30 de junho de 2007

Fotografias de Timor


Ilhéu de Jaco, Timor-Leste
(Fotografias de Marta Chantal'2007 - clique para ampliar)

Jaco é um paraíso na Terra. Um lugar distante, mesmo para quem está em Timor. Cerca de 7, 8 horas de viagem, de jeep, contando com paragens pelo caminho para comer qualquer coisa, ou para outras necessidades fisiológicas. A viagem, apesar de dura, sobretudo para quem conduz, é deliciosa, e vale a pena repeti-la e repeti-la, vezes sem conta.
Díli, Metinaro, Manatuto - passando por Laleia, a aldeia do Comandante Xanana Gusmão -, Baucau (antiga Vila Salazar, quem diria), Lautém, um desvio a Lospalos, e finalmente Tutuala (antiga Nova Sagres), bem no extremo leste de Timor, de onde se desce à praia e, com a ajuda dos pescadores, se passa de beiro para o Ilhéu.
Durante a viagem, os olhos convertem-se a uma beleza renovada a cada olhar. Há sempre um ângulo diferente, uma tonalidade diferente no céu e no mar. A vegetação muda exuberantemente. A própria configuração dos terrenos não é a mesma a cada deslocação, dependendo das chuvas que se fizeram abater sobre aquele chão sagrado - algumas vezes não encontramos pedaços da estrada "velha", ou então não podemos passar porque a estrada está submersa nas águas que desceram da montanha sem avisar. Outras vezes, tal era o desejo de partir, avançámos mesmo com as núvens carregadas de aviso.
O impulso para passear em Timor, com aquele calor libertador, que nos limita a uns calções, uma t-shirt e chinelas, é o mesmo que temos em Portugal quando chega o Verão, e queremos ir para a praia ou para a montanha - incontrolável. Ali, longe de centros comerciais e de um mundo - o nosso - tão voltado para o consumismo, a futilidade e a distância entre pessoas, dá-se mais atenção ao convívio e à natureza, pelo que, a qualquer oportunidade, ninguém fica para trás. Toca de partir para o interior daquela ilha, que assombrou tantos portugueses que por lá passaram, voltando apaixonados, enfeitiçados.
Durante a viagem, temos a sensação que o avô crocodilo e todos os espíritos dos avós nos acompanham pela beira da estrada, entoando hinos ancestrais, chamamentos, um diálogo com o planeta, com as plantas, com os animais. Os eucaliptos brancos, pequenos, esguios e curvilíneos, parecem entrar nesse diálogo das tradições ancestrais, dançando, como as mulheres de Timor, um delicado tebedai (dança), ao ritmo marcado pelos babadok (tambores).
O caminho para um fim de semana de alegria e paz faz-se quase sempre junto ao mar, com a alma afundada naquele azul turquesa vibrante, mesclado das múltiplas variações de cor que nos vão surgindo à medida que Díli vai ficando para trás.
(continuaremos esta viagem)

Fotografias de Timor

Cidade de Deus, Timor-Leste
(fotografia de Marta Chantal'2007)

Peixeirada

Anda uma peixeirada no ar em Aveiro.

29 de junho de 2007

Cartas para Shakira (ficção)

Um amigo perguntou-me como iam as Cartas para Shakira. Se estava boa a Shakira. Eu disse-lhe que sim, que a Shakira está boa e recomenda-se. Mas que, feliz ou infelizmente, as Cartas eram para Sakhalin, e não acreditava que a Shakira as lesse.

O festival do respeitinho no seu esplendor

Repetem-se os excessos de autoridade. O zelo é imposto pelo medo. O bom funcionário público não pode criticar o chefe. Não pode ter opinião, a não ser longe da local de serviço, na penumbra da higiene política das instituições. É um velho-novo-velho zelo em acção. Já era assim no tempo do senhor Presidente do Conselho, era assim, era. Era?
Se, por exemplo, fossem demitir todos os directores de escolas que permitem, na sala de professores, papéis afixados com piadas à ministra da Educação, não sobrava um. Digo eu, porque também há escolas onde os cachorinhos políticos são lobos de guardar rebanho.
estamos bem, no bom caminho.
~
Polémica no Centro de Saúde de Vieira do Minho
Manuel Alegre: exoneração ordenada por Correia de Campos é "desproporcionada" e "intolerante"
29.06.2007 - 09h12 Lusa in Público

O deputado do PS Manuel Alegre considerou hoje "desproporcionada" e "intolerante" a decisão de Correia de Campos de exonerar a directora do Centro de Saúde de Vieira do Minho que, segundo a tutela, se recusou a retirar um cartaz com um comentário considerado jocoso em relação ao ministro da Saúde.
Em declarações aos jornalistas, o ex-candidato presidencial disse ter lido o despacho publicado ontem em Diário da República, classificando-o como "confuso".Segundo o deputado socialista, pelo despacho "é difícil perceber-se o que se terá passado no Centro de Saúde de Vieira do Minho"."Em todo o caso, penso que se está perante uma reacção desproporcionada e pouco conforme com a tradição de tolerância e de espírito crítico dos socialistas", declarou Manuel Alegre.Manuel Alegre deixou ainda um recado para o interior do PS e para o Governo: "Pretendi educar muita gente no PS dentro desse espírito de tolerância, mas, pelos vistos, sem resultados". O despacho de exoneração de Maria Celeste Vilela Fernandes Cardoso foi publicado ontem em Diário da República. A agência Lusa diz ter recebido uma cópia das mãos de deputados socialistas que se manifestaram "incomodados com a situação"."Pelo despacho (...) do Ministro da Saúde, de 5 de Janeiro, foi exonerada do cargo de directora do Centro de Saúde de Vieira do Minho a licenciada Maria Celeste Vilela Fernandes Cardoso, com efeitos à data do despacho, por não ter tomado medidas relativas à afixação, nas instalações daquele Centro de Saúde, de um cartaz que utilizava declarações do Ministro da Saúde em termos jocosos, procurando atingi-lo", lê-se no despacho.Perante este caso, o ministério considerou demonstrado que Maria Celeste Cardoso não reúne condições "para garantir a observação das orientações superiormente fixadas para a prossecução e implementação das políticas desenvolvidas pelo Ministério da Saúde".

28 de junho de 2007

Fotografias de Timor

Baía de Díli, Timor-Leste
(fotografia de Marta Chantal'2007)
Avenida de Portugal, Timor-Leste
(fotografia de Marta Chantal'2007)
Que belas imagens de Díli, sem dúvida alguma! Ao olhar para elas sinto uma saudade enorme, uma nostalgia de fim de tarde. Lembro-me de passear pela Avenida de Portugal, sentindo aquele vento que inclina as palmeiras e, mais à frente, chegando ao Palácio do Governo, em direcção a Lecidere, os barcos, esses barcos místicos, num suave balanço, sobre os quais se abatem as maravilhosas cores do pôr-do-sol. Lá chegado, já não há vento. Ainda se encontram alguns pescadores e vendedores de peixe, sempre animados e dispostos a um contacto brincalhão com quem passa. Há que procurar vender. «Malae, ikan di'ak los.» Uma abanadela para despachar as moscas que o calor e o cheiro ali trouxeram, uma molhadela para lhes dar um ar mais fresco, e toca a meter conversa. Mais à frente o supermercado da Lita, as vendedoras de fruta nas bancas, as crianças a vender também, mas mais afoitas, atravessando a estrada para um contacto mais próximo com o cliente. E depois, vem aquele aroma do mar nos trópicos, ia jurar que com um bocadinho de goiaba que vem lá do Mercado Lama ou da estrada para Taibessi. Sentado na beira do mar, esse mar oceano, sabemos que Portugal está longe, mas existe, sobretudo no nosso imaginário da distância.

27 de junho de 2007

This blog in English

Well, my english-speaking friends, I'll try to write from times to times in english. At least whenever I publish some photos or thoughts in a summarized way. I hope that we can establish some bridges between languages, places and people. We are living global, isn't it?
Feel free to correct my english any time you want, I'd appreciate that, because my mother-language is portuguese. I also understand French, Italian and Spanish, so you can write to me in those languages as well. I'll try to write back in those, otherwise I'll get to you in English, ok?
Welcome to my blog. Here I'll will write about any subject that comes to my head, surely about portuguese communities around the world, about politics, economics, social problems that afect Portugal but also in general world perspective, the city of Aveiro (what a wonderful place to visit!), Portugal and portuguese speaking countries (CPLP), photos from everywhere I've already been. Photos from places where I'v never been but were sent to me by friends (flesh and bones but also virtual ones).
What do you want to know about Portugal and Aveiro?

Aveiro no New York Times


Uma reportagem sobre Aveiro no New York Times, por SARAH WILDMAN, que vale a pena ler.
«A New Culture Takes Hold in an Old Fishing Town
IT is midday in Aveiro, a surprisingly cosmopolitan fishing town on northern Portugal's Rota da Luz, the Route of Light. The spring afternoon is sunny and warm, and the canals are filled with bobbing moliceiros, their bright prows upturned like jester's shoes. Tied up to docks for lunch, they are empty of fishermen and tourists; nearby, shopkeepers are itching to close up for siesta. Lining the canals, gorgeous Art Nouveau homes are sleepy in the sun, their half-closed shutters indicating lunch is on the table.
Gabriel Vieira, 37, has kept his specialty food shop, Doce Pimenta (Sweet Pepper), open a half-hour longer than normal as shoppers browse his collection of spices and foods from Brazil, Italy, France and, yes, Portugal. Just a few years ago, the idea of a specialty food shop in this village would have been laughable. But then Aveiro isn't the provincial town it once was.
“I studied here 10 years ago,” said Mr. Vieira, who was born an hour north, in
Oporto. “The university has drawn in a lot of people. Ten years ago if you walked around Aveiro on a Sunday, you wouldn't see a single person — everyone was in church! Now that's no longer true.”
Aveiro's sizable university (about 12,000 students) was founded in 1973. It took a generation, but the students have started to stick around. Others have returned after meandering abroad. And, slowly but steadily, they have changed the town.
“I came back after five years,” said Joana Lima, 32, a clothing designer who takes antique fabrics and Portuguese folk designs and turns them into wallet-friendly designer fare, which she sells in her own boutique. “I had lived in
Barcelona, but I wanted a smaller place where I could really relate to people in a profound way.”
There is a young and vibrant energy in the streets and on the canals. Clutches of giggling and flirting university students rush past smartly dressed 30-somethings. Elderly women perch on terraces, leaning against 18th-century ironwork, bemusedly looking on.
“I live in the city center,” Mr. Vieira said, pointing on a map to a street in the old city's pedestrian quarter. “I can walk everywhere. And just outside of Aveiro, there are great places to ride a bicycle. There you can see herons and seagulls and wildlife. You just give them an ID and you can ride a bike for free.”
Mr. Vieira was referring to the Bicicleta de Utilização Gratuita de Aveiro, a five-year-old town hall project. Just beyond the old quarter, bicycles are parked waiting to be borrowed. The idea has been ridiculously successful, with white and green bikes everywhere.
Manning the desk at the bicycle office one afternoon was Pedro Sena, a 26-year-old student from Cape Verde studying for a degree in physics and engineering. A steady stream of bicyclists — locals, tourists, kids, adults — popped in, handed over an identification card and peddled out along the bike paths that line the canals.
Aveiro is a great place to study and live, said Mr. Sena, who like many others heads down to the fish market — the Mercado do Peixe — at night. There, crowds fill the bars that line the market square and the streets that surround it. Some go to low-key but trendy places like Clandestino for chill-out
music. Restaurants like O Telheiro and O Batel offer upscale seafood.
But the Mercado do Peixe is just as interesting first thing in the morning, when fishermen and women arrive and spread out their wares. The mercado first opened in 1904; six years ago, its original building was torn down and a lighter, airier and, frankly, cleaner, replacement opened.
One fishmonger, Carla Mondairo, was unimpressed as she stood in front with her day's catch: salmon, grouper, sardines. “The old building had ancient stone tubs for the fish,” she said, with some wistfulness.
But there is still plenty of tradition in Aveiro — the Museo de Aveiro, for example, housed in a former Dominican convent and currently under renovation. Visitors can peak at the glorious Church of Jesus with its Baroque gold gilded carvings and the rose marble tomb of St. Joan, the princess who became a nun. The path that led to her beatification is painted along the walls.
Back at the Mercado do Peixe, which is made of glass so you can see through it to the tiled houses that line the canals, fish are sold from stainless steel tanks. Every day, midday, it is hosed down. And the restaurants around it come to life.
Around the corner, the restaurant O Batel peddles the new Aveiro aesthetic. With only eight tables and a galley-narrow dining hall, there is often a wait. Hardwood floors, ceilings and chairs cushioned in bright white give the tiny space a yachtlike atmosphere. Light streams in from skylights above.
Diners are encouraged to get up from their seats and peer into a refrigerated glass case at their meals. Fish is served simply — grilled, lightly, with lemon — alongside small boiled potatoes perfectly dressed in olive oil and garlic, and a spinach mix with beans and croutons.
If half the town hangs out at the restaurants and bars around the Mercado do Peixe, the other half is above the Canal Central, one flight up from a ground-floor tool shop, at Mercado Negro. Nothing speaks of new Aveiro more than this year-old cultural center that fills the entire second floor of a large 19th-century attached house.
Mercado Negro is an entire neighborhood in and of itself, filled with smart boutiques, a bar, a coffee shop and several great rooms just for chilling out.
There are film festivals there, and live music on weekends. The décor is kitschy and hip — the wallpaper is intricate, patterned, and varied: the 1970s meets the 1890s. Floor-to-ceiling French doors open onto the canal, and 19th-century chandeliers hang above mismatched Danish Modern furniture and a rubber rec-room floor. On Saturday afternoons, it feels like everyone is there, from calculator-bearing high school students doing homework to young couples nuzzling on couches.
Joana Lima's boutique, PoçDeTot, holds down a corner toward the back, full of well-priced Portuguese designs. Down the hall is WahWah, a brand new music shop, and Miyabi, a design boutique owned and run by 32-year-old Nuno Vale, an Aveiro native.
“Miyabi means elegant in Japanese,” he said earnestly. “I try to refuse anything that is common.”
The shop is filled with hard-to-find light-fixtures, bags and home goods from a slew of international designers. It's also a meeting point. Philipp Scherler, a student in German literature from
Hamburg, pops in almost every weekend, bringing friends, or just to see Mr. Vale.
“Once you know a few people here,” Mr. Scherer said, “you see them again and again.”»

26 de junho de 2007

Cartas Para Sakhalin - Diário de Aveiro (009)

Está tudo louco?

Temos assistido nos últimos tempos em Portugal a um histerismo público preocupante. Talvez a coisa tenha raízes antigas, históricas – não me interessa –, o que não diminui a necessidade de atenção a prestar-lhe, nem a gravidade que denota.
Não vale a pena – o que também é um hábito nosso – procurar colorir ideologicamente a asneira, porque ela perpassa, como uma virose, todos os partidos e todas as instâncias da actuação política, económica e social, manifestando sintomas de doença que vão da administração central aos órgãos de poder local, dos dirigentes mais proeminentes ao comum cidadão.
Há uma espécie de brucelose social que é preciso combater com urgência, pois o agente infeccioso actua nas entranhas da nossa liberdade, minando um dos pilares fundamentais da democracia e da nossa saúde individual e colectiva. Digamos que nos ataca pela calada do medo, do dedo em riste pedindo silêncio, e, de cedência em cedência, torna a nossa vida muito esponjosa.
Vivemos, como alguns dizem, no país do respeitinho, pouco respeito e mais medinho. Como me aconselhava, sabiamente, um idoso que conheci em novo – nisto dos conselhos não há como ouvir quem acumula tempo às costas –, para se ter respeito é preciso dar-se ao respeito, o que se faz pelo exemplo e não pela pancada. Dizia ele que aqueles que vêem na liberdade de expressão dos outros uma ameaça, algo a abater para provar quem é o chefe, promoviam apenas o medo como garante da sua autoridade e não mereciam qualquer respeito. Uma coisa velha até entre pais e filhos, que nunca promoveu nem justiça, nem paz, nem nada de positivo.
As situações são inúmeras e todos temos vivências pessoais que podem exemplificá-lo. Aqueles que viveram antes do 25 de Abril sabem bem como isso foi levado a extremos de gravidade que, com mais alguns ingredientes, deram no que deram. Estamos longe desse tempo infestado, felizmente, mas nada nos garante que aqui e ali não ocorram umas recaídas. A liberdade, longe de perigar – não quero contribuir para o histerismo -, tem de ser preservada com observância e esforço contínuos, pois não existe vacina com efeitos definitivos.
Assistimos recentemente a vários episódios de uma telenovela de fraca qualidade que podem ter efeitos nefastos de contágio. Uma directora regional de educação instaura um processo disciplinar a um funcionário por ofensas ao senhor primeiro-ministro – supostamente por comentários jocosos feitos em relação à sua licenciatura ou outros, o que pouco interessa para o caso –, feitas em privado, num processo todo ele muito mal explicado. O senhor primeiro-ministro processa judicialmente o autor do blogue “Do Portugal Profundo”, que lançou dúvidas sobre a validade da sua licenciatura. E agora, Rui Rio, presidente da Câmara Municipal do Porto, permite ou instiga a que se faça uma crítica desmesurada no sítio web da Câmara a um dos directores do JN por ter participado numa manifestação contra a sua política relativa ao Rivoli; ainda por cima, divulgando um vídeo que prova que o homem esteve lá, como se isso não fosse um pleno direito de cidadania. Já no âmbito das relações pessoais, uma estória resumida: uma amiga, com mais de 10 anos de casa, é chamada inesperadamente pelo patrão (professor) que, sem razão aparente que o justificasse, a “convidou” a despedir-se, pois já não contava mais com ela. Não esteve com meias medidas, e, mais coisa menos coisa, lá foi: «Não precisamos mais de si. Ou se despede a bem ou instauramos-lhe um processo disciplinar.»
Estará tudo louco?

Associação Académica faz 29 anos

No próximo dia 28 de Junho a Associação Académica faz 29 anos de vida. Não posso deixar de sublinhar o seu contributo, com altos e baixos, para a construção da universidade e da cidade que temos.
Neste contexto, é preciso que os diversos actores académicos e políticos reconheçam, de uma vez por todas, a importância dos estudantes na edificação de um contexto educativo mais rico e na promoção de uma sociedade mais desenvolvida. É preciso contribuir para criar melhores condições de trabalho a quem os representa, acompanhadas da exigência de mais empenho e responsabilidade na construção de uma cidadania responsável, dinâmica, empreendedora, baseada no razoável equilíbrio de direitos e deveres.
Os tempos que correm, mais do que nunca, carecem de uma visão realista e ampla sobre as dificuldades que se avizinham, assim como sobre as oportunidades de sucesso. Disseminar entre os jovens uma cultura de trabalho, de responsabilidade individual e colectiva, de rigor e dinamismo deve ser a prioridade da sua acção. Exigir o direito a uma palavra no curso dos acontecimentos é um imperativo que deve estar revestido da partilha das responsabilidades.
A nossa associação, que tantas vezes dignificou a universidade e a cidade, primando por um discurso dissonante e caminhos próprios, pode (deve) ser uma peça importante desse motor que nos permita alcançar novos desígnios de desenvolvimento.
Parabéns a todos quantos deram corpo e alma por ela. Votos de muito e bom trabalho.

Fotografias de Ílhavo

Praia da Barra, Ílhavo, Portugal
(Fotografia de Ângelo E. Ferreira'2007)

25 de junho de 2007

Poesia

Um beijo

Foste o beijo melhor da minha vida,
ou talvez o pior...Glória e tormento,
contigo à luz subi do firmamento,
contigo fui pela infernal descida!

Morreste, e o meu desejo não te olvida:
queimas-me o sangue, enches-me o pensamento,
e do teu gosto amargo me alimento,
e rolo-te na boca malferida.

Beijo extremo, meu prêmio e meu castigo,
batismo e extrema-unção, naquele instante
por que, feliz, eu não morri contigo?

Sinto-me o ardor, e o crepitar te escuto,
beijo divino! e anseio delirante,
na perpétua saudade de um minuto....

Olavo Bilac in
Tormentas

Fotografias do Porto


Casa da Música
(Porto, AEF'2006)

Bom dia, boa semana.

21 de junho de 2007

Boas notícias

Ilhéu de Jako, Timor-Leste


Boas notícias. Estive agora mesmo com o Samuel, estudante de Engenharia Química da Universidade de Aveiro, que acabou hoje o curso. Nada de anormal, portanto. Mas há aqui uma particularidade importante, que eu quero deixar aqui sublinhada para a posteridade. O Samuel será, até prova em contrário, o primeiro estudante timorense, daquele grupo de bolseiros que vieram em 2001, a terminar o curso! E com boas notas! Tudo certinho, direitinho. Grande Samuel, um orgulho para todos, um orgulho para a Ilha do Crocodilo.


Hoje sei que no Matebian os espíritos dos avós, dos katuas idos, comem Karau, bebem café Timor, fumam e regozijam pelo sucesso deste bom descendente.


Parabéns irmão.

Cartas Para Sakhalin - Diário de Aveiro (008)

Míngua de humanidade?

O caso de uma professora de uma escola de Cacia que foi obrigada a trabalhar com leucemia até falecer, terminando os seus dias incompreendida e abandonada pelo seu “patrão” num momento tão difícil, de tão angustiante sofrimento, é algo que nos deve envergonhar a todos, e não apenas ao ministério da Educação.
Como foi possível acontecer tal desumanidade? Como é possível que, aos olhos cegos de quem vai mandando – mais alheios às pessoas do que a formalidades e números frios, coisas para encher relatórios, agradar chefias e firmar-se na escala degradante do servilismo político e organizacional -, a dignidade das pessoas, de uma pessoa, tenha tão pouco valor? Ninguém compreende.
Vale a pena reflectir nesta sociedade que temos vindo a construir, percebendo que nem tudo são conquistas, muito menos de Abril. Sem quaisquer julgamentos excitados pelo mediatismo atingido, e com o devido respeito, contenção e pudor que a gravidade da situação merece – trata-se do sofrimento de uma pessoa real e dos seus próximos -, não podemos deixar de lamentar veementemente o ocorrido e pedir explicações. Mais do que o direito à indignação, de que falava o Dr. Mário Soares, é o direito à justiça que está em causa. Mais, é o direito dos cidadãos e trabalhadores, a quem devemos exigir cada vez mais responsabilidade em sociedade, a merecerem o mínimo de respeito pelos seus direitos e o apoio social mínimo, sublinhado em momentos de profunda gravidade.
Não sou apologista de enforcamentos em praça pública, tão ao gosto do populismo fácil, sinónimo de algum atraso cultural, fruto de uma preocupante necessidade de catarse colectiva, que o simples bom senso desaconselha, mas que, em busca de uma explicação pouco iluminada para a vida, atribuindo os males do mundo aos outros – sempre os outros, uma entidade qualquer, abstracta -, resvala na doentia tentação, no calor do momento, para colocar a corda à volta do pescoço do primeiro incauto. Um extremismo que apodrece a vida em sociedade, até pelo facto de que, em Portugal, há muitos julgamentos na rua e poucos nos tribunais.
Por isso mesmo, pelo que fica dito, não podemos deixar de exigir uma avaliação rigorosa, por quem de direito, da forma como foi tratada esta pessoa. E isto tem de passar a ser regra, porque o relativismo e a impunidade em que vivemos está a dar cabo de nós. As facilidades aparentes que a todos têm sido consentidas, em todos os sectores da vida pública, acabam sempre em prejuízo grave generalizado, maior para quem não está protegido por amigos fortes, na orla de enviesados poderes.
De acordo com as informações que ainda não vi ninguém contrariar, a senhora teve de se deslocar à escola para trabalhar, durante um período terminal da sua vida, debilitada, num desespero que podemos apenas imaginar, mas nunca alcançar na sua assustadora dimensão. Tentou, infrutiferamente, a compreensão, a compaixão – porque não dizê-lo – dos que estavam à sua volta e podiam alterar o curso dos acontecimentos, proporcionado-lhe um fim de vida mais “tranquilo”. O que impediu um desfecho mais humano? A lei, os regulamentos ou os próprios Homens?
Das pequenas às grandes coisas do nosso dia-a-dia, vamos percebendo um egoísmo e alheamento dos outros crescente, promovido por uma concepção de sociedade de direitos, onde há cada vez menos espaço consagrado aos deveres. O Estado e os organismos da administração pública têm aqui um papel fundamental na promoção de uma cultura de rigor, de exigência, de responsabilidade, sobretudo dando o exemplo. A lei, que a todos deve cobrir, sem excepção, não deve ser um lanche de poderosos e amigos. Os tribunais, juízes, investigação deverão garantir-nos Justiça e a crença na sua verdade e imparcialidade – à mulher de César não basta ser séria, e esta sabemos bem do que anda capaz. Os políticos, do vão ao topo da escada, devem saber assumir responsabilidades imediatas de acontecimentos que, independentemente das decisões em sede própria, consubstanciam, claramente, casos dúbios de actuação no âmbito da sua responsabilidade política. Pelo menos, exige-se que dêem a cara e vão ao encontro dos seus concidadãos, a quem devem servir, em vez de se esconderem no cómodo turbilhão de informação e desinformação, aguardando a quase certa tábua de salvação do esquecimento rápido ou da protecção clubista, que se apoia sem vergonha no lamaçal que nos invade e sufoca.
A triste frieza deste número que, estou certo, ninguém dirá agora que é apenas um, não significará que as pessoas, por quem passou o dossiê dessa pessoa, sejam menos competentes ou menos humanas. Porém, parece claro que a forma como todos olhamos para a vida dos outros nos papéis, no quotidiano das nossas tarefas e comportamentos, sobretudo quando lidamos com gente, precisa de um estado de alerta permanente e exigente, menos retórica, menos formalismos estéreis, regras justas e claras, e muito mais sensibilidade. E, para já, temos direito a um julgamento político da actuação dos responsáveis nacionais, regionais e locais, que, pelo que se tem visto, não abona nada em favor da transparência que o caso exige, nem da sua integridade. Hoje, por tudo e por nada, muitos se escondem atrás do segredo de justiça, essa figura sombria, apenas sussurrada cirurgicamente aos ouvidos de algum jornalista quando interessa.
Com isto, não defendo nenhuma acção exemplar, tão ao jeito do faz-de-conta-e-deixa-andar, nem a condenação obrigatória de ninguém – o mal pode estar muito distribuído –, mas antes que se perceba o que se passou e que a situação mude. Já não vamos a tempo de corrigir o que está feito, mas muito se pode fazer para que não volte a repetir-se. Sejam clarificadas e assumam-se as responsabilidades, mude-se o que houver para mudar, mas acabe-se com este clima de impunidade política e pessoal que ataca os fundamentos da nossa democracia.
Quem responde às perguntas que inevitavelmente nos assolam? Será possível defender que nada se passou de errado?
Precisamos de respostas, claras. E a tempo.

Bom dia.

20 de junho de 2007

O blogue está a encravar, talvez pelas mudanças técnicas que já nos disponibilizam a edição em português. Que raios!

Fotografias do México

Esculturas maias no jardim da Casa Azul de Frida Kalho
Cidade do México, México (Ângelo Ferreira, 2006)
(clique para ampliar)

Afinal não saiu hoje...

Peço desculpa por ter induzido em erro os leitores do blogue. O texto 8 das Cartas para Sakhalin não saiu hoje no Diário de Aveiro, pelo que conto que saia amanhã. Pelo facto, as minhas reiteradas desculpas.

Fórum UniverSal


CONVITE>>4 de Julho 21.00h::CUFC (Aveiro)

Para uma cidadania rodoviária*
c/ Antero Luís Reto, Presidente do ISCTE - Lisboa
Moderação: Jorge Arroteia, Universidade de Aveiro
(*) Baseado em estudos elaborados pelo ISCTE/INDEG, parceria com Direcção Geral de Viação.
O CUFC fica em frente ao Departamento de Ambiente e Ordenamento da UA, sito nos terrenos do Seminário de Santa Joana, próximo do Hospital de Aveiro

19 de junho de 2007

Uma pérola

Leiam a entrevista no Diário de Notícias. Leiam.

Raquel Gomes na EXPRESSARTE

crítica # reflexão # história da arte # museus # coleccionismo # mercado # personagens© EXPRESSARTE ▪ NOTAS DE ARTE E CULTURA CONTEMPORÂNEAS


Licenciada em Artes Plásticas - Escultura pela Faculdade de Belas-Artes do Porto, Raquel Gomes (Aveiro, 1977) tem vindo a explorar o conceito de ausência. Neste sentido, é particularmente relevante o facto da artista ter formação em escultura, dado que, na senda da estatuária, a quididade da escultura é a evocação da ausência de alguém ou de algo. Raquel Gomes explora, portanto, a ideia de ausência inevitavelmente associada à espacialidade do vazio que evoca, pela inanidade, o corpo ausente – a sua memória.
É neste universo conceptual que Raquel Gomes tem vindo a trabalhar, ao qual acrescenta a dimensão de género nitidamente patente na sua obra, quer temática quer tecnicamente. Assim, nesta série de trabalhos de 2007, a autora continua a empregar o mesmo tipo de técnicas previamente utilizadas, contudo aproximando-se, cada vez mais, da prática pictórica, sem no entanto abandonar esse sentido escultórico, perceptível através de delicados bordados e incisões na tela, utilizando-a mais como material têxtil do que suporte. Como resultado encontramos telas a sanguínea e goma-laca, com bordados pontuais e pequenos recortes que concedem uma maior tridimensionalidade ao suporte, afastando-o do simples registo pictórico.
Por outro lado, para além do carácter artesanal que Raquel Gomes outorga aos seus trabalhos, os próprios materiais eleitos e o virtuosismo manual contribuem para sugerir o âmbito das ocupações tradicionalmente conotadas com a esfera do feminino - alusão reforçada pelos títulos do conjunto de telas. De facto, as menções à literatura e ao imaginário que, durante um longo período, constituíram o referente educacional das jovens mulheres no Ocidente é explorado por Raquel Gomes de modo a criar instantes de memórias que facilmente reportamos a outras épocas. Assim, títulos como “Madame Butterfly”, “Folhos de Sinhá” ou “Minnie” verbalizam imagens de invólucros de corpos que se desenvencilham desses preceitos sociais enquadrados num passado que nos parece bem distante. Como se de pó se tratasse - esse ar que se respira ao abrir o baú de lembranças, caixas que encerram segredos e momentos. Nas obras “Caixas de Vaidades”, Raquel Gomes coloca objectos de vestuário, como sapatos, punhos ou colarinhos, realizados numa malha metálica que os converte em objectos ásperos, negando-lhes a sua função básica enquanto vestuário. Tal como nas telas, o que permanece é a essência, resquícios de desejos e silêncios.


Padre António Vieira - 400 anos em 2008


E a galeria da viagem com belíssimas imagens, a não perder! Deixo aqui duas que marcam a minha alma de viajante.

Gentes da Bahia, Salvador. 19 de Maio de 2007.
autor: tripulação CHIC copyright: Universidade de Aveiro

Pedro Agostinho da Silva a bordo do CHIC. Salvador da Bahia. 18 de Maio de 2007.
autor: tripulação CHIC copyright: Universidade de Aveiro

Cartas Para Sakhalin - Diário de Aveiro (008)

Míngua de humanidade?

O caso de uma professora de uma escola de Cacia que foi obrigada a trabalhar com leucemia até falecer, terminando os seus dias incompreendida e abandonada pelo seu “patrão” num momento tão difícil, de tão angustiante sofrimento, é algo que nos deve envergonhar a todos, e não apenas ao ministério da Educação.

(continua, amanhã no Diário de Aveiro)

Fotografias de Aveiro

Canal Central, Ria de Aveiro, Aveiro

Fotografias do Porto

D. Pedro IV, Porto

12 de junho de 2007

Conta Geral do Estado 2005



Para os mais interessados nestas coisas, aqui fica o link para a Conta Geral do Estado.

Cartas Para Sakhalin - Diário de Aveiro (007)

A nossa vida

A Minha Vida”, de Bill Clinton (editado pela Temas & Debates), é um livro altamente recomendável. Clinton faz a sua biografia numa escrita bela e inteligente, de agradável leitura, sem fugir aos seus erros pessoais e políticos, mas também sem deixar esquecer êxitos, prescindindo da tantas vezes conveniente muleta da falsa modéstia, uma arma de fracos e falsos. Mais importante ainda é que escreve sobre si escrevendo sobre os outros. As pessoas que povoaram a sua vida, lhe deram apoio, ensinamento, aquelas onde se alicerçou, não são esquecidas. Desde os colegas de escola aos vizinhos da infância, estão lá todos, ou quase todos, como diz. E pede ainda desculpa aos que não aparecem, o que é simbólico.
Se cada Homem é um mundo, todos sabemos que cada pessoa é ela própria e muitas pessoas, numa espécie de intersecção das almas que se cruzam, na rua, num livro, numa música, numa obra de arte. Todos somos feitos dos outros, vivemos com e para os outros, precisamos deles, e só assim a vida tem um sentido maior. Só assim a vida pode ter algum sentido, aliás. Sabemos que isto é verdade mesmo quando, alienados, ou confortavelmente esquecidos, nos passeamos vestidos de indiferença pelas avenidas da vida. Alienados de que nascemos nus, e de tudo nos despiremos.
Clinton diz que «Psicologicamente, todos nós representamos uma complexa mistura de esperanças e medos. Todos os dias acordamos com a balança a pender para um lado ou para o outro. Se demasiada inclinada para a esperança, podemos tornar-nos ingénuos e ilusórios. Se demasiado inclinada para o lado contrário, podemos ser consumidos pela paranóia e pelo ódio.»
Espreitarmos, todos os dias ao acordar, para dentro do espelho que nos confronta, fazendo desse olhar uma janela para um mundo que nos excede, no encontro dos outros, é viver uma eternidade. É uma tarefa de desmaterialização da nossa breve, diria insignificante, existência física, num equilíbrio nem sempre fácil entre sombra e luz, entre peso e leveza, entre o eu e o mundo.
A Minha Vida” mostra, num fabuloso exercício de memória, cheio de pormenores deliciosos, a vida tal qual ela é. Pode até nem ser a verdadeira vida de Clinton e estar romanceada, como convirá – afinal, o que interessa? Que é mais do que um livro, uma biografia política, lá isso é, sem sombra de dúvida. É um caminho de gente onde todos nos podemos encontrar, independentemente de credos e ideologias. Tudo o que lá houver de fantasia só enriquece a verdade, e dá mais sentido à existência.
Por entre aquelas linhas, ou no seu avesso, podemos sentir o pulsar das pequenas grandes coisas. Folheá-lo é respirar, um regresso à natureza. Faz-nos acreditar que vale a pena querer um mundo melhor para todos, sabendo bem como ele é, sabendo que não o mudamos radicalmente, de um dia para o outro, mas que o podemos melhorar passo a passo. Isso faz-se começando pelos próprios gestos do quotidiano, pelo exemplo, em vez de se pretender que seja uma entidade abstracta a resolver tudo. Talvez o Estado, talvez Deus, talvez os outros, esse grande eterno culpado por tudo o que vai mal.
Clinton, com um discurso simples, embora mostrando a sua inteligência e sentido político fora do comum, inspira-nos a ideia de que vale a pena trabalhar para melhorar a vida de todos. O acento que coloca na ambição, na dedicação, no trabalho árduo, na perseverança em busca de concretizar esse desígnio, com respeito por todos (mesmo os adversários), com especial atenção aos mais humildes e desprotegidos, enraíza as palavras na acção e na ética, cores tão desvanecidas no actual panorama internacional. Fá-lo com alegria, com orgulho, sem mostrar o rosto cinzento dos que transportam o pesado fardo dos eleitos, hoje tão característico, que mais não é que a falta de humanidade. Fá-lo com um nítido respeito pela liberdade, colocando-se acima da mesquinhez dos tempos.
A política, como a vida, é uma oportunidade de realização pessoal e colectiva, uma oportunidade única de felicidade. A sorte de poder servir.
Independentemente de se concordar ou não com as suas ideias, Clinton personifica um grupo de políticos com outra bagagem, com outra dimensão, outra classe. Nos dias que correm, temos dificuldade em vislumbrar, pelo menos no meu curto ver, gente com essa poesia. Não é que não haja para aí políticos com grandes competências, que os haverá. Parece-me é que não há alegria, e mais umas quantas outras coisas, como o respeito pela liberdade e pela justiça.
Não, não sou nem pessimista nem derrotista, antes pelo contrário. Porém, creio que não estarei muito longe da verdade se disser que sentimos falta de gente mais genuína, mais empenhada na resolução dos problemas, com verdadeira dedicação à causa pública, que veja na política um exercício nobre. Em vez disso, assistimos atónitos (e cada vez mais distanciados) a um “jogo sujo”, guerrilhas de interesses, amiguismos e carneirismos, clientelismos e lambebotismos. Os partidos, imprescindíveis ao jogo democrático, deveriam dar mais atenção à profundidade das suas responsabilidades sociais, em vez de serem, tantas vezes, mais um clube na luta pelo título do orçamento e dos prémios de jogo.
Se, como se ouve tanto, cada país tem os políticos que merece – e eu acredito nisso, pois claro –, então temos todos que fazer por merecer e exigir melhor. O que é mais difícil é que as melhorias têm de começar em cada um de nós, procurando acordar com a balança afinada.
É preciso perguntar, como Kennedy, o que podemos nós fazer pela nossa “américa”, em vez de esperarmos que ela (o Estado) nos resolva a vida. Mais, devemos até pedir que, em certas matérias, não se atravesse tanto no caminho.

Cartas Para Sakhalin - Diário de Aveiro (007)

A nossa vida

A Minha Vida”, de Bill Clinton (editado pela Temas & Debates), é um livro altamente recomendável. Clinton faz a sua biografia numa escrita bela e inteligente, de agradável leitura, sem fugir aos seus erros pessoais e políticos, mas também sem deixar esquecer êxitos, prescindindo da tantas vezes conveniente muleta da falsa modéstia, uma arma de fracos e falsos. Mais importante ainda é que escreve sobre si escrevendo sobre os outros. As pessoas que povoaram a sua vida, lhe deram apoio, ensinamento, aquelas onde se alicerçou, não são esquecidas. Desde os colegas de escola aos vizinhos da infância, estão lá todos, ou quase todos, como diz. E pede ainda desculpa aos que não aparecem, o que é simbólico.
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Amanhã no Diário de Aveiro.

7 de junho de 2007

Raquel Gomes na Minimal

O meu tutu
Sanguínea e goma laca sobre tela
80x120 cm

Caixa de Vaidades
Cobre e ferro
15x35x15 cm

Na galeria Minimal até final de Julho.

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Raquel Gomes. Natural de Aveiro, nascida em 1977.
Licenciada em Artes Plásticas – Escultura, pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto.

Centrado na figura humana, o trabalho de Raquel Gomes desperta para uma consciência comportamental e para a intimidade do quotidiano, através da figuração ou da presença de acessórios e complementos de vestuário. Uma figuração da mulher, não pela criação de uma imagem nem pela representação do corpo feminino; não pela ausência directa nem pelo contraste com presenças de outro género; mas pela ausência diferida, pela evocação poética desse corpo a partir da observação dos seus acessórios..

Laura Castro in "Argumentos de género.Desmistificar, mistificar" Margens e Confluências Um Olhar Contemporâneo sobre as Artes, Dezembro 2006


...Corpos idealizados, modelizados, expostos como objecto de admiração. Espécie de fantasma do corpo, também ele suspenso, quase transparente...negando a gravidade, apresentando-se sem peso...
Discurso incorpóreo. Mundo de aparências. O simulacro sem carne. Silhuetas metálicas, guarda-roupa em efeito de suspensão...bailando sobre a inorganicidade do corpo e da matéria da utensilagem usada no processo criativo...

Ana Luísa Barão, Janeiro de 2003


È interessante notare quanto il Portogallo si identifichi , oggi, per l'esistenza di giovani artisti che, riconosciuti singolarmente per il differente uso dei mezzi espressivi, trovano i loro principali riferimenti nella loro vicenda individuale e nel contesto intimo delle loro origini nazionali. È il caso della giovanissima Raquel Gomes (Aveiro, 1978) che per suo interesse alla figura umana e agli oggetti del quotidiano, presentati attraverso sculture in ferro o acciaio inox, ci racconta di un mondo ormai sopraffatto dall'incomunicabilità, tanto da alludere alla presenza umana, piuttosto che rilevarla.

Simona Cresci, "Un'immagine del Portogallo", em revista Arte e Critica, Outubro-Dezembro de 2003


Os trabalhos de Raquel Gomes nascem de um interessante duelo entre a escultura e o desenho, na invasão recíproca das duas dimensões expressivas; não se privando de nenhuma possibilidade, para melhor poder totalizar a disponibilidade da linguagem, os seus trabalhos assumem contemporaneamente a substância e a ideia, o particular e a essência do real. (...)
Nas obras expostas, a figura feminina é evocada pela ausência. Tudo passa e tudo se estratifica, sobrepondo-se. Quer se trate de uma ideia, de um facto, de um minuto ou de uma hora. Ao observar a obra de Raquel Gomes pode-se entender por dentro a história da essência feminina.

Simona Cresci, Abril de 2006


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