo dia-a-dia, noite-a-noite, até à rua fria da solidão. Mais (fruto de estudos europeus), dizia que quem na juventude se vicia no álcool, garantirá uma percentagem de futuros sem-abrigo. Tudo sem alarmismo, só com um pouco de realismo. Se é certo que haverá sempre que respeitar a liberdade pessoal de todos os consumos… mas quando estes desdignificam a pessoa, que fazer? Eis a questão que nos faz viver a fronteira, mas à qual a indústria da noite e do vício é o passo para o precipício. (É evidente que nada disto tem a ver com o “beber-um-copo”!) É outro preocupante, permissivo e laxista sub-mundo que está em causa. (A noite anda a dar cabo do dia…!)
AC [11.12.07]
Na Linha Da Utopia
Os líderes da União Africana
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1. Muito acima da geoestratégia de uma Europa que não quer perder África, continente já inundado pela Índia, China e EUA; muito mais importante que esse jogo de interesse económico de uns que procuram a melhor táctica de exploração de recursos de outros, quando não de humanos, a presente Cimeira União Europeia – União Africana sentou à mesma mesa a vontade da reconciliação histórica. Caminho difícil, mas em que pela primeira vez, segundo os analistas, o ressentimento deu lugar ao encontro e ao realismo das obrigações recíprocas.
2. Talvez um dos grandes heróis da Cimeira seja Alpha Oumar Konaré, presidente da Comissão da União Africana (ex-presidente do Mali). Suas palavras, fruto de sabedoria na experiente leitura dos problemas africanos (e seus nos variados níveis de relacionamentos), faz dele uma figura de dois alertas estruturantes: tanto na denúncia contra os ditadores de África que retardam a democracia e o desenvolvimento (pois a má governação conduz à pobreza), como da vigilância necessária na não imposição de modelos europeus sobre África (visão que supera, assim, séculos de não boa memória).
3. A história faz-se deste modo. E a relação entre os dois continentes, mesmo no quadro do “mal menor” da presença de ditadores (água mole em pedra dura…?!), deu passos adiante, num relacionamento “de igual para igual”. Este “igual” que não pode significar uma “reconquista” de espaço mas uma grandiosa responsabilidade. Sendo a recente União Africana um projecto de unidade na diversidade construído na experiência do modelo europeu, também seja de sublinhar que, resumindo e concluindo, o certo é que poucas capitais europeias teriam a capacidade de erguer (que seja) as tendas de tal encontro UE-UA.
4. Como sempre e em tudo, das expectativas às realizações pode existir uma distância perturbadora. Cimeira terminada, depois das palavras da circunstância, a pobreza, fome e a sede de todos os dias nas populações africanas, continua a ser o flagelo “produzido” por muitos dos que estes dias estiveram em Lisboa. Para John Kufuor, presidente da União Africana e chefe de Estado do Gana, uma nova esperança se abre neste passo em que Lisboa foi o culminar de um caminho, mas terá de ser fundamentalmente um ponto de partida. Querem mesmo os governantes das nações africanas? E nós europeus (e hoje asiáticos e EUA), estamos prontos para “abdicar”, para efectivamente um mundo novo ser mesmo possível?
5. O certo é que com líderes lúcidos e denunciadores como Alpha Oumar Konaré, a esperança é possível. Mas o facto dele não ter o apoio dos chefes de governo africanos para renovar o mandato de liderança…que sinal será? Já estarão todos os governantes africanos na disposição de conviverem com as oposições aos seus regimes? Esta é a fórmula do digno futuro. Alexandre Cruz [10.12.07]
1. Muito acima da geoestratégia de uma Europa que não quer perder África, continente já inundado pela Índia, China e EUA; muito mais importante que esse jogo de interesse económico de uns que procuram a melhor táctica de exploração de recursos de outros, quando não de humanos, a presente Cimeira União Europeia – União Africana sentou à mesma mesa a vontade da reconciliação histórica. Caminho difícil, mas em que pela primeira vez, segundo os analistas, o ressentimento deu lugar ao encontro e ao realismo das obrigações recíprocas.
2. Talvez um dos grandes heróis da Cimeira seja Alpha Oumar Konaré, presidente da Comissão da União Africana (ex-presidente do Mali). Suas palavras, fruto de sabedoria na experiente leitura dos problemas africanos (e seus nos variados níveis de relacionamentos), faz dele uma figura de dois alertas estruturantes: tanto na denúncia contra os ditadores de África que retardam a democracia e o desenvolvimento (pois a má governação conduz à pobreza), como da vigilância necessária na não imposição de modelos europeus sobre África (visão que supera, assim, séculos de não boa memória).
3. A história faz-se deste modo. E a relação entre os dois continentes, mesmo no quadro do “mal menor” da presença de ditadores (água mole em pedra dura…?!), deu passos adiante, num relacionamento “de igual para igual”. Este “igual” que não pode significar uma “reconquista” de espaço mas uma grandiosa responsabilidade. Sendo a recente União Africana um projecto de unidade na diversidade construído na experiência do modelo europeu, também seja de sublinhar que, resumindo e concluindo, o certo é que poucas capitais europeias teriam a capacidade de erguer (que seja) as tendas de tal encontro UE-UA.
4. Como sempre e em tudo, das expectativas às realizações pode existir uma distância perturbadora. Cimeira terminada, depois das palavras da circunstância, a pobreza, fome e a sede de todos os dias nas populações africanas, continua a ser o flagelo “produzido” por muitos dos que estes dias estiveram em Lisboa. Para John Kufuor, presidente da União Africana e chefe de Estado do Gana, uma nova esperança se abre neste passo em que Lisboa foi o culminar de um caminho, mas terá de ser fundamentalmente um ponto de partida. Querem mesmo os governantes das nações africanas? E nós europeus (e hoje asiáticos e EUA), estamos prontos para “abdicar”, para efectivamente um mundo novo ser mesmo possível?
5. O certo é que com líderes lúcidos e denunciadores como Alpha Oumar Konaré, a esperança é possível. Mas o facto dele não ter o apoio dos chefes de governo africanos para renovar o mandato de liderança…que sinal será? Já estarão todos os governantes africanos na disposição de conviverem com as oposições aos seus regimes? Esta é a fórmula do digno futuro. Alexandre Cruz [10.12.07]
10 de dezembro de 2007
Natal
NATAL É TEMPO DE MULTIPLICAR A ESPERANÇA
(mensagem de Natal do Bispo de Aveiro)
O Natal cristão transporta sempre consigo o anúncio messiânico de uma grande alegria e de uma renovada esperança: “Hoje nasceu o nosso Salvador, Jesus Cristo, o Senhor” (Lc 2, 11).
Aqui se radica a fonte de toda a esperança cristã e a certeza de que a redenção da humanidade, desde sempre prometida e profetizada, se cumpria em Jesus, o Filho de Deus.
É dessa esperança que somos testemunhas, servidores e mensageiros.É esta a certeza redentora que o mundo procura e precisa.
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Só visto!
O original é a cores, mas, como a mim não me pagaram nada, eu só posso divulgar a preto e branco. Riam-se.
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Crescimento Económico Mundial - relatório OCDE
A dica do Cogir que se agradece: veja The World in Figures.
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Política Nacional
Na Linha Da Utopia
O dia dos dias
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1. 10 de Dezembro, Dia dos Direitos Humanos. Dia (con)sagrado que no meio do séc. XX representa um ponto de chegada (e de partida) na recepção da dignidade humana como patamar de todas as realizações. Até esta “meta volante” ser assinalada na Convenção de Paris, a 10 de Dezembro de 1948, tragicamente, foi muito o sangue derramado pelas duras intolerâncias da menoridade humana. A partir deste dia, construído também na base das grandes mensagens de dignidade revelada que vão percorrendo os séculos, o “TEMPO” histórico ganha uma nova contagem. 10 de Dezembro, representará, assim, o dia para todos os dias, o sentido do comum ideal a ser atingido por todas as nações, pessoas, instituições, comunidades.
2. Uma nova ordem se abriu no pensamento-acto humano. A comum dignidade de todos os seres humanos, (re)encontrada na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, integrando o melhor dos “possíveis” até esse presente, vence as limitações das anteriores coordenadas humanas, particularmente da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (26 de Agosto de 1789). Nesta, ainda na incapacidade humana limitada de que viria a ser reflexo a emergência de nacionalismos de exclusão da “diferença”, não tinham lugar nem a “mulher” nem o não-cidadão, o que vagueia pela rua ou é de etnia diferente… Hoje não celebramos, pois, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) mas sim a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), celebramos a dignidade humana que supera (e dá fundamento na ordem do SER) todas as concepções de cidadania da legalidade das incertas e procuradoras razões de estado.
3. Para o séc. XXI, desta herança de dignidade como imperativo ético, ergue-se a pergunta: e “os outros” (que afinal podemos ser nós)? A “alma” do 10 de Dezembro, celebrado em múltiplas iniciativas, acontecimentos, cimeiras (…) e reflexões, relança-nos aquela pergunta do livro Génesis: “que fizeste do teu irmão?” Essa pergunta ao longo da história foi merecendo e continua a merecer muitas respostas. A busca da resposta do (essencial) ideal humano faz reinterpretar todos os sistemas e níveis do conhecimento contemporâneo, dos mais abstractos aos mais concretos da ordem social comum, pois dos 30 artigos de 1948, continua a destacar-se o 29º em que todos “têm deveres para com a comunidade”. Estes comprometem-nos na liberdade democrática responsável e dizem-nos que enquanto a dignidade humana não brilhar assumidamente em tudo o que “somos” e “fazemos” vivemos a história incerta da procura da “TERRA-PÁTRIA” da unidade plural de que nos fala Edgar Morin.
1. 10 de Dezembro, Dia dos Direitos Humanos. Dia (con)sagrado que no meio do séc. XX representa um ponto de chegada (e de partida) na recepção da dignidade humana como patamar de todas as realizações. Até esta “meta volante” ser assinalada na Convenção de Paris, a 10 de Dezembro de 1948, tragicamente, foi muito o sangue derramado pelas duras intolerâncias da menoridade humana. A partir deste dia, construído também na base das grandes mensagens de dignidade revelada que vão percorrendo os séculos, o “TEMPO” histórico ganha uma nova contagem. 10 de Dezembro, representará, assim, o dia para todos os dias, o sentido do comum ideal a ser atingido por todas as nações, pessoas, instituições, comunidades.
2. Uma nova ordem se abriu no pensamento-acto humano. A comum dignidade de todos os seres humanos, (re)encontrada na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, integrando o melhor dos “possíveis” até esse presente, vence as limitações das anteriores coordenadas humanas, particularmente da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (26 de Agosto de 1789). Nesta, ainda na incapacidade humana limitada de que viria a ser reflexo a emergência de nacionalismos de exclusão da “diferença”, não tinham lugar nem a “mulher” nem o não-cidadão, o que vagueia pela rua ou é de etnia diferente… Hoje não celebramos, pois, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) mas sim a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), celebramos a dignidade humana que supera (e dá fundamento na ordem do SER) todas as concepções de cidadania da legalidade das incertas e procuradoras razões de estado.
3. Para o séc. XXI, desta herança de dignidade como imperativo ético, ergue-se a pergunta: e “os outros” (que afinal podemos ser nós)? A “alma” do 10 de Dezembro, celebrado em múltiplas iniciativas, acontecimentos, cimeiras (…) e reflexões, relança-nos aquela pergunta do livro Génesis: “que fizeste do teu irmão?” Essa pergunta ao longo da história foi merecendo e continua a merecer muitas respostas. A busca da resposta do (essencial) ideal humano faz reinterpretar todos os sistemas e níveis do conhecimento contemporâneo, dos mais abstractos aos mais concretos da ordem social comum, pois dos 30 artigos de 1948, continua a destacar-se o 29º em que todos “têm deveres para com a comunidade”. Estes comprometem-nos na liberdade democrática responsável e dizem-nos que enquanto a dignidade humana não brilhar assumidamente em tudo o que “somos” e “fazemos” vivemos a história incerta da procura da “TERRA-PÁTRIA” da unidade plural de que nos fala Edgar Morin.
Alexandre Cruz [09.12.07]
Na Linha Da Utopia
Novas Sendas, no terreno…
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1. Precisamos cada vez mais de apreciar e valorizar aqueles projectos que antecipam o futuro, pelo colocar em rede a sociedade integrando a diversidade das comunidades. Quando não, por vezes, só ao nos deparamos com os problemas das crispadas intolerâncias que facilmente enchem os noticiários, nessa hora, então discursamos sobre o que fazer em ordem a uma coexistência social na diversidade de razões, culturas, formas de ser e pensar…em ordem a um desenvolvimento assente na dignidade da pessoa humana. Que bom seria que, numa sensibilidade social (desejada de forma sempre maior), fosse enaltecida a consistência de projectos (que são vida) que no silêncio de todos os dias procuram semear os valores da paz, do sentido do outro e da educação (a chave do futuro).
2. O Projecto Novas Sendas (promovido pela Cáritas Diocesana de Aveiro e com o apoio parceiro de inúmeras entidades da região, de autarquias até às áreas de saúde, educação-formação, segurança social, emprego, pastoral) representa este sinal da cooperação entre todos em ordem a uma integração social positiva e estimulante da diversidade. Derivando de anterior projecto “Senda Gitana”, este “Novas Sendas” nasceu em Fevereiro de 2005, chegando ao (final no) presente como um rasto de luz para a população de etnia cigana dos três bairros do Lugar de Ervideiros (Quinta do Simão). Uma esperança se vai confirmando ao observarmos as crianças a quererem a Escola e os seus Pais a considerarem como importante a convivência e a formação…
3. Deste esforço de anos, um eco de corresponsabilidade social vai dizendo que o projecto não pode parar. Chega-se, sim, ao final de uma etapa, pois parar seria o risco de deitar a perder este esforço intercultural de anos. Não é nem foram teorias, foi a vida no “terreno” (como tanto sublinha a coordenação), no procurar semear nas famílias o ideal de que uma sempre mais saudável forma de viver é possível e desejável. Um caminho feito numa ténue e por vezes surpreendente fronteira, entre o respeito cultural e a dignidade das pessoas. Visionário projecto que transforma as mentalidades de uns e outros, a ponto de não se ficar à espera dos problemas para obter soluções. Se é certo que as dificuldades sempre persistem, a procura antecipada de soluções comprometidas e alargadas confirma que, também nesta área, Aveiro vai abrindo as portas do futuro.
4. Uma realização dinâmica, em que também a “imagem social” das comunidades diferentes vai mudando (embora lenta), nesta aprendizagem inclusiva da cultura do outro e numa convergência recíproca, tendo como horizonte a dignificação da pessoa humana. Assim continue, cada vez mais, sempre ensinando a “pescar”. No “terreno”, dando e recebendo, estimulando esses “outros” que graças ao “projecto” são hoje mais próximos, esses que também somos nós. Se assim não for, adiaremos o futuro.
Alexandre Cruz [06.12.07]
1. Precisamos cada vez mais de apreciar e valorizar aqueles projectos que antecipam o futuro, pelo colocar em rede a sociedade integrando a diversidade das comunidades. Quando não, por vezes, só ao nos deparamos com os problemas das crispadas intolerâncias que facilmente enchem os noticiários, nessa hora, então discursamos sobre o que fazer em ordem a uma coexistência social na diversidade de razões, culturas, formas de ser e pensar…em ordem a um desenvolvimento assente na dignidade da pessoa humana. Que bom seria que, numa sensibilidade social (desejada de forma sempre maior), fosse enaltecida a consistência de projectos (que são vida) que no silêncio de todos os dias procuram semear os valores da paz, do sentido do outro e da educação (a chave do futuro).
2. O Projecto Novas Sendas (promovido pela Cáritas Diocesana de Aveiro e com o apoio parceiro de inúmeras entidades da região, de autarquias até às áreas de saúde, educação-formação, segurança social, emprego, pastoral) representa este sinal da cooperação entre todos em ordem a uma integração social positiva e estimulante da diversidade. Derivando de anterior projecto “Senda Gitana”, este “Novas Sendas” nasceu em Fevereiro de 2005, chegando ao (final no) presente como um rasto de luz para a população de etnia cigana dos três bairros do Lugar de Ervideiros (Quinta do Simão). Uma esperança se vai confirmando ao observarmos as crianças a quererem a Escola e os seus Pais a considerarem como importante a convivência e a formação…
3. Deste esforço de anos, um eco de corresponsabilidade social vai dizendo que o projecto não pode parar. Chega-se, sim, ao final de uma etapa, pois parar seria o risco de deitar a perder este esforço intercultural de anos. Não é nem foram teorias, foi a vida no “terreno” (como tanto sublinha a coordenação), no procurar semear nas famílias o ideal de que uma sempre mais saudável forma de viver é possível e desejável. Um caminho feito numa ténue e por vezes surpreendente fronteira, entre o respeito cultural e a dignidade das pessoas. Visionário projecto que transforma as mentalidades de uns e outros, a ponto de não se ficar à espera dos problemas para obter soluções. Se é certo que as dificuldades sempre persistem, a procura antecipada de soluções comprometidas e alargadas confirma que, também nesta área, Aveiro vai abrindo as portas do futuro.
4. Uma realização dinâmica, em que também a “imagem social” das comunidades diferentes vai mudando (embora lenta), nesta aprendizagem inclusiva da cultura do outro e numa convergência recíproca, tendo como horizonte a dignificação da pessoa humana. Assim continue, cada vez mais, sempre ensinando a “pescar”. No “terreno”, dando e recebendo, estimulando esses “outros” que graças ao “projecto” são hoje mais próximos, esses que também somos nós. Se assim não for, adiaremos o futuro.
Alexandre Cruz [06.12.07]
6 de dezembro de 2007
ÉS UNA VITORIA DE MIERDA !
O menino guerreiro da "Benessuela". Sem comentários, mas parece-me bem ao jeito do tal socialismo do século XXI.
5 de dezembro de 2007
Jorge Palma - Encosta-te a Mim
Para um amigo que faz hoje anos. E para todos os outros, claro. Mesmo para aqueles que nos esquecem, pois isso significa apenas que estão numa qualquer encruzilhada.
Na Linha Da Utopia
Sem dilemas, com realismos
1. A complexidade da vida em sociedade democrática faz com que os dilemas que, de quando em quando se vão levantando, sejam ineficientes em ordem a um sempre maior desenvolvimento futuro. Dilemas como “público ou privado”, “tecnologias ou filosofias”, “igrejas ou estados”, “máquinas ou pessoas”, quando ainda tornados presentes espelham uma visão parcelar (quando não mesmo radical) da realidade que é bem mais abrangente que qualquer esquema pré-definido. Quando se quer considerar a realidade como se ela fosse “preta ou branca” estamos diante de uma visão pragmática e tecnocrática que se fica pela rama… O tempo histórico dos dilemas na abordagem social, como se esta pudesse ser vista numa linha instrumental, teve a sua época e quando ainda brilham reflexos desta forma de pensar será porque as bases de uma memória aberta e consciente andam pela rama.
2. A própria história, na sua construção (dialéctica) em crescendo é mesmo assim, e tantas vezes as querelas culturais entre os conservadores do passado e os progressistas do “amanhã” ocuparam demasiado espaço, como se a história das pessoas em sociedade fosse algo desgarrado da vida simples e concreta e não tivesse a capacidade razoável de ser receptora dos impulsos renovadores. (Por vezes assim foi!) Um desses momentos marcantes, que valerá a pena recordar, de tensão entre o passado e o futuro foi a famosa crise cultural francesa dos fins do séc. XVII, a designada de “Querela dos Antigos e dos Modernos” (1687-1715); uma “guerra” cultural na viragem do século e no fim de uma época. Dizem os estudiosos que este tempo, em muito, preparou as ideias futuras, mesmo nas ciências das sociais e psicologias.
3. Sendo certo que os tempos de mudança acelerada (como a globalização presente) desafiam grandemente à consistência dos valores essenciais, verificamos que diante das tensões e fragmentações sociais ganha essencial importância o equilíbrio de pontes entre o passado e o futuro. A mudança (silenciosa) de paradigmas em andamento que vão transformando as concepções de Família, Escola, Religião, Estado, Comunicação (on-line)… precisam de novas pontes de entendimento e não de dilemas que separam toda a densidade da realidade, hoje em “rede”. Neste procurado equilíbrio, não há fórmulas, na certeza de que o futuro daqui a uma década será muitíssimo diferente do passado de há dez anos. Basta ouvir os sentimentos que pairam nas “ruas” do mundo para que a apreensão se transforme em pontes de realismo para um saudável futuro. Na obra “As Chaves para o Séc. XXI” (com a UNESCO, 2000), sublinha-se que este não pode ser um monólogo tecnológico, mas de diálogo entre as pessoas. Aqui todos os instrumentos podem ajudar, mas tudo depende, cada vez mais, dos valores realistas dos utilizadores. Afinal, sempre assim foi!
1. A complexidade da vida em sociedade democrática faz com que os dilemas que, de quando em quando se vão levantando, sejam ineficientes em ordem a um sempre maior desenvolvimento futuro. Dilemas como “público ou privado”, “tecnologias ou filosofias”, “igrejas ou estados”, “máquinas ou pessoas”, quando ainda tornados presentes espelham uma visão parcelar (quando não mesmo radical) da realidade que é bem mais abrangente que qualquer esquema pré-definido. Quando se quer considerar a realidade como se ela fosse “preta ou branca” estamos diante de uma visão pragmática e tecnocrática que se fica pela rama… O tempo histórico dos dilemas na abordagem social, como se esta pudesse ser vista numa linha instrumental, teve a sua época e quando ainda brilham reflexos desta forma de pensar será porque as bases de uma memória aberta e consciente andam pela rama.
2. A própria história, na sua construção (dialéctica) em crescendo é mesmo assim, e tantas vezes as querelas culturais entre os conservadores do passado e os progressistas do “amanhã” ocuparam demasiado espaço, como se a história das pessoas em sociedade fosse algo desgarrado da vida simples e concreta e não tivesse a capacidade razoável de ser receptora dos impulsos renovadores. (Por vezes assim foi!) Um desses momentos marcantes, que valerá a pena recordar, de tensão entre o passado e o futuro foi a famosa crise cultural francesa dos fins do séc. XVII, a designada de “Querela dos Antigos e dos Modernos” (1687-1715); uma “guerra” cultural na viragem do século e no fim de uma época. Dizem os estudiosos que este tempo, em muito, preparou as ideias futuras, mesmo nas ciências das sociais e psicologias.
3. Sendo certo que os tempos de mudança acelerada (como a globalização presente) desafiam grandemente à consistência dos valores essenciais, verificamos que diante das tensões e fragmentações sociais ganha essencial importância o equilíbrio de pontes entre o passado e o futuro. A mudança (silenciosa) de paradigmas em andamento que vão transformando as concepções de Família, Escola, Religião, Estado, Comunicação (on-line)… precisam de novas pontes de entendimento e não de dilemas que separam toda a densidade da realidade, hoje em “rede”. Neste procurado equilíbrio, não há fórmulas, na certeza de que o futuro daqui a uma década será muitíssimo diferente do passado de há dez anos. Basta ouvir os sentimentos que pairam nas “ruas” do mundo para que a apreensão se transforme em pontes de realismo para um saudável futuro. Na obra “As Chaves para o Séc. XXI” (com a UNESCO, 2000), sublinha-se que este não pode ser um monólogo tecnológico, mas de diálogo entre as pessoas. Aqui todos os instrumentos podem ajudar, mas tudo depende, cada vez mais, dos valores realistas dos utilizadores. Afinal, sempre assim foi!
AC [05.12.07]
Homenagem ao Benfica
Díli, Timor-Leste, 2003
Fotografia de Ângelo Eduardo Ferreira
Bem, depois do razoável jogo de ontem, que deu para ir à UEFA, fica aqui uma singela homenagem ao Benfica e aos benfiquistas. Uma fotografia da antiga sede do Sport Díli e Benquica. Um edifício que perdurou aos tempos conturbados, mesmo no período indonésio. Manteve-se sobretudo a placa em fero com as letras a encimar a entrada da antiga base dos vermelhos. Há 4 anos atrás era uma casa de fotocópias, de uns comerciantes chineses ou singapurenses ou tailandeses, confesso que nunca consegui perceber. Ou javaneses, why not? Mas o que fica para o boneco é que o Benfica não anda lá grande coisa, nem por lá.
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4 de dezembro de 2007
Na Linha Da Utopia
A Cimeira
1. Aproxima-se a “hora” da Cimeira Europa-África. Depois de longa preparação e expectativa sobre as presenças e ausências, dos que ficam em hotéis ou em tendas, dos que tomam as refeições oficiais ou trazem as suas cozinhas, eis que finalmente, no próximo fim-de-semana realiza-se, sob a coordenação da presidência portuguesa da UA, a tão desejada Cimeira Europa-África. Para Portugal é importante que corra bem. Para os países europeus é o “regresso” geo-político a África. Para África é a presença diplomática como um “mostrar-se” na estabilidade para consolidação de parcerias sócio-económicas. Para além deste “pró-forme” haverá oportunidade para agarrar a fundo as questões fundamentais de um mundo desequilibrado em desigualdades gritantes? Que frutos para o futuro serão expectáveis de tão grandioso encontro?
2. Desde já, uma conta parece estar garantida. A Cimeira, acima do previsto, custará ao Estado (aos contribuintes portugueses) dez milhões de Euros. Pelo valor garantido muito se tem mesmo de esperar de um fim-de-semana tão pesado que, mesmo assim, conta com quatro ausências dos 27 europeus (Reino Unido, República Checa, Eslováquia, Lituânia). Não faltará o champanhe, como há dias no brinde da presidência chinesa com o presidente da Comissão Europeia e o primeiro-ministro de Portugal; direitos humanos, depois! Também o próprio ditador Mugabe do Zimbawé beberá duas taças, a dele e a da ausência de Gordon Brown; direitos humanos, a-ver-vamos. Tudo preparado, num cumprir de calendário onde alguns desafios estão em agenda.
3. Paz e segurança; desenvolvimento; democracia; energia; migrações e alterações climáticas; direitos humanos; Objectivos de Desenvolvimento do Milénio. Em perspectiva oito parcerias estratégicas entre a União Europeia e a União Africana, também num forte apelo às sociedades civis africanas. Da parte africana, das 53 presenças possíveis, estarão em Lisboa 46 ou 47 chefes de Estado. É importante que tudo corra bem, especialmente para Portugal. A diplomacia da presidência portuguesa já considera “histórico” o acontecimento (Diário de Notícias, 4 Dez.). Já?! Será por se esperarem poucos frutos concretos ou tudo já estará pré-definido? Então, Cimeira para quê? Ou não haverá (sequer algum) significativo discurso directo? Estará a diplomacia do gabinete a fechar o diálogo político vivo?
4. Tudo com chefes de Estado…Não haverá para além destes quem dê eco das sociedades concretas? Que nova conjugação possível entre diplomacia política e verdade social? Tantas vezes não se chegam a soluções, também porque os chefes de Estado vivem longe dos problemas.
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Alexandre Cruz [04.12.2007]
Alexandre Cruz [04.12.2007]
Na Linha Da Utopia
Tão antes do tempo que…
1. Não esquecemos uma história, já lá vão uns cinco anos, numa grande superfície comercial da região. Lembramo-nos que era o dia 7 de Novembro e os locais de comércio estavam a ser engalanados para a chamada quadra comercial natalícia. Nesta história real, havia um avô, uma mãe e uma criança. Três gerações diferentes diante do mesmo acontecimento. O choro da criança era a todo o custo o pedido exigente à mãe para lhe comprar aquele brinquedo. Ela, talvez para conseguir acomodar a situação, parecia na disposição de fazer a sua vontade… Entretanto, intervém o avô, guardião da tradição, com um chavão que gravámos na memória: “não, o Natal é só em Dezembro!”
2. O “século” que vivemos vai elegendo o comercial acima de tudo, já nem se conseguindo um domingo à tarde (em certas quadras) que seja para estar em família, conversar, passear ou descansar. A concorrência aberta, bom sinal no sentido pluralista, não havendo “bela sem senão”, faz do chegar primeiro o lema de todas as casas. E com o passar dos anos vem-se ampliando toda a antecipação de tudo, em que quando se chegam aos dias festivos já pouco faz sentido. Saturação. O “mágico” das quadras especiais, como o Natal, vai-se diluindo pelo tempo fora… Que bom seria que esses mesmos valores correspondentes (ao menos da tradição) também fossem passando, mas parece que quanto a esses o Pai Natal Comercial abafa, este tornou-se dono e senhor.
3. O homem do saco vermelho já há muito que anda por aí, e até vai tendo direito a entradas triunfais como se ele merecesse toda a adoração. Em vez de “amor e paz” a sua palavra mágica é “prendas”e mais “prendas”, num ter que se gasta e vai arrefecendo o tão essencial calor humano da ternura dos gestos sensibilizantes. É um facto. E se os grandes têm a distância crítica de quem sabe a origem e o sentido do Natal (e em que os gestos calorosos são o seu prolongamento festivo), já aos pequenos, predominantemente, pelo que vemos, pouco lhes interessa alguma mensagem. E mais, de tanta sobrecarga de prendas e coisas tanto antes do tempo, quando chegar o dia nada tem sentido, nada tem valor.
4. Este ano a meados de Setembro começou a “vender-se” Natal. Para o ano, será em Agosto? Pela quantidade das coisas vamos perdendo o calor dos gestos... Verdade? Exagero? Os vindouros serão o que “lhes damos” hoje. Seja o AMOR o presente mais dado. Não estraga, é gratuito, tem todo o futuro e representa mesmo o verdadeiro Natal! Até nesta mensagem da “memória” os avós são tão necessários.
1. Não esquecemos uma história, já lá vão uns cinco anos, numa grande superfície comercial da região. Lembramo-nos que era o dia 7 de Novembro e os locais de comércio estavam a ser engalanados para a chamada quadra comercial natalícia. Nesta história real, havia um avô, uma mãe e uma criança. Três gerações diferentes diante do mesmo acontecimento. O choro da criança era a todo o custo o pedido exigente à mãe para lhe comprar aquele brinquedo. Ela, talvez para conseguir acomodar a situação, parecia na disposição de fazer a sua vontade… Entretanto, intervém o avô, guardião da tradição, com um chavão que gravámos na memória: “não, o Natal é só em Dezembro!”
2. O “século” que vivemos vai elegendo o comercial acima de tudo, já nem se conseguindo um domingo à tarde (em certas quadras) que seja para estar em família, conversar, passear ou descansar. A concorrência aberta, bom sinal no sentido pluralista, não havendo “bela sem senão”, faz do chegar primeiro o lema de todas as casas. E com o passar dos anos vem-se ampliando toda a antecipação de tudo, em que quando se chegam aos dias festivos já pouco faz sentido. Saturação. O “mágico” das quadras especiais, como o Natal, vai-se diluindo pelo tempo fora… Que bom seria que esses mesmos valores correspondentes (ao menos da tradição) também fossem passando, mas parece que quanto a esses o Pai Natal Comercial abafa, este tornou-se dono e senhor.
3. O homem do saco vermelho já há muito que anda por aí, e até vai tendo direito a entradas triunfais como se ele merecesse toda a adoração. Em vez de “amor e paz” a sua palavra mágica é “prendas”e mais “prendas”, num ter que se gasta e vai arrefecendo o tão essencial calor humano da ternura dos gestos sensibilizantes. É um facto. E se os grandes têm a distância crítica de quem sabe a origem e o sentido do Natal (e em que os gestos calorosos são o seu prolongamento festivo), já aos pequenos, predominantemente, pelo que vemos, pouco lhes interessa alguma mensagem. E mais, de tanta sobrecarga de prendas e coisas tanto antes do tempo, quando chegar o dia nada tem sentido, nada tem valor.
4. Este ano a meados de Setembro começou a “vender-se” Natal. Para o ano, será em Agosto? Pela quantidade das coisas vamos perdendo o calor dos gestos... Verdade? Exagero? Os vindouros serão o que “lhes damos” hoje. Seja o AMOR o presente mais dado. Não estraga, é gratuito, tem todo o futuro e representa mesmo o verdadeiro Natal! Até nesta mensagem da “memória” os avós são tão necessários.
Alexandre Cruz [03.12.07]
Na Linha Da Utopia
A Esperança
1. A esperança é o encontro com o desejado (bom e belo) futuro. Uma esperança que supera toda a ciência e tecnologia, pois que abarca a totalidade da existência, como encontro do que se é com o que se procura, envolvendo tudo o que se sente de mais profundo. Nesta fase histórica da globalização comunicacional do séc. XXI, que sobrecarregada nas mudanças de paradigmas de pensamento-vida gera um ansioso pessimismo, falar e propor esperança é perspectivar e antecipar um amanhã melhor que relativiza o poder das “coisas” ou dos “sistemas” e eleva a dignidade humana como centro de toda a experiência histórica.
2. Que bom seria que todos os líderes das grandes instituições, ciências sociais e humanas, filosofias, e religiões, esboçassem o seu Tratado da Esperança como compromisso com o futuro do século…e nesse caminho de reflexão sentissem o comum desígnio humano como transcendência, numa realização humana que se completa para além da historicidade sempre limitada. Diremos que neste aprofundamento dos valores essenciais da paz, amor, esperança, sentido da vida, todas as energias ganham proximidade, parceria, dando assim, “razões” para acreditar na esperança, pois esta não pode ser palavra “vã” que se professa sem se alimentar da interioridade…pois só depois se manifestará na (vida ética da) exterioridade histórica concreta.
3. Como que procurando partilhar uma mensagem esboçada nas raízes do ocidente, Bento XVI na recente Carta Encíclica (Spe Salvi – Salvos na Esperança) propõe-se a essa reflexão, na qual constrói o caminho da esperança, do Humano ao Divino, que para os cristãos brota na Primeira Pessoa. Nesta proposta da Esperança Cristã que culminará com a reflexão da época patrística (Agostinho de Hipona) e do magistério eclesial, o papa cita Platão, Lutero, Kant, Bacon, Dostoiesvski, Engels e Marx. Numa visão de confronto reflexivo, visando uma distância crítica em relação aos sistemas técnico-sociais que, levados ao absoluto, podem asfixiar a esperança.
4. A esperança, como brotar contínuo de um sentido da vida que não “seca”, não se compra nem se vende, nem se produz em laboratório ou se detecta nas tecnologias da comunicação, por mais aperfeiçoadas que venham a ser. A esperança exige a “entrega” para além de si mesmo e para além das visões da história humana, sempre procuradora de verdades maiores. A viagem dos anos da vida apura a esperança, e em circunstâncias onde as forças da lógica racionalista humana nada valem… essa luz de esperança existencial (no fundo, sempre procurada) brota anunciando um amanhã melhor. Não é algo da ordem das pressas técnicas, exige a capacidade de sabedoria poética, elevada ao infinito! Não haja dúvida, na junção de todas as reflexões da esperança, o edifício da Nova Humanidade ganhará alicerces para todo o futuro!
2. Que bom seria que todos os líderes das grandes instituições, ciências sociais e humanas, filosofias, e religiões, esboçassem o seu Tratado da Esperança como compromisso com o futuro do século…e nesse caminho de reflexão sentissem o comum desígnio humano como transcendência, numa realização humana que se completa para além da historicidade sempre limitada. Diremos que neste aprofundamento dos valores essenciais da paz, amor, esperança, sentido da vida, todas as energias ganham proximidade, parceria, dando assim, “razões” para acreditar na esperança, pois esta não pode ser palavra “vã” que se professa sem se alimentar da interioridade…pois só depois se manifestará na (vida ética da) exterioridade histórica concreta.
3. Como que procurando partilhar uma mensagem esboçada nas raízes do ocidente, Bento XVI na recente Carta Encíclica (Spe Salvi – Salvos na Esperança) propõe-se a essa reflexão, na qual constrói o caminho da esperança, do Humano ao Divino, que para os cristãos brota na Primeira Pessoa. Nesta proposta da Esperança Cristã que culminará com a reflexão da época patrística (Agostinho de Hipona) e do magistério eclesial, o papa cita Platão, Lutero, Kant, Bacon, Dostoiesvski, Engels e Marx. Numa visão de confronto reflexivo, visando uma distância crítica em relação aos sistemas técnico-sociais que, levados ao absoluto, podem asfixiar a esperança.
4. A esperança, como brotar contínuo de um sentido da vida que não “seca”, não se compra nem se vende, nem se produz em laboratório ou se detecta nas tecnologias da comunicação, por mais aperfeiçoadas que venham a ser. A esperança exige a “entrega” para além de si mesmo e para além das visões da história humana, sempre procuradora de verdades maiores. A viagem dos anos da vida apura a esperança, e em circunstâncias onde as forças da lógica racionalista humana nada valem… essa luz de esperança existencial (no fundo, sempre procurada) brota anunciando um amanhã melhor. Não é algo da ordem das pressas técnicas, exige a capacidade de sabedoria poética, elevada ao infinito! Não haja dúvida, na junção de todas as reflexões da esperança, o edifício da Nova Humanidade ganhará alicerces para todo o futuro!
Alexandre Cruz [02.12.2007]
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