30 de junho de 2007
Fotografias de Timor
Peixeirada
29 de junho de 2007
Cartas para Shakira (ficção)
O festival do respeitinho no seu esplendor
O deputado do PS Manuel Alegre considerou hoje "desproporcionada" e "intolerante" a decisão de Correia de Campos de exonerar a directora do Centro de Saúde de Vieira do Minho que, segundo a tutela, se recusou a retirar um cartaz com um comentário considerado jocoso em relação ao ministro da Saúde.
Em declarações aos jornalistas, o ex-candidato presidencial disse ter lido o despacho publicado ontem em Diário da República, classificando-o como "confuso".Segundo o deputado socialista, pelo despacho "é difícil perceber-se o que se terá passado no Centro de Saúde de Vieira do Minho"."Em todo o caso, penso que se está perante uma reacção desproporcionada e pouco conforme com a tradição de tolerância e de espírito crítico dos socialistas", declarou Manuel Alegre.Manuel Alegre deixou ainda um recado para o interior do PS e para o Governo: "Pretendi educar muita gente no PS dentro desse espírito de tolerância, mas, pelos vistos, sem resultados". O despacho de exoneração de Maria Celeste Vilela Fernandes Cardoso foi publicado ontem em Diário da República. A agência Lusa diz ter recebido uma cópia das mãos de deputados socialistas que se manifestaram "incomodados com a situação"."Pelo despacho (...) do Ministro da Saúde, de 5 de Janeiro, foi exonerada do cargo de directora do Centro de Saúde de Vieira do Minho a licenciada Maria Celeste Vilela Fernandes Cardoso, com efeitos à data do despacho, por não ter tomado medidas relativas à afixação, nas instalações daquele Centro de Saúde, de um cartaz que utilizava declarações do Ministro da Saúde em termos jocosos, procurando atingi-lo", lê-se no despacho.Perante este caso, o ministério considerou demonstrado que Maria Celeste Cardoso não reúne condições "para garantir a observação das orientações superiormente fixadas para a prossecução e implementação das políticas desenvolvidas pelo Ministério da Saúde".
28 de junho de 2007
Fotografias de Timor
27 de junho de 2007
This blog in English
Aveiro no New York Times
“I studied here 10 years ago,” said Mr. Vieira, who was born an hour north, in Oporto. “The university has drawn in a lot of people. Ten years ago if you walked around Aveiro on a Sunday, you wouldn't see a single person — everyone was in church! Now that's no longer true.”
Aveiro's sizable university (about 12,000 students) was founded in 1973. It took a generation, but the students have started to stick around. Others have returned after meandering abroad. And, slowly but steadily, they have changed the town.
“I came back after five years,” said Joana Lima, 32, a clothing designer who takes antique fabrics and Portuguese folk designs and turns them into wallet-friendly designer fare, which she sells in her own boutique. “I had lived in Barcelona, but I wanted a smaller place where I could really relate to people in a profound way.”
There is a young and vibrant energy in the streets and on the canals. Clutches of giggling and flirting university students rush past smartly dressed 30-somethings. Elderly women perch on terraces, leaning against 18th-century ironwork, bemusedly looking on.
“I live in the city center,” Mr. Vieira said, pointing on a map to a street in the old city's pedestrian quarter. “I can walk everywhere. And just outside of Aveiro, there are great places to ride a bicycle. There you can see herons and seagulls and wildlife. You just give them an ID and you can ride a bike for free.”
Mr. Vieira was referring to the Bicicleta de Utilização Gratuita de Aveiro, a five-year-old town hall project. Just beyond the old quarter, bicycles are parked waiting to be borrowed. The idea has been ridiculously successful, with white and green bikes everywhere.
Manning the desk at the bicycle office one afternoon was Pedro Sena, a 26-year-old student from Cape Verde studying for a degree in physics and engineering. A steady stream of bicyclists — locals, tourists, kids, adults — popped in, handed over an identification card and peddled out along the bike paths that line the canals.
Aveiro is a great place to study and live, said Mr. Sena, who like many others heads down to the fish market — the Mercado do Peixe — at night. There, crowds fill the bars that line the market square and the streets that surround it. Some go to low-key but trendy places like Clandestino for chill-out music. Restaurants like O Telheiro and O Batel offer upscale seafood.
But the Mercado do Peixe is just as interesting first thing in the morning, when fishermen and women arrive and spread out their wares. The mercado first opened in 1904; six years ago, its original building was torn down and a lighter, airier and, frankly, cleaner, replacement opened.
One fishmonger, Carla Mondairo, was unimpressed as she stood in front with her day's catch: salmon, grouper, sardines. “The old building had ancient stone tubs for the fish,” she said, with some wistfulness.
But there is still plenty of tradition in Aveiro — the Museo de Aveiro, for example, housed in a former Dominican convent and currently under renovation. Visitors can peak at the glorious Church of Jesus with its Baroque gold gilded carvings and the rose marble tomb of St. Joan, the princess who became a nun. The path that led to her beatification is painted along the walls.
Back at the Mercado do Peixe, which is made of glass so you can see through it to the tiled houses that line the canals, fish are sold from stainless steel tanks. Every day, midday, it is hosed down. And the restaurants around it come to life.
Around the corner, the restaurant O Batel peddles the new Aveiro aesthetic. With only eight tables and a galley-narrow dining hall, there is often a wait. Hardwood floors, ceilings and chairs cushioned in bright white give the tiny space a yachtlike atmosphere. Light streams in from skylights above.
Diners are encouraged to get up from their seats and peer into a refrigerated glass case at their meals. Fish is served simply — grilled, lightly, with lemon — alongside small boiled potatoes perfectly dressed in olive oil and garlic, and a spinach mix with beans and croutons.
If half the town hangs out at the restaurants and bars around the Mercado do Peixe, the other half is above the Canal Central, one flight up from a ground-floor tool shop, at Mercado Negro. Nothing speaks of new Aveiro more than this year-old cultural center that fills the entire second floor of a large 19th-century attached house. Mercado Negro is an entire neighborhood in and of itself, filled with smart boutiques, a bar, a coffee shop and several great rooms just for chilling out.
There are film festivals there, and live music on weekends. The décor is kitschy and hip — the wallpaper is intricate, patterned, and varied: the 1970s meets the 1890s. Floor-to-ceiling French doors open onto the canal, and 19th-century chandeliers hang above mismatched Danish Modern furniture and a rubber rec-room floor. On Saturday afternoons, it feels like everyone is there, from calculator-bearing high school students doing homework to young couples nuzzling on couches.
Joana Lima's boutique, PoçDeTot, holds down a corner toward the back, full of well-priced Portuguese designs. Down the hall is WahWah, a brand new music shop, and Miyabi, a design boutique owned and run by 32-year-old Nuno Vale, an Aveiro native.
“Miyabi means elegant in Japanese,” he said earnestly. “I try to refuse anything that is common.”
The shop is filled with hard-to-find light-fixtures, bags and home goods from a slew of international designers. It's also a meeting point. Philipp Scherler, a student in German literature from Hamburg, pops in almost every weekend, bringing friends, or just to see Mr. Vale.
“Once you know a few people here,” Mr. Scherer said, “you see them again and again.”»
26 de junho de 2007
Cartas Para Sakhalin - Diário de Aveiro (009)
Temos assistido nos últimos tempos em Portugal a um histerismo público preocupante. Talvez a coisa tenha raízes antigas, históricas – não me interessa –, o que não diminui a necessidade de atenção a prestar-lhe, nem a gravidade que denota.
Não vale a pena – o que também é um hábito nosso – procurar colorir ideologicamente a asneira, porque ela perpassa, como uma virose, todos os partidos e todas as instâncias da actuação política, económica e social, manifestando sintomas de doença que vão da administração central aos órgãos de poder local, dos dirigentes mais proeminentes ao comum cidadão.
Há uma espécie de brucelose social que é preciso combater com urgência, pois o agente infeccioso actua nas entranhas da nossa liberdade, minando um dos pilares fundamentais da democracia e da nossa saúde individual e colectiva. Digamos que nos ataca pela calada do medo, do dedo em riste pedindo silêncio, e, de cedência em cedência, torna a nossa vida muito esponjosa.
Vivemos, como alguns dizem, no país do respeitinho, pouco respeito e mais medinho. Como me aconselhava, sabiamente, um idoso que conheci em novo – nisto dos conselhos não há como ouvir quem acumula tempo às costas –, para se ter respeito é preciso dar-se ao respeito, o que se faz pelo exemplo e não pela pancada. Dizia ele que aqueles que vêem na liberdade de expressão dos outros uma ameaça, algo a abater para provar quem é o chefe, promoviam apenas o medo como garante da sua autoridade e não mereciam qualquer respeito. Uma coisa velha até entre pais e filhos, que nunca promoveu nem justiça, nem paz, nem nada de positivo.
As situações são inúmeras e todos temos vivências pessoais que podem exemplificá-lo. Aqueles que viveram antes do 25 de Abril sabem bem como isso foi levado a extremos de gravidade que, com mais alguns ingredientes, deram no que deram. Estamos longe desse tempo infestado, felizmente, mas nada nos garante que aqui e ali não ocorram umas recaídas. A liberdade, longe de perigar – não quero contribuir para o histerismo -, tem de ser preservada com observância e esforço contínuos, pois não existe vacina com efeitos definitivos.
Assistimos recentemente a vários episódios de uma telenovela de fraca qualidade que podem ter efeitos nefastos de contágio. Uma directora regional de educação instaura um processo disciplinar a um funcionário por ofensas ao senhor primeiro-ministro – supostamente por comentários jocosos feitos em relação à sua licenciatura ou outros, o que pouco interessa para o caso –, feitas em privado, num processo todo ele muito mal explicado. O senhor primeiro-ministro processa judicialmente o autor do blogue “Do Portugal Profundo”, que lançou dúvidas sobre a validade da sua licenciatura. E agora, Rui Rio, presidente da Câmara Municipal do Porto, permite ou instiga a que se faça uma crítica desmesurada no sítio web da Câmara a um dos directores do JN por ter participado numa manifestação contra a sua política relativa ao Rivoli; ainda por cima, divulgando um vídeo que prova que o homem esteve lá, como se isso não fosse um pleno direito de cidadania. Já no âmbito das relações pessoais, uma estória resumida: uma amiga, com mais de 10 anos de casa, é chamada inesperadamente pelo patrão (professor) que, sem razão aparente que o justificasse, a “convidou” a despedir-se, pois já não contava mais com ela. Não esteve com meias medidas, e, mais coisa menos coisa, lá foi: «Não precisamos mais de si. Ou se despede a bem ou instauramos-lhe um processo disciplinar.»
Estará tudo louco?
Associação Académica faz 29 anos
No próximo dia 28 de Junho a Associação Académica faz 29 anos de vida. Não posso deixar de sublinhar o seu contributo, com altos e baixos, para a construção da universidade e da cidade que temos.
Neste contexto, é preciso que os diversos actores académicos e políticos reconheçam, de uma vez por todas, a importância dos estudantes na edificação de um contexto educativo mais rico e na promoção de uma sociedade mais desenvolvida. É preciso contribuir para criar melhores condições de trabalho a quem os representa, acompanhadas da exigência de mais empenho e responsabilidade na construção de uma cidadania responsável, dinâmica, empreendedora, baseada no razoável equilíbrio de direitos e deveres.
Os tempos que correm, mais do que nunca, carecem de uma visão realista e ampla sobre as dificuldades que se avizinham, assim como sobre as oportunidades de sucesso. Disseminar entre os jovens uma cultura de trabalho, de responsabilidade individual e colectiva, de rigor e dinamismo deve ser a prioridade da sua acção. Exigir o direito a uma palavra no curso dos acontecimentos é um imperativo que deve estar revestido da partilha das responsabilidades.
A nossa associação, que tantas vezes dignificou a universidade e a cidade, primando por um discurso dissonante e caminhos próprios, pode (deve) ser uma peça importante desse motor que nos permita alcançar novos desígnios de desenvolvimento.
25 de junho de 2007
Poesia
Foste o beijo melhor da minha vida,
ou talvez o pior...Glória e tormento,
contigo à luz subi do firmamento,
contigo fui pela infernal descida!
Morreste, e o meu desejo não te olvida:
queimas-me o sangue, enches-me o pensamento,
e do teu gosto amargo me alimento,
e rolo-te na boca malferida.
Beijo extremo, meu prêmio e meu castigo,
batismo e extrema-unção, naquele instante
por que, feliz, eu não morri contigo?
Sinto-me o ardor, e o crepitar te escuto,
beijo divino! e anseio delirante,
na perpétua saudade de um minuto....
Olavo Bilac in Tormentas
21 de junho de 2007
Boas notícias
Boas notícias. Estive agora mesmo com o Samuel, estudante de Engenharia Química da Universidade de Aveiro, que acabou hoje o curso. Nada de anormal, portanto. Mas há aqui uma particularidade importante, que eu quero deixar aqui sublinhada para a posteridade. O Samuel será, até prova em contrário, o primeiro estudante timorense, daquele grupo de bolseiros que vieram em 2001, a terminar o curso! E com boas notas! Tudo certinho, direitinho. Grande Samuel, um orgulho para todos, um orgulho para a Ilha do Crocodilo.
Hoje sei que no Matebian os espíritos dos avós, dos katuas idos, comem Karau, bebem café Timor, fumam e regozijam pelo sucesso deste bom descendente.
Parabéns irmão.
Cartas Para Sakhalin - Diário de Aveiro (008)
O caso de uma professora de uma escola de Cacia que foi obrigada a trabalhar com leucemia até falecer, terminando os seus dias incompreendida e abandonada pelo seu “patrão” num momento tão difícil, de tão angustiante sofrimento, é algo que nos deve envergonhar a todos, e não apenas ao ministério da Educação.
Como foi possível acontecer tal desumanidade? Como é possível que, aos olhos cegos de quem vai mandando – mais alheios às pessoas do que a formalidades e números frios, coisas para encher relatórios, agradar chefias e firmar-se na escala degradante do servilismo político e organizacional -, a dignidade das pessoas, de uma pessoa, tenha tão pouco valor? Ninguém compreende.
Vale a pena reflectir nesta sociedade que temos vindo a construir, percebendo que nem tudo são conquistas, muito menos de Abril. Sem quaisquer julgamentos excitados pelo mediatismo atingido, e com o devido respeito, contenção e pudor que a gravidade da situação merece – trata-se do sofrimento de uma pessoa real e dos seus próximos -, não podemos deixar de lamentar veementemente o ocorrido e pedir explicações. Mais do que o direito à indignação, de que falava o Dr. Mário Soares, é o direito à justiça que está em causa. Mais, é o direito dos cidadãos e trabalhadores, a quem devemos exigir cada vez mais responsabilidade em sociedade, a merecerem o mínimo de respeito pelos seus direitos e o apoio social mínimo, sublinhado em momentos de profunda gravidade.
Não sou apologista de enforcamentos em praça pública, tão ao gosto do populismo fácil, sinónimo de algum atraso cultural, fruto de uma preocupante necessidade de catarse colectiva, que o simples bom senso desaconselha, mas que, em busca de uma explicação pouco iluminada para a vida, atribuindo os males do mundo aos outros – sempre os outros, uma entidade qualquer, abstracta -, resvala na doentia tentação, no calor do momento, para colocar a corda à volta do pescoço do primeiro incauto. Um extremismo que apodrece a vida em sociedade, até pelo facto de que, em Portugal, há muitos julgamentos na rua e poucos nos tribunais.
Por isso mesmo, pelo que fica dito, não podemos deixar de exigir uma avaliação rigorosa, por quem de direito, da forma como foi tratada esta pessoa. E isto tem de passar a ser regra, porque o relativismo e a impunidade em que vivemos está a dar cabo de nós. As facilidades aparentes que a todos têm sido consentidas, em todos os sectores da vida pública, acabam sempre em prejuízo grave generalizado, maior para quem não está protegido por amigos fortes, na orla de enviesados poderes.
De acordo com as informações que ainda não vi ninguém contrariar, a senhora teve de se deslocar à escola para trabalhar, durante um período terminal da sua vida, debilitada, num desespero que podemos apenas imaginar, mas nunca alcançar na sua assustadora dimensão. Tentou, infrutiferamente, a compreensão, a compaixão – porque não dizê-lo – dos que estavam à sua volta e podiam alterar o curso dos acontecimentos, proporcionado-lhe um fim de vida mais “tranquilo”. O que impediu um desfecho mais humano? A lei, os regulamentos ou os próprios Homens?
Das pequenas às grandes coisas do nosso dia-a-dia, vamos percebendo um egoísmo e alheamento dos outros crescente, promovido por uma concepção de sociedade de direitos, onde há cada vez menos espaço consagrado aos deveres. O Estado e os organismos da administração pública têm aqui um papel fundamental na promoção de uma cultura de rigor, de exigência, de responsabilidade, sobretudo dando o exemplo. A lei, que a todos deve cobrir, sem excepção, não deve ser um lanche de poderosos e amigos. Os tribunais, juízes, investigação deverão garantir-nos Justiça e a crença na sua verdade e imparcialidade – à mulher de César não basta ser séria, e esta sabemos bem do que anda capaz. Os políticos, do vão ao topo da escada, devem saber assumir responsabilidades imediatas de acontecimentos que, independentemente das decisões em sede própria, consubstanciam, claramente, casos dúbios de actuação no âmbito da sua responsabilidade política. Pelo menos, exige-se que dêem a cara e vão ao encontro dos seus concidadãos, a quem devem servir, em vez de se esconderem no cómodo turbilhão de informação e desinformação, aguardando a quase certa tábua de salvação do esquecimento rápido ou da protecção clubista, que se apoia sem vergonha no lamaçal que nos invade e sufoca.
A triste frieza deste número que, estou certo, ninguém dirá agora que é apenas um, não significará que as pessoas, por quem passou o dossiê dessa pessoa, sejam menos competentes ou menos humanas. Porém, parece claro que a forma como todos olhamos para a vida dos outros nos papéis, no quotidiano das nossas tarefas e comportamentos, sobretudo quando lidamos com gente, precisa de um estado de alerta permanente e exigente, menos retórica, menos formalismos estéreis, regras justas e claras, e muito mais sensibilidade. E, para já, temos direito a um julgamento político da actuação dos responsáveis nacionais, regionais e locais, que, pelo que se tem visto, não abona nada em favor da transparência que o caso exige, nem da sua integridade. Hoje, por tudo e por nada, muitos se escondem atrás do segredo de justiça, essa figura sombria, apenas sussurrada cirurgicamente aos ouvidos de algum jornalista quando interessa.
Com isto, não defendo nenhuma acção exemplar, tão ao jeito do faz-de-conta-e-deixa-andar, nem a condenação obrigatória de ninguém – o mal pode estar muito distribuído –, mas antes que se perceba o que se passou e que a situação mude. Já não vamos a tempo de corrigir o que está feito, mas muito se pode fazer para que não volte a repetir-se. Sejam clarificadas e assumam-se as responsabilidades, mude-se o que houver para mudar, mas acabe-se com este clima de impunidade política e pessoal que ataca os fundamentos da nossa democracia.
Quem responde às perguntas que inevitavelmente nos assolam? Será possível defender que nada se passou de errado?
20 de junho de 2007
Fotografias do México
Afinal não saiu hoje...
Fórum UniverSal
Para uma cidadania rodoviária*
c/ Antero Luís Reto, Presidente do ISCTE - Lisboa
(*) Baseado em estudos elaborados pelo ISCTE/INDEG, parceria com Direcção Geral de Viação.
19 de junho de 2007
Raquel Gomes na EXPRESSARTE
Padre António Vieira - 400 anos em 2008
Gentes da Bahia, Salvador. 19 de Maio de 2007.
autor: tripulação CHIC copyright: Universidade de Aveiro
Pedro Agostinho da Silva a bordo do CHIC. Salvador da Bahia. 18 de Maio de 2007.
autor: tripulação CHIC copyright: Universidade de Aveiro
Cartas Para Sakhalin - Diário de Aveiro (008)
O caso de uma professora de uma escola de Cacia que foi obrigada a trabalhar com leucemia até falecer, terminando os seus dias incompreendida e abandonada pelo seu “patrão” num momento tão difícil, de tão angustiante sofrimento, é algo que nos deve envergonhar a todos, e não apenas ao ministério da Educação.
(continua, amanhã no Diário de Aveiro)
12 de junho de 2007
Cartas Para Sakhalin - Diário de Aveiro (007)
“A Minha Vida”, de Bill Clinton (editado pela Temas & Debates), é um livro altamente recomendável. Clinton faz a sua biografia numa escrita bela e inteligente, de agradável leitura, sem fugir aos seus erros pessoais e políticos, mas também sem deixar esquecer êxitos, prescindindo da tantas vezes conveniente muleta da falsa modéstia, uma arma de fracos e falsos. Mais importante ainda é que escreve sobre si escrevendo sobre os outros. As pessoas que povoaram a sua vida, lhe deram apoio, ensinamento, aquelas onde se alicerçou, não são esquecidas. Desde os colegas de escola aos vizinhos da infância, estão lá todos, ou quase todos, como diz. E pede ainda desculpa aos que não aparecem, o que é simbólico.
Se cada Homem é um mundo, todos sabemos que cada pessoa é ela própria e muitas pessoas, numa espécie de intersecção das almas que se cruzam, na rua, num livro, numa música, numa obra de arte. Todos somos feitos dos outros, vivemos com e para os outros, precisamos deles, e só assim a vida tem um sentido maior. Só assim a vida pode ter algum sentido, aliás. Sabemos que isto é verdade mesmo quando, alienados, ou confortavelmente esquecidos, nos passeamos vestidos de indiferença pelas avenidas da vida. Alienados de que nascemos nus, e de tudo nos despiremos.
Clinton diz que «Psicologicamente, todos nós representamos uma complexa mistura de esperanças e medos. Todos os dias acordamos com a balança a pender para um lado ou para o outro. Se demasiada inclinada para a esperança, podemos tornar-nos ingénuos e ilusórios. Se demasiado inclinada para o lado contrário, podemos ser consumidos pela paranóia e pelo ódio.»
Espreitarmos, todos os dias ao acordar, para dentro do espelho que nos confronta, fazendo desse olhar uma janela para um mundo que nos excede, no encontro dos outros, é viver uma eternidade. É uma tarefa de desmaterialização da nossa breve, diria insignificante, existência física, num equilíbrio nem sempre fácil entre sombra e luz, entre peso e leveza, entre o eu e o mundo.
“A Minha Vida” mostra, num fabuloso exercício de memória, cheio de pormenores deliciosos, a vida tal qual ela é. Pode até nem ser a verdadeira vida de Clinton e estar romanceada, como convirá – afinal, o que interessa? Que é mais do que um livro, uma biografia política, lá isso é, sem sombra de dúvida. É um caminho de gente onde todos nos podemos encontrar, independentemente de credos e ideologias. Tudo o que lá houver de fantasia só enriquece a verdade, e dá mais sentido à existência.
Por entre aquelas linhas, ou no seu avesso, podemos sentir o pulsar das pequenas grandes coisas. Folheá-lo é respirar, um regresso à natureza. Faz-nos acreditar que vale a pena querer um mundo melhor para todos, sabendo bem como ele é, sabendo que não o mudamos radicalmente, de um dia para o outro, mas que o podemos melhorar passo a passo. Isso faz-se começando pelos próprios gestos do quotidiano, pelo exemplo, em vez de se pretender que seja uma entidade abstracta a resolver tudo. Talvez o Estado, talvez Deus, talvez os outros, esse grande eterno culpado por tudo o que vai mal.
Clinton, com um discurso simples, embora mostrando a sua inteligência e sentido político fora do comum, inspira-nos a ideia de que vale a pena trabalhar para melhorar a vida de todos. O acento que coloca na ambição, na dedicação, no trabalho árduo, na perseverança em busca de concretizar esse desígnio, com respeito por todos (mesmo os adversários), com especial atenção aos mais humildes e desprotegidos, enraíza as palavras na acção e na ética, cores tão desvanecidas no actual panorama internacional. Fá-lo com alegria, com orgulho, sem mostrar o rosto cinzento dos que transportam o pesado fardo dos eleitos, hoje tão característico, que mais não é que a falta de humanidade. Fá-lo com um nítido respeito pela liberdade, colocando-se acima da mesquinhez dos tempos.
A política, como a vida, é uma oportunidade de realização pessoal e colectiva, uma oportunidade única de felicidade. A sorte de poder servir.
Independentemente de se concordar ou não com as suas ideias, Clinton personifica um grupo de políticos com outra bagagem, com outra dimensão, outra classe. Nos dias que correm, temos dificuldade em vislumbrar, pelo menos no meu curto ver, gente com essa poesia. Não é que não haja para aí políticos com grandes competências, que os haverá. Parece-me é que não há alegria, e mais umas quantas outras coisas, como o respeito pela liberdade e pela justiça.
Não, não sou nem pessimista nem derrotista, antes pelo contrário. Porém, creio que não estarei muito longe da verdade se disser que sentimos falta de gente mais genuína, mais empenhada na resolução dos problemas, com verdadeira dedicação à causa pública, que veja na política um exercício nobre. Em vez disso, assistimos atónitos (e cada vez mais distanciados) a um “jogo sujo”, guerrilhas de interesses, amiguismos e carneirismos, clientelismos e lambebotismos. Os partidos, imprescindíveis ao jogo democrático, deveriam dar mais atenção à profundidade das suas responsabilidades sociais, em vez de serem, tantas vezes, mais um clube na luta pelo título do orçamento e dos prémios de jogo.
Se, como se ouve tanto, cada país tem os políticos que merece – e eu acredito nisso, pois claro –, então temos todos que fazer por merecer e exigir melhor. O que é mais difícil é que as melhorias têm de começar em cada um de nós, procurando acordar com a balança afinada.
Cartas Para Sakhalin - Diário de Aveiro (007)
“A Minha Vida”, de Bill Clinton (editado pela Temas & Debates), é um livro altamente recomendável. Clinton faz a sua biografia numa escrita bela e inteligente, de agradável leitura, sem fugir aos seus erros pessoais e políticos, mas também sem deixar esquecer êxitos, prescindindo da tantas vezes conveniente muleta da falsa modéstia, uma arma de fracos e falsos. Mais importante ainda é que escreve sobre si escrevendo sobre os outros. As pessoas que povoaram a sua vida, lhe deram apoio, ensinamento, aquelas onde se alicerçou, não são esquecidas. Desde os colegas de escola aos vizinhos da infância, estão lá todos, ou quase todos, como diz. E pede ainda desculpa aos que não aparecem, o que é simbólico.
7 de junho de 2007
Raquel Gomes na Minimal
Na galeria Minimal até final de Julho.
*
Raquel Gomes. Natural de Aveiro, nascida em 1977.
Licenciada em Artes Plásticas – Escultura, pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto.
Centrado na figura humana, o trabalho de Raquel Gomes desperta para uma consciência comportamental e para a intimidade do quotidiano, através da figuração ou da presença de acessórios e complementos de vestuário. Uma figuração da mulher, não pela criação de uma imagem nem pela representação do corpo feminino; não pela ausência directa nem pelo contraste com presenças de outro género; mas pela ausência diferida, pela evocação poética desse corpo a partir da observação dos seus acessórios..
Laura Castro in "Argumentos de género.Desmistificar, mistificar" Margens e Confluências Um Olhar Contemporâneo sobre as Artes, Dezembro 2006
...Corpos idealizados, modelizados, expostos como objecto de admiração. Espécie de fantasma do corpo, também ele suspenso, quase transparente...negando a gravidade, apresentando-se sem peso...
Discurso incorpóreo. Mundo de aparências. O simulacro sem carne. Silhuetas metálicas, guarda-roupa em efeito de suspensão...bailando sobre a inorganicidade do corpo e da matéria da utensilagem usada no processo criativo...
Ana Luísa Barão, Janeiro de 2003
È interessante notare quanto il Portogallo si identifichi , oggi, per l'esistenza di giovani artisti che, riconosciuti singolarmente per il differente uso dei mezzi espressivi, trovano i loro principali riferimenti nella loro vicenda individuale e nel contesto intimo delle loro origini nazionali. È il caso della giovanissima Raquel Gomes (Aveiro, 1978) che per suo interesse alla figura umana e agli oggetti del quotidiano, presentati attraverso sculture in ferro o acciaio inox, ci racconta di un mondo ormai sopraffatto dall'incomunicabilità, tanto da alludere alla presenza umana, piuttosto che rilevarla.
Simona Cresci, "Un'immagine del Portogallo", em revista Arte e Critica, Outubro-Dezembro de 2003
Os trabalhos de Raquel Gomes nascem de um interessante duelo entre a escultura e o desenho, na invasão recíproca das duas dimensões expressivas; não se privando de nenhuma possibilidade, para melhor poder totalizar a disponibilidade da linguagem, os seus trabalhos assumem contemporaneamente a substância e a ideia, o particular e a essência do real. (...)
Nas obras expostas, a figura feminina é evocada pela ausência. Tudo passa e tudo se estratifica, sobrepondo-se. Quer se trate de uma ideia, de um facto, de um minuto ou de uma hora. Ao observar a obra de Raquel Gomes pode-se entender por dentro a história da essência feminina.
Simona Cresci, Abril de 2006
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