30 de janeiro de 2008

Na Linha Da Utopia


Mahatma Gandhi
1. Há sessenta anos, a 30 de Janeiro de 1948 (o ano da Declaração Universal dos Direitos Humanos: 10 de Dez.), em Nova Deli, Mahatma Gandhi, líder político e espiritual do movimento de independência da Índia, era assassinado por um extremista hindu. Esse extremista não aceitava os seus ideais simples de tolerância para com todos, valores pacíficos estes enraizados na crença tradicional hindu da “verdade” e da “não-violência”. A vida de Gandhi, assinalando um passo histórico da revolução pela paz, influenciou outros líderes na luta democrática e anti-racista de algumas nações, entre os quais Martin Luther King (EUA) e Nélson Mandela (África do Sul).
2. É importante que não se perca a memória daqueles cuja vida foi doada generosamente por ideais que hoje são benefício de todos. Nos tempos da actualidade em que o “mundo é plano” (estamos em “ligação directa” comunicacional) e em que se proclama “o fim da distância” (o tempo on-line faz-nos ser sempre presentes), cumpre-nos apreciar esses valores universalistas, persistentes e resistentes, princípios representados por pessoas que foram edificando as sociedades democráticas na base da dignidade humana. Gandhi dá a vida por essa libertação não no alicerce da força mas da sabedoria. Talvez aqui esteja um valor essencial a preservar e actualizar em cada tempo e lugar.
3. Sobre Gandhi referiu o cientista Einstein que «as gerações por vir terão dificuldade em acreditar que um homem como este realmente existiu e caminhou sobre a Terra». Tal a força e intensidade da mensagem e, também, tal a abertura de espírito honesta intelectualmente do cientista que sabe reconhecer os lugares históricos e sociais da libertação e aperfeiçoamento do todo da humanidade. Tendo sido nomeado cinco vezes para o Nobel da Paz (entre 1937 e 1948) e não tendo recebido este símbolo de reconhecimento universal, o comité algumas décadas depois reconheceria a falta cometida. Na atribuição Nobel ao Dalai Lama em 1989 viria a prestar o tributo reconhecido a Gandhi pela sua dádiva de vida.
4. Entre tantos daqueles pensamentos e chavões que ficaram gravados para a história, talvez possamos destacar: "Nós devemos ser a revolução que queremos ver no mundo". Faz-nos pensar e consciencializar que a transformação que se deseja para mundo terá de começar nas mais pequenas coisas da vida de todos os dias. Pensamento global, acção local. Tão simples e sempre tão complexo!...
Alexandre Cruz [30.01.2008]

Na Linha Da Utopia


Cultura como desenvolvimento
1. São muitas as teorias e ideias sobre a cultura, mas na realidade as propostas de cultura apresentam-se sempre como um esforço repleto de fronteiras e incertezas. Como criar dinâmicas de tal forma interessantes e estimulantes em que as liberdades, o passado, presente e futuro, se juntem a celebrar a cultura e a vida? É a pergunta que percorre o tempo da história na expectativa de uma vivência cultural de tal forma intensa como se quase não precisássemos de apelar à cultura (cívica) da participação.
2. As coordenadas do tempo (passado, presente e futuro) não podem estar fora desse palco cultural. A própria visão cultural não pode ser em círculo fechado. Um horizonte cultural rasgado colocará no mapa da vida das sociedades a cultura no primeiro plano e não do último, como se de um acessório se tratasse. É também aqui, sem saudosismos mas como factor de “pertença”, que os séculos que nos precederam terão sabido erguer um património artístico e cultural ligado umbilicalmente à vida das gentes, numa convivência natural enraizada de tal forma que os laços de geração em geração conseguiram passar essas “tradições”. Algumas admiráveis, outras, como sabemos, nem tanto.
3. Às perguntas essenciais sobre o lugar da cultura no futuro das sociedades, poderemos responder com o que pensarão aqueles que serão o “amanhã” (os jovens de hoje) sobre o assunto. Há dias um professor especializado nestas áreas dizia que de forma crescente os jovens respondem ao jeito dos “links” (ficheiros, sectores) do computador, faltando uma visão de unidade geral de toda a informação que se “descarrega”. Nestas visões crescentes “espartilhadas” que lugar para a cultura, como elo de unidade do que somos com tudo o que antes de nós foi caminho humano? Haverá futuro sem consciência do passado?
4. É neste sentido que a cultura em Portugal terá de deixar de ser um acessório num palco de cumprir calendários. Talvez deva ser vista como factor essencial de desenvolvimento social. As gentes precisam de se sentir identificadas com as suas raízes para redescobrir as dinâmicas de participação comunitária. Quanto mais existir esse reconhecimento da “tradição” (mesmo folclórica, de bandas de música, colectividades que fazem continuamente um trabalho heróico), tanto mais haverá aptidão e curiosidade no apreço do fascinante futuro. Talvez esse “elo de unidade” possa reerguer a cultura portuguesa como factor de desenvolvimento humano e social. Mais (mais aberto) e melhor!
Alexandre Cruz [29.01.2008]

Caetano Veloso ; Cucurrucucu Paloma

28 de janeiro de 2008

Na Linha Da Utopia


O mal necessário?
1. Um rasto continua da recente crise de um grande banco português: infelizmente, a desconfiança é um contra-valor que tem lugar cativo. No antes, no durante a gestão do processo, e nos “depois” que parecem sempre indecisos na neblina da dúvida. Neste caso, pouco interessam os nomes e as coisas concretas; interessa bem mais compreender esta postura que depois traz para a casuística das situações uma mentalidade aprisionada pouco liberta/libertadora.
2. Mais ainda, dir-se-á que os apelos reclamantes do “outro lado” da moeda têm sido de contínua solicitação de mais inspecções, mais investigações, mais “judiciarismo”, como se à partida não acreditássemos que será possível fazer-se um caminho na confiança da liberdade responsável. De forças partidárias que há tempos reclamavam a distribuição de lugares, até à sempre recorrida justiça inspeccionadora, a que se pode juntar a realidade e os frutos da própria autoridade de inspecção alimentar, será que precisamos sempre de um “polícia” para ser feito o bem necessário? Perguntar é procurar razões…
3. Mesmo sem os pessimismos, afinal, pelos séculos fora, o que fez do chico-espertismo do escape ao sistema uma verdadeira autoridade silenciosa minadora do rigor da liberdade? O que trouxe para alguma da mentalidade uma certa necessidade de haver sempre quem inspeccione para obter uma perfeição crescente? Porque diante de situações de demonstrada corrupção a primeira palavra de ordem é o reclamar da justiça penitenciária em vez de “vamos mudar a mentalidade” estabelecendo naturalmente a justiça como valor positivo e não meramente numa óptica criminal?... Perguntas todas e muitas mais bem antigas.
4. Uma pedagogia das minunciosas e sensíveis responsabilidades pela positiva está sempre a ver se vem à tona da água. Felizmente, em tantos quadrantes sociais ela vai aperfeiçoando o seu percurso renovador sem uma necessidade inspeccionadora; noutras ainda se prefere a lógica vigilante à aceitação livre das mudanças boas para cada um e para todos. Outros séculos foram propostas à sociedade formas pedagógicas e mesmo novelísticas de afirmar as vantagens da prática da justiça. Uma cultura diária pela positiva virá destronar a sensação do “mal necessário” de que, inseguros, precisamos cada vez mais e mais de inspecções para tudo… Qual “big brother”?! Enquanto for assim, continuamos longe; a mentalidade de fazer todo o bem pelo bem, como serviço, será o sinal do tempo novo.
Alexandre Cruz [28.01.2008]

Na Linha Da Utopia

Aprender a rezar…
1. Gonçalo M. Tavares esteve recentemente em Aveiro, na Livraria dos Serviços de Acção Social da Universidade, a apresentar o seu último romance «Aprender a rezar na era da técnica». Autor já de renome no panorama literário internacional, oriundo das terras de Aveiro, foi com gosto e curiosidade que sua “aula” foi apreendida. Possuidor de um imaginário de interpretação plural, como gosta de sublinhar, nele vão sendo enfrentadas, especialmente na forma romanceada, algumas das grandes questões do (nosso) tempo. Neste romance, posterior ao «Jerusalém», entra em cena a medicina, a política, o poder, a doença, os conflitos de família, a cidade, o crime, a força, a tecnologia, a natureza, a fraqueza, a decadência. O que é a realidade das pessoas, das relações e sociedades senão toda a conjugação sempre incerta destes factores?
2. De suas próprias palavras, somos transportados para um imaginário que se propõe reinterpretar a condição humana neste novo tempo e na relação com as “coisas” tecnológicas que estão continuamente ao nosso redor. Diríamos que elas quase que nos vão “formatando”. Simultaneamente, a inquietude surpreendente de “como” e “se” as reflexões mais ancestrais (da oração, meditação, espiritualidade) conseguem resistir a toda a envolvência técnica condicionante dos humanos (?). Eis uma questão de fundo que toca o “simbólico” da existência de sermos pessoas, onde o sentimento, a emoção, poesia nos transportam para patamares acima da ordem do “exacto”, que afinal é sempre relativo. O título da obra desperta para a compatibilidade entre duas esferas que não são contraditórias, antes pertencem à totalidade da experiência humana: o “rezar” e a “técnica”, e espírito (invisível) e a matéria (tocável).
3. Segundo múltiplos comentários, é dito que «Aprender a rezar na era da técnica» mantém o olhar sombrio sobre a condição humana. Não seguimos essa interpretação. Nada de sombrio quando se “procura”. Pelo contrário, o não interrogar, o não arriscar, o não tentar conjugar contemporâneo da pluralidade (rezar + técnica) é o que surge como mais sombrio. Talvez do título o verbo “aprender” nos coloque, verdadeiramente, em caminho. No fundo, nas fronteiras da procura do sentido, espelhadas em todas as metáforas que criam proximidades com o indizível, todas as indiferenças esbatem-se e os próprios agnosticismos ou ateísmos perdem a sua “razão”… Talvez, tantas vezes, o pior de tudo seja uma questão de linguagem desalinhada… Enquanto formos humanos continuaremos a procurar uma unidade existencial entre o que “sentimos” e as “coisas” que usamos. Afinal, “rezar”, na essência, significa esse “diálogo” (sempre criativo) da intemporalidade humana. Tão diferente de palavras clonadas... É bom “aprender” da dinâmica (cerebral) aberta a Todo o diálogo de todas as coisas.
Alexandre Cruz [27.01.2008]

Portugueses de sucesso

Diogo Miguel, Campeão Europeu no Campeonato Europeu de Orientação, categoria M18 (Junho de 2007). E concilia esta actividade desportiva com o seu curso de Medicina

Caucus

Um blog que interessa seguir.

Fim de Auschwitz

Dia Internacional Vítimas do Holocausto
Presidente da República evoca "dever de memória"
Aníbal Cavaco Silva marcou presença numa cerimónia na Sinagoga de Lisboa para "honrar a memória" das vítimas de um horror "que todos temos o dever de falar".
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Cavaco Silva esteve bem ao ir a esta cerimónia. tem havido muita conivência com tentativas de esquecimento organizado.

Suharto

Morreu o velho ditador indonésio, de que gritei o nome seguido de coisas ainda mais feias. Outros tempos, e a defesa de uma Causa que me foi mordendo a partir da adolescência. Com toda a mudança que tem ocorrido, oxalá venha uma Indonésia diferente, porque a que conheci era muito à imagem do seu presidente - corrupta. Ou seria o presidente à imagem da Indonésia?
Xanana, o primeiro de Timor, foi ao funeral. Ele que esteve preso sob as garras de Suharto, ele que viu o seu povo massacrado sob as suas ordens - porquê? Porque é um homem inteligente e quer a paz, o futuro.
No JN pode ler-se: «"Até que enfim!". A reacção, em jeito de desabafo e sem hipocrisia, de Ana Gomes à morte do antigo ditador indonésio Suharto traduz o estado de espírito de muitos que viverem o drama do povo timorense. » Pois não é nada o meu. Gostava que ele tivesse sido chamado à justiça, mas não me agrada nunca a morte de uma pessoa, por pior que seja.

Bom dia, boa semana

Muito bom dia. De volta para blogar. Vamos ver se não perco o rancor.
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Sugestões a acompanhar: no aniversário do nascimento desse grande homem, português, universal, que foi o Padre António Vieira, não podem deixar de visitar o site comemorativo. E ainda o Fé & Justiça XVI.
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Noutra área, mas onde também há um Centro Juvenil Padre António Vieira, foi actualizado o site do Prof. Almeida Serra sobre Timor. A não perder!

Para ver, sem som, mas para ver!

Camaradagem!
http://www.youtube.com/watch?v=rZslMqjOmSs

25 de janeiro de 2008

Parabéns Eusébio!

Seguindo uma dica do fernando Martins, e roubando a imagem, parabéns grande Eusébio. Guardo com muita estima a bandeira nacional que tu me assinaste em Díli no Liceu Francisco Machado (actual Universidade Nacional). Grande momento aquele em que um estudante te perguntou se a lenda, aquela lenda de que uma vez tinhas arrumado com um guarda-redes, era verdade. e logo brincaste dizendo que não eras assim tão mau, mas que um dia mandaste, de livre, na cabeça do guarda-redes do Belenenses, que tinha chamado uns nomes feios à senhora tua mãe, e ele ficou mal.
Até em Timor correm lendas tuas, e os miúdos que jogam na areia da praia herdam o sonho de vir a ser como o Pantera Negra.
Grande Eusébio!

Foi o tabaco, agora ainda vai ser a gordura...

Estudo de Isabel do Carmo
Portugueses cada vez mais gordos
É preciso tomar medidas "urgentes" e "agressivas"para combater aquele que é um problema de saúde pública, alertam os especialistas. 39,4% dos portugueses têm peso a mais.
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Estamos a caminho da sociedade saudável, nem que tenhamos de contar com o valioso trabalho da ASAE. Se o país andava torto, agora temos um Xerife que nos vai pôr todos direitinhos.

O Prelúdio

Aqui fica também um soneto de José Miguel Leal da Silva.

Jornal "O Prelúdio"

Voltarei a publicar fragmentos do jornal "O Prelúdio", do Liceu Alexandre Herculano, no Porto. Aqui fica mais um poema do aluno Manuel Alegre, há muitos, muitos anos.

24 de janeiro de 2008

Na Linha Da Utopia


O recuo da liberdade
1.
Claro está que a liberdade não recua por si pois é sempre sinal de “relação”, e não se dizer esta afirmação sem a sua devida comprovação. A tese é demonstrada por factos concretos no relatório anual da Freedom House, sobre a situação da liberdade e democracia no mundo. Esta entidade foi fundada há 60 anos por Eleanor Roosevelt, a par de outros membros, no aprofundamento dos inúmeros tratados de paz e da democracia. Este relatório começa com a ideia de que «o ano de 2007 foi marcado por um recuo assinalável da liberdade global» (Público, 23 Janeiro). Nomeando países e situações concretas, dando especial destaque à Rússia e à China, o relatório chega à conclusão de que é a primeira vez que nos últimos 15 anos se verifica o segundo ano consecutivo de perca nos índices da liberdade global.
2. Desde a liberdade de imprensa às novas tecnologias da comunicação, das situações mais variadas na sociedade civil às corrupções de estados, o estudo elaborado mostra-nos as tendências do futuro da liberdade. Como sabemos, após a queda do muro de Berlim (1989) pensava-se que, corrigidas as fronteiras do liberalismo económico, entraríamos finalmente numa era global de desenvolvimento justo e pacífico em que a liberdade e a democracia, propostos como valores ocidentais, teriam a sua abertura exponencial a todo o planeta. Tal facto não se concretizou, havendo hoje claramente retrocessos que questionam os modelos futuros, provindo uma fatia desta perca de credibilidade democrática dos simbólicos unilateralismos da última (quase) década norte americana.
3. A conclusão, parece, vai-se tornando clara. Com o emergir em força fulgurante dos impérios orientais da China (com Japão e Índia), os designados valores do Ocidente que se pensava virem a ser hegemónicos, vão perdendo a força capaz de modelar a globalização em curso. Vai sendo um facto de “perda” que também se pode observar no emergir de novas autoridades (e mesmo autoritarismos) diante da indiferença democrática em libertinagem… Que força de impressão sócio-política virão a ter no mundo os paradigmas orientais (na sua visão do trabalho, da sociedade, da pessoa e dignidade humana)? Eis a questão do futuro! Nesse novo cenário é…por um lado, uma riqueza pois temos sempre tanto a aprender dos outros; por outro lado, a (dúvida) certeza que começa mesmo a revestir-se de significado essencial o sabermos que “identidade” de valores assumimos como referenciais comuns. As obras sobre as raízes do ocidente continuam a proliferar; na encruzilhada, saberemos melhor para onde vamos!
Alexandre Cruz [24.01.2008]

Arredado

Tenho andado arredado do blog. Não tem havido blog, com a honrosa excepção dos artigos do meu bom amigo Padre Alexandre, nem tem havido crónica no Diário de Aveiro. Mas voltarei em breve.
Ontem estive com um amigo que é daquelas pessoas grandes, maiores, que me dá a sorte de ser meu amigo: o historiador e professor José Mattoso. Uns momentos de qualidade, que nos tornam os dias maiores.
O nível da maioria das conversas que vamos tendo fica muito aquém dos desejos. É assim na província. Como é na metrópole?

23 de janeiro de 2008

Na Linha Da Utopia

E os petiscos regionais?
1. Naturalmente que nada está em causa numa intervenção que procura melhorar as condições de higiene e de qualidade alimentar. Essa garantia de protecção da saúde é sempre bem-vinda, no esforço da melhoria de um serviço para o bem de todos, evitando os maus hábitos do típico improviso português, também à mesa. Mas que essa intervenção oriente para uma uniformidade de procedimentos à mesa é algo que deita a perder séculos de riquezas regionais tão enaltecedoras da nossa história e tradição. Haverá uma fronteira, sempre a discernir, entre uma qualidade necessária a garantir em termos de higiene e o apreço pelas nossas origens e riquezas tradicionais, estas que são a fonte de apreço em sectores como o turismo e a gastronomia.
2. Sendo certo que quando não há condições mínimas não haverá outra solução, todavia, são manifestamente insuficientes as leis (feitas por quem conhece as “raízes” do país?) que num instante mandam fechar, como se não existissem pessoas e outros valores envolvidos. Mesmo para além da certificação de produtos regionais, sempre conducentes a uma industrialização da qualidade relativa, vemos muita gente a pedir um equilíbrio de procedimentos que consiga preservar no bom senso aquilo que são, que somos, mesmo como “petiscos regionais”. Se assim não for, uma uniformização à mesa conduzirá, a médio prazo, ao “plastificado” dos mesmos produtos em série, tudo igual, de norte a sul. Se Portugal não tivesse uma gastronomia riquíssima em zonas regionais que espelham a ancestralidade típica e se não tivéssemos no turismo uma tábua de salvação, talvez se pudesse compreender a opção.
3. Neste momento a “batata quente” (talvez não seja batata doce!) anda entre a autoridade competente e os legisladores. Nestes processos talvez tudo tenha sido falado, menos a urgente e essencial preservação daquilo que patrimonialmente à mesa nos caracteriza (?). Muito acima das questões de higiene e segurança alimentar (valores fundamentais sempre a preservar como “qualidade”), o que acontece é reflexo das tendências uniformizadoras dos tempos da globalização que vivemos. Como garantir a qualidade necessária diante da premente preservação da nossa identidade cultural, daquilo que nos caracteriza à mesa? Eis a questão fundamental (não apressada) para não vermos um país futuro de norte a sul com a mesma mesa, onde tenham desaparecido aqueles “petiscos regionais” que nos falam da nossa história e do paladar da nossa cultura.
Alexandre Cruz [23.01.2008]

NA LINHA DA UTOPIA

O “Risco”
1.
A história é revestida de equilíbrios provindos de “choques”. Bom seria que esses “choques” não existissem, mas eles são um facto. O famoso “Crash” dos anos 30, de que ouvimos falar como novidade em tempos, trouxe consigo um efeito dominó típico de estarmos e vivermos em rede. Hoje, mais que nunca sublinhe-se, a intensidade da “rede” é elevadíssima, tempo on-line, para o bem, para o menos bem e mesmo para o mal. Os mercados estão alavancados uns nos outros, num medir de forças ao segundo e num jogo mediático tornado de tal maneira forte em que, tantas vezes, valoriza-se mais o poder da imagem virtual que o real das condições económicas. Há já alguns anos, lembramo-nos do “fim” de algumas grandes empresas globais dos EUA que assentavam a sua lógica nos planos da virtualidade, até que ruiu…
2. A noção de “risco” está aí, novamente demonstrada. “Risco” e “Crash”, palavras a evitar dizer nesta estratégia de não contagiarmos o pessimismo das bolsas e dos mercados. Com antídoto para o “risco” aposta-se na palavra “confiança”, visando recuperar os equilíbrios perdidos. Só que estes, afinal, andavam mais ilusórios que reais. Tal como, por princípio, uma pessoa ou família não pode gastar mais que o que ganha ou tem, assim também quanto maior eram os índices de especulação dos mercados (nos EUA, desde há meses), maior será no reajustamento a crise. A recente crise dos mercados internacionais, entre as mais variadas razões, também demonstra que a virtualidade dos mercados mais dia menos dia acaba por descer à realidade, e que todos – uns com os outros - estão seguros por um fio comum. O que acontece em Nova Iorque, chega até nós, e o que se sente em Paris tem impactos em Tóquio, numa interdependência que impõe reciprocidades no reajustamento das situações de crise.
3. Os analistas da especialidade têm dito que as quebras rivalizam com o 11 de Setembro 2001, e numa “vertigem” que obriga a acompanhar o fuso horário das diferentes bolsas mundiais que unem as grande capitais do mundo. É a globalização dos mercados, que desafia à globalização da cooperação, como acontece nestes dias com o povo moçambicano vítima das cheias. À ideia global, desde os séculos XVI pertence a noção de incerteza e insegurança, pois «viver numa época global significa a necessidade de enfrentar uma série de novos factores de risco. Em muitas situações teremos de ser mais atrevidos do que cautelosos no apoio que dispensamos à inovação científica ou a outros tipos de mudança. Ao cabo e ao resto, uma das raízes da palavra “risco”, no português original, levou à criação de outra palavra que também significa “ousar” (Anthony GIDDENS. O mundo na Era da Globalização: 43). Seja uma globalização da ousadia mais justa e solidária.
Alexandre Cruz [22.01.2008]

21 de janeiro de 2008

Na Linha Da Utopia

A Tri-Unidade Ecuménica

1. É um hábito anual que se poderia (e deveria) prolongar por todo o ano: mensal, semanal, diário. Um dia lá chegaremos, porque um infeliz dia de lá saímos. Este ano, de 18 a 25 de Janeiro (25 de Janeiro é celebrada a conversão de São Paulo – acontecimento que marca a matriz do espírito ecuménico), comemora-se os 100 anos da primeira Semana de Oração pela Unidade das Igrejas Cristãs. Foi no ano de 1908 (um ano depois da fundação do escutismo mundial por Baben Powel), em Graymoor - Nova Iorque, nos Estados Unidos, que pela primeira vez (de que há registos), após as grandes divisões seculares, os cristãos de diferentes igrejas se reuniram a orar pela unidade. Talvez hoje pareça estranhíssimo dizermos que antes as igrejas cristãs não se falavam…; para compreendermos bem o alcance e o progresso deste século teremos de ter presente a triste história das trágicas intolerâncias dos séculos XVI-XVII...
2. As distâncias culturais e linguísticas (não havia internet nem um “inglês universal”), uma cristandade de multidão de que os mosteiros foram sendo as sedes culturais, uma bem-vinda irreverência desinstaladora das comodidades da religiosidade imperial, a situada incapacidade de diálogos como entendimento das diversidades (particulares) na unidade (essencial), a perspectiva de uniformidade igualitarista em vez da complementaridade das diferenças, entre tantas mil-e-uma complexas razões terão estado na origem das divisões das igrejas cristãs. No séc. XI (ano 1054), a fractura a oriente (ortodoxa) mais por razões de cultura; no séc. XVI, a divisão (protestante) no centro da Europa, por razões filosófico-teológicas da ordem da salvação e interpretação da Escritura. Uma complexidade de aspectos que entranhou o ADN colectivo de que uns é que eram proprietários da salvação e outros não. Sem relativismos, no limite as maiores atrocidades na catolicidade foram cometidas e as igrejas o reconhecem.
3. Os tempos são outros. Há cem anos assim essa “corrente” tolerante e de unidade foi semeando proximidades no conhecimento das diversidades. Sem medos de perder identidade. Para além do aparato exterior, quanto mais conhecermos as razões de cada diversidade mais nos sentimos em unidade. O mesmo acontece com os seres humanos, é imensamente mais o que nos une que o que nos separa. O caminho é sempre o diálogo (Vaticano II). Sem ingenuidades simplistas mas na purificação da memória (João Paulo II). Com todos os aprofundamentos rigorosos e discernindo entre o que são os dispensáveis acessórios e o ESSENCIAL que importa potenciar. O apelo continua a interpelar: «Que sejam UM». É irreversível, mas só com coragem dos líderes, o povo seguirá. Quanto ao designado Espírito Santo, Ele sempre quis a UNIDADE, Ele a vive na Trindade. Voltemos a Oração Ecuménica para nós e para a história que temos a construir. Deus não nos dispensará, mas sem (o Seu) Amor adiamos, adiamos...
Alexandre Cruz [20.01.2008]

17 de janeiro de 2008

Na Linha Da Utopia


Que Sapienza?!
1. “Sapienza” é palavra italiana que significa “sabedoria”. A Universidade La Sapienza de Roma é uma prestigiada universidade, hoje pública, que nasceu a 20 de Abril de 1303 por decreto papal de Bonifácio VIII. É uma das mais antigas e maiores universidades do mundo, com cerca de 150 mil estudantes. À sua história pertencem momentos conturbados da própria história da Europa e, dentre as várias reformas de que foi alvo, destaque-se mesmo a Reforma Napoleónica. Na natural preocupação de confrontar conhecimentos com intelectuais de todas as épocas, a Universidade La Sapienza, aberta à pluralidade de expressões, desta vez convidara o teólogo papa Bento XVI. Saudavelmente, tal como vai convidando intelectuais de toda a ordem filosófica, política e religiosa, desta vez o livre convite dirigia-se a uma das personalidades do mundo cultural, que aceitara com o maior prazer.
3. O que não seria nenhuma notícia de especial acabou por sê-lo. Um grupo de professores, intelectualmente mais uma vez descontextualizado afirmações (de há anos) deste pensador, mobilizou opinião contra a sua vinda. Rapidamente os estudantes foram apanhados na rede que ampliaram, gerando-se o mau estar com proporções anuladoras da visita de Bento XVI. Muito para além de questões de religião, este cenário, primeiramente, diz-nos que qualquer personalidade que represente uma determinada comunidade corre hoje o perigo de não ser bem-vinda ao “espaço público” de todos. Sinal de intolerância das liberdades? Segundo, porventura, na falta de qualidade racional, pode-se abrir palco a ideias de ditadores mas fecha-se a porta à liberdade de expressão do confronto saudável de ideais e valores… Caminha-se “anti”, será laicismo intransigente? E a LIBERDADE proclamada?
3. É certo que existe uma factura histórica que se paga sempre no presente, quando as hegemonias outros séculos foram impostas à força, tanto da parte de sistemas filosóficos, políticos e religiosos. Mas as intolerâncias crescem tanto mais quanto menos a cultura da racionalidade iluminar o pensamento. E é aqui que a exclusão de Bento XVI, como dizem vários pensadores ateus e agnósticos, acaba por ser sinal de desonestidade intelectual para onde deixámos cair os valores e a razão. Defensor dos princípios da laicidade, Ernesto Galli, editorialista do jornal Corriere de la Sera, escrevia que este gesto traduzia «uma laicidade oportunista, alimentada por um cientismo patético, arrogante na sua radicalidade cega». Correrá Ernesto Galli perigo de vida?! A este caso poderemos juntar (em âmbitos diversos) o da visita de Dalai Lama ou a famosa aula do papa na Universidade de Ratisbona do ano passado, onde as frases retiradas do contexto foram o que foram.
4. Independentemente de todas as histórias do passado, e de todos os lados da barricada, precisa-se de uma ordem da racionalidade justa e honesta que não se feche à pluralidade de opinião e compreenda o pensamento “lendo” até ao fim. Quando não, adeus liberdade ocidental! Claro, de tudo isto a única preocupação será a Liberdade, na Verdade, com Humanidade. Embora marcando o timbre do tempo, tudo passa; em tempo global, as aberturas são mesmo irreversíveis. Sejam ao serviço da Humanidade aberta. Alexandre Cruz [17.01.08]

16 de janeiro de 2008

Na Linha Da Utopia


A Identidade à Francesa!
1. A força cultural de certos países foi e vai imprimindo as suas próprias modas como hábitos de pensar e viver. Tantas vezes uma impressão quase imposição de modelos que, herdando momentos decisivos da história do passado, acabam por “ir à boleia” da sua memória não se vendo no presente como sair do pântano... Quantos clubes e mesmo instituições cristalizaram no tempo e nos seus tempos gloriosos passados! Claramente salta à luz do dia que, com a velocidade dos acontecimentos da história presente e na incapacidade da adaptação das tradições pesadas, o cordão umbilical da ligação à contemporaneidade se vai perdendo. Isto mesmo aplicar-se-á às linguagens, às instituições de ensino, às instituições políticas e mesmo religiosas. Hoje, o ritmo de tudo será diário, e numa transversalidade de processos andantes e, aos níveis institucionais, necessariamente transnacionais. Nada de novo; ou melhor, tudo novo, quando não, o comboio passa…
2. Neste sentido muito concreto, quase que se poderá perguntar: que vale ao Benfica ter uma história gloriosa se hoje a “coisa” não funciona? Que valerá aos portugueses a lembrança nostálgica dos feitos heróicos de há cinco séculos se hoje não se beber desse dinamismo criativo e visionário? Que vale à França ter marcado a história com uma Revolução Francesa (1789) de alguns valores universais, mas que depois se tornaram nacionalistas… conduzindo a sua própria história com défices interculturais? Enfim, tudo tem o seu valor… numa história que nunca se deve (nem pode) apagar. Mas por vezes parece que preside às relações das nações um contraditório: por um lado não se dá lugar às grandes mensagens históricas que construíram o património de valores universais, por outro, quando dá jeito, puxa-se pelos galões da história particular de cada nação para a garantia de superioridade sobre “o outro”…
3. A própria história, afinal, que se constrói todos os dias, encarrega-se de diferenciar positivamente o que tem valor. O segredo dos portugueses no séc. XV-XVI, da Holanda no séc. XVII e dos Estados Unidos no séc. XVIII-XX foi a capacidade de abertura cosmopolita, lendo a “diferença” como “complementaridade” numa unidade superior. O “fechamento”, quer por motivações políticas, filosóficas ou religiosas, sempre conduziram ao isolamento asfixiante, ao princípio do fim. O que acontece em França, diríamos, é consequência natural das opções seculares exclusivistas sobre os “outros”... Uma identidade “à francesa” que vai perdendo terreno no panorama social, cultural, literário, estando a cidade de Paris sem a “Luz” que outrora foi impulso na ordem da racionalidade.
4. Neste particular, Nuno Rogeiro há dias destacava que, diferentemente dos relacionamentos nas comunidades hispânicas e francófonas, as comunidades lusófonas vivem uma (quase generalizada) proximidade sadia… O que faz com que muitas das ex-colónias francesas e mesmo inglesas da África do futuro aprendam o “português” como a língua dos relacionamentos culturais e comerciais. Também as últimas presidências francesas têm demonstrado (e continuam) que, em termos de liderança e visão, a “razão” das luzes anda descolorida… Entre as múltiplas identidades como pertença futura, talvez a “identidade à francesa” como sinal de modernidade tenha os horizontes mesmo comprometidos.
Alexandre Cruz [16.01.2008]

15 de janeiro de 2008

Na Linha Da Utopia


O Fórum Aliança de Civilizações
1. Está a decorrer em Madrid o 1º Fórum da Aliança das Civilizações. Na sua linha programática procura-se a “apresentação de iniciativas e projectos de alto nível para fomentar o diálogo intercultural”. Mas, mesmo com a presença de diversos prémios Nobel da Paz e do Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, a primeira nota de destaque é a generalizada indiferença da imprensa espanhola. Sinal dos Tempos?! O projecto Aliança das Civilizações foi iniciativa lançada em Agosto de 2005 por Kofi Annan e com o co-patrocínio da Espanha e Turquia, tendo sido nomeado Jorge Sampaio como Alto-Representante da ONU (14 Julho 2007). Para o país fundador, o relativo desinteresse não deixa de surpreender…
2. Destaque-se os alcances do trabalho em realização em Madrid, com personalidades da sociedade civil, política, religiões, cinema. Entende-se que a juventude e a comunicação social são eixos estruturantes nos quais apostar para o entendimento entre culturas; procura-se criar plataforma de troca de informação relacionada com o “diálogo de civilizações, religiões e culturas”; será elaborada bolsa de personalidades e peritos disponíveis para intervir sobre estas matérias, especialmente em tempos de crise; dá-se destaque às parcerias entre organizações internacionais e a Aliança, aguardando-se, da parte de diversos países, as estratégias nacionais para o diálogo cultural. Se todo este conteúdo não chega para despertar a máxima atenção, então…?
3. A lacuna da generalizada indiferença continua a confirmar que (infelizmente) se prefere o choque estridente de um atentado à verdadeira e profunda formação da consciência para a coexistência pacífica das nações. Tal como a água ou a saúde, só apreciamos devidamente quando nos faz falta. Que limitação humana (d)a ausência de memória! Já agora, para que não se perca, registemos também que a Aliança procura a criação de um espaço político “multipolar e global” com o fim de lutar contra a “falta de entendimento e de comunicação” entre as diversas concepções de mundo, destacando-se o papel dos agentes internacionais, a educação e formação, a função da comunicação social e do papel dos líderes e religiões.
4. Estamos no Ano Europeu para o Diálogo Intercultural. Uma oportunidade privilegiada de aprofundar a essência dos intervenientes e das autênticas condições do diálogo. Não chega uma visão simplista, mas uma ideia desenvolvida inclusiva do todo (do mundo). É nesta linha que, entre as temáticas, o Fórum aborda “a gestão da diversidade na era da globalização” procurando entrever os “desafios políticos no Diálogo de Culturas”. Eis o perfil do que está a acontecer; importante demais para “passar” num minuto de informação. Jorge Sampaio, optimista, reconhece que o caminho é longo, que exige “persistência e paciência”. Mesmo (na atenção) sem limites!
Alexandre Cruz [15.01.08]

14 de janeiro de 2008

Para os escritores...

Prémio Literário José Luís Peixoto 2008.

Na Linha Da Utopia


O fosso
1. Um desenvolvimento justo e harmonioso garantirá o equilíbrio dos vencimentos dos que gerem em relação aos empregados. Nos países democráticos chamados “desenvolvidos”, esse equilíbrio salarial dará o sinal do caminho certo; em países que ainda não assumiram integralmente essa concepção de justiça diária, as distâncias são exorbitantes. Nestes, “subdesenvolvidos” em relação ao ideal, o fosso é gigantesco, a ponto de em muitos países (do chamado, sabe-se lá porquê…, “terceiro-mundo”) assistirmos a líderes ditadores riquíssimos estando o seu povo mergulhado nas maiores indignidades humanas.
2. Consequentemente, quanto maior for o fosso dos reconhecimentos salariais (do patrão em relação ao empregado), maior é o atraso da ideia e do concreto da sociedade civil de um país. Há dias a revista Visão (nº 775, 10 Janeiro) trouxe a público alguns resultados, estudando os vencimentos de 25 grandes empresas. Destacava-se, entre tantíssimos casos exorbitantes que, por exemplo, o vencimento mensal de um administrador da PT daria para pagar 128 salários/mês aos trabalhadores da empresa. Diferenças abissais, de um património empresarial que, se alguns têm o privilégio de liderar vivendo folgadamente, outros, a grande maioria (que o constroem), vivem no fio da navalha da gestão da vida mensal.
3. No Portugal que, como dizem os estudiosos, não fez uma Revolução Industrial, ainda se vê muito a empresa mais como uma regalia (de quem a consegue erguer) do que como uma transversal responsabilidade social. Não está em causa o mérito da gestão daqueles que têm a arte e o engenho de “arriscar” e que, tantas vezes, sofrem no silêncio as incertezas das apostas; aqui, seja reconhecido o mérito. Mas estará, sim, em causa, toda a distância gritante de salários (entre o topo e a base) que espelha a distância (do novo-riquismo) de concepções entre quem gere e quem trabalha na obra. Afinal, que seria de uns sem os outros?
4. Este é um assunto que nos países democráticos, que querem crescer harmoniosamente na base da justiça social, está no mapa das preocupações. Pelo próprio George W. Bush dos EUA, potência mundial, esta desigualdade tem sido denunciada. Entre nós, na mensagem de ano novo, o presidente da República tocou no assunto, referindo-se aos “salários imorais (?)”. Está em causa o equilíbrio da sociedade e a consciencialização da identidade de cada pessoa na pertença à comunidade, mas onde os próprios líderes haverão de liderar pela simplicidade. O “lucro pelo lucro” e às custas da injustiça sempre foi raiz de instabilidade social. É certo que este “fosso” não é algo que se resolva de um dia para o outro, e que na sua resolução estará a responsabilidade, tanto da base como do topo. Tudo depende de que sociedade queremos, mesmo para os descendentes dos senhores do topo…
AC [14.01.08]

Na Linha Da Utopia


Preservar a raiz = Família
1. Quando do nascimento do Estado Moderno (séc. XVI-XVII), dava à luz uma identificação absoluta entre as ideias do rei e do seu povo súbdito. O ditado “cuius regio eius religio” obrigava a uma unidade de uniformidade, na qual o pensamento dos donos do poder (rei e príncipe) teria de ser religiosamente seguido pelas sociedades do antigo regime. Dessa forma, as diversidades e diferenças (especialmente na Europa fracturada das reformas) eram anuladas e, muitas vezes, combatidas até à exaustão.
2. Esse espírito subiu até à razão de estado que trouxe a liberdade da Revolução Francesa (1789). Um Estado de Direito que, benéfico na organização da “casa” da diferenciação dos poderes, cedo viria a revelar incapacidade de gerar a coexistência das diversidades e das autonomias das pessoas, das famílias, das mulheres,... Os nacionalismos decorrentes da Revolução Francesa espelham bem que essa Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) não trazia consigo a abertura à dignidade humana, vindo a colidir nas guerras do séc. XX.
3. Toda esta reflexão que apresentamos pretende sugerir que hoje estamos num tempo (humano) novo. Neste, os Estados, em democracia, têm de ser relativizados em função das Pessoas concretas na sua situação, sendo a liberdade (claro, responsável, na verdade digna) a fronteira do entendimento de todas as razões. Quanto à célula-raiz da sociedade, a FAMÍLIA, a Declaração dos Direitos Humanos (1948), que constitui uma aquisição de civilização jurídica de valor essencial, afirma que «a família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito a ser protegida pela sociedade e pelo Estado» (artigo XVI, nº 3).
4. Do dito anteriormente, consequentemente, tudo muda de cenário. Os estados (entidade sempre anónima) não são absolutos, mas sim as pessoas (“entidade” sempre real). O preâmbulo (1º) da Declaração dos Direitos Humanos considera «que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e dos seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo». Assim, a construção da paz, por isso, só é possível na base da dignidade humana comum. Nos contextos sociais que atravessamos, é neste sentido que Bento XVI alerta que «a negação ou mesmo a restrição dos direitos da família, obscurecendo a verdade sobre o homem, ameaça os próprios alicerces da paz» (nº 4 da Mensagem do Dia Mundial da Paz – 1 Janeiro 2008, com o tema Família Humana, Comunidade de Paz).
5. O desapreciar sucessivo da comunidade familiar (em paradigmas de vida e mesmo em liberdades sem referenciais de legislações europeias e entre nós), vai trazendo consigo águas inquinadas quanto ao futuro. Já os Direitos Humanos sublinham que «ninguém será sujeito a interferências na sua vida privada, na sua família, no seu lar… » (artigo XII). Bento XVI complementa destacando que, assim, «quem, mesmo inconscientemente, combate a instituição familiar debilita a paz na comunidade inteira, nacional e internacional, porque enfraquece aquela que é efectivamente a principal “agência” da paz» (nº 5 da Mensagem - Dia Mundial da Paz 2008). Sem a FAMÍLIA de sempre não haverá futuro sensível e humano. É claro, como sugere Agostinho da Silva, “o tempo que vivemos se for mesquinho, amesquinha o eterno”. Há uma classe pensante, e que sabe do valor insubstituível da família, mas que…vai deixando correr a água.
Alexandre Cruz [13.01.08]

11 de janeiro de 2008

Grande Reportagem SIC

Memória. Missionários Portugueses em Moçambique.

10 de janeiro de 2008

No site da Ecclesia


Comemorações do centenário do

Nascimento de D. Jaime Garcia Goulart
Se fosse vivo, D. Jaime Garcia Goulart, primeiro Bispo de Dili-Timor, completaria, amanhã, cem anos. Nasceu na freguesia da Candelária, na Ilha do Pico, a 10 de Janeiro de 1908. Numa iniciativa da Diocese de Angra em conjunto com a Ouvidoria do Pico e a Paróquia de Nossa Senhora das Candeias, realizar-se-ão comemorações na Paróquia natal deste Bispo Missionário.
Pelas 17h30 haverá a inauguração da Rua D. Jaime Garcia Goulart, junto da casa de São José, seguindo-se o depositar de uma coroa de flores junto do seu busto e a Santa Missa de Acção de Graças, presidida por D. Carlos Filipe Ximenes Belo, Bispo Emérito de Dili e prémio Nobel da Paz em 1996, que se desloca ao Pico para estas comemorações do centenário do nascimento do primeiro bispo de Dili.
Terminada a Missa haverá no salão da Casa do Povo local uma sessão solene com a actuação do Rancho de Natal da Casa do Povo da Candelária e uma conferência proferida por D. Carlos Filipe Ximenes Belo.
Dados históricos sobre D. Jaime Garcia Goulart
Este prelado nasceu na Candelária do Pico, em 10 de Janeiro de 1908, filho de João Garcia Goulart e de D. Maria Felizarda Goulart, primo do cardeal D. José da Costa Nunes, por parte de sua avó paterna D. Isabel Emília da Costa que era irmã do pai do cardeal. A avó materna de D. Jaime chamada D. Isabel Felizarda de Castro era, por sua vez, irmã da mãe do cardeal Costa Nunes.
Aos treze anos, em 1921, partiu para Macau onde frequentou o seminário de S. José. Alguém escreveu: "... foi para Macau com 11 rapazinhos açorianos, levados pelo Pe. João de Lima", que exercia as funções de secretário de D. José da Costa Nunes. Ainda estudante do 3.º ano de teologia foi nomeado secretário do primo, então bispo de Macau. Veio D. Jaime a concluir o curso teológico no seminário de Angra do Heroísmo, aproveitando a vinda aos Açores de D. José, onde recebeu a ordenação sacerdotal a 10 de Maio de 1931, partindo logo para a sua terra natal, a Candelária do Pico, ali celebrando a sua primeira missa em 15 desse mês. Algum tempo depois regressou a Macau ali permanecendo até 1933, ano em que partiu para Timor, onde se demorou até 1937 como comissário, muito contribuindo para a fundação do seminário menor de N.ª S.ª de Fátima na Missão de Soibada em 13 de Outubro de 1936 e destinado à formação de sacerdotes indígenas.
No ano de 1937 estava de novo em Macau e, pouco depois, em 1940, encontrava-se já em Timor, investido nas altas funções de vigário-geral das Missões.
Dili, cidade capital da província de Timor, sede do concelho e da diocese do mesmo nome, fica situada na costa norte da ilha de Timor, a 800 quilómetros da Nova Guiné, a cerca de 2400 de Singapura e a 3200 de Macau. Esta cidade sofreu grandes danos e destruições durante a II Grande Guerra e foi ocupada pelos exércitos japoneses.
Relatos da sua história dizem-nos que em 1665 foi criada a capitania-mor de Timor e que foi seu primeiro capitão Simão Luís, que levantou uma fortaleza no porto de Lifan, ali instalando a capitania da província que se manteve até 1769, data em que, por motivo de consecutivos ataques holandeses, o governador Teles de Meneses a transferiu para Dili, já então em vias de boa e segura fortificação que a defendia pela orla marítima em breve alcançando (1864) a sua elevação a cidade.
Foi nesta cidade que a autoridade papal criou em 4 de Setembro de 1940, pela bula Sollemnibus conventionibus a diocese de Dili, sufragânea da de Goa, sendo seu 1.º bispo o douto açoriano D. Jaime Garcia Goulart, que a governou desde 18 de Janeiro de 1941 como administrador apostólico e, como bispo, desde 12 de Outubro de 1945 a 31 de Janeiro de 1967. A sua sagração efectivou-se em Sidnei, Austrália, na capela do colégio de S. Patrício em 28 de Outubro de 1945, sendo sagrante o bispo D. João Panico, delegado apostólico, e co-sagrantes D. Normando Gilroy, arcebispo de Sidnei e D. João Coleman, bispo de Annidale, recebendo na altura a simpatia e homenagem de muitas individualidades. Dali partiu a dar entrada solene na sua diocese de Dili (9-12-45), que encontraria devastada e em ruínas. Exercia ainda administração apostólica, quando, em 1942, teve de deixar o bispado devido à ocupação japonesa. Eis os documentos emanados da Santa Sé (1) :
PIO PAPA, SERVO DOS SERVOS DE DEUS
Ao dilecto filho, Jaime Garcia Goulart, Administrador Apostólico da Diocese de Dili e Bispo eleito da mesma Diocese, saúde e benção apostólica. O oficio do supremo Apostolado pelo qual presidimos a todo o orbe católico, confiado à nossa humildade pelo Eterno Príncipe dos Pastores, impõe-nos o dever de cuidar com a máxima diligência de que presidam a todas as igrejas Prelados tais que saibam e possam apascentar salutarmente, dirigir e governar o rebanho do Senhor que lhes for confiado. Por consequência, como se encontra sem pastor a igreja de Dili que nós erigimos como catedral sufragânea da Igreja de Goa pela bula munida de sêlo de chumbo "Sollemnibus-conventionibus" do dia quatro do mês de Setembro do ano de mil novecentos e quarenta, Nós, ouvido o parecer dos nossos Veneráveis irmãos, os Cardeais da Santa Igreja Romana, com autoridade apostólica, elegemos-te para ela e colocamos-te à sua frente como Bispo e Pastor e outrosim confiamos-te plenamente o cuidado, governo e administração da mesma igreja com todos os direitos e privilégios, encargos e obrigações inerentes a este múnus pastoral Queremos, porém, que, observado tudo o mais que é de direito e antes que recebas a consagração episcopal e tomes posse canónica da Diocese que te é confiada, faças profissão de fé católica e os juramentos prescritos, segundo as fórmulas estabelecidas, nas mãos dalgum Bispo católico da tua escolha que esteja na comunhão e graça da Sé Apostólica, com a obrigação de enviares, o mais cedo possível, à Sagrada Congregação Consistorial, exemplares dos mesmos com a tua assinatura e a do dito Bispo e munida de sêlo.
Tendo em vista, além disso, a tua maior comodidade, permitimos-te que possas ser livre e licitamente consagrado Bispo fora de Roma por qualquer Bispo católico da tua escolha a que assistam outros dois Bispos católicos que estejam em graça e comunhão com a Santa Sé Apostólica. Pela presente Bula confiamos o múnus e mandato de te conferir a consagração ao Venerável Irmão Bispo que para tal escolheres. Determinamos, porém, estritamente, que antes de emitir a profissão e os juramentos de que acima falamos, nem tu ouses receber a consagração nem ta dê o Bispo que escolheres sob pena de incorrer nas censuras determinadas pelo direito se desobedeceres a este meu preceito.
Alimentamos, por fim, a firme esperança e confiança de que a Igreja de Dili será dirigida utilmente pelo teu desvelo pastoral e indefeso esforço, assistindo-te propícia a dextra do Senhor, e receberá, com o andar do tempo, maior desenvolvimento nas coisas espirituais e temporais.
Dada em Roma, junto de S. Pedro, aos dez de Outubro do ano de mil novecentos e quarenta e cinco ano sétimo do nosso pontificado.
PIO PAPA, SERVO DOS SERVOS DE DEUS
Aos amados filhos, clero e povo da cidade de Dili, saúde e benção Apostólica.
Tendo Nós pela Bula Apostólica "Sollemnibus Conventionibus", munida do sêlo de chumbo e datada do 1 és de Setembro do ano do Senhor de mil novecentos e quarenta, erigido em Catedral Sufragânea da igreja Metropolitana de Goa, a vossa Igreja de Dili ouvido hoje o parecer dos Veneráveis Irmãos Cardeais da Santa Igreja Romana, elegemos com a Nossa autoridade Apostólica para a mesma Igreja, ainda não provida de Pastor, o Nosso dilecto filho Jaime Garcia Goulart até agora Administrador Apostólico da vossa Diocese, e dela o constituímos Bispo e Pastor. Com esta nossa Bula a todos vós damos conhecimento disto e vos mandamos no Senhor que, recebendo com veneração e acatando com a devida honra Jaime, vosso Bispo eleito, presteis obediência aos seus mandatos e avisos salutares e o considereis com reverência como o Pai e Pastor das vossas almas de modo que ele se regozije, no Senhor de vos ter como filhos dedicados e vós de o ter como Pai benevolente.
Outrosim determinamos e mandamos que sob o cuidado e obrigação do mesmo Ordinário, o qual presentemente rege a vossa Diocese, seja lida publicamente esta Nossa Bula, do púlpito da Igreja Catedral, no primeiro dia de preceito que se seguir à sua recepção.
Dado em Roma, junto de S. Pedro, no ano do Senhor de mil novecentos e quarenta e cinco, no dia dez do mês de Outubro no ano sétimo do Nosso Pontificado. Pelo Chanceler da Santa Igreja Romana, Cardeal Januário Granito Pignatelli di Belmonte, Decano do Sacro Colégio.
Nessa longínqua diocese teve papel preponderante o realizado por Salesianos, jesuítas, pelas Irmãs canossianas e dominicanas do SS. Rosário. Elementos estatísticos indicavam que em 1966 possuía 15 paróquias para 131 455 fiéis de entre uma população de 574.805 habitantes, ao cuidado de quatro dezenas de sacerdotes.
Dando mostras de cansaço e com a saúde abalada, D. Jaime pediu à Santa Sé a nomeação de um bispo coadjutor com sucessão, vindo a resignar em 31 de Janeiro de 1967, permanecendo como bispo titular de Trofimiana. Difundiu um comunicado alegando as razões do seu afastamento. Exara-se seguidamente esse documento:
COMUNICADO OFICIAL (2)
Devido ao meu precário estado de saúde e fadiga, após tão longos anos de permanência em Timor, e tendo verificado que, por esses motivos, não podia atender a todas as obrigações do meu cargo, solicitei, há dois anos, à Santa Sé um coadjutor, que, de facto, me foi benignamente concedido na pessoa de Sua Ex. Revm.ª o Senhor D. José Joaquim Ribeiro.
Desde então ficou prevista a minha resignação do cargo de Bispo da Diocese de Dili e, nessa previsão, o meu Coadjutor foi já nomeado com direito de futura sucessão.
Encontrando-se na Diocese, há quase um ano, Sua Ex.ª Revm.ª o Senhor D. José Joaquim Ribeiro, e não tendo desaparecido, antes pelo contrário agravado, como era de esperar, as razões que me levaram a solicitar o Coadjutor, entendi ser dever de consciência submeter ao Santo Padre, como efectivamente submeti em Setembro último, o meu pedido de resignação e exoneração.
Pode causar alguma estranheza, tomando em consideração apenas a minha idade, o facto de eu ter formulado esse pedido.
A verdade, porém, é que todas as circunstâncias apontadas e ainda mais o condicionalismo particular desta vasta Diocese, me colocam no caso, em que, segundo a mente do Concílio Vaticano II e as subsequentes recomendações do Santo Padre, se torna aconselhável a resignação de um Bispo. Aguardemos, pois, a decisão de Sua Santidade, que espero não tardará e há-de ser, como sempre são todas as decisões de Vigário de Cristo, para maior glória de Deus e bem espiritual das almas. Dili. 28 de Dezembro de 1966. Jaime Garcia Goulart, Bispo de Dili.
Ao pronunciar as palavras da sua despedida da diocese timorense, que serviu anos a fio desveladamente, D. Jaime exprimia-se comovido: há trinta e três anos, pela primeira vez , pisei terras de Timor e tomei contacto com a sua gente. Desde então para cá, se tem vindo, dia a dia, apertando os laços de espiritual afecto, que me ligam a este bom Povo Timorense, laços que ainda mais fortemente a ele me vinculou a cruz episcopal Por isso, certamente me não levareis a mal que, na angústia deste momento, eu me ampare a alguns pensamentos de conforto e esperança. De todos o maior é o de Ter podido dotar a diocese de um seminário e de ter visto já os seus primeiros e benéficos frutos. O Reino de Deus em Timor não se dilatará nem consolidará sem numerosos e santos sacerdotes timorenses. Outro motivo de satisfação: o consolador e sempre crescente aumento da comunidade cristã. Recebi a diocese com 30 000 católicos. Entrego-a com mais de 150 000. Ainda e só mais uma reconfortante verificação: durante o meu episcopado vi subir o número de alunos das escolas missionárias de 1500 para 8000. Cessam as minhas funções de pastor directamente responsável por esta porção dilecta da Grei Cristã. Não cessam, porém, as de bispo da Igreja Católica. De algum modo continuo presente em Timor. Presente, por dever de membro do colégio Episcopal, presente por afecto e gratidão; presente nas minhas orações e nos meus sacrifícios, presente pela minha imorredoira saudade.
D. Jaime foi agraciado pelo governo português com o oficialato da Ordem do Infante D. Henrique, que lhe foi concedido por decreto de 23 de Maio de 1964. Considerado de uma grande e proverbial modéstia, D. Jaime quando na intimidade e em devaneio com os seus mais íntimos revela-se um conversador inigualável e extremamente afectuoso e simples. Com uma "cultura enciclopédica" ao que se afirma sem favor a todos tem o dom de conquistar seja qual for o credo, a ideologia ou a nacionalidade. Nele não residem preconceitos de raças ou de cor. A palavra divina. proferida do alto do púlpito, rica de imagens, de saber e de experiência, a todos se dirige por igual.
D. Jaime regressou aos Açores em Agosto de 1967 e foi residir na Horta, ilha do Faial e depois no Pico, onde dirigiu a obra da Casa de S. José, na Candelária da ilha do Pico. Viveu nos últimos anos da sua vida em Rabo de Peixe e em Ponta Delgada em casa de familiares seus, na ilha de S. Miguel, e Angra teve ocasião de o rever e relembrar por altura das solenidades com que se reiniciou o culto da Sé de Angra, em 3 de Novembro de 1985. "Dedicado de alma e coração ao seu povo timorense", recebeu a visita de D. Carlos Ximenes Belo, que o inteirou da situação do martirizado povo.
Faleceu, com 89 anos, na cidade de Ponta Delgada a 15 de Abril na clínica do Bom Jesus, onde se encontrava internado deste 8 de Março daquele ano (3) .
_______
Notas
1. Seara, direcção e edição do P.' Ezequiel Enes Pascoal, Imprensa Nacional de Timor, ano 1, n.º 1, Janeiro 1949.
2. Boletim Eclesiástico da Diocese de Dili, ano V. n.,, 1. 10 Jan. 1967
3. Cf. Boletim Eclesiásticos dos Açores, nº 848, 1997
Nacional Agência Ecclesia 09/01/2008 13:48 13941 Caracteres
112 Diocese de Angra

Frases

«Humilhando-te, humilho-me a mim mesmo."
Martin Luther King, JR.
(uma oferta do Miguel Oliveira)

Leituras

No Outras Margens:

Liberalismo de pacotilha
Os melhores colunistas e comentadores dos jornais portugueses andam por estes dias algo irritados com a crescente regulação dos comportamentos individuais pelo Estado ou até, simplesmente, com o esforço para efectivamente sancionar violações de regras já existentes. A coisa vai desde a proibição de fumar em espaços públicos onde não se consiga efectivamente separar fumadores de não fumadores até ao papel usado para embrulhar as castanhas assadas, passando pelos métodos de fabrico e venda das bolas-de-berlim. A irritação que isto suscita nem sequer é recente: ela já tinha caracterizado as reacções públicas aos radares instalados nas ruas de Lisboa, aos parquímetros ou ao (mitológico) fim dos joaquinzinhos às mãos da União Europeia. Mas, apesar da enorme diversidade dos pretextos, são três, e apenas três, os argumentos a que mais frequentemente recorrem os que se dizem incomodados com estas coisas.
O primeiro é utilizado pelos autoproclamados defensores do "património cultural". Há dias circulava uma petição onde, a propósito de uma alegada proibição de servir cafés em chávenas de porcelana, se invocavam ameaças à "cultura" e à "tradição", esmagadas pela fúria normalizadora e moralizadora da ASAE. O facto de essa proibição nunca ter realmente existido já seria um indicador interessante do grau de racionalidade do argumento, mas nem é o único. Quando há uns anos se discutia uma possível diminuição da taxa de alcoolemia, os empresários dos sectores da restauração e vitivinícola invocavam, com surpreendentes preocupações antropológicas, a secular "cultura do vinho" em Portugal como algo que seria destruído por semelhante medida. Nada impede que aqueles cujos interesses são afectados por determinadas leis utilizem a retórica que muito bem entendam para esconder os argumentos mais absurdos e obviamente interesseiros, mas nada obriga a que os levemos a sério. E não consigo afastar a ideia, porventura injusta, que mesmo aqueles que desinteressadamente invocam argumentos "culturais" a propósito destes assuntos são um pouco como aqueles turistas do Norte da Europa que nos visitam todos os anos: o "pitoresco" é muito giro para visitar e saber que existe, desde que sejam os outros a levar com ele todos os dias.
Um segundo argumento é aquele que vê a proibição pelo Estado de determinados comportamentos individuais como um invariável atentado à liberdade, ou até um primeiro passo na abolição de direitos políticos fundamentais. Ao invocar-se a este respeito uma concepção liberal da autonomia individual e do papel do Estado, até se dá a este argumento uma embalagem sedutora. O problema é que estes liberais não devem ter lido o seu John Stuart Mill até ao fim. Para o liberalismo, cada indivíduo é o melhor juiz dos seus próprios interesses, e não deve caber ao Estado proibir determinados comportamentos, mesmo que eles possam ter consequências nocivas para aqueles que os adoptam. O uso da coerção nestas circunstâncias, mesmo com as melhores intenções, pode e provavelmente deve ser visto como paternalista e contrário à liberdade. Mas até os libertários reconhecem, seguindo Mill, que esse raciocínio se aplica exclusivamente aos comportamentos que não têm consequências nocivas para os outros. Quando essas consequências existem - como é manifestamente o caso do fumo em locais públicos, do estacionamento selvagem ou da condução sob efeito do álcool ou em excesso de velocidade - a invocação da liberdade individual como justificação para a não intervenção do Estado é insustentável. E é até possível contemplar que se proíbam comportamentos que têm consequências nocivas exclusivamente para aqueles que os adoptam sem que isso implique necessariamente uma colisão com a liberdade de escolha individual. Como explicava recentemente Richard Posner a propósito da proibição da venda de alimentos com gorduras sintéticas em Nova Iorque, não é preciso aderirmos a uma concepção paternalista e moralista do papel do Estado para compreendermos como, para os cidadãos, aceder a toda a informação necessária para fazer escolhas autónomas e informadas pode ser excessivamente oneroso. Por exemplo, esperar que os cidadãos saibam exactamente os riscos associados à toma de todos os medicamentos que as farmacêuticas queiram colocar no mercado é obviamente irrealista, e é por isso mesmo que delegamos decisões sobre essa matéria em agências reguladoras e em especialistas. Da mesma forma, delegar no Estado a responsabilidade de proibir determinados tipos de produtos, alimentos e modos da sua produção e confecção não contraria necessariamente o exercício de liberdades individuais, até porque, nas democracias, os termos dessa delegação podem ser revistos periodicamente. Os liberais, antigos e novos, têm assuntos bem mais graves com que se preocuparem na sociedade portuguesa.
Resta um terceiro argumento, o dos fatalistas. Estes até desejariam que os portugueses fossem mais ou menos civilizados e capazes de imaginar que as regras não são apenas para os outros. Contudo, julgam ser tal objectivo impossível, e muito menos por decreto. O que seria bom, afinal, era que fôssemos como os "anglo-saxónicos", que se regem por normas implícitas de comportamento e convivência e que partilham uma cultura cívica, em vez de estarem sujeitos a violentas e potencialmente ineficazes sanções legais. Mas suponho que estes fatalistas nunca terão tentado entrar com um carro no centro de Londres, estacioná-lo em segunda fila em Frankfurt ou deixá-lo parado em frente a um terminal em JFK "só um bocadinho que estou à espera de uma pessoa". Se o tivessem feito, teriam talvez ficado com dúvidas sobre aquilo que realmente causa o comportamento "civilizado": a cultura cívica, ou, pelo contrário, instituições, regras e um aparelho coercivo disposto a aplicá-las sem contemplações. Quem tenha vivido algum tempo nestas sociedades terá certamente verificado como pessoas de todas as culturas, "cívicas" ou não "cívicas", se civilizam com uma rapidez surpreendente.
O moralismo com que a legislação sobre o tabaco é apresentada por alguns dos seus defensores incomoda-me, e o mesmo sucede em relação ao crescente espalhafato da actuação da ASAE. Mas incomoda-me ainda mais verificar como pessoas que julgamos serem sensatas se revelam, neste caso, totalmente incapazes de se posicionarem sobre estes temas sem ser com um absolutamente transparente egoísmo, ainda por cima mal disfarçado de uma espécie de liberalismo de pacotilha, ele próprio moralista e paternalista, incapaz de imaginar que aqueles que querem apenas um pouco menos de caos e um pouco mais de respeito nas suas vidas quotidianas também amam a liberdade. Mas suponho que, num certo sentido, isso acaba por confirmar em parte os argumentos dos fatalistas: quando são os principais responsáveis pela aplicação das regras a minar a sua legitimidade no primeiro momento em que elas se aplicam a eles próprios, tal como sucedeu com a argumentação patética do director do ASAE no caso do "fumo do casino", que mais poderíamos esperar?

Na Linha Da Utopia


A triagem das ideias
1. No mundo da liberdade de mil-e-uma-opiniões, visões, perspectivas, sugestões, convites, publicitações, é a cada pessoa que cabe a determinante opção. Péssimo seria o tempo, já ido, em que não existisse liberdade de opinião e de manifestação de suas ideias. Todavia, o reverso da medalha da liberdade exigirá uma capacidade de triagem que se afirme como valor fundamental na formação humana, onde existam razões conscientes que verdadeiramente iluminem as opções. É diante dos mundos-e-fundos de ideias, que se vêm na televisão ou se escrevem nos jornais e revistas, que importa não acreditar em tudo, mas possuir uma visão crítica do que nos entra pela porta dentro…e ajudar os novos nesta tarefa.
2. Pelo panorama da recente quadra festiva, neste particular, não estamos muito bem. Num país com dificuldades sócio-económicas, somos dos primeiros do mundo no embarque das novidades das comunicações móveis e no envio desmesurado de milhões e milhões de mensagens. Bom, sejam elas sempre manifestação dos melhores sentimentos para todo o ano!... Mas, confrontando com os países europeus, uma generalizada sedução fácil pelas “últimas modas” diz-nos que “algo” está por ajustar, um sentido crítico do essencial continua por apurar, uma capacidade de triagem de tudo o que se publicita (ferreamente, Lipovetsky) vai faltando, estando as novas gerações na encruzilhada de uma necessária (mas difícil) mudança de mentalidade.
3. Quer no âmbito, muitas vezes, dos debates políticos onde um contraditório discursivo vem à luz do dia, dependendo do lado em que se está (oposições versus governos), quer nos mediáticos colunistas de opinião dos variados órgãos de informação (daqueles que muitos criticam porque falam sobre tudo… mas se falarem só da sua especialidade são na mesma criticados que mais nada sabem além de sua área…!), será às pessoas, aos cidadãos, que cabe a essencial missão de discernir entre todo o alarido confuso aquilo que se afirmará como “o caminho” a seguir. Tarefa esta tanto mais difícil quando, muitas vezes, às próprias instâncias de comunicação, falta uma isenção informativa que forme na autocrítica as pessoas da opinião pública social.
4. Talvez, numa sociedade adulta, este seja um dos valores fundamentais: a capacidade de, com espírito crítico, discernir para diferenciar o prato certo no meio de tantas ementas que nos querem servir... Não falamos do criticismo descomprometido; e numa visão superior de liberdade social como acolhimento da opinião de cada pessoa, nada haverá a obstar para essa visão personalizada… Destaque-se é que “a faca e o queijo” está do lado dos cidadãos; se estes vão (vamos) pelo último grito da moda quase imposto pela publicidade é porque falta (re)formarmos as virtudes pessoais para o essencial de cada dia que não deixará naufragar o Ser em tantos supérfluo que atrapalham um saudável sentido de vida com os outros. É verdade, cada vez será mais difícil ser pessoa, e ao mesmo tempo mais fascinante. O que é preciso é fazer opções na triagem do essencial. Alexandre Cruz [10.01.2008]

Agostinho da Silva, Portugal ao encontro do Brasil

Portugal ao encontro do Brasil

Agostinho da Silva (Entrevista 1ª Parte - 1990)

9 de janeiro de 2008

Barack Obama 2nd Place in New Hampshire Primary Speech

Vale a pena ouvir.

Na Linha Da Utopia


EUA, mais que uma eleição
1. Já foi dado o arranque para as eleições americanas. Um acontecimento que encherá as páginas dos jornais mundiais mais para o final do ano. Há dias alguns comentadores diziam que 2008 já será um ano bom só pelo facto de W. Bush sair do poder. Efectivamente, a conjuntura dos mandatos do presidente republicano, a dúvida milimétrica da sua reeleição, o avanço do unilateralismo impulsivo sem “ligar” à comunidade internacional como resposta ao 11 de Setembro, a despreocupação ambiental, faz com que o seu nome fique registado na história não pelos melhores motivos.
2. Também ninguém duvida que os dias seguintes ao lunático atentado de Nova Iorque, para qualquer presidente que fosse de qualquer nação, representam um choque a que, inicialmente, o pragmatismo socorrista de Bush revelou alguma lucidez, mas que, todavia, mais a frio, não seria consequente... No final do seu mandato, restará perguntar como teria sido Bush sem o 11 de Setembro? Mesmo para além das ideias e dos tempos de seu pai, teria assinalado o seu mandato com esta impressão digital da “força”, de forma precipitada e despreocupada em actuar sem sentido de comunidade?
3. Como a história não é feita de “ses”, daqui a 20 anos este será recordado como o presidente da potência ferida, o presidente do 11 de Setembro 2001 que deixará por longas décadas essa espinha cravada na garganta americana em que nada fora como dantes; será também o “presidente do Iraque”, o comandante do “atoleiro” americano dos inícios do séc. XXI. Em toda a conjuntura do tempo histórico vivido nesta década, e quer se queira quer não, esta eleição que se prepara em 2008 é muito mais que uma eleição americana. Todos os candidatos falam da “mudança”, o grito de apelo do mesmo povo “guerreiro” que depois dos atentados pediu uma resposta condigna a Bin Laden…
4. De uma forma ou de outra, a mudança virá. Mas se ela consegue recolocar os Estados Unidos num diálogo parcelar com as outras nações na base do direito internacional e no papel determinante das Nações Unidas, é tarefa que pelos “anos perdidos” levará tempo a recompor. A herança é pesada, e, nem que não queira, o próximo(a) presidente dos EUA tem que “carregar” o peso de erradas decisões da administração Bush. Enquanto isso, o mundo vai mudando, o seu centro já é a Ásia. A geopolítica do futuro diz-nos que (historicamente, ganhe Barack Obama, ganhe a mulher Clinton) os contrapesos políticos em oito anos mudaram, e ainda, há que contar novamente com a sedenta Rússia.
5. Uma coisa é certa, como em todas as enrcuzilhadas, a SABEDORIA será o caminho... Será que também aqui o chamado mundo rico Ocidental está a perder terreno?!
Alexandre Cruz [09.01.2008]

Na Linha Da Utopia


Os reversos do pragmatismo
1. É bem verdade que, em determinadas circunstâncias, há que agarrar as problemáticas com o espírito de decisão e determinação. Quanto maiores forem as vicissitudes mais o apuramento do sentido prático ganhará revelo. Mas não será neste aspecto prático das resoluções que estará o “busílis” das questões fundamentais. O povo, da sua sabedoria demonstradamente longínqua, concluiu que “depressa e bem há pouco quem”. Apela-nos este chavão a uma leitura contextual, ampla, abrangente das realidades e complexidades, contrariando assim a visão simplista e afunilada das coisas.
2. Saliente-se que o necessário sentido prático (sempre reconstrutivo) como finalidade de todos os conhecimentos não exclui, na sua essência, a profundidade levada até à existência reflexiva para decisões globais e mais servidoras. Assim, não há incompatibilidades entre o ser-se prático e o ser-se reflexivo, aliás quanto mais este pendor pensante progredir mais a qualidade (em quantidade) triunfará. Aspectos bem diferentes, que valerá a pena destacar, são os pragmatismos apressados, menos bem pensados, inconsistentes, de pés de barro, que mais representam impulsos voluntaristas que, com o passar dos dias, significarão o andar para trás…
3. Muito do pragmatismo precipitado que, qual novo empirismo (da imagem), vemos em muitos dos impulsos mediáticos têm esses pés de barro a desmoronar-se. A “coisificação” da vida, o ser-se não reflexivo e não pensante, a despreocupação pela profundidade das culturas, das razões e do sentido da vida, vão reduzindo cada vez mais os alcances dos ideais, fazendo baixar, drasticamente, a fasquia dos “objectivos de vida”. É neste pântano empírico, pragmático (da exaltação do prático, é barato e dá milhões!) ilusório que se sente o iato da inexistência de pontes (de sentido) com futuro.
4. À medida que os pragmatismos vão subindo aos múltiplos tempos e lugares, as sensibilidades transformam-se em números, no ter nos números, e nas incapacidades de se construir um desígnio comum participado, onde o “outro” diferente tenha lugar. Poder-se-á dizer que, da raiz do ocidente (Platão), a meta continua a ser a “felicidade”. Pelo pragmatismo, atingiremos a felicidade? Na resposta da história, não. Se épocas existiram em que o empirismo floresceu, ele representa só o “caminho”, não a meta final. Os tempos que vivemos vão transformando o “meio” das coisas no “fim” da vida, por isso estamos “no meio da ponte”.
5. As pragmáticas lideranças que só olham para a frente, também, desafiam os cidadãos humanos a pensar nisto. Para que não andemos aos solavancos, mas nos construamos mais e melhor nos consensos fundamentais.
Alexandre Cruz [08.01.2008]

8 de janeiro de 2008

Na Linha Da Utopia

O Labirinto da Saúde

1. Talvez estejamos mesmo na fronteira das ideias e do tempo. O novo ano entrou de bandeiras no ar a pedir a “esmola” da saúde. Na fronteira da preocupação, as vozes democráticas têm recorrido à constituição da república portuguesa, relembrando a urgência da saúde de proximidade que garanta (ao menos) esta segurança à população; as vozes da tutela dizem que daqui a um ano já estamos todos habituados ao novo regime…(!). As contradições sucedem-se no tentar acalmar as águas da tempestade, a contagem das horas de espera nas urgências tem dois ritmos, os “porquês” defraudados de uma distância crescente de Lisboa ao país real assinala esse desencanto de um povo (de todo o país) para quem os novos aumentos (também na saúde!) do ano novo são uma verdadeira aflição.
2. Sempre assim foi e sempre será nas sociedades humanas: o lugar que se dá aos mais desprotegidos é o “sinal” do que se tem no horizonte das ideias. Em múltiplas áreas, como no esforço da reinserção qualificada, tem sido dado oportuno lugar à formação e rigor como alavancas do futuro. Mas esse peixe acaba por morrer fora de água quando a sensação do abandono cresce, todas as distâncias aumentam, as desertificações (do interior do país, um verdadeiro drama adiado) dão a entender que, desequilibrados na nossa geografia, caminhamos para um desequilíbrio nas “periferias” sem fim à vista. Como pode a comunidade nacional ser consequente na exigência e presença quando a ordem da gestão proclamada social vai tendo na palavra “fechar” a sua chave mestra?! Delicada questão (que as pessoas vivem).
3. Ao mesmo tempo, já muito do povo deste país quase que sente (e diz, ou já nem sequer diz), implorando: fechem-nos tudo, mas não nos fechem a saúde e nesta deixem-nos abertas as urgências! Neste labirinto (não linear, em que, é certo, haverá muitas áreas de reforma) torna-se difícil vislumbrar a saída… É comovente e ao mesmo tempo interpelante ver populações a dar a resposta de generosidade, disponíveis para a aquisição de equipamentos que faltam nos serviços; alarma um certo desportivismo nas visões que dizem que “o povo daqui a um ano habitua-se!”; interpela gente a testemunhar que se fosse há uns meses… já teriam falecido. É a realidade!
4. O assunto da saúde (e nesta o das urgências) é sério demais para ser uma questão de números contabilizados até para fechar serviços que há breve tempo tiveram obras de fundo com dinheiros públicos. Ou será que nesta visão social que preside interessa bem mais dizer daqui a dois anos que endireitámos as contas (à custa desta desagregação social), e assim já podemos fazer as obras de regime (no litoral)? A inquietude, embora silenciosa, atravessa o pensamento também dos que pertencem à mesma casa das ideias. Afinal, que filosofia, valores e referencias presidem a tantas destas manifestações de despreocupação com a realidade social concreta das pessoas? Há uma grande insegurança no “ar”, a crescente multidão sofrida das “periferias” sai sempre vencedora; o labirinto terá saída! Alexandre Cruz [07.01.2008]

Absolutamente correcto

O Francisco José Viegas escreveu este texto no seu A Origem das Espécies, que deve ficar como Memorial ao Bom Senso e à Liberdade:

« Argumento de autoridade.
Em matéria de linguagem, o director da ASAE ensinou o caminho: “É o rumo desta sociedade e nós, se não quisermos viver nesta sociedade, temos a hipótese de emigrar.” Agora, que recordo essa frase, parece-me que Portugal está meio sem-sentido. Como se permite que este cavalheiro diga isto aos seus concidadãos? Como permitimos nós que isso aconteça? Emigrar? Quem autorizou o cavalheiro a fazer chantagem com os outros? Mas isso é um problema de linguagem. Agora é o ministro das Finanças a falar do polícia e do ladrão, en passant. Ah, sabemos onde isto vai chegar.»

Universidade de Aveiro

A Assembleia Estatutária da Universidade de Aveiro decidiu inicar o processo de negociação que poderá levá-la a transformar-se numa Fundação. Aqui fica o comunicado à comunidade académica:
«Como é do Vosso conhecimento a Universidade de Aveiro constituiu a Assembleia Estatutária prevista no Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES), Lei n.º 62/2007 de 10 de Setembro, órgão que tem a atribuição de aprovar os novos estatutos da UA. Esta Assembleia detém, também, competência para solicitar à Tutela uma eventual transformação da Universidade de Aveiro em fundação pública com regime de direito privado.
Tendo presente a importância destas decisões para o futuro da nossa Universidade foram promovidas amplas iniciativas de debate, nos últimos quatro meses, que incluíram, designadamente, dois conjunto de reuniões com todas as unidades orgânicas e serviços da UA e o próprio processo eleitoral conducente à constituição da Assembleia. Realço, aqui, a elevada participação de toda a comunidade neste processo, facto que revela bem o dinamismo e a vontade de contribuir para a afirmação e para a melhoria contínua da UA.
Em reunião hoje realizada, a Assembleia Estatutária deliberou submeter um dossier à Tutela, até ao dia 10 de Janeiro de 2008, com o propósito de aferir e ponderar a eventual viabilidade, e os respectivos termos de verificação, da apresentação de proposta de transformação da Universidade de Aveiro em fundação pública com regime de direito privado.
Foi entendimento da Assembleia que esta decisão permitirá a análise, pormenorizada, dos contornos de tal regime e das implicações da sua eventual adopção, reduzindo assim as incertezas que até ao momento subsistem e propiciando, em conformidade, uma decisão final mais informada. Deste modo, a Assembleia irá continuar os seus trabalhos de acordo com duas linhas de actuação: a discussão sobre os novos estatutos, por um lado, e o diálogo com a Tutela sobre o projecto da UA e sobre o enquadramento fundacional, por outro.
Tomada esta primeira decisão é imprescindível manter o debate interno sobre estes assuntos, continuando assim a desenvolver, em conjunto e de forma partilhada o projecto da UA.»

A ter em atenção


CONVÉM APRENDER UMA NOVA PALAVRA: OBAMAMANIA
João Miguel Tavares (DN)
jmtavares@dn.pt

Se no mundo desencantado em que vivemos ainda houver espaço para acreditar em homens providenciais, então eu quero acreditar neste. Minhas senhoras e meus senhores: Barack Hussein Obama, "o rapaz magrito de nome esquisito" (definição do próprio) que está a candidatar-se à Presidência dos Estados Unidos, pode muito bem vir a ser a melhor notícia para o Ocidente desde a queda do muro de Berlim. Com um pai queniano, uma mãe do Kansas, um nome árabe, crescido no Havai, educado na Indonésia e formado em Harvard, Barack Obama é a encarnação do sonho americano, numa época em que já poucos pareciam acreditar que ele continuasse a existir. Mas como o próprio afirmou no seu discurso de vitória nas primárias do Iowa, "a esperança é o pilar da América. A crença de que o nosso destino não vai ser escrito por outros, mas por nós". Se esta noite ele voltar a ganhar em New Hampshire, a sua candidatura será imparável e tem tudo para acabar na Casa Branca.A intervenção de Obama após os caucus de dia 3 (é fácil de encontrar no YouTube) é dos melhores discursos que ouvi na vida, sobretudo porque numa época completamente enjoada da política e dos políticos, e num país esmagado pela incompetência de George W. Bush, Barack é uma injecção de optimismo capaz de empurrar para as mesas de voto mesmo quem tinha jurado não voltar a sair de casa. Os cínicos dirão que ele é apenas profissional e fotogénico, e mesmo politicamente são muitos os europeus que preferem continuar a odiar a América a correr o risco de se entusiasmarem com um dos candidatos à sua liderança. Mas Obama é mesmo o político americano mais entusiasmante das últimas décadas, e só um cego o pode reduzir a uma construção engenhosa para tempos mediáticos. Bem pelo contrário: tudo nele parece genuíno, num cruzamento improvável entre John F. Kennedy e Martin Luther King, e a sua própria retórica é old school.O que ele conseguiu no Iowa é a todos os títulos admirável, levando os jovens em peso aos caucus, conquistando a esmagadora maioria dos independentes e arrebatando mais votos às mulheres do que Hillary Clinton. De Hollywood aos recantos anónimos da América, são cada vez mais os que dizem: "Nunca antes tinha visto um político assim." Por isso, de dia para dia, o fenómeno cresce, ao ponto de já se ter inventado esta palavra: "Obamamania." Consequência: no início de 2009, um homem negro pode vir a entrar na Sala Oval da Casa Branca. E, pela primeira vez, não será para sacudir o pó ao cadeirão presidencial, mas para se sentar nele. Obamamania - quem disse que a política já não entusiasmava ninguém?

Leituras

Avisos e ingerências
Espanta a quantidade de virgens, idiotas-úteis e homens-massa que à esquerda se escandaliza com tanta promiscuidade de interesses SA.
José Manuel Moreira (DE)

Conta-se que um dia Churchill, chegando aos lavabos do Parlamento, escolheu para urinar o mictório mais longe do que estava a ser usado pelo Chefe da oposição. Este, reparando nisso, à saída, virou-se para Churchill e perguntou-lhe se receava estar próximo dele, ao que Churchill terá respondido: nunca se sabe, vocês não podem ver nada grande que querem logo nacionalizar.
.
Com esta história, mais do que enriquecer o anedotário político, pretendo dar conta de quanto esta anedota está desactualizada.

.Hoje os novos socialistas, que já não são “vermelhos”, mas “rosa”, vivem deslumbrados com a grande “troca de favores”, a ponto de o insuspeito António Barreto ter acusado o “PS, SA” de se estar a desenvolver “como uma sociedade anónima de capitais públicos e interesse privado”, daí o ataque higiénico ao mundo dos pequenos para que, graças ao fisco e à ASAE, não se cheguem ao grande..

Mas o que mais espanta é a quantidade de virgens, idiotas-úteis e homens-massa que à esquerda se escandaliza com tanta promiscuidade de interesses SA..

Será que desconhecem que hoje os cozinheiros socialistas, mais que à nacionalização, aspiram à união de facto para mútua conveniência, tendo em vista facilitar (ou impedir) de facto fusões, concursos, licenças, projectos, tudo em grande, incluindo parcerias, subsídios e nomeações..

É por isso que é até injusto isolar o caso de um tal Santos (Carlos Ferreira) que saiu da CGD para BCP. Quando muito seria de questionar a ocasião: como se explica que numa altura que se quer impedir as escolas básicas e secundárias de ter nomes de santos se consinta num Santos para o BCP e se mantenha outro nas Finanças, já que no caso do BP toda a gente já viu que aí não há santos, apenas uma pessoa acusada de “ingerência política” (Cadilhe) ou pelo menos de “actuar tarde” (Ulrich), mas que, mesmo assim, continua no seu papel de não se inibir de inibir os outros..

É verdade que o PSD também queria, mas foi o PS a ganhar as graças de uma união pós-moderna, com poucos deveres e muitos direitos políticos, como o da “boa” regulação que tende a esconder as (in)gerências políticas, ao mesmo tempo que facilita a passagem de (in)dependentes da governação para a regulação e desta para aquela..

Há quem divida os bancos em dois tipos: os que mandam no Estado e aqueles em quem o Estado manda, ou quer passar a mandar. O BCP estaria a caminho desta segunda categoria. Um caminho que a coragem cívica de Miguel Cadilhe, ao candidatar-se à liderança do BCP, pretende travar. Vamos aguardar para ver o que se passa numa Assembleia-Geral onde, para além do mais – ao contrário do BPI –, se misturam em demasia empresas financeiras e não financeiras..

Antes do 25 de Abril dizia-se que só havia em Portugal duas instituições verdadeiramente independentes: a “Igreja” e os “Clubes de futebol”. Infelizmente, agora as duas estão perto do Estado e longe de uma sociedade civil que quase não existe, a ponto de ser confundida com ONGs e organizações sem fins lucrativos..

É por isso que hoje, mais do que avisos e recados, o que Portugal mais precisa é de exemplos de carácter e civilidade. Exemplos criadores de condições favoráveis à existência de uma sociedade civil robusta: entendida como o conjunto de instituições que possibilita aos indivíduos prosseguir interesses comuns sem direcção pormenorizada ou interferência do governo..

Uma sociedade capaz de restringir o poder dos governantes que, historicamente, depende da disponibilidade de opções comerciais que não sejam monopolizadas pelo Estado e da capacidade para favorecer boas instituições. Instituições tão capazes de assegurar “a vida, a liberdade e o património” (Locke) e facilitar as transferências voluntárias de propriedade como de garantir o equilíbrio e independência entre os sistemas político, económico e ético-cultural..

Instituições que a popularidade dos cozinheiros do “Churning State”, com a ajuda dos media, à mistura com a habituação de tantos de nós à dependência e à ignorância, impede de nascer. O exemplo de Cadilhe tardou e mesmo assim teve que vir do Norte, o que dá que pensar sobre o estado invertebrado que já domina a (o) Capital.
____José Manuel Moreira, Professor universitário e membro da “Mont Pélérin Society”

Anda tudo louco

Casino sabia que estava a violar a lei (DN)

Como é óbvio

Tabaco
Não há qualquer razão para casinos serem excepção à aplicação da lei
O constitucionalista Jorge Miranda não tem dúvidas: "De acordo com o espírito da lei [do Tabaco] os casinos devem estar abrangidos" pela limitação de fumar.
10:27 Terça-feira, 8 de Jan de 2008
Alberto Frias (Expresso)

Os membros do órgão consultivo da Direcção-Geral de Saúde para o tabaco concordaram que os casinos podem ser incluídos dentro das excepções previstas na lei
O constitucionalista Jorge Miranda considerou hoje não haver qualquer razão para que os casinos sejam excepção à aplicação da Lei do Tabaco, adiantando que esta legislação é posterior e de âmbito mais geral que a Lei do Jogo.
"De acordo com o espírito da lei [do Tabaco] os casinos devem estar abrangidos" pela limitação de fumar, disse Jorge Miranda.
Os membros do órgão consultivo da Direcção-Geral de Saúde para o tabaco, cuja primeira reunião decorreu segunda-feira, concordaram que os casinos podem ser incluídos dentro das excepções previstas na lei do Tabaco.
Essas excepções prevêem a criação, em alguns espaços fechados de utilização colectiva, de zonas para fumadores sinalizadas e com dispositivos de ventilação ou separação física e extracção autónoma.
A excepção é alargada aos casinos, segundo o director-geral de Saúde, Francisco George, face à aplicação combinada nestes espaços das leis do Tabaco e do Jogo.
Jorge Miranda defende porém que "por ser posterior e ter um âmbito de aplicação inspirado no princípio geral de defesa da saúde pública" a lei do Tabaco prevalece sobre a do Jogo.
A discussão em torno da aplicação nos casinos das regras que limitam o fumo em espaços fechados de uso colectivo surgiu depois de o presidente da Autoridade de Segurança Económica e Alimentar (ASAE) ter sido fotografado a fumar no Casino de Estoril já depois da entrada em vigor das nova lei do Tabaco.
António Nunes justificou na altura que no casino se aplicava a Lei do Jogo, que prevê a existência de zonas separadas para fumadores e não fumadores, uma posição contraditória com um parecer da Direcção-Geral de Saúde que indicava que os casinos e salas de jogo, "sendo locais fechados, não podem deixar de se incluir no âmbito da aplicação a lei", além de estarem abrangidos na lei por "serem locais de trabalho".
Contudo, a reunião de segunda-feira abriu a possibilidade de os casinos criarem zonas separadas de fumadores e não fumadores, uma posição considerada "equilibrada" pelo presidente da Associação de Casinos de Portugal, Mário Assis Ferreira.

Blogosfera

Ainda não conhecia. Devo andar mesmo mal. Mas aqui fica mais um blog que pode ser muito bom para a blogosfera, para todos, para as pessoas:

7 de janeiro de 2008

Eleições na América

SE UM DIA PENSAR IR A HOPE APANHE O AUTOCARRO DO GALGO
Leonídio Paulo Ferreira no DN
jornalista
leonidio.ferreira@dn.pt

Pela nossa saúde!

2008-01-07 - 00:00:00
Drama: Pais revoltados temem que caso seja esquecido
Morte sem responsáveis no Correio da Manhã

Saúde: Bombeiros transportavam operária para Braga
Nasceu nas Urgências (ídem)

Entrevista CM: José Manuel Silva
A doente que morreu em Aveiro já percebeu a política do ministro da Saúde (ídem)

Frases

«Não existe um caminho para a paz. A paz é o caminho.»
Mahatma Ghandi

A Dignidade Humana das Nações

Esta quarta-feira,
Nuno Rogeiro vem a Aveiro falar sobre
a Dignidade Humana das Nações.
Não perca!

Telegrama de boas vindas

Telegrama de boas vindas
Este blog é herdeiro, em certa medida, do Pantalassa (2003). É ainda recipiente de uma crónica semanal no Diário de Aveiro com o mesmo nome. Urbi et orbi: pessoas, lugares, leituras, artes, prazeres, angústias, liberdade. Apesar das fotografias, sabemos que barba non facit philosophum. A crítica é bem acolhida, reaja! Bem-vindos. Carpe diem.