31 de maio de 2007

China

A Long Death Row, no Economist
«NO ONE disputes that China is a rising great power thanks to its tremendous economic growth. But an announcement Tuesday May 29th cast several clouds over China’s reputation. The government says it will execute Zheng Xiaoyu, the former head of its food and drug regulator, for corruption. The news represents a remarkable confluence of bad press for China: that high-level corruption is rampant, that its products have killed people and animals around the world, and that the country advertising its “peaceful rise” is a harsh, execution-happy dictatorship.» (continue a ler)

29 de maio de 2007

Cartas Para Sakhalin - Diário de Aveiro (006)

Escravatura – uma coisa do passado
Têm sido demais – uma só seria demais – as notícias sobre trabalhadores portugueses que são explorados sob a promessa de uma vida melhor. Levados para o estrangeiro por agências intermediárias, nestes tempos difíceis e de desemprego crescente, são colocados a trabalhar em condições desumanas. São, em muitos casos, explorados à pior moda antiga, fazendo-nos duvidar das conquistas da história em matéria de direitos humanos. São, podemos dizer, independentemente da definição formal ou legal, escravizados. Estarão ainda frescos na memória de todos, pelo menos dos que não dormem sobre a desgraça alheia, os casos mais recentes em Espanha e na Islândia.
Mas nada disto tem grande significado por serem portugueses, não, mas antes por serem seres humanos como outros, muitos outros, ainda em piores condições. Estes poderão ser vistos por nós como a ponta portuguesa do iceberg – nada de mais (no contexto global), por mais que nos custe. São nossos e devemos defendê-los, claro que isso não está em causa. Mas devemos fazê-lo na consciência de que esta gélida e profunda vergonha humana é feita de muitas dezenas de milhões de escravos “modernos”, num movimento que não tem fronteiras e onde não há países inocentes.
Também estão em Portugal. Seres humanos traficados de todo o mundo, sobretudo da Europa de Leste, a quem começam por prometer uma vida melhor e depois subjugam, primeiro pela apreensão de documentos, depois pelas dívidas eternizadas (alojamento, refeições, supostos subornos para conseguir a legalização), caçando-lhes a maior parte do salário. Caso os infelizes transpirem vontade de fuga, mostram-lhes que sabem onde moram os familiares nos países de origem.
Calcula-se que cerca de 4 milhões de mulheres sejam metidas no negócio da “carne branca” todos os anos. Às vezes são os próprios pais ou “namorados” que as vendem. Vêm de lugares pobres, de países ou regiões em crise económica. Há milhares de crianças na mesma situação. Outras são raptadas e vendidas por estas redes “empresariais” do crime organizado multinacional. É o pior dos parasitismos.
Mas há também os que são escravizados nos seus países, trabalhando à frente do chicote sem descanso, sobrevivendo a pão e água, metendo produtos baratos no mercado da globalização – que não tem culpa nenhuma do facto – para o nosso próprio bem-estar. São aos milhões. São, em grande parte dos casos, crianças com menos de 10 anos. Hoje têm novos senhores, do seu próprio povo, o que só agrava a miséria da sua condição. Subjugados por gente sem escrúpulos, com a conivência de antigos vendedores de sonhos que deram em corruptos estadistas e com a complacência diplomática da “realpolitik”, têm poucos motivos para sonhar com a verdadeira libertação. É bom que não esqueçamos que não estamos livres desse peso na consciência da nossa (actual) política externa. Temos convenientes relações com a maioria desses Estados.
Em muitas das ocasiões em que a escravatura é referida, no cenário das relações internacionais e no âmbito das correcções da história, lá aparecem as referências ao tráfico de africanos para a América feitas por europeus – justas –, e as exigências de pedidos de desculpa formais – apenas mais uma palhaçada no triste espectáculo da humanidade.
O pior mesmo é que existem actualmente mais escravos do que alguma vez foram comercializados durante esse período de cerca de 300 anos. O pior é que muitos dos líderes dessas nações não se olham ao espelho. Os seus gestos indignados, exigindo reparação, em regra, não são mais do que poeira atirada para os olhos da ignorância e o coração da inocência. Procuram encher o vazio em que se transformaram muitos dos movimentos de libertação nacional, esconder vícios internos, e alimentar, em muitos casos, o romantismo complexado, oco e bacoco, pouco construtivo, mas politicamente correcto, de pretensos defensores dos direitos humanos – um enfeite.
Quase 60 anos depois da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), depois do fim da Colonização – embora haja ainda países que convenientemente as conservam –, depois do fim da segregação racista nos EUA, depois do fim do apartheid, tudo isto é miserável!
Ainda era um miúdo quando ouvi pela primeira vez, arrepiado, a repetição do discurso inflamado, inspirador, de Martim Luther King frente ao Lincoln Memorial em 1963. King dizia à multidão «I have a dream»: tinha o sonho de que um dia fosse possível que filhos de escravos e filhos de antigos donos de escravos pudessem sentar-se juntos, nas colinas vermelhas da Geórgia, à mesa da fraternidade.
A realidade mostrou ser bem mais complexa. Esta culpa, sem nacionalidade nem cor de pele, deixa-nos a todos profundas marcas de chicote na alma.

Respeito, muito respeitinho e medo
As coisas andam feias e crispadas. A nossa vida em sociedade anda tensa. Estamos afastados da política. Não acreditamos na justiça. A economia não ajuda. Talvez nos valha aquele ditado popular: casa onde não há pão, todos ralham, e ninguém tem razão. Andamos um pouco irritados com a sorte, mas isso não pode servir de desculpa para tudo
Há por aí gente muito zelosa em garantir o respeitinho ao Senhor Presidente do Conselho (se é que me entendem). Cuidado, muito cuidadinho. Parece que voltámos uns anos atrás. Subtilmente estas coisas acontecem, porque na verdade, lá no fundo, as pessoas não mudaram assim tanto, como se desejaria. Há sempre tendências, inclinações, tiques que perduram. Fazer vigilância ideológica, defender o chefe,a “família”, tudo isso serve de desculpa para perseguir no trabalho (na função pública) e alimentar a carneirada de queixinhas bajuladores. Não está correcto, nem pode ser admitido. Venha de quem vier.
A Sra. Directora-Geral de Educação do Norte, ao instituir o processo disciplinar ao professor, que terá feito um comentário jocoso ou uma ofensa (?), em privado, ao primeiro-ministro, mostrou bem a sua cepa. Mesmo que o comentário fosse, e não me interessa nada saber, do mais reles possível, isso não lhe dava o direito de fazer o que fez. Na verdade, nem interessa o que disse o professor, porque, se foi em privado e sobre uma figura pública, não pode constituir motivo de processo disciplinar, nem pode ser visto como uma ofensa.
Não vale a pena vir para a televisão contar estórias da carochinha, nem vale a pena a ministra da Educação vir dizer que está a decorrer um inquérito para justificar a sua inacção. Mau, afinal, o cargo de directora-geral* não é de confiança política? Inquérito?! Basta o comunicado da direcção-geral* para a demitir.
Respeito, muito respeitinho. Tenham medo.
~
* Errata: directora-regional, direcção-regional (de Educação do Norte)

28 de maio de 2007

Amanhã no Diário de Aveiro

Escravatura – uma coisa do passado

Têm sido demais – uma só seria demais – as notícias sobre trabalhadores portugueses que são explorados sob a promessa de uma vida melhor. Levados para o estrangeiro por agências intermediárias, nestes tempos difíceis e de desemprego crescente, são colocados a trabalhar em condições desumanas. São, em muitos casos, explorados à pior moda antiga, fazendo-nos duvidar das conquistas da história em matéria de direitos humanos. São, podemos dizer, independentemente da definição formal ou legal, escravizados. Estarão ainda frescos na memória de todos, pelo menos dos que não dormem sobre a desgraça alheia, os casos mais recentes em Espanha e na Islândia. (...)
e
Respeito, muito respeitinho e medo
As coisas andam feias e crispadas. A nossa vida em sociedade anda tensa. Estamos afastados da política. Não acreditamos na justiça. A economia não ajuda. Talvez nos valha aquele ditado popular: casa onde não há pão, todos ralham, e ninguém tem razão. Andamos um pouco irritados com a sorte, mas isso não pode servir de desculpa para tudo. (...)

23 de maio de 2007

Tenham respeito, tenham medo

O caso do Prof. Fernando Charrua, independentemente da ofensa que tal homem possa ter proferido, parece configurar um caso de simples estupidez e falta de cultura democrática por parte da Senhora Directora. Se houvesse juízo, já estava na rua! Onde está a senhora Ministra da Educação?
*
Historial:
Trabalhava há quase 20 anos na DREN
Professor de Inglês suspenso de funções por ter comentado licenciatura de Sócrates
19.05.2007 - 10h09 Mariana Oliveira,
Público
*
*
Outras opiniões: FJV, FJV no JN, FNV

22 de maio de 2007

Fotografias de Timor

O programa de cooperação entre as Universidades e Politécnicos públicos portugueses e a Universidade Nacional de Timor Lorosae, coordenado pela Fundação das Universidades Portuguesas, de que fui o representante em Timor de 2001 a 2004, teve recentemente um desenvolvimento importante.
Os alunos das primeiras "fornadas" receberam finalmente, seis anos depois, os seus diplomas. Voltarei a este assunto, mas, para contentamento daqueles que estiveram envolvidos na leccionação das cadeiras e apoiaram o projecto, deixo aqui algumas imagens que a Inocência Correia teve a amabilidade de me enviar.

(Filomeno e Inocência. Engenharia Informática, cursos de 2001 e 2002 respectivamente)

(graduados de Engenharia Informática. Curso de 2002)

Aditamento sobre Governo e Igualdade de Oportunidades

O Francisco José Viegas, que também abordou esta questão da presença de mulheres no governo (já havia comparado Portugal com a França: post de 18/05), foi alertado para um caso onde elas ganham, de longe: a Finlândia. Aí são 12 mulheres num governo de 20!

Cartas Para Sakhalin - Diário de Aveiro (005)

O nosso esplendor.
Teremos herdado da nossa gloriosa história, apesar das muitas coisas que não nos deverão deixar orgulhosos, uma certa ansiedade de grandeza. Não está mal querermos ser bons. Não está errado querermos estar entre os melhores. Já não consigo perceber onde fomos buscar a ideia de o conseguir sem trabalho duro. De onde veio esta moda, tão em voga, de glória fácil?
As manifestações dessa (fraca) vontade em sermos “os melhores de todos”, a todo o custo, são muitas. O problema é que nem sempre colocamos esforço nas tarefas mais dignificantes e valiosas para o nosso bem-estar, aquelas que nos garantiriam um futuro solidamente melhor.
Basta dar uma olhadela à televisão para verificar que são cada vez mais as pessoas que procuram o êxito fácil e efémero, sonhando-o duradouro. São muitos os que procuram fama e dinheiro em concursos totalmente imbecis, devassando a sua intimidade, mostrando, normalmente, o que têm de mais básico. São as notícias que, a propósito de uma qualquer zanga de fiéis e beatas com o padre, colocam a aldeia no mapa dos cidadãos cientes dos seus direitos, dando-lhes 30 segundos de sucesso televisivo. É o cromo da televisão que se coloca atrás do entrevistado para aparecer (e quantos políticos não vemos também a fazer esta figurinha?).
Mas somos também profícuos a bater recordes. Na edição comemorativa dos 50 anos do livro Guinness (2005), entre excentricidades para todos os gostos, há 24 pérolas portuguesas. Lá diz, por exemplo, que temos o maior reinado (D. Afonso Henriques, com 73 anos e 220 dias) – este é natural que o asseguremos por muitos anos –, o maior logótipo humano (Euro 2004), a maior bicicleta, a maior francesinha e o maior pão com chouriço, claro.
(1)
Com muita pena minha, não pude confirmar se ainda é nossa a maior feijoada. Apesar de nem sermos os detentores dos mais loucos, isso não alivia nem um pouco aquilo que me preocupa. É que me parece que é crescente entre nós a mania das grandezas fáceis, em vez de colocarmos tónica no estudo, na dedicação, na perseverança, no trabalho árduo, que tenha resultados para lá do imediato.
Não teremos maiores nem menores capacidades do que outros povos. Não estaremos fadados para o infortúnio e a pobreza por qualquer desígnio superior. E é por isso que temos de corrigir o nosso comportamento – chega de discurso mole e desculpas fáceis. A mudança está em cada um de nós.
Os exemplos de desleixe e falta de esforço são inúmeros, assim como são os de abuso da lei e do poder, de permissividade e de impunidade para quem passa a perna nos outros. É a sociedade dos direitos sem deveres que erigimos tijolo a tijolo sobre areias movediças. É a telenovela «se é bom para mim, é um direito meu».
O mal, inevitavelmente, entrou pelas escolas dentro. Apesar do facilitismo instalado, nunca se copiou tanto nas escolas e nas universidades portuguesas, algo que seria, noutras paragens, motivo de profunda vergonha e expulsão. São cada vez mais os casos de plágio, perpetrado até por gente com responsabilidades educativas. Mas não se atribua à escola a responsabilidade deste desvario, não, porque esse é, mais uma vez, o caminho fácil. O vírus está espalhado por aí, por todo o lado. Apanha-se em casa, na televisão, nas ruas, no trabalho, no parlamento. É uma epidemia – veja-se a promiscuidade galopante entre políticos e interesses – e, como tal, tem que nos envolver a todos num combate sem tréguas.
O caminho mais fácil, o do Chico-esperto, ganhou simpatizantes e até o aplauso do público, que muitas vezes assiste deleitado ao triste espectáculo. Pessoas que espezinham as regras mais básicas de respeito pelos outros, pessoas que dão o golpe nas filas de espera, estacionam nos lugares dos deficientes, não respeitam idosos, conduzem violentamente – teremos certamente o recorde de acidentes na estrada –, não respeitam o silêncio numa biblioteca, atiram lixo das janelas dos carros, fazem trinta-por-uma-linha. Podíamos ir por aí fora sem parar nos caminhos do facilitismo, prova triste do desejo de encontrar uma felicidade fácil e rápida, sem trabalho, sem deveres.
Será assim que se pretende levantar hoje de novo o esplendor de Portugal?

O rapaz que queria ser alguém
Um rapaz de 16 anos andava com sinais comportamentais estranhos. Dizia a mãe que ele devia ter algum problema psicológico, desses que o Freud enunciou, pois só arranjava chatices na escola, e não era melhor a caminho de casa. Faltava às aulas, não estudava, já tinha sido apanhado a copiar, saltava os muros da escola para vadiar na vila e fazer tropelias que lhe granjearam o epíteto de “terrível” – uma vergonha, sobretudo para uma família tão rica e esmerada nos preceitos das aparências sociais.
Afinal, o que poderia estar errado com aquele miúdo cuja educação era, no desabafo da mãe, «tão boa»? «Não lhe dei eu tanto conselho? Não lhe deu o pai quando ele fez asneira? Não somos nós um exemplo?»
A pobre senhora não entendia tamanha injustiça. Sobretudo não entendia como é que os filhos dos vizinhos, seus colegas de escola, gente pobre e humilde, eram bons alunos e, não sendo nenhuns santinhos, os seus estragos não eram por aí além. Foi então que decidiu levá-lo ao psicólogo, o que só por si já era sinal de distinção social lá na terra.
De lá veio mais descansada, mais aliviada com o diagnóstico, que rapidamente comunicou a todos, como se da cura se tratasse. Afinal, não era grave, nem sequer chegava a ser doença, antes pelo contrário: «O psicólogo disse-me que ele até tem muita vontade de ser alguém na vida.»
Na verdade, não sabemos o que o psicólogo lhe terá dito – certamente mais. Talvez algo que se tenha perdido na complexidade da linguagem técnica. Ou terá acontecido que só ouviu aquilo que queria ouvir e dito aquilo que queria dizer.
Pelo resultado da coisa, não compreenderam – especialmente os pais – que é imprescindível mais amor, mais compreensão, mais intimidade, mais tempo, mais comunicação, conselho amigo. Não compreenderam – especialmente o filho – que é preciso esforço, trabalho e dedicação, para «ser alguém na vida».
A superioridade daquela frase, bradada com tamanha ostentação, perdurou na cabeça dalguns dos miúdos lá da rua: será que eles também poderiam «ser alguém na vida?» Tiveram a sorte de lhes terem dito atempadamente que isso é mais do que ter dinheiro e fama rápida. É ter princípios, honestidade, dignidade, é conquistar com seriedade e justiça um lugar entre os outros, e não acima dos outros.

Governo e Igualdade de Oportunidades.
Volto a este assunto já abordado na última crónica para deixar apenas uma estranha nota comparativa: enquanto no nosso governo há apenas 2 ministras em 16 (5 mulheres ao todo em 50 membros), em França há 7 ministras em 15. (2) Vale a pena pensar nisto com seriedade e deixar de lado o discurso fácil do politicamente correcto.
*
*
Artigo publicado hoje no jornal Diário de Aveiro

21 de maio de 2007

Dia Mundial da Diversidade Cultural Para o Diálogo e o Desenvolvimento

Ecos de uma Convenção

Esta Segunda-feira, 21 de Maio, a UNESCO celebra o Dia Mundial da Diversidade Cultural Para o Diálogo e o Desenvolvimento. A Professora Teresa Soares, membro do Conselho Consultivo da Comissão Nacional da Unesco, traz hoje à memória a Convenção sobre a protecção e a promoção da diversidade das expressões culturais no mundo, adoptada pela Conferência Geral da Unesco em 20 de Outubro de 2005.

Amanhã no Diário de Aveiro

O nosso esplendor.
Teremos herdado da nossa gloriosa história, apesar das muitas coisas que não nos deverão deixar orgulhosos, uma certa ansiedade de grandeza. Não está mal querermos ser bons. Não está errado querermos estar entre os melhores. Já não consigo perceber onde fomos buscar a ideia de o conseguir sem trabalho duro. De onde veio esta moda, tão em voga, de glória fácil?

Fotografias de Sakhalin

(fotografia de Renato Costa)

17 de maio de 2007

Visitantes e amigos

Lenina, Krasnodar, Russian Federation
Paulo, Maranhao, Brasil
Meadela, Viana do Castelo, Portugal
São Paulo, Sao Paulo, Brasil
Sakhalin, Rostov, Russian Federation
Penafiel, Porto, Portugal
Calgary, Alberta, Canada
Colchester, Norfolk, United Kingdom
*
A todos os visitantes e amigos dos lugares referidos, um abraço amigo.

15 de maio de 2007

Fotografias de Sakhalin

"O céu de Sakhalin. The Shakhalin sky."
(fotografia de Renato Costa)

Cartas Para Sakhalin - Diário de Aveiro (004)

Entidade DesReguladora para a Comunicação Social.
Todos sabemos da importância dos meios de comunicação social como pilar fundamental de uma sociedade democrática e livre. Neste contexto ganha forte importância a televisão, que entra todos os dias pelas nossas casas dentro. Num país em que se lê ainda muito pouco – o que se estende naturalmente aos jornais –, a televisão ganha contornos especiais no que diz respeito à informação. É ainda, sobretudo para uma larga maioria dos cidadãos, o meio mais importante de comunicação. Com a evolução das novas tecnologias, nomeadamente da web e da televisão por cabo, o cidadão poderá individualizar o acesso à informação, decidindo, escolhendo as suas fontes. Cada um terá, dizem os gurus da comunicação, o seu canal de televisão, o seu jornal pessoal ou conjunto de jornais pessoais, a que acede a partir do seu ecrã de casa (muito mais do que um simples televisor), do seu computador portátil ou do seu telemóvel. O futuro é certamente risonho, mas, como em muitas coisas, tem custos e não é para todos. Só uma minoria, uma elite, poderá aceder a este tipo de serviço e ter condições (clarividência) para uma razoável selecção.
O cenário, ainda que pressentido, faz-nos pensar que a televisão generalista, em sinal aberto, será cada vez mais o grande meio de comunicação das massas (infoexcluídos do milagre comunicacional em acção). Ora, sem querer ser pessimista, bem temos visto o que tem acontecido a esses canais em matéria de programação – telenovelas, “programas da vida real” (?), o espectáculo (às vezes triste) da vida na nossa rua, o desejo de sucesso fácil e de 5 minutos de fama. Isto, que parece ser o paradigma da individualização da comunicação para o povão, tem perigos, e não são poucos.
A ideia de uma televisão (quase) gratuita garantiria um acesso a conhecimento, cultura, informação, ajudando a moldar uma sociedade mais livre, de cidadãos mais activos, mais conhecedores, mais independentes e capazes. A esperança, e o desejo, de que os profissionais que a constroem tenham uma formação de qualidade e um código deontológico que nos permita confiar no seu critério jornalístico e de programação, deveria ser o fio de prumo da sua função social, equilibrando todos os interesses que nela se colocam, mesmos os comerciais ou partidários. Porém, o caminho parece enublado e temos motivo para nos preocupar.
Todos os partidos, sem excepção, têm procurado, à sua maneira e com as “armas” de que dispõem, influenciar os canais de acesso ao povo eleitor, porque ainda é assim que se chega ao poder – e ainda bem! O problema, para mal dos nossos pecados, é que, em vez das ideias e do trabalho, parece ser apetecível acima de tudo a imagem que se cria e transmite de uma suposta realidade.
Vem isto a propósito – o que dava pano para mangas – da Entidade Reguladora para a Comunicação Social, que substituiu a Alta Autoridade (que nunca foi alta nem autoridade). Não é que os senhores deram à estampa um documento que pretende avaliar e regular “o pluralismo político-partidário no serviço público de televisão”? Através do controle do “número e natureza das peças emitidas pela RTP”, para já, querem decidir a percentagem de notícias a que Governo e Partidos Políticos têm direito. E objectivam mesmo as ditas percentagens: Governo e PS ficam com 50%, oposição parlamentar com 48% e não-parlamentar com 2%. Incrível! Pode verificar com os seus próprios olhos num computador perto de si. O texto, a roçar o poético, está no sítio web da ERC.
Sempre julguei que existia liberdade de imprensa em Portugal e que a autoridade para a comunicação social, tenha o nome e os sábios que tiver, devia pugnar por uma informação isenta, rigorosa, mas nunca em função dos votos que os partidos tiveram. Se um partido pouco votado se dinamizar, tiver mais ideias, mais acções, não terá direito a mais cobertura? Não deverá ser do escrutínio jornalístico o valor e interesse público de cada acontecimento? Este tipo de controlo parece mais próprio dos países do terceiro mundo ou das ditaduras iluminadas. Sinceramente!

Governo e Igualdade de Oportunidades.
Depois de ter lido uma bela revista da Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres, estrutura da Presidência do Conselho de Ministros, recordei-me da velha fábula das quotas. E lembrei-me então, qual cidadão interessado, de ir ver a composição do nosso governo para perceber até que ponto palavras são gestos. Surpresa!
Sem ser defensor das quotas, mas reconhecendo que a nossa política teria muito a ganhar com a acção de muito mais mulheres, quis perceber quantas tinham lugar na chefia dos nossos destinos. Não me interessa quantas estão na Assembleia da República – curiosamente representada por uma mulher –, porque isso tem que ver com o “esquema” muito próprio dos partidos, complexo, de ascensão (carreirismo) dos seus militantes. Até se podia dizer que elas não gostam de militar, não aparecem, o que também sabemos ter outros contornos. Mas interessou-me antes saber quantas estavam no poder executivo do país, porque isso depende apenas do convite de quem o encima e da competência das mulheres – nada obriga a que sejam militantes. Pelo que sabemos, e até a julgar pelo que se passa nas universidades, bem podemos sublinhar as suas capacidades e estranhar os resultados da pesquisa.
Em 50 membros do governo, de ministros a sub-secretários de Estado, incluindo o primeiro-ministro, apenas 5 são mulheres! Duas ministras, a da educação e a da cultura, a que se juntam 3 secretárias de Estado! E está tudo dito.
Fiquei ainda com uma dúvida. Que significado terá o facto de quase trinta serem professores do ensino superior? Não será certamente a proposta de lei do governo sobre o Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior agora enviada ao parlamento, que parece uma excessiva e controleira machadada na autonomia universitária. Logo agora, sim senhor.

Nota: Texto publicado hoje na edição impressa do Diário de Aveiro. A opinião expressa nestas crónicas apenas vincula o seu autor.

12 de maio de 2007

Ajuda pública europeia camuflada

No sítio web da Confederação europeia das ONG (CONCORD) de urgência e desenvolvimento pode ler-se:
«Pour la 2ème année, un nombre sans précédent d'ONG européennes de Développement se sont réunies sous l'égide de CONCORD pour produire un rapport analysant l'aide au développement européenne et la façon dont les chiffres sont gonflés. Réseaux, associations nationales, ONG individuelles des 27 Etats membres ont contribué à ce rapport.
Les ONG ont analysé les chiffres 2006 de l'aide au développement fournis par l'OCDE. Elles ont calculé combien les gouvernments européens et la Commission européenne ont effectivement donné aux pays en développement.
Les chiffres montrent qu'ils ont gonflé le montant de leur aide, manquant ainsi à leurs promesses. L'Union européenne n'a en fait donné que 0,30% de son revenu national brut (RNB) en 2006, manquant ainsi sa cible de 0,36% RNB. Cela signifie que les pays en développement n'ont pas reçu un apport monétaire frais de près d'un tiers de l'aide européenne au développement qui avait été promise en 2006.»

Liberdade de imprensa

«A court in Azerbaijan has jailed two journalists for writing and printing a newspaper article that was critical of the Islamic religion and the Prophet Muhammad.
Samir Sadagatoglu, chief editor of the Senet weekly newspaper, was sentenced to four years in prison on Friday, while Rafik Tagi, a journalist at the paper, was given three years.»

in Al Jaseera via A Blasfémia
*
«Iran has banned Al-Jazeera from its parliament, saying one of its talkshows had insulted the most revered Shia cleric in Iraq.
Gholam Ali Hadad Adel, the parliament's speaker, said: "Parliament has decided to prevent Al Jazeera journalists from entering until this network makes a formal apology for insulting [Grand] Ayatollah Ali al-Sistani."»

in Al Jaseera via A Blasfémia

11 de maio de 2007

Fotografias de Sakhalin


"Fighter in Berlin War, on the II World War,with 19 years, against the nazis, and after mobilized to Sakhalin in 45 to fight the Jap's. This guy is a real hero and it was a pleasure to shake his hand." (Renato Costa)

Some of is medals:

Order of glory

Order of Patriotic War

Victory medal

Medal of Valor

Bravery medal

Parabéns Ramos Horta

Da entrevista de Ramos Horta ao Público, deixo aqui apenas duas respostas, mas que mostram muita diferença, muita diferença:
PÚBLICO: Como está a celebrar, pessoalmente, esta vitória?
José Ramos-Horta: Não celebro por causa, obviamente, da situação humanitária de milhares de deslocados em Díli e noutros pontos do país. Quando há [por outro lado] alguns que se sentem "derrotados", não celebro. Celebrar a vitória nestas circunstância seria, talvez, achincalhar outros.
P: Já falou com os seus adversários?
R: Tomei a iniciativa de me deslocar a casa do dr. Maria Alkatiri. Trocámos um grande abraço. Ele estava bastante combalido, por causa do caso do ex-ministro Rogério Lobato, que tinha recolhido à prisão de Becora.

Fotografias de Timor


O meu amigo Maurício Borges faz um blogue a partir de Timor. O primeiro blogue de um timorense a partir de Díli, que eu conheça, pelo que são óptimas notícias.
De nome CROMOS - aquilo que alguns professores portugueses chamavam a grupo muito unido, animado, simpático de alunos de Informática da Universidade Nacional, do qual fazia parte o Maurício -, este blogue é uma boa notícia! Teremos a oportunidade de ali ver belas imagens de Timor, das suas gentes e tradições! Falta apenas que esteja escrito também em português, pois aparece em Tétum e Inglês, língua que o Maurício domina bem.
Maurício, para quando escrever em português?

9 de maio de 2007

Fotografias de Sakhalin

"O que antes era neve e gelo transforma-se agora numa floresta incrivelmente verde e luxuriante" (Renato Costa)
"Alvorada em Lunskoye Plataforma OPF - Lun-A" (Renato Costa)

Desaparecimento da "Maddie" - apelo



(clique para ampliar)

Com apenas 3 anos de idade, desapareceu do seu quarto (na Praia da Luz - Algarve) a pequena MADDIE. Pede-se a divulgação das suas fotografias para que as pessoas a possam identificar e ajudar as investigações a decorrer.
Telefones: 289 884 500 , 282 405 400 , 218 641 000 , 112.

Fotografias de Sakhalin


Caranguejo de Poronaisk, Sakhalin

(fotografia de Renato Costa, aqui)

Um caranguejo dos gelos, neve que parece esferovite. Frio, muito frio.

8 de maio de 2007

Cartas Para Sakhalin - Diário de Aveiro (003)

A par dos temas de índole geral, Aveiro será sempre um assunto querido neste espaço, pelo que hoje lhe dedico o maior peso das palavras aqui escritas. Começo no entanto com uma preocupação internacional.

Darfur.
Nesta região do Sudão já morreram cerca de 400 mil pessoas, assassinadas brutalmente pelo exército sudanês e pelas milícias janjawid. Muitas outras foram violadas e torturadas, naquilo que é uma bem organizada e apoiada campanha de terror. Se quiser assinar uma petição solicitando o envio de uma força de interposição europeia, vá a
http://www.europetition-darfour.fr/. Não fique em silêncio enquanto inocentes morrem.

Cães perigosos em Aveiro.
Todos temos sido alertados pela comunicação social para o perigo que podem representar alguns “animais de companhia”, nomeadamente por uma recente reportagem da revista Visão: “Cães Danados”. Aí ficámos a saber a canídea verdade, escondida por detrás de uma aparente e inofensiva realidade.
Cães de certas raças são usados para combates – algo ao que parece muito apreciado pelas aristocracia inglesa do séc. XIX (!) e que, tendo começado por ser uma luta num fosso (pit) entre cão e touro (bull), terá mesmo dado o nome à raça mais utilizada para o efeito (pitbull) – com apostas elevadas e um público de alta sociedade, o que está proibido desde 2003, altura em que saiu nova legislação, mais apertada igualmente no que respeita ao registo e acompanhamento de animais ditos potencialmente perigosos. No entanto, o gosto democratizou-se e, se os combates profissionais parecem ter decrescido, os de rua parecem estar no auge, assim como o aumento de ataques a pessoas inocentes. Segundo mesmo artigo, ninguém sabe ao certo quantos pitbulls existem em Portugal, referindo-se que deverão seguramente ser mais do que os 1118 registados (a Liga Portuguesa dos Direitos dos Animais suspeita que sejam pelo menos 10000!). Segundo a polícia, em 2005, pitbulls, rottweillers e dogues argentinos começaram a ser usados em assaltos, tendo já “surpreendido” vários agentes à dentada.
Diz-se que não há cães perigosos, antes donos perigosos, e parece que a personalidade do dono influencia a personalidade do cão. Um amigo contou-me que há uns tempos atrás um jovem detentor de um animal destes foi detido pela polícia e, na viagem para a esquadra, mordeu o agente que o acompanhava, ao que parece numa inversão de papéis – neste caso terá sido o cão a influenciar a personalidade do homem (!). Não concordo com justificações pouco consistentes para reduzir o problema. Eu sei que os cães não têm culpa nenhuma e compreendo as circunstâncias que os tornarão perigosos – não tenho nada contra eles. Porém, confesso receio dos seus dentes afiados e da “ingenuidade” de alguns dos seus amigos de duas “patas”.
Tem-se assistido a uma impunidade total dos que usam estes animais para combate. Por sua vez, os cães capturados vão para canis, acabando, geralmente, sentenciados à morte. Por isso defendo uma maior vigilância e uma lei mais rigorosa, que, apesar das escandalosas agressões a pessoas – e cães, também vítimas –, não passa das boas intenções (de que estão cheios o inferno e os canis).
Não pretendo ser alarmista, até porque, dizem os entendidos, apesar dos seus traços de personalidade exigirem um treino adequado para que sejam “mansos”, estes animais não são violentos. O problema maior parece ser a falta de conhecimento de quem os adquire e dos consequentes cuidados. Neste caso, poderemos andar tranquilos na rua?
Em Aveiro “apreciar” cada vez mais exemplares destes amigos de 4 patas – basta passear a pé por algumas ruas da cidade. O que tenho visto não me deixa nada descansado. Puxados por uma simples trela, fazendo parada para gáudio dos seus acompanhantes, sem açaimo, estão à curta distância de uma distracção – o que não augura nada de bom.
Espera-se que as autoridades façam a vigilância/acompanhamento que lhes compete, para que não se verifiquem casos de ataque. Na página web da Junta de Freguesia da Glória há 10 animais dados como registados – desejamos que o número corresponda à realidade e os cuidados devidos tenham sido tomados por quem de direito (e dever).

Semana do Enterro do Ano.
Sempre fui sensível, sobretudo quando era presidente da Associação Académica, ao transtorno provocado à população de Aveiro pelas festividades nocturnas das semanas académicas. Mais, preocupava-me a sério com a busca de alternativas que diminuíssem, especialmente, e na medida do possível, o ruído causado pela realização dos concertos musicais. Era também preocupação de todos os que me acompanhavam o controle de danos colaterais, o que nos levou sempre a procurar articular a organização dessas iniciativas com as autoridades locais (Governo Civil, Câmara, PSP, GNR). Dentro do que nos era possível, procurámos apoio para encontrar o espaço mais conveniente, mas nunca a cidade esteve dotada das infra-estruturas adequadas, pelo que o problema nunca foi de fácil resolução.
Os estudantes, que adoptam Aveiro como sua casa durante tantos anos, aqui deixando avultados recursos, ficam para sempre a ela ligados afectivamente, muito por causa da sua beleza, das suas gentes, da sua dinâmica – potenciada pela presença de uma das melhores universidades do país –, mas sobretudo pela memória daquilo que aqui vivenciaram, o que inclui a forma como foram acolhidos e, seguramente, também as suas festividades – afinal, nem só de estudo, gastos de mercearia e rendas vive o Homem. Muitos, graças ao dinamismo que a universidade trouxe, nomeadamente empresarial, acabam por aqui ficar a trabalhar, e quase todos, cagaréus, ceboleiros e adoptados, passaram a viver melhor do que antes. A cidade cresceu, desenvolveu-se, enriqueceu (o país todo ganhou com a UA). Os que não ficam acabam por regressar, nem que seja apenas para o Enterro. Os que vão tornam-se seus embaixadores.Reconhecendo o que atrás fica dito – o que parece consensual –, considero preocupantes as dificuldades que recorrentemente são levantadas à organização da Semana do Enterro. É necessário encontrar soluções que não se voltem sempre em desfavor dos estudantes e da sua associação, aumentando custos de produção e até, dadas as circunstâncias, o risco de coisas menos boas. Querer apenas os benefícios que a universidade traz não parece ser a melhor forma de construir a cidade de todos. Empurrar os estudantes para longe dela não será, certamente, a solução. Estou certo que a maioria das pessoas saberá reconhecê-lo.
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Mais info:
Ligação ao sítio do Save Darfur

(fonte: wikipédia)

Biologia na Noite 6» recebe Ministro Mariano Gago (hoje)

Esta Terça-feira, 8 de Maio, o ciclo de conferências «Biologia na Noite» recebe o Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Mariano Gago, a Directora Agência Ciência Viva, Rosália Vargas, o Presidente do Instituto Gulbenkian de Ciência, António Coutinho, e o docente da UA, Amadeu Soares, para debater o tema «Divulgação das Ciências – para quem, como e para quê?». Para além da conferência, com moderação a cargo de Alberto Vasconcelos, jornalista licenciado em Biologia, a iniciativa integra ainda o lançamento dos livros «Biologias na Noite» e «Atlas das Aves Nidificantes do Campus da Universidade de Aveiro», da colecção «Biologicando». (aqui)

7 de maio de 2007

Darfur

Petição contra o genocídio no Darfur e pelo envio de uma força de interposição. Assine: http://www.europetition-darfour.fr/europetition_fr/index.php

5 de maio de 2007

Timor-Leste

(Graduados em Eng. Informática pelo Projecto FUP/UNTL)

Para os amigos e irmãos em Timor-Leste envio um abraço de paz e amizade, com os votos de que as eleições corram bem, sejam o justo retrato da vontade do povo timorense e a base para tempos mais calmos, de desenvolvimento e maior prosperidade.
Esse chão de gente sofrida, mas de sorriso acolhedor, merece sementes de fraternidade e bem-estar.
Aos alunos que se graduaram pelo Projecto de Cooperação FUP/UNTL vai um abraço enorme de parabéns, força e boa sorte, e a esperança de que possam ter mais apoio do que tiveram até aqui e possam contribuir para o futuro do país de forma construtiva.
Um abraço especial ao Filipe e ao João Paulo Esperança, dois portugueses que gostam do que fazem e de Timor.

1 de maio de 2007

Cartas Para Sakhalin - Diário de Aveiro (002)

Temos assistido nos últimos tempos a manifestações de intolerância face à presença em Portugal de “estrangeiros”, nomeadamente pela mão do Partido Nacional Renovador. É de todos conhecido o caso mediático do cartaz do PNR na Praça Marquês de Pombal em Lisboa, que dizia, entre outras coisas, “Basta de imigração”. No fundo, todos sabemos ler nas entrelinhas racismo e xenofobia encapotados, vestindo uma máscara de legalidade. Todos nós, no nosso dia-a-dia temos contacto com esta realidade, com a defesa destas ideias, umas vezes à boca-cheia, outras à boca-pequena. A forma silenciosa é a mais perigosa, pois mina qualquer sociedade como uma erva-daninha mina qualquer cultura.
Apesar de abominar as ideias preconizadas, considero fundamental garantir a liberdade de expressão como um dos pilares do Estado de Direito, democrático, livre. O combate de ideias que consideramos maléficas deve ser feito sem procurar esmagar quem pensa de modo diferente, pois toda a força que aí colocarmos voltar-se-á irremediavelmente contra nós e os princípios que advogamos (e foram construídos, conquistados, ao longo de séculos de evolução da humanidade). A tolerância, que não é indiferença, obriga-nos a permitir que tais ideias – por mais que nos custe – se expressem em liberdade e os seus defensores não sejam alvo de perseguição. Porém, devemos estar vigilantes, e actuantes, especialmente se identificarmos o lobo vestido de cordeiro, que esconde intenções proibidas pela Lei e, como parece ser o caso, mais do que isso: armas e vontade de violência sobre outros seres humanos. Neste caso, a Lei deve ser exímia e não permitir veleidades. Devemos ser irredutíveis na defesa dos valores da nossa civilização, que, diga-se o que se disser, com todas as suas falhas, é a mais avançada na protecção aos direitos humanos, no cumprimento da legalidade, na procura de justiça.
O racismo e a xenofobia são sinónimos de pobre (e muitas vezes maldosa) ignorância, terra profícua para o medo e a violência.
Aqueles que procuram legitimar o seu preconceito com a ciência podem esquecer o apoio desta – as “raças humanas” não existem, diz a biologia. As raças formam-se quando se mantêm populações isoladas umas das outras, impedindo que os seus elementos migrem entre si e se cruzem, durante o tempo suficiente para que estas evoluam distintamente, o que não é o caso. E quanto à cor da pele, por exemplo, tão utilizada para discriminar: a de cor escura, partilhada pelos povos tropicais, é apenas uma adaptação que a selecção natural favoreceu para nos proteger do excesso de radiação solar e nada mais. Não há, nem houve – apesar do desejo de alguns, como Hitler – um isolamento genético que alicerce a separação dos Homens em raças, muito menos em superiores e inferiores.
Portugal é uma feliz amálgama dos genes e das culturas de celtas, fenícios, romanos, visigodos, árabes, judeus, africanos, entre outros – não o reconhecer é renegar os nossos antepassados e a nossa identidade.
O nosso primeiro rei, D. Afonso Henriques, depois da conquista aos mouros do território a sul, sendo católico, permitiu que eles fossem portugueses, vivendo segundo a sua religião, respeitando a soberania do Estado que construía, num clima de mútuo respeito religioso e de costumes.
Desses povos ficaram-nos muitas riquezas, sendo a maior de todas, sem dúvida, a nossa identidade.
O feito dos Descobrimentos, que tanto orgulha os portugueses (alguns idiotas), nunca teria sido possível sem o contributo, especialmente intelectual, desses povos e dos imigrantes que acolhemos na época. Tínhamos recebido palavras que ampliavam a nossa língua e a nossa capacidade de sonhar. Tínhamos usufruído de conhecimentos científicos e tecnológicos que nos haviam transformado numa das nações mais avançadas, só assim capaz de navegar «por mares nunca dantes navegados». Fomos um país aberto, enriquecido nessa diversidade – buscámo-la em toda a parte, e a toda a parte a levámos. Fizemos a globalização cultural, e só então o Mundo foi inteiro.
Entre outras influências, a dos judeus foi vital, mas a inveja pelas suas fortunas foi encontrar na Inquisição e na fraqueza dos nossos soberanos o rastilho da sua perseguição e da nossa desventura. O fechamento de Portugal ao Mundo só nos trouxe pobreza, material e espiritual.
No campo das minhas opções pessoais ou, porque não, do desejo, considero os portugueses um povo do Mundo vasto e diverso, e prefiro claramente a pátria da língua à outra. Não consigo sequer imaginar a minha existência sem os outros povos e culturas dos países da CPLP. Além do mais, não considero portugueses apenas aqueles que têm pais portugueses, nasceram e vivem em Portugal. São antes aqueles que se sentem portugueses, independentemente da naturalidade, da cor da pele, da religião, das opções ideológicas e até da posição geográfica. Esse Portugal está muito para além das suas fronteiras físicas e não é nacionalista. Sei, claro, que devem existir regras no campo da realidade formal para a atribuição da nacionalidade – falava de outra coisa –, mas mesmo nesta matéria defendo um país mais aberto aos “estrangeiros”, à multiculturalidade – só temos a ganhar com isso.
José María Aznar, o anterior presidente do governo espanhol, disse no Porto a semana passada: «Dizem que o multiculturalismo é o exemplo máximo de tolerância. Não é assim. Haver uma lei igual para todos é que é tolerância.»1 Eu quero interpretar o que disse como: interculturalismo sim, numa perspectiva dinâmica, sem que a defesa da diversidade cultural sirva para sustentar práticas que coloquem em causa as conquistas da nossa civilização em matéria de liberdade e direitos humanos.
A cegueira do racismo e da xenofobia combate-se pela educação, e também pela integração dos estrangeiros, no respeito pela Lei – o que exige igualmente um esforço da sua parte! Todos devem poder viver sem medo, livres, salvaguardados nas condições mínimas de humanidade, e com condições de acesso às oportunidades para prosperar pelo mérito. Ninguém deve ser oprimido ou perseguido, por gestos, palavras ou omissões. Aqui, como em quase tudo, a verdade e o exemplo são traves mestras. Quantas vezes não ouvimos entre amigos e conhecidos – de diferentes graus de formação, classes sociais e opções ideológicas – discursos díspares? Um para consumo público, politicamente correcto, e outro, entre dentes, lá vai mostrando esse desdém pelo outro que é diferente.
A ignorância cultural, as dificuldades económicas e a insegurança face ao futuro agravam este clima de conflituosidade latente. Devemos exigir a todos – nacionais e estrangeiros – um maior empenho na construção de pontes para a compreensão mútua, integrada, é óbvio, no respeito pelos direitos humanos.
Um país de navegadores e emigrantes, que dessas viagens “enriqueceu” humana, cultural e materialmente, merecia (devia) ter vistas mais largas!

1 Fonte: jornal Público